"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Richard Burton

Aventureiros, viajantes e exploradores

Richard Francis Burton - (Torquay (Inglaterra), 19/03/1821 - Trieste (Itália), 20/10/1890) - Oficial do Exército Britânico e explorador, bem como geógrafo, escritor (escreveu mais de 40 obras), tradutor, diplomata, etnologista e linguista (falava mais de 20 línguas) e, talvez a melhor profissão que o defina, seja a de aventureiro de primeira água. Na realidade, esta personalidade ímpar do século XIX, conjuntamente com David Livingstone e Henry Morton Stanley, formou uma trindade suprema no desbravamento dos desconhecidos e inóspitos sertões africanos, por europeus. Richard Burton, no decurso da sua infância e adolescência acompanha a sua família pela Europa onde, dotado duma capacidade espantosa para aprender línguas, acaba por dominar o francês, o italiano e o latim, para além do romani, fruto dos amores que terá tido com uma rapariga desta etnia e de se ter lançado a estudar o árabe, língua que também virá a dominar e que, mais tarde, tão útil lhe irá ser, para além de se ter tornado num hábil praticante de esgrima. Em 1842, depois duma atribulada vida estudantil, onde foi expulso de vários colégios devido ao seu espírito contestatário e irrequieto, vai para a Índia, onde se alista no Exército Britânico daquela colónia. Aqui, aproveitando o seu dom para línguas, acaba por dominar o guzerate, o marate, o persa e aprofunda os conhecimentos de árabe, tornando-se um estudioso e apaixonado pelas filosofias e religiões orientais absorvendo, na sua pele, o modo de viver indiano. No primeiro trimestre de 1849 retorna a Londres e percorre a Europa, indo a Bolonha onde retoma as suas aulas de esgrima. Em 1853, rentabilizando os seus conhecimentos do modo de ser e pensar oriental, fruto da sua estadia na Índia vai, disfarçado de muçulmano, em peregrinação a Meca, disfarçado de árabe. Esta viagem arriscada, já que era uma deslocação proibida a europeus, punida com a pena capital caso fosse descoberto, guinda-o para a fama nos salões londrinos. De Meca segue para o Cairo e daí desloca-se, de novo, para a Índia onde se reúne ao seu antigo Batalhão. Colocado em Adén, no Golfo Pérsico, é aproveitado pela Real Sociedade de Geografia de Londres para integrar uma expedição à Somália e tentar obter mais informes sobre os Grandes Lagos Africanos, de que já tinha ouvido falar e, em Setembro de 1854, trava conhecimento com John Specke, outro membro da expedição e cujo inter-relacionamento de amor-ódio irá acompanhá-los até ao fim da vida deste último. Na primeira parte desta expedição, Richard Burton desloca-se, sozinho, pela Somália, disfarçado de muçulmano e onde se demora cerca de três meses, entrando na capital, Harar, um dos centros difusores do islamismo puro e onde qualquer cristão era morto. Consegue chegar à fala com o Emir local e recolhe toda a informação pretendida, sem ninguém desconfiar da sua falsa identidade, o que lhe valeria a tortura e decapitação e efectua a viagem de retorno, reunindo-se depois ao grupo que irá partir para a viagem. Este grupo era composto por Richard Burton e mais três oficiais britânicos, os Tenentes Jonh Specke, G. Herme e William Stornay, para além da habitual coluna de nativos africanos com as mais diversas funções, tais como a de carregadores, pisteiros, caçadores e criados. Atacados por tribos somalis hostis, a missão redunda num fracasso, acabando Jonh Specke ferido por atravessamento de várias setas e lanças no seu corpo, depois de ter sido preso pelos atacantes e Richard Burton é ferido por uma seta que lhe trespassa o maxilar. Os outros dois oficiais são mortos e, miraculosamente, os dois sobreviventes conseguem fugir, em direcção ao mar, onde acabam recolhidos na praia por um barco que ia a passar ao largo. Transportavam, nos seus corpos, as lanças e setas que os tinham trespassado. Em 1855 participa na Guerra da Crimeia, onde volta a ter problemas disciplinares com os seus superiores militares. Dois anos mais tarde a Real Sociedade de Geografia de Londres financia uma nova expedição ao interior africano, na tentativa de se descobrir as míticas nascentes do misterioso rio Nilo, expedição esta que é  entregue a Richard Burton e a Jonh Specke. A 27 de Junho de 1857 partem de Zanzibar com destino ao interior desconhecido, tendo sido contratado Sidi Mubarak Bombay. Numa tormentosa e épica viagem, pura descida aos infernos, os dois exploradores atingem o lago Tanganica, em 1858, tornando-se nos primeiros europeus a lá terem chegado. Tendo recolhido informações sobre a existência doutro lago, onde eventualmente o rio Nilo nasceria, Jonh Specke prossegue a viagem sozinho, ficando Richard Burton retido nas margens do lago Tanganica, por doença e refém dos caprichos dum chefe local. Jonh Specke acaba por atingir o outro grande lago, que baptiza de lago Vitória, sendo o primeiro europeu a lá ter chegado e, depois de o mapear parcialmente e tirar algumas medições topográficas rudimentares, por só ter um termómetro na sua posse, apressa-se a regressar a Londres a fim de comunicar a sua descoberta e declarar o lago como a nascente do rio Nilo, registando-a só para si e desprezando a participação de Richard Burton. Era o fim dum casamento de interesses aventureiros. A polémica estalou entre os dois exploradores, com Richard Burton a pôr em causa a idoneidade desta afirmação atendendo a que, tendo-se perdido bastante material de medição científica na viagem, as medições topográficas feitas por Jonh Specke eram duvidosas, enquanto não se realizassem outras. Após uma nova viagem de Jonh Specke à zona dos lagos, desta vez acompanhado por James Grant, em 1863, este volta a confirmar que o lago Vitória era a nascente do rio Nilo. Abraçando a carreira diplomática, Richard Burton é colocado, como Cônsul, em diversos pontos do planeta, tais como na ilha Fernando Pó (Guiné Equatorial), onde aproveita para efectuar novas expedições na África Ocidental nomeadamente numa perigosa viagem secreta ao reino do Daomé e, de seguida, em Santos (Brasil). Aqui, a sua veia exploratória volta a latejar e desce o rio São Francisco, desde a sua nascente até às quedas de Paulo Afonso, em canoa. Em 1869 assume o consulado de Damasco (Síria) e, em 1871, é colocado em Trieste (Império Austro-Hungaro, actual Itália), onde virá a falecer. Deixou várias obras escritas, para cima de 40 livros, entre romances e traduções, tais como "Goa e as montanhas azuis" (1850),"África Oriental" (1856), "Os lagos da África Equatorial" (1860), "O Kama Sutra de Vatsyayana" (1883), "O livro das mil e uma noites" (1885), "O jardim perfumado de Saykh Nefzawi" (1886), "As noites suplementares das Mil e Uma Noites" (1886/1898 em dezasseis volumes), "O Kasidah" (1886); para além de ter feito uma tradução do épico camoniano "Os Lusíadas" (1880) e uma biografia sobre Luís de Camões (1881). Postumamente (1898) foi publicada uma outra controversa obra sua: "O judeu, o cigano e o Islão". Nada escapou aos seus escritos, numa época onde imperava a moral vitoriana, desde sexo, incluindo o homossexualismo, castração, canibalismo, droga, poligamia, rituais religiosos e análise de diversas religiões. Professou diversas religiões, tendo sido sufista, islamita, budista, entre muitas outras, tendo falecido agnóstico. Mulherengo, alcoólico, opiómano, foi acusado de homossexualismo e pederastia. Para além dos livros deixou inúmeros escritos em jornais, fundou a Sociedade Antropológica de Londres (1863) e foi agraciado como Cavaleiro do Império (1886) pela Rainha Vitória. A sua vida lendária de 40 anos de viagens, a que um ataque cardíaco pôs termo, deu origem a inúmeros livros, filmes e documentários. De espírito aberto, avançado no seu tempo, controverso, polémico, sedutor, irascível, oportunista, ou mesmo megalómano, a Richard Burton, puro cometa das Sete Partidas do Mundo, não se lhe pode negar que foi um aventureiro com "A" grande e um dos maiores exploradores do século XIX.

Nota: os nomes sublinhados reportam-se a biografados anteriormente.

Livro

"Histórias rocambolescas da História de Portugal", de João Ferreira (Esfera dos Livros, Lisboa, 2010, 335 págs.). Acabei de ler este livro que bastante prazer me deu. Didáctico e rigoroso nos factos, divertido e escrito com suavidade, conta-nos diversos episódios da nossa História num correr de caneta divididos em 13 temas, que abordam desde os primórdios da nossa nacionalidade até aos tempos abrilinos, num total de 68 histórias. E, no fim, ficou-me um desejo de pedir ao João Ferreira (apesar de não o conhecer) que escreva um segundo volume. 

Exposição

"Cuerpos de Dolor - A imagem do sagrado na cultura espanhola 1500/1570", no Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa), até 25 de Março de 2012. Exposição que aborda a escultura sacra sobre virgens, mártires e crucifixos entre outras peças (cerca duma trintena), esculpidas por escultores "nuestros hermanos". Para além duma visita ao Museu em si, que vale sempre a pena.

Filme

"As montanhas da Lua" (135 minutos). Em meados do século XIX iniciou-se a exploração geográfica (e não só) do interior do continente africano, por parte de potências europeias, interior este que era do quase total desconhecimento dos europeus. Na zona dos Grandes Lagos Africanos existiam grandes manchas em branco no mapeamento deste continente e sabia-se, por recolha de informações junto dos nativos, da existência de grandes montanhas e às quais, iniciaticamente, se deram o nome de "Montanhas da Lua", precisamente por serem longínquas e, até então, ainda inantigíveis. Essa zona das "Montanhas da Lua" abrangia o que são hoje o Congo Oriental, o Ruanda, o Burundi, o Uganda e a parte interior da Tanzânia. Diversos exploradores iniciaram a conquista geográfica destes territórios estando, entre eles, o acima biografado Richard Burton. E é sobre uma parte da vida deste explorador que recomendo o filme "As montanhas da Lua", que se reporta principalmente na viagem que, em 1854, ele e Jonh Specke encetaram à descoberta das nascentes do rio Nilo, tendo atingido os lagos Tanganica e Vitória. Realizado por Bob Rafelson e com os papéis dos dois exploradores entregues a Patrick Bergin (Richard Burton) e Ian Glen (Jonh Specke) o filme, para além de descrever esta portentosa viagem aventureira, retrata uma outra anterior que ambos tinham efectuado à Somália e da qual só miraculosamente é que escaparam com vida e também a disputa que ambos travaram em Londres, quer sobre a legitimidade da descoberta do lago Vitória como nascente do rio Nilo quer sobre a veracidade científica da mesma, disputa essa travada na Real Sociedade de Geografia de Londres e que, na época, apaixonou a opinião quer dos peritos quer pública. Um filme magistral. 

Lamento

A polícia alemã descobriu, num quarto de hotel, na cidade de Colónia, uma centena de serpentes, 70 tartarugas e 20 rãs, tendo detido dois japoneses e um chinês, por suspeita de tráfico de animais de espécies raras (DN Globo). Não lamento a captura dos animais pela Polícia e a sua entrega ao Jardim Zoológoco local, um mal menor para suprir um mal maior. O que eu lamento é que os ditos suspeitos tenham sido soltos após o pagamento duma caução. E, também, que nenhum deles tenha sido mordido por uma serpente venenosa (os traficantes, não os polícias).

Associação

Hoje reporto-me ao Centro de Recuperação do Lobo Ibérico, que fica na Quinta da Murta - Picão, na freguesia de Gradil - Mafra. Este Centro luta pela preservação do lobo enquanto animal livre. O Centro pode ser visitado (já o fiz) e... já agora apoiado. Uma pequena ajuda monetária da nossa parte não custa nada. Por isso aqui fica a sugestão: tirar o rabo do sofá, desligar a televisão e dar um passeio até este Centro, fazer por lá um lanche ao ar livre (levado de casa), ver os lobos e... adoptar um, através duma pequena contribuição que será sempre uma grande ajuda para os mesmos. Este Natal dê uma prenda aos lobos ibéricos. Eles merecem.

Imbecilidades

Bom, agora a moda é o "retrossexual", que é o indivíduo que "rejeita a ditadura de uma imagem perfeita e reclama o regresso de um homem simples e real" (DN Pessoas). Então... temos o heterossexual, o homossexual, o transssexual, o bissexual, o metrossexual e, agora, o retrossexual. Aguardo, expectante, a próxima imbecilidade. Estou a pensar propôr o "humanóide normalóide". 

Uma pergunta

A Conferência da ONU sobre as alterações climáticas, realizada em Durban, foi uma fantochada. Enojo-me com estes políticos que organizam eventos à  escala planetária, onde se gastam milhões e... nada decidem de conclusivo, adiando tudo para a próxima cimeira. Nesta, então, tiveram que prolongar a mesma mais 24 horas para conseguirem um acordo que lhes permitisse salvar a face. Quito, Rio de Janeiro, Cancun, Copenhaga, agora Durban , enfim, um périplo mundial onde os nossos ilustres e sacrificados representantes viajam em grande estilo, hospedam-se em cinco estrelas, comem caviar, bebem do fino e depois duns paleios amorfos, cheios de floreados e de boas intenções... marcam outra cimeira. E porque não vamos todos esperá-los aos aeroportos, quando aterram de palito na boca e barriga cheia e não lhes atiramos às trombas o produto das nossas evacuações previamente guardadas em sacos de papel?

Aconteceu

O Prémio Nobel da Paz foi atribuído a três mulheres: Ellen Johnson Sirleaf, Presidente da Libéria; Leymah Gbowee, activista liberiana dos Direitos Humanos e Tawakkol Karman, jornalista iemenita.

A atleta portuguesa Ana Dulce Félix conquistou a medalha individual de prata de seniores femininos nos Campeonatos Europeus de Crosse. E, em Selecções, neste mesmo certame, Portugal arrecadou, em feminino as medalhas de prata nas classes de Séniores e Sub-23.

Vai acontecer

Lançamento do livro "Elementos da cultura militar - glossário de termos linguísticos e estudo introdutório sobre organização e simbólica castrense", de João Freire (Edições Colibri). Dia 12 de Dezembro, às 18H00, na Associação 25 de Abril (Lisboa).  

Tertúlia "Finis Imperii", sobre o Ciclo Olhares Sobre a Índia: "Sirius", de Marques da Silva. No dia 14 de Dezembro, na SHIP - Sociedade Histórica de Independência de Portugal (Lisboa). Entrada livre.

Memória da semana

09/12/1706 - Falecimento, em Lisboa, de D.Pedro II, Rei de Portugal.
09/12/1843 - Surgem, em Inglaterra, os primeiros postais de Natal, criados por Henry Cole e John Horsley.
09/12/1907 - São colocados à venda, em Delawere, os primeiros selos norte-americanos alusivos ao Natal. A receita revertia para a luta anti-tuberculose.

10/12/1901 - São atribuídos, pela primeira vez, os Prémios Nobel.

11/12/1842 - Nascimento de Robert Koch,médico bactereologista, fundador da microbiologia e descobridor do "bacilo de Koch" (1882) entre outros. Foi contemplado com o Prémio Nobel da Medicina (1905).
11/12/1908 - Nascimento, no Porto, de Manoel de Oliveira, realizador cinematográfico.
11/12/1972 - Alunagem da nave espacial norte-americana "Apolo 17". Foi a última viagem espacial tripulada à Lua, tendo sido a que mais tempo ali permaneceu (três dias).

Foi dito

"Antes ter como símbolo um par de corvos do que um par de cornos" - (Boca a Boca, de Pedro Bandeira Freire).
"Roma não paga a traidores" - General romano Cipião quando se recusou pagar o prometido a Audaz, Ditalco e Minuro, os três assassinos de Viriato quando estes compareceram a reclamar a recompensa por tal acto. (Histórias rocambolescas... de João Ferreira, livro acima citado).



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