"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Mungo Park

AVENTUREIROS, EXPLORADORES E VIAJANTES

Mungo Park - (Selkirk (Escócia), 10/09/1771- Rio Níger, 1805) - Médico cirurgião e explorador. Em finais do século XVIII nasciam e desenvolviam-se várias incógnitas geográficas no continente africano que desafiavam os mais audazes.  A nível fluvial, para além da nascente e total percurso do Nilo, este lendário rio que durante centenas e centenas de anos desafiou o imaginário europeu, outros também haviam, tais como o Congo e o Níger, duas outras gigantes estradas aquáticas que serpenteavam o continente. 




Mungo Park



Histórias fantasiosas pululavam nas mentes europeias, fruto da ignorância da ciência de então, pelo que havia que ir ao terreno topografar as margens e os envolventes, sondar as águas, etnografar os povos aí viventes, enfim, todo um cotejo de afazeres característicos de quem ia partir para o desconhecido. Porque a História do desbravamento geográfico de África, nas suas quatro vertentes (físico, económico, humano e político), ir-se-ia acelerar face às autonomias independentistas do territórios sul-americanos, que estavam a ocorrer em ritmo acelerado nesse mesmo século.


Um  dos primeiros exploradores a surgir neste panorama africano foi Mungo Park.


Depois de se ter formado em medicina, pela Universidade de Edimburgo, embarca no navio "Worcester", em 1992, ao serviço da Companhia das Índias Orientais, como cirurgião de bordo, viajando até Sumatra e regressando no ano seguinte a Londres.


Apaixonado pela aventura e por viagens ao desconhecido, sob a égide da Real Sociedade Africana de Londres, parte para a Gâmbia, não imaginando a louca e dura viagem a que ia ser posto à prova, a fim de dar continuidade às explorações do malogrado Daniel Hougton (1). A 21 de Junho de 1795 atinge a foz do rio Gâmbia e, partindo de Bathrust atinge Karantaba, onde fica até finais desse ano, a aprender dialectos locais. Em finais de 1795, acompanhado dum criado, começa a sua caminhada para o interior africano e descida aos infernos. À medida que atravessa territórios desconhecidos é espoliado pelas chefaturas locais e outros gentios, que lhe exigem taxas de passagem. 


Como ele dirá nas suas memórias, a título exemplificativo: "Partimos de Burgil e viajámos por um monte seco e pedregoso, .............. chegámos a uma grande aldeia, onde pretendíamos alojar-nos. Encontrámos uma grande parte dos nativos vestidos com uma fina gaze francesa a que chamam de "byqui"; como é um vestido fresco e arejado e bem calculado para revelar as formas do corpo, é muito apreciado pelas senhoras. Todavia os modos destas fêmeas não correspondiam aos seus vestidos, pois eram rudes e quezilentas ao  mais alto nível. Rodearam-me em grandes quantidades a pedinchar âmbar, contas, etc. e foram tão veementes nas suas solicitações que achei impossível resistir-lhes. Rasgaram a minha capa, cortaram os botões das roupas do meu criado e preparavam-se para outros ultrajes quando montei o meu cavalo e me afastei, seguindo durante um quilómetro por um grupo destas harpias." No entanto persiste e atinge o rio Senegal, atravessando diversas aldeias até que acaba aprisionado pelos tuaregues, cujo líder o escraviza ao seu serviço. Ao fim de quatro meses de escravidão consegue uma fuga espectacular, com um cavalo e uma bússula como companhias, internando-se no deserto. A sede e a fome associam-se a si nesta estranha fuga, na busca desesperada da liberdade.


Atinge Segu, onde repousa e avista, finalmente, o rio Níger. Torna-se no primeiro europeu a obter tal feito, fora da foz do mesmo. Corria o dia 21 de Julho de 1796, e sobre esse acontecimento dirá: "Quando nos aproximámos da cidade tive a sorte de alcançar os kaartans fugitivos que tinham sido tão bondosos comigo na minha viagem por Bambarra. Concordaram em apresentar-me ao rei; e cavalgámos juntos pelo mesmo solo pantanoso onde, quando eu olhava ansiosamente de um lado para o outro à procura do rio, um deles gritou "geo affilli"("veja água") e, ao olhar para a frente, vi com infinito prazer o grande objecto da minha missão, o tão desejado majestoso Níger, a brilhar ao sol da manhã, tão largo como o Tamisa em Westminster e a correr lentamente para Oriente. Aproximei-me rapidamente da margem e, depois de ter bebido água, ergui os meus agradecimentos fervorosos numa prece ao Grande Soberano de todas as coisas, por ter desta forma coroado os meus esforços de sucesso." Sobe o rio uma centena de quilómetros mas a falta de meios para prosseguir a jornada levam-no a regressar a Segu. Eram passados nove dias e estava "...esgotado pela doença, exausto de fome e fadiga, semi-nu e sem qualquer artigo de valor com o qual pudesse arranjar provisões, roupas ou alojamento."




Curso do rio Níger

Tendo tomado conhecimento que a cidade acabara de cair em mãos tuaregues, que o tinham escravizado antes, evita-a e caminha para Kamalia. Da sede que passara na aridez do deserto que sofrera, agora apanhava  a época das chuvas torrenciais que quase o atiraram, de novo, de encontro à morte. Finalmente tropeça numa caravana de escravos que o abrigam e com eles atinge a costa atlântica. Era dado como morto na Grã-Bretanha, quando ali retorna em 1797. E de morto a herói foi um  passo.


Publica a sua aventura e, em 1803, aceita liderar uma nova incursão ao rio Níger, para o estudar.

Uma das edições do livro de Mungo Park
(não conheço nenhuma versão portuguesa)


Liderando uma expedição de cerca de trinta soldados e dez outros europeus (entre os quais um seu cunhado), para além dos escravos e com um barco construído de propósito para este evento, em finais de Janeiro de 1805 parte de Gorée para Bamako e vai subindo o rio Níger, combatendo a malária, as populações ribeirinhas inimigas, e o desânimo da sua equipa. Teimosamente persiste na sua navegação por aquele rio acima, o que lhe virá a ser fatal. A moral não podia ser elevada quando se contabilizavam mais de trinta dos seus homens mortos nesta expedição, em combates infelizes contra gentios hostis e doenças mal tratadas.


A 19 de Novembro desse mesmo ano (1805) escreverá a que será, sem saber, a sua última carta para a sua esposa: "....O seu irmão Alexander, meu querido amigo, já não existe! Morreu de febre em Sansanding, na manhã de 28 de Outubro............  Receio.... que possa ser levada a considerar que a minha situação é muito pior. É verdade que os meus queridos amigos, o sr.Anderson e George Scott disseram ambos adeus às coisas deste mundo e a maior parte dos soldados morreu na marcha durante a estação das chuvas; mas pode acreditar em mim, estou de boa saúde." O irrealismo da situação atinge os paradoxos quando continua a escrever: "A chuvas pararam completamente e a estação saudável já começou, por isso não há perigo de doença, e ainda tenho força suficiente para me proteger de qualquer ataque ao viajar pelo rio, em direcção ao mar..."


Percorridos mais de mil e quinhentos quilómetros fluviais a extenuada expedição é atacada por haussas, em Bussa (Nigéria) e, ante a derrota iminente e prespectivas duras de aprisionamento, Mungo Park afoga-se no rio que tanto lutara para descobrir. O mesmo destino teve a restante expedição, reduzida a quatro europeus (estando um louco), três escravos carregadores e um guia, tendo sobrevivido dois nativos (o guia e um carregador) para contar a história.

Senão, nem esta saberíamos.

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////


(1) Daniel Hougton - (1740-1791) - Explorador irlandês que tentou descobrir o rio Níger e estudá-lo. Tendo-se desligado da Armada britânica, em 1778, no ano seguinte encontra-se na ilha de Gorea, a comandar o forte da mesma. No ano seguinte a Real Associação Africana de Londres encarrega-o de determinar o curso do rio Níger, bem como de atingir e visitar Tombuctu, recolher informações sobre o território dos haussas e depois regressar pelo deserto. Uma tarefa ciclópica para um homem só, mas que a megalomania daqueles tempos e a avidez da aventura levavam ao exagero.


Daniel Houghton

A 16 de Novembro de 1790 atinge a embocadura do rio Gâmbia e sobe o mesmo durante cerca de novecentas milhas, após o que prossegue a jornada por terra. Em Setembro de 1791 atinge Simbik, na fronteira com o país Bambouk (zona fronteiriça entre o actual Mali e Senegal). É abandonado pelo seu criado, que se recusa a acompanhá-lo por territórios dominados por árabes (por causa da escravidão) e ele próprio receia por si, através duma carta que escreve desta localidade.

Arrisca-se e atinge Djarra onde se cruza com uma caravana árabe que se deslocava a Tischit para comprar sal. Oferece-lhes uma espingarda e pede que o deixem integrar a caravana. Aceitam-no mas ao fim dalgumas horas de caminhada espancam-no, roubam-lhe tudo e abandonam-no, no deserto. Retorna a pé para Djarra ao fim dalguns dias, onde não comera nem bebera.


Outros relatórios (feitos mais tarde) apontam que Daniel Houghton, já integrado na caravana que se deslocava para Tischit, resolveu abandonar esta ao fim de dois dias de viagem, receoso pela sua vida pelo que, sózinho, retornou a Djarra. Aqui chegado os locais recusaram a dar-lhe qualquer tipo de alimento pelo que ele acabou por morrer à fome.

Desconhecem-se, ao certo, as causas da sua morte. Se assassinado ou se falecido por desinteria ou por inanição. A sua documentação nunca foi encontrada, apesar de buscada posteriormente. A Mungo Park foi-lhe mostrado, de longe, onde o corpo dele terá sido arrastado, num bosque, não tendo sido sepulto, com o fito de ser canibalizado por necrófagos de dois pés ou de quatro patas.
.....................................................................

Nota: As citações atribuídas a Mungo Park foram retiradas do livro de Eric Newbay "O livro dos viajantes" (Publicações Europa-América, 1999, 627 págs.)
**********************************************************

HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL





Nota: Os direitos de Autor e de propriedade intelectual dos textos do "Historiando Moçambique Colonial" encontram-se registados e protegidos internacionalmente. Os mesmos serão cedidos gratuitamente, desde que previamente solicitados e esclarecidos para que fim.

//////////////////////////////////////////////////////////////////////////
Diogo Simões Madeira - (?/?) - Comerciante e Capitão-Mor de Tete. Uma das figuras zambezianas mais emblemáticas do século XVII, senhor do Reino da Chicova*, onde possuía uma fortaleza. Em 1607/08 chefiou uma expedição de auxílio ao Monomotapa Gatsi Rusere, a pedido deste, pois estava a braços com revoltas internas, tal como a secessão do Reino do Barué* e prometera, pelo auxílio, a cedência de todas as suas minas de ouro. Cumprida a missão, com êxito,  o Monomotapa viola o prometido em momento de aflição, pelo que a expedição salda-se num fracasso financeiro.

Em 1613 derrota os tongas, chefiados por Chombe, descendente directo do que havia auxiliado Francisco Barreto*, em 1572, o que permitiu a reabertura do tráfego no rio Zambeze, o reabastecimento de Tete e o reinício com o comércio do Monomotapa. Em 1614 tenta descobrir as minas de prata de Chicova, também pertença do Monomotapa, mas não consegue ter êxito pois, segundo alguns, as gentes do Imperador criaram minas fictícias onde colocavam alguma prata para despiste. No entanto, reza a história que foi o próprio quem criou tal embuste, a fim de ludibriar o Governo de Lisboa, que acabou por o agraciar como Cavaleiro de Cristo. Da prata enviada foi feita uma peça para a custódia da igreja católica de Sena. Posteriormente, depois de descoberta a fraude, Diogo Simões Madeira acabou demitido e preso. 

////////////////////////////////////////////////////////////////////

 
Madzi-manga - Água sagrada para as gentes do Reino do Barué*, pois a mesma provinha de Sena, local onde se encontrava sepultado o seu primeiro Makombe*. Era com esta água que se ungia o novo Makombe, sendo o ritual celebrado em Missongue, capital do Reino. A primeira referência dos portugueses a este ritual data dos finais do século XVIII.

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////

Mansanza - Jazigo real do Reino do Monomotapa* ou dos seus grandes chefes e onde também eram sepultados os seus familiares.


///////////////////////////////////////////////////////////////////
Marondo - Poço, com o diâmetro da estatura de um homem, onde se pesquisava ouro. Os marondos ligavam-se, entre si, por galerias subterrâneas.

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////

 
Messirre - Creme natural que se obtém a partir da maceração dos ramos da árvore conhecida por "mussilo", em pedras de moer juntando-se, aos poucos, água. Obtém-se, deste modo, uma pasta que as mulheres aplicam no rosto mas que também podem usar no resto do corpo. Típico creme de beleza feminino do litoral Norte de Moçambique este creme, para além dos fins de embelezamento possui também características terapêuticas e higiénicas.




Para além destes benefícios físicos, a sua utilização trazia para a mulher que o usava, um símbolo social de virgindade ou marido ausente, factores estes que acabaram, com o correr dos tempos, por serem ultrapassados pelos factores de beleza e terapia acima referidos.

///////////////////////////////////////////////////////////////////////

 
Castigo das varadas - Pena de suplício acessória, que consistia em chicotear os condenados, por diversos tipos de crime, dependendo o número de chibatadas da decisão arbitrária da autoridade administrativa ou militar. Era um espectáculo degradante, sendo o castigo aplicado com as forças policiais ou militares  a quadrangular a área do suplício e, bastas vezes,  a fanfarra a tocar para abafar os gritos do condenado, enquanto este sofria a pena, que era aplicada com juncos molhados, para se tornarem mais flexíveis.

Em Dezembro de 1879 realizou-se, oficialmente e pela última vez, na ilha de Moçambique* a aplicação deste castigo, ao degredado José da Cal, que cometera um crime de homicídio, sendo a pena decretada pelo Governador-Geral Francisco Maria da Cunha, em mais de duzentas vergastadas. A violência da aplicação deste castigo, em concreto, levantou um coro de protestos junto de oposicionistas de tal ordem que chegou ao Governo de Lisboa, o qual ordenou a exoneração do Governador-Geral Francisco Cunha, degredou José da Cal  perpetuamente para Timor e proibiu, de vez e em todo o território nacional, este castigo desumano.

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////
Zanzibar - Palavra que significa "terra de negros", derivada de "zanj" (negro) e "bar" (terra, local, área), expressão esta com que os mercadores árabes ou arabizados se referiam à costa oriental africana, onde vinham a negociar, acabando depois por se instalarem e criarem um sultanato.
////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////
Rabo de guerra - Nome dado a uma cauda de leão molhada em sangue humano, a fim de fornecer poderes mágicos às hostes de achikundas*, antes do início duma batalha.

///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

 
Rota - Ceptro, bastão real, símbolo do poder dos reis do Monomotapa*. Este bastão também podia ser usado pelos seus súbditos mais poderosos, tais como os reis do Quiteve* e de Sedanda*, bem como Capitão de Portas* de Massapa, como símbolo da sua delegação de poderes e representatividade pessoal sobre todas as pessoas do Reino.

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

 
Feiticeiros das chuvas - Sendo as chuvas um poderoso agente regulador das actividades humanas e animais em qualquer parte do mundo, tal regra também se aplicava em África. As longas estiagens provocavam fomes, pelo desaparecimento da caça bem como pela morte das colheitas. Era uma maldição a que nenhum povo escapava e o aparecimento natural das chuvas era tida como uma benção dos deuses, prenúncio de fartura alimentar e colheitas abundantes.

Por isso os feiticeiros que "fabricavam" chuva eram muito poderosos e reverenciados, sendo pagos principescamente pela sua actividade e, muitas vezes, eram os próprios reis que detinham o "monopólio dos poderes pluviais". O chamamento da chuva, pelo feiticeiro, era feita por rezas e artes adivinhatórias onde, por vezes, descobriam culpados no seio da população os quais, por actos que tivessem praticado, tinham afastados as chuvas das suas regiões.

No século XIX a Rainha Mojaju, estabelecida na zona do Transval, foi uma das mais célebres e poderosas feiticeiras das chuvas. Criara-se o mito que a mesma não se podia casar, concebendo em estado virgem a sua descendência, sempre feminina que adoptava o mesmo nome, símbolo da sua imortalidade para os povos, já que era sempre a mesma que governava secularmente.

Segundo Diocleciano Fernandes Neves** relatou, uma das embaixadas que Mojaju recebeu para tratar do problema da falta de chuva, foi enviada por Maueva**, a quem a dita Rainha acabou por lho resolver, depois de ter aconselhado o mesmo a excomungar os espíritos dos irmãos que mandara matar e que ainda vagueavam nas suas aldeias.

Muitas vezes este charlatanismo do chamamento das chuvas resultava mesmo em chuvadas, mas prendia-se com o facto dos feiticeiros arrastarem por meses as suas exéquias, até que algum dia acaba mesmo por chover, fruto da actividade regular da Mãe-Natureza. No entanto, para os povos crentes da feitiçaria, as quedas pluviométricas tinham acontecido sempre graças à intervenção dos feiticeiros especializados em tal arte.

//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// 

Quizumba - Terminologia popular que se referia à hiena, animal tido em baixa consideração quer pelos povos nativos quer pelos europeus, por se ter criado a fama de que só atacava de noite, comia restos pútridos doutros animais, exalava cheiros nauseabundos mas, principalmente, porque era um dos animais favoritos dos feiticeiros.
////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

 
* - Já efectuada ficha.
** - A abrir ficha.

*****************************************************

RECORDANDO HISTÓRIAS E LENDAS DE ÁFRICA

Khaina, a Rainha magrebina - (actual Tunísia, 600 (?) a 700 DC) - Após o falecimento do Profeta Maomé, ocorrida em 632 DC, os seus seguidores deram continuidade à expansão imperial do Islão, avançando da Arábia pelo Norte de África, e não tendo encontrado grandes focos de resistência por parte dos povos que iam englobando na sua esfera de influência. Ao Egipto impuseram-se facilmente(cerca de 640 DC) e, a seguir, o mesmo aconteceu na Cirenaica e na Tripolitânia (correspondente ao actual território líbio).

Mas em Ifryqua (correspondente ao actual território tunisino) os árabes encontraram a resistência do governador Gregório, de Bizâncio, que lhes opôs tenaz resistência, liderando um exército bizantino apoiado por combatentes berberes. Mas Gregório morre em combate (647 DC), a opor-se à intrusão árabe e, reza a lenda (por isso não será facto histórico) que é a sua filha, Yasmina, quem lidera a oposição armada mas esta virá também a morrer em combate pois, ao ver-se cercada e derrotada pelos árabes, deixou-se tombar da sua montada forçando a quebra do pescoço (quem disse que não há belas lendas trágicas?)

Nesta fase inicial de conquista os árabes, estrategicamente, retiram-se depois de terem observado e estudado os focos de resistência que tinham encontrado pelo caminho. A resistência bizantina pusera-os de sobreaviso no que poderiam encontrar daí para a frente. Havia que cuidar de reforços e planificar novas campanhas, para além de consolidar o já conquistado. Daí o recuo, apenas temporário.

Novos combates travam-se ante nova investida árabe. Desta vez são os berberes a oporem-se, liderados por Kosaila, e vingam-se, liquidando a chefatura invasora  na pessoa de Oqbah Ibn Nafi (683 DC). Mas, três anos mais tarde, é a vez de Kosaila morrer a batalhar. E é então que salta das brumas da História a berbere Khaina, do povo Jerawa que, liderando a resistência, leva esta das planícies litorais tunisinas para as montanhas de Aurés no interior do País, onde já reinara durante um trinténio.

Quem era Khaina? Num misto de História e lenda, seria já de idade avançada (centenária dizem mesmo os mais crédulos) quando assumiu a liderança da resistência. Uns dão-na como berbere, outros como mestiça de berbere e bizantina. Mesmo o seu nome é discutível, bem como a sua data de nascimento e local. Minudências estas que, na altura, não faziam grande sentido. Teria sido Rainha de (ou em) Aurés durante mais de trinta anos e, agora, viúva (facto histórico) e centenária (lenda), era sobre ela que os  guerreiros mais novos queriam que os liderasse. Sim, porque guerreiros mais velhos que ela seriam difíceis de encontrar. Talvez fosse profetisa e isso ter-lhe-ia dado poder e ascendência sobre os berberes, já que às profetisas era-lhes concedido estatuto elevado. O dicionarar sonhos e dialogar com mortos davam prebendas materiais e honrarias sociais. 

De qualquer modo, ante nova invasão árabe, desta vez liderados por Hassan Ibn Al-Ghassani, a  velha Kahina irá encontrar algumas dificuldades. Inteligentemente os árabes começaram por  derrotar as forças bizantinas em Cartago (695 DC) e, depois, viraram as suas atenções para os montes de Aurés. Mas, nesta região, Khaina mandou destruir a sua cidade (Baghaya). Nada de útil ficaria nas mãos do inimigo. Depois, as suas forças derrotam, dupla e  estrondosamente o garboso exército árabe em Meskiana e Gabés, obrigando este a recuar para a segurança da Tripolitânia.

Três anos demorou Hassan Ibn Al-Ghassani a digerir a sua derrota e a consumar a sua vingança. Resolvido a quebrar este espinho na expansão imperial árabe, Hassan Ibn Al-Ghassani conquista, de novo, Cartago e, para quebrar a sua citadina hegemonia política, funda Túnis, a bela Túnis de hoje. Depois, qual raposa do deserto, astutamente aguarda a queda de Khaina. Deixaria que fosse ela a destruir-se a si mesma. Apenas lhe daria motivos para isso.

Na realidade é Khaina quem se derrota e arrasta o seu povo na queda. Ante as guerrilhentas surtidas árabes, opta pela política da terra queimada e ordena a destruição de todas as aldeias e dos campos de cultivo, para não deixar nada ao inimigo, à medida que se retrai e busca refúgio no montes Aurés. Aldeia a aldeia, casa a casa, poço de água a poço de água, cultivos a cultivos, tudo é morto em nome da sobrevivência. O espectro da fome começa a imperar no povo. Khaina não se apercebeu que resistir aos árabes não era o mesmo que governar os berberes. O divisionismo começou a disseminar-se no seio do povo esfomeado e as deserções e as passagens para o campo árabe disparam, na razão directa dos estômagos colados às costas.

E, nos idos de 700 DC (ou 701 DC), morrem em Gabés os sonhos de Khaina, a rainha profetiza. Antevendo a sua inevitável derrota, face à persistência árabe, incita os seus próprios filhos a passarem-se para o lado do vencedor antecipado; para uns, uma forma hedionda e senil de acabar o seu reinado; para outros, uma forma inteligente de deixar sobrevivos descendência que pudesse, um dia liderar, de novo, ou o movimento árabe ou a revolta contra estes. 

Derrotada pesadamente em Gabés, como previra em sonhos, refugia-se em Aurés e, daqui tenta levar a luta até Tabarka, quem sabe ainda admitindo uma aliança com os bizantinos. Mas em Tabarka é-lhe desferida a cimitarra decapitadora e a sua cabeça acaba enviada ao califa árabe. Findara a resistência berbere.

Da saga de Khaina restaram lendas mescladas com factos históricos, mas que foram, ao longo dos tempos, mantendo a unidade duma tomada de consciência berbere, tando que muitos deles, ainda hoje, não se consideram árabes.

À conquista árabe, cruel e sanguinolenta como todas as conquistas são, sobreveio a paz e o estabelecimento do seu império por todo o Norte de África e Península Ibérica, dando origem a uma notável civilização tolerante que, principalmente, nos domínios da medicina, astronomia, arquitectura, matemática e filosofia, iluminaram os múltiplos povos peninsulares.

**************************************************

  
LEITURAS

João Pedro Marques - "Uma história de amor e aventura nos primórdios da colonização de Moçâmedes" é o sub-título do romance "Uma fazenda em África" da autoria de João Pedro Marques (Porto Editora, 2012, 432 págs.), é um romance que, ao lê-lo, me atirou para meados do século XIX e me pôs a falar com os fundadores duma colónia agrícola no litoral sul angolano, colónia essa que iria dinamizar a incipiente Moçâmedes (actual Namibe).





Fruto da má convivência entre brasileiros e a comunidade portuguesa, que descambava sempre em violência, sexo e sangue, um grupo de uma centena de portugueses desiludidos com o tipo de vida que tinham naquele País que já fora seu, resolvem abandonar Pernambuco e rumar para Angola, com apoio do Governo de Lisboa. E é a chegada e instalação desses colonos em Moçâmedes, com todas as suas vitórias e derrotas, adaptação aos novos climas, imperando a ausência de tudo e abundância do nada, que nos retrata este romance, baseado em factos históricos (mas não considero romance histórico), tornando-se num livro de leitura leve, agradável, nada cansativo e  que nos elucida como era viver naqueles duros tempos, num povoado cujas fronteiras eram o mar e o deserto.

.....................................................................

  
Breve resenha histórica: O fundador de Moçâmedes foi Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro (Nogueira do Cravo (Beira), ?/12/1809 - Moçâmedes, 14/11/1871). Efectua estudos universitários em Coimbra, onde se matricula em 1829, para cursar Direito. A guerra civil que se instala em Portugal, que opõe miguelista a liberais, leva-o a optar pela  causa absolutista em 1830, levando-o a "alistar-se nos voluntários realistas, seguindo o partido de D. Miguel e fazendo toda a campanha às ordens dum seu próximo parente, general das armas da província.". Com o findar da guerra civil, em 1834, resultante da derrota das forças miguelistas e a assinatura da Convenção de Évora-Monte, Bernardino Castro fica por Lisboa mas, não concordando com o rumo político que o País atravessava, acaba por emigrar para o Brasil em 1839, fixando-se em Pernambuco, onde exerce a actividade de docente para além de também de se dedicar à escrita histórica.



Bernardino Castro

Face aos portugueses serem sistematicamente espancados, espoliados e perseguidos em Pernambuco, Bernardino Castro resolve abandonar o País. Já em 1844 a Assembleia Provincial de Pernambuco propusera que se expulsassem daquele território todos os portugueses solteiros. Três anos mais tarde (1847) abate-se sobre a comunidade portuguesa, em Pernambuco, uma onda de violência inaudita levada a cabo por cidadãos brasileiros. A xenofobia atingira o seu auge e o ódio levava a grupo armados entrarem em tudo o que fosse loja ou casa de português, arrombando à machadada, destruíam os recheios e retiravam os locatários, violando-os e matando-os, arrastando depois os cadáveres pelas ruas, exuberantes de alegria e perante a passividade das autoridades.

A 13 de Julho de 1848 Bernardino Castro escreve, de Pernambuco, uma carta ao Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar de Portugal, onde requer apoio governamental para que ele e mais portugueses residentes no Brasil, fossem para Angola, lançar as fundações duma colónia. A 26 de Outubro desse mesmo ano, é publicada a Portaria nº 2063 do Ministério da Marinha e Ultramar a dar o aval a esse pedido.


Carro bóer atravessando o rio Caculovar, finais do século XIX

Para melhor concretizar esse projecto e arranjar as verbas necessárias o Ministro do Ultramar apresentou no Parlamento um projecto lei, que foi aprovado (08 de Maio de 1849) e rezava:"Artigo I - É o Governo autorizado a despender até à quantia de dezoito contos de réis metálicos com a fundação da colónia agrícola que vai estabelecer-se no distrito de Moçâmedes, na província de Angola.....".

Assim, a 23 de Maio de 1849, Bernardino Castro e mais cento e oitenta colonos portugueses deixam Pernambuco, a expensas do Governo Português, embarcando em dois navios (o "Tentativa Feliz" e o "Douro"), rumo a Angola, chegando a Moçâmedes nos primeiros dias de Agosto desse mesmo ano. Ia arrancar a colónia agrícola de Moçâmedes.

Bernardino Castro, eleito para presidir o Conselho Colonial de Moçâmedes torna-se, assim, no grande impulsionador do nascimento daquela colónia agrícola, que viria a gerar a cidade de Moçâmedes, hoje renomeada de Namibe. De notar que, no entanto, o povoado de Moçâmedes já existia e, em 1840, criara-se ali um Presídio bem como duas feitorias que, no entanto, nunca vingaram. Estas foram criadas por António Guimarães Júnior e depois, ainda no mesmo ano (1840), outra por Jácome Filipe Torres, mas ambas acabaram saqueadas e destruídas por gentios locais.

Embarque de gado, em finais do século XIX

A 26 de Novembro de 1850 a colónia agrícola sofre um novo impulso dinamizador com a chegada de uma nova leva de cento e vinte e cinco portugueses vindos também de Pernambuco, estes agora dirigidos por José Joaquim da Costa. 

A 14 de Novembro de 1871 Bernardino Castro morre, de pneumonia dupla, quando regressava de Luanda, onde fora tratar de assuntos da colónia. E morreu pobre. De tal modo que nem se sabe o local exacto da sua sepultura, no cemitério que mandara construir na colónia que fundara. Ironias da História.

E, para a História, sintetizou-se o seu pensamento de grandeza colonial e do patriota que sempre fora: "Portugal tornaria a florescer tanto ou mais do que quando possuía o Brasil, se soubesse aproveitar-se da utilidade que lhe podia resultar de ser senhor do centro de África."


//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////


Neill Lochery - A Segunda Guerra Mundial devastou a Europa pois a mesma combateu-se em todo o Velho Continente, exceptuando algumas poucas bolsas de paz, que foram os casos da Península Ibérica e da Suíça, por exemplo, por uma razão ou por outra. Os países peninsulares, então em regime de ditadura, simpatizavam com as forças do Eixo; a Espanha mais com a Alemanha nazi e Portugal mais com a Itália fascista. No nosso País Oliveira Salazar, inclusive, tinha uma fotografia do "Duce" na sua secretária de trabalho.

Centrando-nos em Portugal, na década de 40 o regime vivia os seus últimos tempos de paz social. Podia-se dar a determinados luxos impensáveis na Europa belicosa. Até realizou, em 1941, a Exposição Colonial do Mundo Português, na zona do Restelo - Lisboa, mandando vir de todas as colónias gentios, artefactos, casarios e tudo o mais que fosse necessário para mostrar ao Mundo a nossa grandeza. Era a triste tentativa de pormos pretos a dançarem o Vira do Minho. Enfim, misérias de antanho.

Vem isto a propósito dum livro que li há pouco e que me levou a esse tempo. Da autoria de Neill Lochery, tem por título "Lisboa, a guerra nas sombras da Cidade da Luz, 1939-1945" (Editorial Presença, 2012, 264 págs.) e debruça-se sobre o fascínio que Lisboa foi, pela sua falsa neutralidade, tornando-a numa das capitais mundiais da espionagem, dos negócios e ponto de passagem de refugiados. Por isso, durante algum tempo Lisboa foi a Cidade da Luz, porque as luzes à noite não se apagavam contrariamente a muitas capitais europeias (não confundir com Cidade Luz, o eterno título da eterna Paris).

Mas às luzes da cidade seguiam-se as penumbras da mesma e é neste jogo de luzes e sombras que, no eixo Lisboa-Cascais, se jogaram muitos destinos da Europa e de europeus, tornando-a um palco privilegiado de passagem de muitos actores do mítico mundo da espionagem e restrito mundo dos negócios. A título de curiosidade, foi nas memórias dos tempos que passou entre Lisboa e o Casino Estoril que um espião do MI5 virá, mais tarde, a criar um personagem literário famoso. O espião era Ian Fleming e o personagem por si parido foi "Bond, James Bond".

Neill Lochery, com formação de historiador, neste seu livro leva-nos, com mestria, a percorrer os corredores penúmbreos desses tempos, analisando o instável equilíbrio de Oliveira Salazar, com o coração na Itália, mas a algibeira na Alemanha e na Grã-Bretanha, os refugiados judeus, o ouro nazi que entrou nos nossos cofres, entre muitos outros aspectos, tudo bem fundamentado em vasta documentação consultada e referida no final.
*******************************************

POESIA

Noémia de Sousa - (Catembe, 20/09/1926 - Lisboa, 04/12/2002 - Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares) - Filha de um português (miscenizado de goês e macua) e e de uma ronga (tendo esta ascendência alemã, via paterna), efectua os seus estudos em Lourenço Marques, onde completa o ensino secundário, na Escola Comercial, após o que exerce funções de secretariado e, posteriormente, integra-se nos quadros da Associação Africana.



Noémia de Sousa


Com trabalhos espalhados por diversos órgãos de imprensa tais como no "Itinerário", "O Brado Africano", "Vértice" e outros, é considerada, por muitos, uma das mais importantes poetisas de Moçambique, percursora duma tomada de consciência africana e da revolta da sua posição subalterna perante o colono. É a teoria da negritude em fermentação, tornando-a uma percursora. Numa entrevista a Patrik Chabal(1) dirá: "Eu acho que quando comecei a escrever isso foi uma opção, no fundo para dar voz àqueles que não tinham voz." No "Brado Africano", conforme relatará em entrevista a Michael Laban (2): "No jornal criei uma página feminina - não sou muito a favor do tipo de página feminina - mas já havia uma e eu resolvi transformar essa página feminina numa página para toda a gente..." . Convive com toda uma nova geração literária que despontava em Moçambique, abarcando José Craveirinha, Rui Knopfli, Ricardo Rangel, Cassiano Caldas, Rui de Noronha, Rui Guerra e tantos outros.


É, no campo intelectual, a sua época de ouro, podendo-se datar o nascimento e morte da sua veia poética entre 1948 e 1951.  Como dirá a Michel Laban: "...é a "Canção Fraterna", é o primeiro. (poema). Eu esse sei que foi o primeiro que escrevi (em 1948). Interrompeu, voluntária e prematuramente, a sua carreira de vate em 1951: "Escrevi toda a minha poesia antes de 1951", (entrevista a Patrick Chabal) só tendo voltado a poemar após a morte de Samora Machel, uma única composição para ser declamada por vozes femininas. Das razões da sua interrupção como poetisa dirá: "Não sei porque é que acabei de escrever em 1951 poesia....as pessoas perguntavam-me porquê não escrevia poesia, mas como é que eu hei-de explicar? Não foi uma coisa voluntária, não foi uma opção que eu tivesse tomado. Não foi. Aconteceu! De facto não tinha essa vocação..." (entrevista a Patrick Chabal)


Vem para Lisboa, para conhecer irmãos e outros familiares que viviam em Portugal e para  tentar prosseguir alguns estudos. O seu convívio com intelectuais moçambicanos, na capital laurentina, fizeram-na pensar ter os seus passos a serem seguidos pela polícia política da ditadura. Mas nunca foi incomodada. Em Lisboa casa-se com Gualter Soares, um moçambicano oposicionista à ditadura que, posteriormente adquire a cidadania francesa. Quando este está em Paris, a trabalhar, Noémia de Sousa, com a filha de colo, pretende ir ter com ele (1964), mas as autoridades portuguesas tiram-lhe o seu passaporte, o que a obriga a ir para França clandestinamente. "Sabe que era uma altura em que geralmente os africanos  que saíam das fronteiras de Portugal não voltavam, iam juntar-se aos movimentos. Já  havia FRELIMO, já havia MPLA, já havia PAIGC, de maneira que eles punham muitos entraves à saída das pessoas. De maneira que fui para França a salto, e fiquei lá uns tempos.", conforme relatará a Michel Laban.


Na "Cidade Luz" envolve-se muito ligeiramente na política como simpatizante da FRELIMO, mas a opção pela educação da filha leva-a a não trilhar o percurso revolucionário. Assiste ao Maio de 68 e em 1973, depois de se ter divorciado, regressa a Portugal, onde se fixa de vez, face às dificuldades financeiras que atravessa em Paris.

Vive o 25 de Abril em Lisboa, lembrando-se: "Eu fui para França, vivi o Maio de 68, venho para Portugal, é o 25 de Abril! O Rui Guerra dizia assim: "Então vem ali até ao Brasil a ver se acontece alguma coisa..." (entrevista a Michel Laban)

Assume-se como voz importante: "Eu acho que o meu papel dentro da literatura moçambicana foi importante, mesmo sendo uma obra deficiente... Vendo as coisas à distância dá-me a impressão que de facto influenciei pessoas. O Rui Knopfli pode dizer que não, mas eu acho que influenciei..." (entrevista a Patrick Chabal).


E influenciou. A sua poesia é socialmente impactante e nela sente-se o Moçambique colonialmente ferido mas, acima de tudo, o assumir de tal facto, desafiando o poder de então. E é aqui que reside a sua força poética. Noémia de Sousa, que após 1951 claudicou com o seu silêncio deixou, no triénio antecedente, um legado de 43 poemas que,  ao tempo e à época fez dela, em teoria, mulher coragem. 

O próprio Rodrigues Júnior, acérrimo defensor da portugalidade em Moçambique e com quem ela não revelava simpatias (e com razão), analisa-a no seu "Poetas de Moçambique" e dela (dando uma no cravo e outra na ferradura) reconhece-lhe "magnificiência na sua criação artística, poderosa no seu lirismo e no seu ritmo, de uma musicalidade estranha...", na dissecação do poema "Eu quero conhecer-te África".


Noémia de Sousa podia ter ido mais longe... mas claudicou. A sua grandeza poética, enquanto percursora (in)voluntária da negritude, rasgadora de novos horizontes na plástica literária e inspiradora de uma geração de magníficos poetas combativos e combatentes, foi incompatível com a opção que depois tomou, ao refugiar-se não só no silêncio (parte mental) como em Lisboa (parte física). Foi, para todos os efeitos, um abandono. Que nunca explicou convenientemente.


E em Paris voltou a claudicar, ao virar as costas aos revolucionários que lá conheceu e, de novo, a regressar a Lisboa. Mais uma vez abandonou o campo de batalha.


A par de Rui de Noronha e de mais meia dúzia foi a primeira mulher que deu início à marcação da fronteira do nascimento da literatura de raiz moçambicana (liberta dos espartilhos portugueses). Como fundadora do que se pode considerar o nascimento da verdadeira literatura de raiz moçambicana/africana tem todos os créditos. No resto, são débitos.


Conhecem-se três publicações com a sua poesia (mas não publicadas por si): "Sangue Negro" (Lourenço Marques, 1961), "Poemas inéditos" (Lisboa, 1964) e "Poesia" (Maputo, ?).


SANGUE NEGRO

Ó minha África misteriosa e natural,
minha virgem violentada,
minha Mãe!

Como eu andava há tanto desterrada,
de ti alheada, distante e egocêntrica,
por estas ruas da cidade,
engravidadas de estrangeiros!

Minha mãe, perdoa!

Como se eu pudesse viver assim,
desta maneira, eternamente,
ignorando a carícia fraternamente
morna do teu luar
(meu princípio e meu fim)...
Como se não existisse para além
dos cinemas e dos cafés, a ansiedade
dos teus horizontes estranhos, por desvendar...
Como se nos teus matos cacimbados
não cantassem em surdina a sua liberdade
as aves mais belas, cujos nomes são mistérios ainda fechados!
Como se teus filhos - régias estátuas sem par -,
altivos, em bronze talhados,
endurecidos no lume infernal
do teu Sol causticante, tropical,
como se teus filhos intemeratos, sofrendo, lutando,
à terra amarrados,
como escravos, trabalhando,
amando, cantando
- meus irmãos não fossem!

Ó minha mãe África, ngoma pagã,
escrava sensual,
mística, sortílega, - perdoa

À tua filha tresvairada
- abre-te e perdoa!
Que a força da sua seiva vence tudo!
E nada mais foi preciso, que o feitiço ímpar
dos teus tantãs de guerra chamando,
dundundundun-tã-tã-dundundundundun-tã-tã,
nada mais que a loucura elementar
dos teus batuques bárbaros, terrivelmente belos...
- para que eu vibrasse,
- para que eu gritasse,
- para que eu sentisse, funda, no sangue, a tua voz, Mãe!

E, vencida, reconhecesse os nossos elos...
E regressasse à minha origem milenar.

Mãe, minha mãe África
das canções escravas ao luar.
não posso, não posso repudiar
o sangue bárbaro que me legaste...
Porque em mim, em minha alma, em meus nervos,
ele é mais forte que tudo,
eu vivo, eu sofro, eu rio através dele, Mãe!

....................................................................
SE ME QUISERES CONHECER

Se me quiseres conhecer,
estuda com olhos de bem ver
esse pedaço de pau preto
que um desconhecido irmão maconde
demãos inspiradas
Talhou e trabalhou
em terras distantes lá do Norte.

Ah, essa sou eu:
órbitas vazias no desespero de possuir a vida
boca rasgada em feridas de angústia,
mãos enormes, espalmadas,
erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,
corpo tatuado de feridas visíveis e invisíveis
pelos chicotes da escravatura...
Torturada e magnífica,
altiva e mística,
África da cabeça aos pés
- Ah, essa sou eu!

Se quiseres compreender-me
vem debruçar-te sobre a minha alma de África,
nos gemidos dos negros no cais
nos batuques frenéticos dos muchopes
na rebeldia dos machanganas
na estranha melancolia se evolando
duma canção nativa, noite dentro...


E nada mais me perguntes
se é que me queres conhecer...
Que eu não sou mais que um búzio de carne
onde a revolta de África se congelou
seu grito inchado de esperança.

..........................................................................


EU QUERO CONHECER-TE, ÁFRICA

Eu quero conhecer-te melhor,
Minha África profunda e imortal!...
Quero descobrir-te para além
do mero e estafado azul,
do teu céu transparente e tropical,
para além dos lugares comuns
com que te disfarçam aqueles que não te amam
E em ti vêem apenas um degrau a mais para escalar!


De norte a sul,
de oriente a ocidente,
- quero conhecer-te bem,
sem nada de insincero, de superficial,
e velar-te o corpo possante de virgem negra.
Quero conhecer-te melhor que ninguém,
minha África silhuetada contra a noite enfeitiçada
de lua e espíritos vingadores...

E quero mais!
Quero que os meus terríveis gritos de dor
sejam os gritos repetidos dos meus irmãos...
Que eu quero dar-te e dar-lhes todo o meu amor,
toda a minha vida, o meu sangue, a minha alma,
os versos que escrevo a sofrer e a cantar...
Só contigo e com os meus irmãos quero lutar
por uma vida livre, digna, alevantada!
Sim, quero lutar em ti integrada,
confundindo as almas lado a lado,
ritmando nossos esforços e suores,
sentindo o eco de cada brado
das nossas bocas, reboar por esse sertão fora
longamente, dolorosamente...

E que alguém, perdido lá longe, o recolha e diga:
- Mas é minha esta voz, esta dor,
é meu este brado!


Quero compreender-te minha África,
quero penetrar-te, sonhar contigo,
descobrir-te nua e verdadeira,
sofrer os teus desalentos, esperar contigo,
sempre contigo!
porque só assim merecerei viver...


E que todos digam, quando eu cantar,
ou quando me revoltar, ou quando chorar
-É a África que canta, e grita e chora!

.........................................................................


(1) - Patrick Chabal - "Vozes moçambicanas: literatura e nacionalidade". Págs. 104/125.
(2) - Michael Laban - "Moçambique, encontro com  escritores" Pág. 283.

********************************************************

PINTURA



Albano Neves e Sousa - (Matosinhos, 15/01/1921 - São Salvador da Baía, 11 de Maio de 1995) - Porventura será o mais conhecido pintor de Angola. Tendo feitos os seus estudos nas Belas Artes do Porto, efectua as suas primeiras exposições em 1936.



Neves e Sousa


A partir de 1952 fixa-se em Angola e, no decurso da sangrenta descolonização, ruma para o Brasil. Premiado internacionalmente, efectua exposições em diversos países. Pintor consagrado, presentemente está representado em diversas coleções museológicas e privadas. Adoro a pintura de Neves Sousa. O vídeo seguinte é uma excelente oportunidade para se conhecer parte da obra deste pintor excepcional.





Para além das aguarelas e óleos, a sua obra espalhou-se em murais, nas paredes de diversos hoteis e aeroportos, por exemplo, bem como desenhos e ilustrações de capas de livros. Dizia-me Fernando Laidley que: "Neves e Sousa estava tão entranhado na pintura que estava casado com ela e comia, bebia e dormia a pensar só nela." A sua temática pictórica é, eminentemente, Angola, em todo o esplendor das suas gentes, florestas e animais. Em 1979 as saudades levam-no a versejar três quadras onde prepassa o assumir da sua angolanidade e a mágoa da lonjura da mesma. É esse pequeno poema, que titulou de "Angolano", que se reproduz de seguida.

ANGOLANO


Ser angolano é meu fado e castigo
Branco eu sou e pois eu já não consigo
Mudar jamais de cor e condição
Mas será que tem cor o coração?

Ser africano não é questão de cor
É sentimento, vocação, talvez amor
Não é questão nem mesmo de bandeiras
de língua, de costumes ou maneiras.

A questão é de dentro, é sentimento
E nas parecenças doutras terras,
Longe das disputas das guerras
Encontro na distância o esquecimento.

Tenho, em meu poder, um acervo fotográfico sobre a temática de penteados angolanos, alguns deles feitos por Neves de Sousa e assinados pelo mesmo, que me foram ofertados por Fernando Laidley, acervo esse que um destes dias publicarei.


*******************************************************

PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA



Denuncie. Intervenha. Não se cale. Auxilie associações ambientais. Seja cidadão. Não se acorbade. Quem faz isto aos animais não merece usufruir do milagre da vida e saborear o Planeta.


**********************************************

ACONTECEU

Islamismo (1) - A cantora norte-americana Lady Gaga viu-se obrigada a cancelar um concerto programado para Jacarta, capital da Indonésia, em virtude da ameaça proferida por grupos extremistas islâmicos que justificavam, entre outras coisas, que as músicas dela eram invocações satânicas; o que acabou por obrigar a organização do evento a devolver o custo de dezenas de milhares de bilhetes que já tinham sido vendidos.

E o que está aqui em causa, em primeira linha, não é tanto a realização ou não do espectáculo (o que é sempre de lamentar) mas sim a razão porque o mesmo foi cancelado: por medo.

Isto passou-se num País que se diz democrático, pluripartidário e aberto ao Mundo. Simplesmente este mesmo País que se diz democrático, pluripartidário e aberto ao Mundo não conseguiu garantir a segurança da realização dum espectáculo musical. A linguagem do terror voltou a triunfar. Mais uma vez pela voz de defensores da pureza da religião muçulmana.

E aqui chamam-me a atenção que não são todos os islâmicos que actuam desta maneira, mas sim os extremistas. Tudo bem, até posso estar de acordo. Mas não vejo os responsáveis pelas correntes moderadas do Islão a criticarem os extremistas. Não ouvi nenhuma voz dos ditos moderados a insurgir-se contra esta forma de censura pelo terror.

E é aqui que me bato, lembrando sempre a frase: "Não me incomodam os gritos dos maus, o que me perturba é o silêncio dos bons." (Martin Luther King).


Defensores islâmicos da "sharia" no Reino Unido

E do terror dos extremistas à cobardia dos moderados vai o Islão, nas suas diversas vertentes, triunfando. Porque aos moderados islâmicos também acaba por lhes interessar os extremistas, pois as verdadeiras democracias, tolerantes da sua essência, acabam depois por negociar e transigir com os moderados, facultando-lhes determinadas benesses em detrimento doutras religiões. Não nos esqueçamos que a conquista da Europa é o principal objectivo dos radicais muçulmanos (a título de exemplo o quererem, subterrâneamente, reactivar o  Califado de Córdova.)

Califado de Córdova (756-1031)


Daí a minha pergunta: até que ponto movimentos radicias islâmicos são financiados por correntes ditas moderadas. Até quando? Depois admirem-se do crescimento da extrema-direita na Europa. Será necessário combater numa nova Covadonga? Ou em Poitiers? Por mim, espero que não. 

....................................................................
Assalamu ALEIKUM wa rahmatul´lah wabarakatu. (Que a paz e a benção de Deus estejam convosco.)
//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

Islamismo (2) - Leio no Expresso de 26/05/2012 (Secção Breves - pág.29): "O activista mauritano Biram Ould Abeid foi detido por queimar livros de direito islâmico que legitimam a escravatura." A Mauritânea é uma República Islâmica (é assim que consta na sua Constituição, datada de 12 de Julho de 1991), onde se aplica a lei da "sharia", entre outras. Neste País, que é extremamente paupérrimo, a escravatura existe e é praticada em todo o território (bem como nos países vizinhos), com total impunidade, beneficiando da tolerância e aceitação das autoridades. Tal é a tolerância que detiveram Birame Ould Dah Abeid por este "queimar livros de direito islâmico que legitimam a escravatura".


Direito islâmico que legitima a escravatura? Mas em que século vivem estes poluidores mentais que respiram o oxigénio que tanta falta me faz para eu fumar os meus cigarros?


Birame Ould Dah Ould Abeid é um mauritano livre e corajoso. Dos que não se calam. Por isso, por várias vezes, este activista dos direitos humanos acabou preso e condenado (pelos tribunais islâmicos que administram a "diz que é uma espécie de" justiça no País). Na sua qualidade de Presidente do "IRA Mauritane" (sigla que, traduzida, significa Iniciativa para o Ressurgimento do Abolicionismo na Mauritânea) tem combatido com denodo este flagelo social. Ele e, logicamente, outros mauritanos. Recomendo que comecem a navegar pelo www.iramauritanie.org.



Birame Ould Dah Ould Abeid


Pergunto eu: onde estão as vozes dos ditos religiosos islâmicos moderados a criticarem as autoridades mauritanas? Onde estão as vozes dos ditos religiosos islâmicos moderados a criticarem a existência de livros de direito islâmico que legitimam a escravatura?

Há quatro dias atrás (24 de Maio) o governo mauritano criou, por decreto, um Conselho Islâmico para emitir fatwas (decisões jurídicas islâmicas, de pena capital e sem recurso, dadas por especialistas na lei corânica), segundo leio na "EMM Labs News Brief ", como forma de reprimir estas manisfestações do líder da IRA Mauritane, que, assim, arrisca-se a sofrer uma fatwa que o condena à morte.

A Europa é sistematicamente fustigada e acusada (ainda hoje) de ser fomentadora da escravatura, nos  tempos idos do colonialismo, nos manuais de História. É verdade. Mas não foi a Europa quem inventou a escravatura. Esta sempre existiu em todas as latitudes, civilizações e épocas. Aos europeus pode-se impugnar-lhes o terem colocado o tráfico negreiro à escala continental (de África para a América). Mas também foi a Europa a liderar o movimento abolicionista. Esta mesma Europa de matriz judaico-cristã, que a moldou. Hoje a escravatura é impensável em qualquer País europeu (1). É reprimida legalmente. Em sistemas democráticos e laicos. Contrariamente a outros países que, em sistema ditatorais e religiosos permitem, toleram e lucram sem piedade com a dor humana. 

Por isso, volto a perguntar: onde estão as vozes dos ditos religiosos islâmicos moderados a criticarem as autoridades mauritanas (ou outras que se comportem como elas)? A criticarem a existência de livros de direito islâmico que legitimam a escravatura? A criticarem a excisão feminina? A criticarem o casamento com crianças? (Na Europa, de matriz judaico-cristã, isso é considerado pedofilia).

..................................................................

 
Tive, na África índica, um Mestre suaíli que me ensinou muitas coisas daquele continente. Era detentor dum conhecimento fabuloso e posso dizer que foi um Homem que me marcou profundamente, considerando-o meu "Pai". Sei que já partiu para a Grande Grande Viagem. Baba Muquevela era meu "mwhalimu" e a ele lhe devo o ter aprendido:  "Watu wote wamezaliwa huru, hadhi na haki zao ni sawa. Wote wame jaliwa akiliu na dhamiri, hivyo yap asa watendea ne kindugu" (2) (Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.)


E que tal os religiosos islâmicos moderados começarem a  interiorizar estes ensinamentos?


Ah... é verdade, estava-me a esquecer de dizer: Baba Muquevela peregrinou a Meca e deu sete voltas à Kaaba. Preparava-se para ir lá a terceira vez (sonhava poder usar o cofió verde) quando Alá o chamou à Sua presença.

..................................................................


(1) - Apesar de eu me reportar apenas aos países europeus, esta intolerância ao esclavagismo também abrange todos os países do hemisfério norte e bastantes do hemisfério sul. Grosso modo pode-se considerar que o esclavagismo  subsiste em diversos países (não todos, como é o caso da Turquia, por exemplo) onde a religião muçulmana tem predominância social e política. Sintomático.

(2) - Espero, devido aos anos já passados, não ter cometido nenhuma falha.

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

Humor político - Ao navegar na rede, tropecei nestas duas imagens, e não resisti a colocá-la aqui. E isto foi em plena época de ouro "sarkoziana" (Setembro de 2008). Olha se fosse cá.


La première photo est une certitude...la seconde photo est ume rumeur...mais pas une certitude...
(A primeira foto é uma certeza...A segunda foto é um rumor...mas não uma certeza...)



///////////////////////////////////////////////////////////////////////////

Fugas prisionais - Leio no Diário de Notícias (30/05/2012) que a Polícia Judiária (PJ) capturou um indivíduo que estava evadido duma cadeia. Mais refere a notícia que o indivíduo em causa assaltou mais de cinquenta bancos (isso mesmo, cinquenta bancos) e era a quinta vez que fugia duma cadeia.

Lamento duas situações: I) A total incompetência dos nossos serviços prisionais. Uma pessoa fugir cinco vezes, não será demais? É um puro atestado de incompetência aos guardas prisionais. Mais a mais tratando-se dum assaltante de bancos. Mas será que andam todos a dormir? Até a Ministra da Justiça, anda a dormir? E que tal levantar um processo disciplinar por negligência (no mínimo) e, depois de apurados os culpados, pô-los a andar para o desemprego  (já agora sem direito a subsídio)e dar lugar a outros que queiram mesmo trabalhar? É difícil, Sra. Ministra?

II) A total incompetência deste fugitivo. O indivíduo não sabe tratar convenientemente da sua vida. No seu lugar eu fugia era de Portugal, tentava chegar ao Brasil ou aos Estados Unidos, vendia a minha história, os direitos para um filme, dava umas conferências (pagas é claro) e levava uma vida de nababo. É que cinco fugas de cadeias e cinquenta bancos assaltados dá uma história fílmica de primeira. O homem tem tomates. Não deve é ter miolos. E por isso acaba sempre preso.

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////
Povo masoquista versus PPP / BPN / BPP / Secretas e afins - Não me quero alongar em todas estas e outras infelizes histórias que preenchem a vida do meu País. Já toda a gente sabe o que se passou e voltar a falar disto é só chover no molhado.

Detesto a grande maioria da classe política que tem dirigido os destinos desta Nação, quer sejam ministros, secretários de estado, deputados, presidentes da República. Tal como na Banca, no Sector da Construção Civil (Grande e Média) e na Judicatura, mais a nível de Relação, Supremo e Constitucional. Não ilibo ninguém. Nesta fogueira de vaidades quase todos saem queimados, uns mais que outros. 

Por vezes a revolta é tanta que até tenho ataques de "PREC"  e então dou-me a pensar se o Campo Pequeno seria suficientemente grande para caberem lá todos.... Infelizmente, continua tão actual a canção "Os vampiros", do imortal Zeca Afonso. Só que, agora, os novos  vampiros são mais sofisticados. Europeiizaram-se. Já não rebentam com as portas. Nem arrastam os resistentes para os "curros". Nem torturam no "sono" ou na "estátua". Não que isso é atentatório dos Direitos Humanos.


"Os vampiros", interpretado por José Afonso


Agora são tão melífulos no "aldrafalar" que até nos convencem a comprarmos e pagarmos do nosso bolso a vaselina que eles utilizarão para nos sodomizarem. 
Mas, no campo político, a culpa não é só destes senhores. A eles culpo-lhes mais a falta de sentido Pátrio, de verticalidade na defesa da "coisa pública" (os malditos nem devem saber o que é isto de "coisa pública"). A culpa também é do povo, burro como sempre, que vota nos mesmos. Ou nos "laranjas" ou nos "rosas", com os "beatos" na rectaguarda a ajudarem à festa. São estúpidos. Podiam votar em qualquer num dos restantes partidos que se candidatam (e são bastantes) ou mesmo em branco, mas não. Bestas quadradas votam sempre nesta ..... de classe política. Gostam de sofrer, que se há-de fazer? Até parece que gostaram de 48 anos de Ditadura.
**************************
**************************************************
**************************

Seja amigo do ambiente. Utilize o diploma legislativo que regulamenta o Novo Acordo Ortográfico como papel higiénico. Depois remeta-o para os mentores dessa aberração legislativa. E não se esqueça que um deles está em Paris.
////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

As referências aos produtos acima referidos (livros, filmes, músicas, etc.) são incompatíveis com intuitos publicitários de carácter comercial. Reflectem apenas, e tão-somente, a opinião do Autor.


////////////////////////////////////////////////////////////////////////


/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

Todas as fotografias e os vídeos constantes no presente texto foram colhidas, respectivamente, do Google Imagens e do Youtube.

////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

 


E agora... vou descansar.


********************************
**********************************************************
*********************************

domingo, 27 de maio de 2012

Dian Fossey

VIAJANTES, AVENTUREIROS E EXPLORADORES


Dian Fossey - (São Francisco (EUA), 16/01/1932 - Montes Virunga (Ruanda), 26/12/1985) - Zoóloga. Integrada numa família disfuncional desde muito jovem a sua relação com o mundo animal era a sua grande paixão, talvez como válvula de escape de encontrar a afectividade que não encontrava no ambiente familiar. Em adolescente a morte dum peixe de estimação leva-a, mais tarde, a dizer: "Chorei durante uma semana quando o encontrei, flutuando de barriga para cima, no aquário do meu quarto. Os meus pais acharam que até tinha sido bom e ...." Depois de completados os estudos secundários inscreve-se para Medicina Pré-Veterinária na Universidade da Califórnia, mas reprova no segundo ano. Acaba por se tranferir para o San Jose State College, licenciando-se em Terapêutica Ocupacional, em 1954. Emprega-se no Hospital Infantil Korsair, em Luoisville - Kentucky, onde lidera o departamento da Terapêutica Ocupacional e arranja uma casa numa quinta em Glenmary. Destes tempos dirá: "Nunca vi sítio tão belo como este agora no Outono. Em Glenmary os ribeiros  estão cheios de folhas douradas, vermelhas, verdes e de castanhas das florestas. ...... Quando acordo de manhã corro de janela em janela e fico cega com esta beleza." A paixão pelos animais é constante: "Muitas vezes vejo um guaxinim ou um opossum a correr, .......... Quando volto do trabalho levo cerca de vinte minutos a dar de comer a uma multidão de gatos rafeiros e ao grande cão-pastor......juntamente com os cães da quinta... que me adoptaram completamente." São os calmos e felizes dias que Dian Fossey desfruta, na pujança dos seus vinte e dois anos.


Diane Fossey


 
Pujança essa que se reflecte na sua vida amorosa e que, indirectamente, a leva a aproximar-se de África. Conhece Franz Forrester, um rodesiano cujas famílias tinham propriedades na Rodésia do Sul (1) mas recusa o convite deste para o acompanhar. O casamento não estava nos seus planos. Envolve-se na intimidade com um frade trapista, o Padre Raymond, que a leva a optar, ainda que fugazmente,  pela religião católica, o que escandaliza a sua família. Conhece um jornalista que trabalhava no "Courier Journal" de Louisville o qual, tendo feito uma viajem ao continente africano, lhe relatava com entusiasmo essa experiência fascinante que fora para ele. A ideia de viajar até África cimenta-se pois: "A ideia de estar num sítio em que os animais não foram ainda encurralados em pequenos recantos atrai-me imenso. Se ele voltar a África, como espera, vou atrás dele." Desta vez não recusaria como o fizera com Franz Forrester, mas o jornalista viajou foi para a Florida e saiu da vida de Diane Fossey, para sempre. Mas ele soubera-lhe, também, transmitir a sua paixão por África. 

 
Em 1960 uma sua amiga, Mary White, efectua um safari a África e Dian Fossey não a acompanha por não ter dinheiro para custear a sua viagem. É então que toma a decisão que iria àquele continente, custasse o que custasse. Em 1963 hipoteca os seus vencimentos dos próximos três anos a troco dum empréstimo financeiro para ir a um safari no Quénia. Contava resgatar a dívida com fotografias e reportagens que fizesse na sua viagem de quatro semanas. Lê tudo sobre África e fica com a a sua atenção presa num livro que lhe irá mudar o rumo da sua vida: "O ano do gorila" da autoria do zoólogo George Schaller, onde este descrevia o seu estudo pioneiro nos raros  gorilas-da-montanha que efectuara no Congo Belga. Decidindo-se a fazer uma reportagem sobre este tema, Dian Fossey amplia a sua viagem para seis semanas, de modo a visitar os montes Virunga, na África Central, e tentar ver os gorilas-da-montanha.

A 26 de Setembro de 1963 Dian Fossey inicia a sua grande aventura, partindo para África com trinta quilos de excesso de bagagem. No seu itinerário contava passar por Quénia, Tanganica (2), Uganda, Congo Belga e Rodésia do Sul, onde se iria encontrar com o seu antigo amado Franz Forrester. No Quénia é conduzida por um guia-caçador branco que contratara, John Alexander, que a leva ao Serengueti, a Tsavo e à cratera de Ngorongoro. Dian Fossey fotografa incansavelmente a fauna e a paisagem, cada vez mais deslumbrada com estes do que com as gentes com quem se vai cruzando.


 
Uma semana depois decide tentar encontrar um homem cuja obra o tornara mundialmente famoso, o Dr. Luis Leakey, paleontologista que desde os anos trinta se dedicava, na zona da garganta do Olduvai, a descobrir fósseis de hominídeos. Tem a sorte de o localizar no seu acampamento base do Olduvai e este encontro é um marco histórico na vida da Dian Fossey, pois o cientista, para além de a ter recebido com todas as honras, aconselha-a a deslocar-se ao encontro dos gorilas-da-montanha.

A 15 de Outubro 1963 Dian Fossey e o seu guia, John Alexander, atingem a aldeia de Kisoro, junto à fronteira do Uganda/Congo/Ruanda, e obtém a informação que o casal Alan e Joan Root (3) encontram-se no sector congolês dos montes Virunga a filmarem os gorilas-da-montanha, no monte Mikeno. Entram no Congo, sobem o monte Mikeno e instalam-se num acampamento, no cimo do mesmo. Durante uns dias tentam avistar gorilas mas nada conseguem. Por fim o casal Root convidam Dian Fossey a acompanhá-los numa surtida fotográfica aos gorilas. Deles e desta incursão dirá: "Uns dias mais tarde, Alan Root e a mulher, que estavam a viver numa tosca cabana ali perto e haviam levado a mal a nossa invasão, tiveram pena de mim e perguntaram-me se queria ir com eles. ......... É óbvio que tem confiança nas sua fotografias e sabe que é um dos melhores do mundo. E a mulher, Joan, parece feita à sua imagem. Palmilhavam aquele terreno como profissionais enquanto eu ofegava atrás deles. ...... Alan fez-me sinal e rastejei até ao lado dele, ficando ambos acocorados. Ele apontou e espreitei através da abertura. Lá estavam eles: os demónios das histórias nativas; a fonte do  mito King Kong; os últimos Reis  das Montanhas de África. Um grupo de seis gorilas olhava apreensivamente para nós......... Deixei o monte Mikeno no dia seguinte, sem duvidar por um momento que voltaria para aprender mais acerca dos gorilas dos Virunga." Retorna a Louisville, reassumindo de novo o seu emprego no Hospital e tenta, com muito pouco êxito, vender fotografias e reportagens sobre os gorilas a diversos jornais.

Mas em Março de 1966, surge-lhe a oportunidade da sua vida quando o Dr. Louis Leakey, que se encontrava nos Estados Unidos, vai a Louisville dar uma conferência. Dian Fossey assiste à mesma e no final aborda-o, acabando reconhecida pelo orador, o qual não se esquecera da sua ida ao Olduvai, três anos antes. Com base no interesse de Louis Leakey em que fosse para África estudar os gorilas, este consegue financiamento para tal projecto, por parte da National Geographic e, assim, a 15 de Dezembro de 1966 Dian Fossey, aos trinta e quatro anos, arranca de novo para África. Ia começar a sua aventura, mas agora não como turista, mas como cientista. Sete dias depois aterrava em Nairobi, para se pôr às ordens de Louis Leakey, o seu mentor do projecto dos gorilas-da-montanha. Reencontra Joan Root e passa o Natal com Jane Goodall e o seu marido, Hugo van Lawick, que trabalhavam num projecto de estudos de comportamento de chimpanzés.



 
Em Janeiro de 1967, acompanhada por Alan Root que se recusava a que ela, inexperiente e sózinha, se aventurasse a ir para o Congo, então já com conturbações políticas e com guerras internas, Dian Fossey atinge o monte Mikeno, onde monta o seu acampamento-base a mil e duzentos metros de altitude, na área de Kabara. Quando Alan Root volta para o Quénia (15 de Janeiro de 1967), depois de a ter ajudado a montar o acampamento, Dian Fossey relata: "Jamais conseguirei esquecer o pânico total que senti ao vê-lo partir. Ele era o meu último elo de ligação à civilização que eu conhecia. Dei por mim agarrada à estaca da tenda, simplesmente para evitar correr atrás dele." Quatro dias depois surge no acampamento Sanweke, o lendário batedor congolês que tinha trabalhado com Carl Akeley, George Schaller e com o casal Root. Um rosto conhecido, pois estivera com Dian Fossey quando esta, três anos antes, ali estivera com os Root e vira, pela primeira vez, gorilas. Tinha sido Swaneke quem, à catana, lhe abrira caminho na montanha para tal visão.


 
Nesse mesmo dia de 19 de Janeiro de 1967, acompanhada de Swaneke, Dian Fossey avista  um gorila. "Eram 11H10" escreverá ela no seu diário. Com este aparecerão outros, nessa mesma ocasião. Começava a nascer a lenda de Dian Fossey.

Face à guerra civil que se instala no Congo, Dian Fossey muda-se para o lado ruandês. Levará anos de observação paciente até começar a conquistar a confiança dos gorilas. Mas quando o conseguiu, Dian Fossey começou a interagir e a conviver socialmente com os mesmos. Anotou tudo, fotografou-os, atribuiu-lhes nomes, aprendeu a emitir os seus sons e ... quase que se tornou numa gorila. Em 1976 ingressa na Universidade de Cambridge e obtém uma licenciatura em zoologia. Em 1983, encontrando-se nos Estados Unidos, publica a sua obra "Gorila in the mist" e, após o que regressa ao Ruanda para prosseguir as suas pesquisas. Não conseguia viver longe da sua "tribo". Virá a perder aqui a sua batalha em defesa dos gorilas contra os caçadores furtivos. Não só esta batalha bem como alguns amigos que se afastam dela, por desaprovarem  os seus métodos de combater a caça furtiva, como também perderá o seu bem supremo:a vida.


Diane Fossey


Os gorilas eram chacinados por caçadores furtivos que aproveitavam as suas mãos para fazerem cinzeiros que depois eram comercializados nas cidades e povoações ruandesas. Desde sempre Dian Fossey foi uma opositora tenaz contra os caçadores furtivos, mas após a morte violenta do seu gorila favorito, "Digit", ela radicalizou ainda mais a sua acção, chegando a chicoteá-los quando os mesmos eram apanhados pelos seus homens. Para além de ter arranjado inimigos no meio dos caçadores furtivos, Dian Fossey também entrou em conflito com as autoridades ruandesas pois pretendendo estas abrir aos turistas caminhos para eles verem os gorilas, sendo isto uma fonte de receita para os cofres do Estado, Dian Fossey opôs-se, ameaçando abrir fogo contra qualquer pessoa que se aproximasse da sua área de pesquisa.

 

Na manhã de 27 de Dezembro de 1985 o cadáver de Dian Fossey foi encontrado por um seu colaborador nativo, que viu a porta da sua cabana aberta e julgou que ela já se tinha levantado. Ao entrar viu o seu cadáver no chão da sala, com a cabeça toda aberta. Tinha sido morta à catanada, no dia anterior. Para alguns que tinham contactado com ela e que desaprovavam abertamente os seus métodos de defender os gorilas, tivera a morte que merecera, pois: ".....Ela inventou tantas conjuras e inimigos....... Não foi morta porque estava a salvar gorilas. Foi morta porque se comportava como Dian Fossey... Maltratava toda a gente à sua volta e finalmente acabaram com ela." (Bill Webber) ou: "Dian não prestava como cientista.... Considerava-se um guerreiro lutando contra o inimigo que a queria apanhar. Foi um final perfeito, teve o que queria......." (Kelly Stewart).


Lápide tumular de Dian Fossey, no cemitério dos gorilas



 
As autoridades ruandesas acabam por prender Emmanuel Rwelenka, um batedor ruandês que trabalhara para Dian Fossey mas que esta o despedira uns meses antes. Conjuntamente com ele também foi acusado do crime um norte-americano, Wayne McGuire. A acusação, formalizada a 21 de Agosto de 1986, levou a que Wayne McGuire fugisse do Ruanda, com cumplicidade da sua Embaixada, e acabasse julgado à revelia com pena de morte por fuzilamento. Emmanuel Rwelenka acabou por se suicidar, por enforcamento, na sua cela, algumas semanas depois da acusação segundo as autoridades. A 09 de Junho de 2001, Protrais Zigirianiyrazo, ex-Governador da Província de Ruengheri - Ruanda, foi acusado de ser o mandante do assassinato de Dian Fossey, por esta ter descoberto que ele era o cérebro duma organização de caça clandestina e quem dominava o circuito comercial dos artefactos fabricado com as mãos dos gorilas e que pretendia denunciá-lo.


 
No entanto o legado de Dian Fossey perdura até aos nossos dias e, ainda nos tempos que correm, os gorilas da montanha, apesar das  várias vicissitudes que aquelas regiões atravessaram (como por exemplo o genocídio ruandês de 1994), existem e podem ser apreciados por quem lá passe. Em cada grito de gorila é a sua voz que ecoa como que a lembrar-nos que, se hoje podemos apreciar estes nobres animais, temos a obrigação de dar continuidade à sua obra. Precisamente com este fim e para honrar a sua memória existe o "The Dian Fossey Gorilla Fund International" que pode ser consultado na "rede".


 /////////////////////////////////////////////////////////


 
Livro: Sobre Diane Fossey foi publicado, em Portugal, o livro "Mulher na Bruma: A história de Dian Fossey e dos gorilas-de-montanha de África.", de Farley Mowat, editado pela Círculo de Leitores, 433 págs., em 1990.





//////////////////////////////////////////////////////////////////////////


Filme - Também em DVD existe, legendado em português, o filme "Gorilas na bruma: a história de Diane Fossey" (124 minutos), realizado por Michael Apted e cujo principal papel foi entregue a Sigourney Weaver.


 

 

/////////////////////////////////////////////////////////



(1) - Actual República do Zimbabué.
(2) - Actual República da Tanzânia.
(3) - Sobre Joan Root já se efectuou um trabalho sobre a mesma. 




*************************************



HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL






///////////////////////////////////////////////////////////

 

Nota: Os Direitos de Autor e de Propriedade Intelectual dos textos encontram-se protegidos a nível internacional. O Autor prescinde dos mesmos desde que informado da sua utilização, carecendo da sua expressa autorização.  



/////////////////////////////////////////////////////////



Capitão-Mor - Foi um título desenvolvido no século XVI e que era atribuído, em Moçambique, a algumas autoridades de certas áreas que tivessem funções de comando militar ou administrativo, pelo que lhe competia, a nível local, a defesa do território e o recrutamento de homens para campanhas e a manutenção da ténue ideia da soberania portuguesa nos territórios por eles conquistados. Este título também se aplicava aos comandantes das armadas.

 

A regulamentação dos capitães-mor sofreu um incremento através da Provisão Régia de 25 de Março de 1589. Bastas vezes os capitães-mor emergiam dentre os mais poderosos ou mozungos, à revelia dos interesses da Coroa Portuguesa que, sem administração e exército forte, limitava-se a caucionar os nomes, conferindo-lhes autoridade oficial.

 

Inicialmente europeus, com a sua rápida miscenização fruto do casamento com as nativas, os capitães-mor, autênticos senhores da guerra e donos de potentados, cedo se rebelaram contra a autoridade lusitana, mantendo com estas um ténue laço de conveniência. João de Azevedo Coutinho** referia-se a eles como: "... as únicas autoridades a quem, durante séculos, esteve cometido o encargo de representar a nossa soberania na África Oriental." Sobreviveram até finais do século XIX, acabando engolidos (tais como os prazos e os prazeiros) na voragem da instalação das companhias majestáticas** e na consolidação definitiva da soberania portuguesa.

 

////////////////////////////////////////////////////////////////////


 
Capitão de Feira - Cargo criado pelos comerciantes zambezianos, no qual o eleito tinha a função de promover e regular a realização de feiras.


 
///////////////////////////////////////////////////////////////////



Mozungo - Prazeiro; senhor. Eventualmente derivado da palavra chissena "kuzungo", que significa "passear", acabou por se aplicar mais tarde, em exclusivo, aos portugueses brancos ou seus descendentes pois, inicialmente, aplicava-se a todos os que, fruto das suas capacidades, adquiriam património que lhes permitisse levar uma vida mais folgada, vida de "passear".


 
Figura típica da sociedade zambeziana desde os primórdios  da colonização de Rios de Sena, os mozungos eram os senhores que, em roda livre, instalavam-se no sertão e criavam os seus próprios domínios senhoriais sendo, por isso, a génese dos prazeiros*. Partindo, muitos deles, para o interior, a mando dos seus senhores brancos e outros por conta própria, na busca de riquezas , muitos destes aventureiros acabavam por mandar às urtigas as instruções dos seus superiores e, à revelia de tudo e de todos, instalavam-se em qualquer parcela territorial por desbravar e criavam o seu próprio domínio. Astutos, corajosos, sem código de conduta e de honra (quem os tinha nessa época?) obedecendo apenas a si mesmos, estes homens saboreavam o fruto do poder que conquistavam e se recusavam a partilhar com outros.

Senhores do sertão, aventureiros sem bandeira, casando-se com as filhas das chefaturas locais e adquirindo, deste modo, o poder, como também pela força das armas, os mozungos constituíram parte do estrato social que moldou a lenda zambeziana.



////////////////////////////////////////////////////////////////////



Dona - Título honorífico, sem regulamentação legal, mas que entrou no vocabulário zambeziano, a partir da criação dos prazos* e que se destinava a referir-se às senhoras dos prazos; ou esposas ou viúvas de um senhor e que mantinham, com maior ou menor grau, fidelidade à Coroa Portuguesa. Poderão ter tido origem no século XVII quando, do Reino de Portugal, enviaram-se para a Zambézia vários oficiais de diversas profissões e oito órfãs, todas com dote, para se casarem com portugueses e aí se fixarem.



Essas oito mulheres que, em 1677, partiram para Rios de Sena*, eram oriundas da Casa Pia de Lisboa e chamavam-se: Ana Maria Coutinho; Antónia Maria Leca; Helena Margarida de Alencastre;
Isabel Madalena Távora; Isabel Maria Teles; Leonor Maria Castelo Branco; Maria Micaela de Noronha e Mariana Teresa Mascarenhas. Com o decorrer do anos e com a implementação da política dos prazos, as donas ascendem na hierarquia social, tornando-se proprietárias de extensas terras, por morte dos maridos ou por heranças, o que as torna extremamente apetecíveis para os predadores matrimoniais que buscavam, através deste, o domínio de extensas áreas territoriais, escravos e posses financeiras.

No entanto este título não se aplicava às mulheres negras, mas sim às brancas ou mestiças com sangue português. Cônscias do poder que a fortuna lhes dava, atingem o seu zénite no decorrer do século XVIII, e muitas donas entraram na lenda zambeziana devido, não só, à vida faustosa que levavam como também devido à sua participação activa no influir dos acontecimentos políticos ou militares. Muitas delas eram proprietárias de terras de extensão infindável e de centenas, ou mesmo milhares, de escravos, que tutelavam directamente.


 
Nunca se tendo alcandorado no primeiro plano político, que era um feudo dos homens, estas mulheres entraram no imaginário zambeziano que perdurou muito para além do seu ocaso social, que começou através das mutações sociais no decorrer do século XIX, através da lenta destruição dos prazos, no fundo a sua razão de existência.

O incremento do tráfico esclavagista, as convulsões bélicas e a irresistível instalação das companhias majestáticas** foram o canto do cisne da sua razão de ser. Tal como aos mozungos, aos prazeiros, às sinharas, aos capitães-mor e aos achikundas, entre outros. No dealbar do século XX, às donas, restava-lhes um punhado de recordações e muita, muita nostalgia.  


 
/////////////////////////////////////////////////////////////////////

Sinhara - Mulher de cor, amantizada com um indivíduo de raça branca ou mestiço. Na escala social da Zambézia, no decurso dos séculos XVII a XIX, a sinhara estava abaixo das donas, quer por factores económicos, pois não tinham bens materiais próprios para oferecerem; quer por factores de linhagem, pois não tinham no sangue ascendência portuguesa; quer por factores sociais pois, quase sempre, não se casavam com o homem com quem viviam.


///////////////////////////////////////////////////////////////////



Feira de Massapa - Era a principal feira portuguesa em terras do Monomotapa* e ficava a cerca de oitenta quilómetros de Tete*. Fortificada por Dom Estevão de Athaíde*, por volta de 1607, ficava perto das ricas jazidas de Cirungo, Chironga e Nhanha, o que permitia aos portugueses efectuarem bons negócios. O Capitão desta feira era o principal Capitão de Portas de todas as feitas em território mocaranga.



/////////////////////////////////////////////////////////////////////////



Paulo Mariano (I) Vaz dos Anjos - (Goa, ? - Massingire, 1825?) - Prazeiro. Vindo de Goa instalou-se em Moçambique em finais do século XVIII. Negreiro poderosamente rico, foi surpreendido pela Marinha Britânica  na sua actividade esclavagista, em 1823, na zona de Marero. Fundou a  dinastia dos "Mataquenha", do prazo de Massingire.


//////////////////////////////////////////////////////////////////

Paulo Mariano II - (Massingire, ? - Chire, 1863) - Prazeiro (prazo de Massingire). Filho de Paulo Mariano Vaz dos Anjos, teve o cognome de "Mataquenha I" bem como a fama (com proveito) de ter sido um homem cruel. David Livingstone* relatou que ele, num só dia matou, pessoalmente, quarenta homens com zagaias, por pura diversão. Dedicou-se, também, ao tráfico negreiro e à anexação do territórios na zona de Sena, tornando-se num potentado inimigo dos portugueses e da família Cruz* de Massangano.


 
É preso no ano de 1857, quando se encontrava em Quelimane mas, tendo sido julgado em 1860 na ilha de Moçambique, acaba absolvido e solto, por falta de provas. No espaço de tempo que mediou a sua prisão os portugueses tentaram destruir o seu prazo*, tendo efectuado duas campanhas, ambas em 1858, até que conquistaram a sua aringa* principal, Chamo. No entanto nunca conseguiram prender o seu irmão Bonga (que nada tem a ver com o Bonga, da família Cruz* de Massangano), seu Lugar-Tenente e que era o comandante das suas forças, o qual continuou sempre a guerrilhar os portugueses.

Após a sua libertação reassume a chefia do prazo e instala-se na serra de Morrumbala, acabando os portugueses por actuarem de novo contra as suas terras, numa expedição liderada por Tito de Sicard, em 1861, onde acaba desalojado. No ano seguinte instala-se nas confluências dos rios Ruo e Chire e, montando o seu novo poderio a ferro e fogo sobre as populações locais, aí residirá até à sua morte. 



/////////////////////////////////////////////////////////////////////




Paulo Mariano III - (? - 1884) - Prazeiro. Filho de Paulo Mariano II. Teve o cognome de "Mataquenha II". Negreiro, na linha da tradição familiar, rebelou-se sempre contra os portugueses. A sua morte, por suspeição de assassinato, deu origem à revolta de Massingire.


//////////////////////////////////////////////////////////////////////////


Revolta de Massingire - Após a morte de Paulo Mariano III (1884), havendo suspeitas de assassinato, a fim de se evitar a prática do "maubvi" que elementos do prazo queriam aplicar em suspeitos, os portugueses prenderam alguns chefes de Massingire e mandaram-nos para Quelimane. No percurso os mesmos fugiram e sublevaram as populações pelo que, entre Julho e Outubro de 1884, de Massingire a Mopeia, os revoltosos puseram tudo a ferro e fogo, só tendo sido parados pelos achikundas* de Manuel António de Sousa*, que os derrotou após violentos combates.   



/////////////////////////////////////////////////////////////////////



Maubvi - Prova de veneno, a fim de determinar a culpabilidade de alguém. Se a pessoa que ingerisse veneno sobrevivesse era considerada inocente da acusação que sobre ela pendia.

///////////////////////////////////////////////////////////////////////


* - Já fichado.
** - A abrir ficha.


*****************************************

LEITURAS


António Lobo Antunes - Ando a reler as "Crónicas" de António Lobo Antunes. E não me canso. Admiro o fabuloso mundo literário deste Príncipe da Palavra. Logo no seu primeiro livro que li "Os cus de Judas" fiquei apaixonado pelo seu estilo literário. E essa admiração mantém-se até aos dias de hoje. Nunca me cansei de ler os seus romances e as suas crónicas. Recomendo vivamente: quem já o leu que o releia, quem nunca o leu que mergulhe no fantástico mundo da sua caneta.


 
António Lobo Antunes

É uma honra para um País ter um escritor desta estirpe nas suas fileiras. E, com toda a franqueza, nunca percebi porque é que é que a este homem ainda não lhe foi atribuído o Prémio Nobel. Devem estar à espera como a Jorge Amado: depois de ter falecido todos se lamentaram dele nunca ter ganho tal galardão, do qual era mais que merecedor.

Será que os nossos governos, associações de editoras, centros de cultura e afins não têm feito correctamente os "tpc" para porem a mexer os lóbies da Academia  sueca? E para mais ele, que é detentor de vários prémios literários, quer internos quer no estrangeiro.


////////////////////////////////////////////////////////////////////////


 
Da autoria de John Julius Norwich foi editado, pela Civilização Editora, o livro "Os Papas (a história)"  (2012, 597 páginas), um interessante livro que relata, em estilo de reportagem histórica, o percurso sinuoso da história do papado, desde os primórdios de São Pedro até aos nossos dias abrangendo, assim, um historial ao de leve de 280 Papas biografados.  Escalpelizando os seus comportamentos diversificados, que tanto podiam abranger o violador de viúvas e virgens como era João XII até à super estrela João Paulo II, com os violentos Bórgias e o antisemitismo de Pio XII de permeio,  a título exemplificativo.

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

Em formato de livro de bolso tropecei num romance de guerra da autoria do jornalista Gérard de Viliers, com o título de "Angola a ferro e fogo" (Edições Saída de Emergência, 2010, 319 págs.) que se reporta a uma ficção enquadrada no tempo da descolonização iniciada logo a seguir ao golpe militar de 25 de Abril e quando os portugueses abandonam a "jóia da Coroa", que foi aquele território, vazio humano esse que começa logo a ser preenchido por empresários sem escrúpulos, revolucionários com cursos tirados por correspondência, assassinos, diplomatas corruptos, ex-PIDES e mercenários, entre outros, num festim sangue e paixões entrecruzados e que acabou por exaurir aquele território.

 
Um livro cuja escrita me fez recordar o estilo literário das obras de Jean Larteguy, outro jornalista francês, do qual tenho a obra quase completa e que um dia destes abordarei.


 
****************************************

POESIA


 
Rui Manuel Correia Knopfli - (Inhambane, 10/08/1932 - Lisboa, 25/12/1997) - Poeta que, tendo residido em Moçambique até Março de 1975, veio para Portugal, por não se ter adaptado aos novos rumos da política da nova Pátria moçambicana. Mas o conceito de Pátria para ele era: "Pátria é só a língua em que me digo." (do livro: "O escriba acocorado" (1978).

Rui Knopfli


Considerado um dos "primus inter pares" da intelectualidade luso-moçambicana, repassa na sua poesia o tropicalismo vivencial que tanto o marcou e que se recusou sempre a abandonar. Poeta, jornalista, crítico literário e de cinema, na sua terra natal colaborou com vários jornais tendo, de parceria com Eugénio Lisboa, dirigindo o suplemento literário do semanário "A Voz de Moçambique" e do diário "A Tribuna", na sua primeira fase, bem como foi um dos fundadores da revista "Caliban". Deixou a sua poesia espalhada por vários livros, sendo o meu preferido a "Ilha de Próspero" (1972), com poemas e fotografias dedicadas à ilha de Moçambique. 

Como ele referiu: ".../ eu trabalho dura e dificilmente / a madeira rija dos meus versos / sílaba a sílaba, palavra a palavra/..." (do livro: "Mangas verdes com  sal" (1969).


 
ILHA DOURADA

A fortaleza mergulha no mar
os cansados flancos
e sonha com impossíveis
naves moiras.
Tudo mais são ruas prisioneiras
e casas velhas a mirar o tédio.
As gentes calam na voz
uma vontade antiga de lágrimas
e um riquexó de sono
desce a Travessa da Amizade.
Em pleno dia claro
vejo-te adormecer na distância,
Ilha de Moçambique,
e faço-te estes versos
de sal e esquecimento. 

//////////////////////////////


 
WINDS OF CHANGE


 
Ninguém se apercebe de nada.
Brilha um Sol, violento como a loucura
e estalam gargalhadas na brancura
violeta do passeio.
É a África garrida dos postais,
o fato de linho, o calor obsidiante,
e a cerveja bem gelada.
Passam. Passam
e tornam a passar.
Estridem mais gargalhadas,
abrindo umas sobre as outras
como círculos concêntricos.
Os moleques algaraviam, folclóricos,
pelas sombras das esquinas
e no escuro dos portais
adolescentes namoram de mãos dadas.
De facto como é mansa e boa
a Polana
nas suas ruas, túneis de frescura
atapetados de veludo vermelho.
Tudo joga tão certo, tudo está
tão bem
como num filme tecnicolorido.
Passam. Passam
e tornam a passar.
Ninguém se apercebe de nada.


 
********************************************************


 
RECORDANDO


 
Ventos de Mudança (1) - Aproveitando a deixa do título deste último poema de Rui Knopfli, este tema "winds of change" tem servido de mote a várias interpretações políticas. Por exemplo, em 1960, a África do Sul estava a cortar as amarras que ainda a prendiam ao Reino Unido (o que veio a suceder no ano seguinte) quando o político conservador Harold Macmilan, então na qualidade de Primeiro Ministro britânico, efectuou uma visita oficial àquele território e, no Parlamento sul-africano, a 03 de Fevereiro de 1960 em Cape Town, efectuou um discurso, que passou para a História como "Winds of change" ("Ventos de mudança") onde alertava para o caminho perigoso que o território estava a efectuar (a caminhar para o apogeu do apartheid) e onde afirmou, nesse mesmo discurso (tradução livre): "É, como eu digo, um privilégio especial estar aqui, em 1960, quando vocês estão a celebrar o que eu poderia chamar de bodas de ouro da União Sul-Africana (1). Neste momento é natural e justo que vocês devem de fazer uma pausa para fazerem um balanço da vossa actividade, ao olharem para trás no que conseguiram e a  olharem em frente para o que está por vir. Nos cinquenta anos da sua existência as pessoas na União Sul-Africana construíram uma economia forte assente numa agricultura sustentável e indústrias fortes e rentáveis. Ninguém poderia deixar de ficar impressionado com o imenso progresso material que foi alcançado. Que tudo isto tenha sido conseguido em tão pouco tempo é, sem dúvida, um facto   notável...................................................................................................................................................... ...................................................................................................................................................................
Desde o desmembramento do Império Romano um dos factores importantes na vida política da Europa tem sido o nascimento de nações independentes. Elas vieram a existir ao longo dos séculos sob diferentes formas, diferentes modos de governar, mas todos foram inspirados por um sentimento profundo de nacionalismo, que vem a crescer conforme o crescimento das nações. No século XX, e especialmente desde o fim da Guerra (2) os processos que deram origem aos estados nacionais da Europa têm-se repetido por todo o mundo. Vimos o despertar da consciência nacional em povos que há séculos viviam na dependência doutros poderes. Há uns quinze anos atrás este movimento espalhou-se pela Ásia. Inúmeros países, de diferentes raças e civilizações pressionam a sua reinvindicação para uma via independente. Hoje o mesmo está a acontecer em África, e  mais impressionante é essa força crescente do nacionalismo africano. Varia de formas consoante os lugares, mas está a acontecer em toda a parte. Assim, os ventos da mudança estão a soprar através deste continente e, quer gostemos ou não, este crescimento da consciencialização nacional é um facto político consumado. Todos nós devemos aceitá-lo como um facto e as nossas políticas nacionais devem ter isso em linha de conta.............................................................................................
...................................................................................................................................................................
Esta maré de consciência nacional que está a crescer em África é um facto irreversível, para que tanto vocês como nós e as outras nações do mundo ocidental são responsáveis............................................."

Foi um discurso que, como é lógico, caiu no desagrado dos defensores da apartheid, então liderado pelo Primeiro-Ministro sul-africano Hendrik Verwoerd o qual, na resposta, rejeitou liminarmente o pensamento político do seu colega britânico, dizendo: "Somos pessoas que trouxeram a civilização a África. Fazer justiça significa não apenas ser justo com os negros de África, mas também com os brancos de África."


(1) - A União Sul-Africana foi criada em 1910 e resultou da união política dos vários territórios uns de influência britânica outras de influência bóer, todos eles compondo o actual território da República da África do Sul. Os principais eram a Província do Cabo (de influência britânica) e o Transval (de influência bóer). Em 1961 cortou as amarras definitivas com o Reino Unido. O estudo da história da África do Sul (e dos restantes países da África Austral) será analisada quando terminar o "Historiando Moçambique Colonial".
(2) - O orador referia-se à Segunda Guerra Mundial.


/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////


 
Ventos de Mudança (2) - Mas também na música, "Winds of change" serviu de canção política, como na balada do conjunto "Scorpion", ao efectuar una digressão pela União Soviética, então na sua fase agónica. Como a letra dizia (em tradução livre*):

Andei por Moscovo
Descendo até ao Parque Gorgy
Escutando o vento da mudança
Numa noite de verão em Agosto
Soldados a caminharem
A escutarem o vento da mudança.
O mundo está a acabar
Já pensaste?
Que poderíamos ser tão chegados, como irmãos
O futuro está no ar
Posso senti-lo em todo o lado
Soprando com o vento da mudança.
Leva-me à magia do momento
Numa noite de glória
Onde as crianças do amanhã sonhem
Com o vento da mudança.
Descendo pela rua
recordações distantes
Enterradas no passado para sempre
Andei por Moscovo
Até ao Parque Gorky
escutando o vento da mudança.
Leva-me até à magia do momento
Numa noite de glória
Onde as crianças do amanhã repartem os seus sonhos
Contigo e comigo.
Leva-me até à magia do momento
Numa noite de glória
Onde as crianças do amanhã ficam sonhando
Com o vento da mudança.
O vento da mudança sopra directamente
Na face do tempo
Como uma tempestade de vento que irá tocar
O sino da liberdade pela paz da mente
Deixa a tua balalaica cantar
O que a minha guitarra quer dizer.
Leva-me, leva-me à magia do momento
Numa noite de glória
Onde as crianças do amanhã dividem os seus sonhos
Contigo e comigo.
Leva-me, leva-me à magia do momento
Numa noite de glória
Onde as crianças do amanhã ficam sonhando
Com o vento da mudança.


 
* - Uma vez sem exemplo, por não ser apologista da tradução de poesia ou letras, pois entendo que devem ser lidas e sentidas na sua língua original.


 
/////////////////////////////////////////////////////////

 



Video da música "Winds of change" do conjunto "Scorpions"


****************************************



PLANETA AZUL



"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos"
(Autor desconhecido)






*****************************************


ACONTECEU


Gonçalo Ribeiro Teles - Comemorou o seu nonagésimo aniversário (ou deverei dizer o seu aniversário 90, em estilo Novas Oportunidades?). Admiro a obra, o exemplo e os actos de cidadania deste HOMEM. Ditosa Pátria que tal filho tem.


//////////////////////////////////////////////////////////////////////


Macacos de imitação - Há uns anos atrás havia um anúncio da Coca-Cola, transmitido nas televisões, o qual consistia em que diversas funcionárias duma empresa, às 16H30 (salvo erro) faziam uma pausa no trabalho e iam todas para a janela da firma extasiarem-se por verem um trabalhador da construção civil que, àquela mesma hora, subia num andaime, em tronco nu, todo musculado (até parecia eu, então não?), a beber um refrigerante desta marca. O anúncio caiu no gosto das pessoas, tanto que ainda hoje há quem diga, quando se faz uma pausa laboral, que está na "hora coca-cola".

Hoje em dia corre um anúncio nas televisões, publicitando a "Sapo Fibra" que não passa duma cópia baratucha daquele outro. Já anteriormente a SAPO projectara um anúncio televisivo que era uma cópia dum outro da marca de wiskhy "William Lawson" (onde aparece um grupo de jovens escoceses a cavalgarem e que oferecem os seus kilts a duas jovens que, ao circularem num carro descapotável e ao serem apanhadas pela chuva, ficaram ensopadas).


É uma falta de imaginação gritante. E é a copiarem ideias doutros que me querem convencer a utilizar os seus serviços? Não passam duns merdosos macacos de imitação. Com as minhas desculpas aos símios pela utilização abusiva das suas personalidades.  


 
//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////


Balão - Enquanto condutor estou sujeito ao teste de alcoolémia, com o qual concordo. Nunca tive conhecimento de caçadores, tipicamente serem reconhecidos por andarem com as chouriças e os "palhinhas" a reboque, para confraternização entre eles, terem alguma vez sido submetidos a este tipo de teste. E serem-lhes retiradas as armas. Porque será?


 
//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////


"Pó dos Livros" - Há uns tempos atrás, tendo feito umas leituras sobre a costa ocidental africana, pretendi ler um livro escrito por Graham Greene no qual ele relatava uma viagem que efectuara, em 1935, através da Libéria e da Serra Leoa. Não o tendo localizado em alfarrabistas desloquei-me à livraria "Palavra do Viajante",  inaugurada na Rua de São Bento - Lisboa e especializada em literatura de viagens e aventuras. Apenas tinham a  versão inglesa do mesmo, desconhecendo edições portuguesas e não tendo mostrado nenhum interesse em pesquisar tal livro no mercado. Acabei por adquirir a versão inglesa, um pouco a contra-gosto. Passados uns dias lembrei-me de colocar essa questão na livraria "Pó dos Livros", na Avª Marquês de Tomar - Lisboa, onde esporadicamente eu ia lá comprar livros. Nem de propósito: não só conheciam o livro, como sabiam que havia uma edição da Minerva dos anos 60 do século XX e que iriam tentar localizar o livro contactando alfarrabistas. E assim foi. Passado um par de meses enviaram-me uma mensagem para o telemóvel: já tinham localizado o livro e estava guardado para mim, podendo ir levantá-lo. O que fiz nesse mesmo dia e cobraram-me preço de saldo, atendendo a que era um livro em segunda mão.

Há uns tempos atrás, depois de ter lido o último livro de poemas de Ana Paula Lavado, que apreciei imenso ("Mentes preversas ... e outras conversas"), resolvi adquirir os outros dois que aquela poetisa já tinha editado ("Vozes do vento" e "Um beijo... sem nome"). Feito estúpido, passei pela FNAC e depois, feito parvo, passei pela Bertrand, ambas no Vasco  da Gama - Lisboa. Em ambas as funcionárias, com um ar entediado de entendidas informaram-me desconhecer esse nome, e que nada constava nos bancos  de dados da "rede", pelo que não podiam mandar vir nenhum livro. Lá tive um lampejo de inteligência e recorri de novo à "Pó dos Livros". Moral da história: em duas semanas tinha os dois volumes na minha posse.


Faço já uma declaração de intenções: não me relaciono pessoalmente com ninguém que trabalhe na "Pó dos Livros", nem tenho qualquer interesse financeiro, ou de qualquer outro tipo, na livraria em causa. Sou apenas, e tão somente, um cliente. Anónimo como muitos outros que lá  vão. É uma livraria média, de dois pisos, bem recheada de livros, com uma secção de livros em segunda mão a preços mais em conta e onde tem um pequeno bar onde se pode tomar uma bica enquanto se pesquisa algo. Mas, para mim, bate todas as FNAC, Bertrand e Palavras de Viajante. Estas... são para esquecer. E, por isso, a "Pó dos Livros" tem o meu aval e a minha recomendação: passem por lá e dêem uma vista de olhos. Principalmente se não encontrarem determinado livro que pretendam. Eles só não arranjam se não houver mesmo.


***********************
********************************************
************************

Defenda o Planeta. Insurja-se contra a violência perpetada contra o indefeso Mundo Animal e Florestal. Participe activamente em associações ambientais. Porque o Planeta é a sua casa.

 


//////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////


Seja amigo do ambiente. Utilize os textos do Novo Acordo Ortográfico como papel higiénico. E, depois de devidamente utilizado, remeta-o para os responsáveis de tal aberração legislativa.

///////////////////////////////////////////////////////////////////////////////


 


//////////////////////////////////////////////////////////////////////////


 
As referências aos produtos acima referidos (livros, filmes, músicas, marcas, etc.) são incompatíveis com intuitos publicitários. Reflectem, apenas, a opinião do Autor.

/////////////////////////////////////////////////////////////////////////////


 
Todas as fotos do presente texto foram colhidas do Google Imagens e os vídeos e filmes do Youtube.


 
***********************
***********************************************
***********************