"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

domingo, 18 de dezembro de 2011

Verney Lovett Cameron

Viajantes, aventureiros e exploradores

Verney Lovett Cameron - (Dorset (Inglaterra), 01/07/1844 - Leigthon Buzzard (Inglaterra), 24/03/1894) - Explorador. Tendo ingressado na Marinha de Guerra Britânica prestou serviço, em 1857, na campanha etíope e depois, durante alguns anos, na repressão ao esclavagismo na costa oriental africana. Em 1873, a Real Sociedade de Geografia de Londres encarrega-o de dirigir uma missão em busca de David Livingstone*, pelo que inicia a sua missão em Zanzibar, onde contrata Sidi Mubarak Bombay*. Passado pouco tempo, em Bagamoyo, no Tanganica (actual Tanzânia) toma conhecimento da morte deste missionário, ao cruzar-se com a caravana que transportava o seu féretro para Zanzibar. Apesar disso continua a sua marcha para Udjiji, na Rodésia do Norte (actual Zâmbia), local onde o missionário falecera, chegando aí em Fevereiro de 1874. Reúne toda a documentação, mapas elaborados por David Livingstone*, bem como o restante espólio que estava guardado na sua cabana e envia-os para Londres salvando, assim, todo um memorial informativo extremamente importante para o conhecimento europeu, quer da vida que foi deste homem quer das suas viagens e impressões sobre África. Aproveita aí a sua estadia para melhor topografar o lago Tanganica e descobre a saída Oeste do mesmo para o rio Lukuga. Prosseguindo a sua viagem atinge o rio Lualaba, do qual o Lukuga é um afluente e prossegue por aquele, na tentativa de resolver o mistério do curso do rio Congo, até que se vê forçado a deixar o mesmo, por se recusar a utilizar mão de obra escrava para prosseguir as suas investigações geográficas e deixando a glória da resolução do problema do curso do rio Congo em aberto, tendo sido Henry Morton Stanley* a resolvê-lo um pouco mais tarde. Rumando para Sudoeste atinge o rio Zambeze e prossegue a sua caminhada até à localidade portuguesa do Bié, em Angola. A 28 de Novembro de 1875 avista as águas do Oceano Atlântico, tornando-se no primeiro europeu a ligar o continente africano da costa oriental à costa ocidental, via terrestre. Sidi Mubarak Bombay*, que consigo iniciara esta portentosa viagem desde Zanzibar, também estava ali presente. Três anos mais tarde Verney Lovett Cameron visita o rio Eufrates, onde efectua estudos económicos sobre a viabilidade de actividades comerciais e, em 1882, acompanha Richard Francis Burton* em explorações pela Costa do Ouro, na parte ocidental africana. Publicou "Através de África", onde relata a sua famosa odisseia africana e, de parceria com Richard Francis Burton*, publica "Uma Costa do Ouro de ouro". Faleceu, por acidente, fruto duma queda de cavalo. 

Chuma, James - (Lago Niassa, 1850(?) - Zanzibar, 1882)- African-Bombay**. Pertencente ao povo jaua, era filho dum pescador de nome Chimilengo e de Chinjeriapi. Ainda jovem acaba capturado e vendido como escravo a um negreiro português, mas acaba libertado por um conterrâneo seu, de nome Weketoni e, juntos, integram-se na Missão Anglicana de Magomero, liderada pelo Reverendo Charles Frederik Mackenzie. Em 1864, James Chuma e Weketoni são levados para a Índia, ficando na escola de Shanapur, a cerca de 150 quilómetros de Bombaim, onde efectuam estudos básicos e aprendem a dominar inglês. Retornados a África cruzam-se com David Livingstone*, a quem se põem ao seu serviço, a partir de 10 de Dezembro de 1865. Numa deslocação deste missionário ao lago Niassa, em 1866, os dois african-bombays**  acompanham-no mas Weketoni, chegado ao lago, recusa-se a continuar com o explorador, juntamente com outros serviçais, por se reencontrarem agora no meio do seu povo. James Chuma será dos poucos que continuará ao serviço do missionário, na exploração do lago Moero e, depois, para o lago Banguelo, na Zâmbia. Em Abril de 1868, James Chuma e outros acompanhantes, entre os quais se encontrava Abdullah Susi, outro african-bombay**, recusam-se a acompanhar David Livingstone* na sua exploração centro-africana ao Reino do Cazembe, por temerem voltar a serem escravizados, prática habitual nas terras daquele Reino. Em Novembro desse mesmo ano, James Chuma e Abdullah Susi reingressam ao serviço do missionário e tornar-se-ão seus fiéis e incondicionais servidores até ao findar dos seus dias. Acompanha o missionário em todas as suas explorações, na busca das nascentes do rio Nilo  e assiste, em 1871, ao famoso encontro entre este e Henry Morton Stanley*, em Udjiji, onde se cruza também com Sidi Mubarak Bombay*. Quando David Livingstone morre, Chuma e Susi, entre outros, tratam da mumificação do cadáver, depois de lhe retirarem alguns órgãos que enterram sob uma árvore e, durante nove meses, transportam o corpo do explorador para Zanzibar, numa viagem de cerca de 1.500 quilómetros plena de riscos, onde defrontaram animais selvagens e combates com tribos hostis. O usual. No caminho cruzam-se com a expedição de Verney Lovett Cameron*, que ia em busca do missionário e que acaba por tomar conhecimento da notícia do passamento do explorador. Conseguindo levar a bom porto os seus intentos, atingem Zanzibar, onde entregam o féretro às autoridades britânicas e, posteriormente, desloca-se a Londres juntamente com Abdullah Susi, a expensas dum amigo de David Livingstone*, mas não a tempo de assistirem ao funeral do mesmo. Ambos são condecorados pela Real Sociedade de Geografia de Londres com a Medalha de Bronze. Retornando a Zanzibar, onde virá a falecer, alcoolizado e vitimado por uma tuberculose, James Chuma, tal como Abdullah Susi, tornou-se um nobre exemplo da verticalidade humana.

Susi, Abdullah - (Lago Niassa, ? - Zanzibar, 1891). African-Bombay**. Escravizado na sua adolescência, acaba libertado e remetido para a Índia, após o que regressa a Zanzibar. Integra-se nas expedições de David Livingstone*, de quem se tornará um leal servidor, com um percurso idêntico ao de James Chuma. Quando o explorador morre, acompanha o cadáver mumificado até Zanzibar, donde será remetido para a Grã-Bretanha, para as exéquias nacionais. Mais tarde acompanha James Chuma* a Londres, onde é condecorado com a  Medalha de Bronze da Real Sociedade de Geografia daquela capital. Retorna a África e coloca-se ao serviço de Henry Morton Stanley* e, em 1886, adopta o nome de David Susi, em homenagem ao seu mentor David Livingstone*.  
     
* - Já biografado anteriormente.
** - Termo já explicado anteriormente.

Leituras

Atendendo à comemoração do cinquentenário da queda do Estado Português da Índia, ocorrido a 18/12/1961 recomendo a leitura da revista Visão História nº 14, saída neste mês de Dezembro, dedicada a este tema e com o título "Há 50 anos a queda da Índia Portuguesa" . Aborda, duma forma muito correcta, tudo o que se passou na época, quer os seus antecedentes (com um pequeno resumo desde que lá  chegámos, na época dos  Descobrimentos), quer os factos da invasão em si e quer as consequências dos mesmos. Complementa-se com entrevistas a pessoas que viveram os acontecimentos no terreno e ainda apresenta um bom suporte fotográfico.

Aliás, deixo aqui o registo do agrado com que leio as edições trimestrais da Visão História, uma revista temática sobre factos históricos, que "acuso" de ter contribuído para a minha preguiça, pois os temas que ela  aborda são tão bem explicados e confiáveis, numa linguagem simples e acessível, documentando-se com gráficos, desenhos e fotografias que dou por mim, volta não volta, a não ir pesquisar outras fontes para cruzar a informação. Passe o exagero.

Ainda sobre este tema saiu, recentemente, a lume um romance histórico denominado "Goa 1961 - a impotência do Estado  Novo na queda da Índia Portuguesa", de Paulo Aido (Zebra Publicações, Lisboa, 2011, 292 págs.). Para quem se quiser documentar sobre este tema, ao de leve e numa leitura suave, sem a carga pesada dum livro de História puro e duro, tem aqui uma oportunidade. Sem desprezo por outras publicações.

Exposição

"Vik" é uma exposição que visitei, com agrado, no Museu Colecção Berardo, no Centro Cultural de Belém. É uma retrospectiva da obra do artista brasileiro Vik Muniz, temporizada desde o princípio da década de 90 até ao presente. E é gratuita.

Gostei

De ler que, no Cazaquistão, a caça com águias-reais atrai turismo e que, das verbas daí resultantes, fundou-se um centro de conservação de falcões. Espero que tal corresponda à verdade. (Sábado nº 398).

Recomendo

Uma visita às grutas de Mira d´Aire, consideradas  as maiores de Portugal. Localizadas a cerca de 15 quilómetros de Fátima, percorrer os seus subterrâneos não é uma descida aos infernos, mas antes um festim geológico onde se combinam, na perfeição, a pedra e a água, tudo envolto numa sinfonia de luzes. Na região existem outras grutas também visitáveis, mas não tão extensas e profundas quanto esta.

Imbecilidades

"O gato duma viúva italiana herdou 10 milhões de euros." (Sábado nº 398). A notícia é apenas esta linha transcrita, pelo que nada mais sei. Mas espero bem que as autoridades competentes do País onde os factos ocorreram (admitindo a notícia como verdadeira) impeçam a concretização de tal testamento. Que o/a dono/a dum animal deixe testamentado uma certa verba para garantir um resto de vida com qualidade a qualquer animal que o acompanhou sempre, até estou de acordo. Agora, mais do que isso, é pura imbecilidade. Com tantas organizações humanitárias, ambientais, culturais ou científicas (entre outras) a carecerem de dinheiro para os seus fins filantrópicos, este gesto não é de quem gosta de animais. É de quem se quiz servir dum animal para se vingar de alguém (ou de alguéns) ou então não estava na plena posse das suas faculdades. E, sobre actos de vingança ou de maluquices, o Estado tem que intervir.  

Uma pergunta

"As declarações (de Sócrates) explicam porque é que a bomba lhe rebentou nas mãos e ele nos conduziu para a tragédia." Freitas do Amaral, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros ao Jornal de Negócios. (Sábado nº 398). Pergunto: estou com a memória confusa ou este senhor não fez parte do governo socratiano que nos conduziu a esta "tragédia"? Ele entrou em ruptura com José Sócrates e demitiu-se do Governo para não pactuar com esta "tragédia" ou largou o tacho, (desculpem-me, lá me veio um ataque de crise bloquista) ou saiu do Governo apenas por motivos de saúde? Alguém lhe explique que se a palavra é de prata o silêncio é de ouro. 

Memória da semana

15/12/1832 - Nascimento, em Paris, de Gustave Eiffel, engenheiro francês que paternizou a Torre Eiffel, bem como a estrutura da Estátua da Liberdade. Em Portugal a inspiração da sua traça ficou marcada na ponte D.Maria Pia, no Porto e no elevador da Glória, em Lisboa.
15/12/1899 - No decurso da Segunda Guerra Anglo-Boer, os britânicos são derrotados na batalha de Colenso (actual África do Sul). Travada junto ao rio Tugela, fechou o trágico ciclo da  "Black  Week" ("Semana Negra") por ter sido a terceira derrota britânica consecutiva, cujas tropas eram comandadas pelo General Henry Buller, custando-lhes o trágico balanço de cerca de 150 mortos, 750 feridos e 220 prisioneiros tendo, às mãos dos britânicos, falecido cerca de 50 bóeres.


16/12/1770 - Nascimento, na Renânia do Norte, do compositor musical Ludwig van Beethoven. Dentro do seu numeroso espólio musical destaca-se a 9ª Sinfonia - Ode à alegria - presentemente escolhida para hino da União Europeia.
16/12/1836 - Trava-se o combate de Blood River, no Natal (actual África do Sul), nas margens do rio Nacome e que opôs as forças zulus do Rei Dingane às forças bóeres lideradas por Andries Pretorius. A batalha culminou com uma estrondosa derrota zulu, apesar da sua superioridade numérica (calcula-se em 10.000 guerreiros) mas cujas lanças foram impotentes para o poder de fogo das espingardas bóeres (calculados em cerca de 500 homens). O nome "Blood River" ("Rio de Sangue") ficou a dever-se ao facto das águas do rio Nacome terem ficado tingidas de vermelho do sangue dos guerreiros zulus, que se calcula terem sofrido cerca de 3.000 mortos. A consequência directa desta batalha foi a confiança político-religiosa que se gerou no seio da comunidade bóer para virem a criar a efémera República da Natália (República do Natal), que viria a ser anexada pelos britânicos em 1843. Outra consequência foi que, posteriormente, esta vitória viria a servir de fonte de inspiração para os bóeres convencerem-se que eram um povo eleito de Deus e destinado a colonizarem África pois, segundo eles, esta vitória fora uma providência divina que, assim, determinava a superioridade racial branca, base teórica em que assentava a filosofia do "apartheid".
16/12/1915 - Albert Einstein publica a Teoria Geral da Relatividade.

17/12/1903 - O norte-americano Orville Wright efectua, pela primeira vez na História, o voo com um avião mais pesado que o ar, baptizado de "Flyer", durante 12 segundos, tendo percorrido 36 metros.
17/12/1929 - Morre, em Lisboa, o Marechal Gomes da Costa (Manuel de Oliveira Gomes da Costa). Oficial de Cavalaria percorreu, até 1915, diversos territórios ultramarinos portugueses e, nomeado Comandante do CEP - Corpo Expedicionário Português, parte para França a combater na I Guerra Mundial, acabando derrotado na Flandres. Em 1926 lidera o golpe militar que, saindo de Braga a 28 de Maio, vem até Lisboa, golpe esse que instala a Ditadura Nacional, liquidando a 1ª República. Entra em litígio com outros revoltosos, afastando Mendes Cabeçadas da Presidência do Governo, que assume para si, bem como a Chefia do Estado, mas de forma não explícita, durante cerca de três semanas. Óscar Carmona e Sinel de Cordes, outros líderes da revolta, demitem-no, acabando preso e deportado para os Açores. Regressa no ano seguinte, promovido a Marechal, como compensação e para não servir de mártir a oposicionistas, mas já sem força política e militar nenhuma.

18/12/1961 - Tropas indianas invadem o Estado Português da Índia e anexam-no para a República da Índia. O Estado Português da Índia, composto pelos territórios de Goa, Damão, Diu e pelos enclaves de Dadrá e Nagar-Avelim eram, para o regime ditatorial do Estado Novo, um símbolo da grandeza do que Portugal fora 500 anos antes e a memória do seu Primeiro Império (o Segundo Império fora o Brasil e o Terceiro Império eram os territórios africanos, bem como Macau e Timor). Após a independência da Índia (1947) e desfeito o sonho de Mahatma Gandhi de todo o subcontinente indiano ser um só País, fractura essa ocorrida com a independência simultânea do Paquistão ficavam, fora da alçada do Governo Indiano, os territórios portugueses do Estado da Índia. Depois de goradas diversas tentativas de se dialogar com as autoridades portuguesas, o Governo indiano, liderado por Jawarhal Nheru, ordenou a invasão militar do Estado Português da Índia, acto que foi consumado em 48 horas. A queda deste território representou, para o Governo português liderado por Oliveira Salazar, um marco histórico profundamente negativo, já que o mesmo consolidava a premonição do findar da presença portuguesa fora do território europeu, iniciada em Fevereiro/ Março deste mesmo ano, com o eclodir da guerra em Angola e continuado no mês de Agosto seguinte, com o abandono do forte de São João Baptista de Ajudá, por imposição do governo do Daomé (actual Benim). Há quem defenda que, à semelhança do que se passou com Timor, faltou referendar o futuro do Estado Português da Índia.

 Foi dito

"Acrobata é o homem que parte as costelas para encher o estômago." Ambrose Bierce (1842-?) jornalista, escritor, humorista norte-americano. Desconhece-se a data do seu falecimento, pois o mesmo foi dado como desaparecido na guerra civil mexicana, após 1913. (Fonte: Citações para humoristas/José Manuel Veiga/Editorial Lio).

"Dai o que não é vosso, prometei o que não tendes e perdoai a quem não vos errou." Conselho dado ao Mestre de Aviz, futuro D.João I. (Fonte: Histórias rocambolescas... / João Ferreira /Esfera dos Livros)

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