"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

sábado, 31 de dezembro de 2011

Cecil John Rhodes

Aventureiros, viajantes e exploradores

Cecil John Rhodes - (Stortford (Inglaterra), 05/07/1853 - Cidade do Cabo, 26/03/1902) - Aventureiro, político, empresário e, acima de tudo, um gigante do colonialismo britânico na África Austral, insaciável conquistador de terras e inimigo fidagal dos portugueses. Cecil Rhodes foi um dos raros homens do planeta a legar o seu nome a um País - Rodésia (actual Zimbabwé) e passou à História como o "Napoleão da África do Sul". Quarto filho do Reverendo F. Rhodes, vigário de Stortford, efectuou os estudos normais da época, até 1869. No ano seguinte desembarca, pela primeira vez, na colónia do Natal (África do Sul), onde se vem juntar ao seu irmão Herbert Rhodes, iniciando uma carreira de pesquisador de ouro. Percorre a África meridional e regressa a Inglaterra, em 1872, frequentado a universidade de Oxford. Em 1878 volta, de novo, à África do Sul e instala-se na Cidade do Cabo, onde acaba eleito deputado no Parlamento daquela cidade. Cria a "British Chartered Company" que mais tarde rebaptizará de British South Africa Company (BSAC), em 1889, uma companhia majestática com o beneplácito do poder londrino. Recebendo autorização real para se expandir para o Norte do território, sem limites à sua expansão, Cecil Rhodes ocupa a Machonalândia, em 1890. Quatro anos mais tarde a BSAC ocupa a Matabelândia e reúne os dois territórios, renomeando-os de Rodésia. A BSAC funcionará como uma ponta de lança extremamente eficaz na conquista de territórios para o Norte, envolvendo-se em guerras com todos os que se atravessem no seu caminho, sejam bóeres, portugueses ou povos africanos, estendendo a sua influência até ao actual Malawi e Zâmbia. São os homens da BSAC que prendem Paiva de Andrada e Manuel António de Sousa e travam o combate de Macequece (actual Manica - Moçambique), de forma vitoriosa. Um dos sonhos de Cecil Rhodes era a saída dos portugueses da África Oriental e a consequente anexação de Moçambique para o domínio britânico e da sua BSAC. Em 1888 adquire, a baixo custo, a "de Beers Consolidated Mines Ltd." e, três anos mais tarde controlava, através desta empresa, noventa por cento do mercado mundial dos diamantes. Em 1890 é nomeado Primeiro-Ministro da Colónia do Cabo, cargo em que se manteve até 1896, altura em que é deposto, fruto indirecto dum fracasso que obteve numa expedição militar contra os bóeres, no ano anterior e também sob a acusação de misturar os interesses políticos com os seus interesses financeiros. Com o fim de afrontar os interesses bóeres, Cecil Rhodes ordenara uma expedição militarizada, que ficou conhecida por "Jameson Raid", ao Transvaal, um República independente liderada por Paul Kruger. No entanto esta expedição acabou mal para os interesses de Cecil Rhodes, sendo uma das razões da sua queda política. Em 1899 instala-se em Kimberley, no decurso da primeira guerra anglo-bóer. Morre aos 49 anos de idade, na Cidade do Cabo calculando-se que, ao longo da sua vida africana, tenha obtido, para o domínio territorial britânico, mais de um  milhão de quilómetros quadrados. Ficou sepulto na Rodésia.

British South Africa Company (BSAC) - Era a companhia majestática criada por Cecil Rhodes, a partir duma outra - a Chartered - e que recebeu alvará da Rainha de Inglaterra em 25 de Outubro de 1889. Munido da autorização real para explorar e colonizar uma vastíssima área que era, muito vagamente, defenida entre o Norte da Bechuanalândia e o Niassa, Cecil Rhodes levará a sua empresa a expandir-se por territórios desconhecidos dos brancos. A BSAC, guarda avançada do colonialismo britânico e com alvará por 25 anos irá dar, posteriormente e na sequência do desmantelamento da mesma, origem às colónias da Rodésia do Norte (actual Zâmbia), Rodésia do Sul (actual Zimbabwé) e Niassalândia (actual Malawi).  

"Jameson Raid" - Nome com que ficou conhecida uma incursão armada, sob inspiração de Cecil Rhodes, na altura Primeiro-Ministro da Colónia do Cabo, que pretendia anexar para a BSAC os ricos campos auríferos descobertos em terras transvalianas e sob domínio bóer. Justificando-se com o descontentamento que os "uitlanders" manifestavam face às dificuldades que os bóeres lhes levantavam permanentemente, enviou 500 homens da BSAC, liderados pelo seu homem de confiança e braço direito Leandar Jameson. Este atravessou, a 30 de Dezembro de 1895, a fronteira do Transvaal em Pitsano, no Protectorado da Bechuanalândia mas, a 02 de Janeiro de 1896, viu-se cercado na vila de Doornkop, acabando por ter de se render. Face à intervenção do Governo de Londres, que não manifestou apoio a Cecil  Rhodes, e também à prisão de Leandar Jameson, os uitlanders revoltosos em Johannesburg acabaram também por se render. Julgados os responsáveis por esta sublevação, quatro deles foram sentenciados à morte, acabando a sentença por ter sido comutada em multa de 25.000 libras a cada um dos sentenciados à morte e, aos restantes, a penas de prisão transformadas em multas de 2.000 libras cada um. Outra consequência desta incursão, mas política, foi a demissão compulsiva de Cecil Rhodes do seu cargo governativo, no Cabo.

Uitlanders - Nome que se referia a toda a casta de exploradores mineiros, que não eram bóeres e que se instalaram no Transvaal, na prospecção de ouro depois de descobertas, a partir de 1886, as ricas jazidas auríferas aí existentes. A palavra africânder "uitlander" (em inglês "outlander") significa "estrangeiro". Aventureiro sem lei nem moral, a maioria deles foram causa de inúmeros conflitos com as comunidades bóeres que, até aí, viviam na pacatez dos seus costumes ancestrais assentes numa sociedade patriarcal pilarada, essencialmente, na Bíblia e na agricultura. A existência duma numerosíssima comunidade de uitlanders em terras transvalianas, a maioria britânica, levou a que a Colónia do Cabo exigisse aos bóeres que aos mesmos fossem dados os mesmos direitos de voto eleitoral. O Presidente da República do Tansvaal, Paul Kruger, apercebendo-se dessa manobra, que não passava de um artefacto para que o território viesse a mudar de mãos, promulgou legislação, em 1890, na qual apenas concedia direito de voto aos uitlanders que aí residissem há a mais de 14 anos e tivessem, também, mais de 40 anos de idade.

Historiando Moçambique Colonial

Parte I - Descoberta de Moçambique:

O País europeu que colonizou Moçambique foi Portugal. Para entendermos a chegada dos portugueses ao território moçambicano importa recuarmos no tempo e analisarmos, um pouco, a história lusitana inserida no contexto europeu.
Portugal foi o primeiro Estado-Nação a formar-se na Europa e a sua pequena extensão territorial, aliada à sua posição atlântica levou-o, desde cedo, a olhar o mar como válvula de escape da pressão continental acabando, quase que o poderíamos dizer, por "tratar o mar por tu".
A proximidade do continente africano; a rivalidade religiosa (os europeus eram cristãos e os norte-africanos eram muçulmanos); a impossibilidade de novas conquistas pela Europa adentro (entalado entre o Oceano Atlântico e os reinos cristão de Castela e muçulmano de Granada, acabando este último por ser conquistado pela Coroa de Castela em 1492); o apetite aventureiro da nobreza portuguesa ansiosa por novos feitos guerreiros que lhes granjeasse riqueza patrimonial e prestígio militar; a avidez comercial por lucros rápidos, por parte da nova e florescente burguesia nascida da revolução popular de 1383/85; as histórias fabulosas - verídicas umas outras não - de relatos de anteriores aventureiros ("O Milhão", de Marco Polo; "Viagens", de Jean d´Outremer, por exemplo); a crença dum poderoso Reino cristão algures em África (o lendário Reino do Prestes João, fraudulentemente criado); a crónica falta do ouro nos cofres do Estado e a fuga da pobreza e duma vida sem grandes perspectivas para uns e o espírito aventureiro para outros levaram, os portugueses, a iniciarem navegações marítimas e conquistas de cidades costeiras africanas as quais, qual bola de neve a rolar pela montanha abaixo, culminaram com a descoberta do caminho marítimo para a Índia.
Por outro lado a Europa era o porto terminal de duas carreiras comerciais de longo curso: o ouro de África e as especiarias do Oriente que, na sua recta final, eram monopolizadas pelas cidades-estado da península itálica, cabendo a parte de leão a Génova e Veneza as quais, impondo os seus preços de intermediários enriqueciam, de sobremaneira, os seus cofres.
É, assim, o factor económico a principal mola real da partida lusitana.  
A África ia-se buscar o ouro à costa da Guiné (donde terá derivado o nome da moeda "guinéu"), bastante procurado para cunhagem de moeda, pagamento de especiarias, desenvolvimento da arte decorativa em palácios e igrejas, entre outros. Inicialmente o ouro era comercializado nos portos do Norte de África, pelos genoveses, depois de ter sido transportado por longas e lentas caravanas cameleiras, através do deserto do Sahara (vindas de Tombuctu, por exemplo) mas, depois dos portugueses terem conquistado Ceuta (1415) e desencadeado outras guerras em Marrocos, o comércio pacífico do ouro praticamente desapareceu, o que levou estes a pesquisarem as rotas marítimas que lhes permitissem chegar à origem do dito ouro contornando, assim, a costa acidental africana.  
Para além do ouro, os portugueses redimensionaram outras fontes de riqueza, tais como a pimenta africana e a escravatura. Se a pimenta africana vem, posteriormente, a ser abandonada em detrimento da pimenta asiática, o tráfico negreiro nunca desapareceu, vindo até a ser um negócio altamente rentável.
Só depois com a dobragem do cabo Bojador (1434) e a intensificação do comércio do açúcar nos arquipélagos da Madeira e dos Açores, é que os portugueses começaram lentamente a amadurecer a ideia de chegarem à Índia por mar a fim de, monopolizando essa estrada aquática, quebrarem a hegemonia comercial das cidades-estados de Génova e Veneza.
Ao Oriente iam-se buscar múltiplas riquezas para uma Europa insaciável, que pagava bom preço pelas mesmas, tais como jóias, ouro, sedas, tapeçarias e diversas especiarias.
Assim, a saída dos europeus, em geral, e dos portugueses, em particular, para fora das suas fronteiras, não teve em vista a colocação de produtos seus ou de trocas comerciais mas a de irem buscar matérias-primas que lhes eram carentes e apetecíveis.
Ao dominarem a cartografia da costa africana e ao chegarem à Índia, os portugueses não só cortaram os tradicionais e ancilosados laços económicos que ligavam as periferias dos diversos continentes e se assenhorearam dos produtos em que a Europa se viciava como também, e talvez o mais importante, rasgaram novas fronteiras, aproximaram culturas, desbravaram mentalidades, revolucionaram diversos ramos das ciências e criaram outras, alteraram todo um ecosistema à escala planetária e redimensionaram o conceito do Homem Universal.
O  modo como o conseguiram poderá ser criticável, os fins a que se propuseram poderão e deverão ser discutíveis mas, o mérito de terem mudado a face do Mundo, esse, não se lhes pode ser negado.
Não cabe aqui o estudo dos descobrimentos marítimos portugueses, servindo apenas este ligeiro aflorar da mesma para melhor se entender a chegada dos portugueses ao actual Moçambique.
Em Janeiro de 1488 uma armada portuguesa, capitaneada por Bartolomeu Dias, dobra o cabo da Boa Esperança (África do Sul) entrando, de seguida, na costa oriental africana pela primeira vez e com o rumo apontado para Norte. No entanto o navegador, subindo até à Angra de São Braz (actual Dias Bay), não avançou mais e retornou a Lisboa, voltando as costas à glória de ser o descobridor total do caminho marítimo para a Índia. Apesar de tudo não se lhe pode negar o mérito de ter aberto as portas, em definitivo, para que esse mesmo caminho acabasse por ter sido desbravado na viagem seguinte, que a Coroa Portuguesa aparelhou, entregando o comando da armada a Vasco da Gama. Sensivelmente nove anos depois da saída de Bartolomeu Dias, de Lisboa, na sua viagem frustada de chegar à Índia, nova armada portuguesa voltou a sair da barra de Lisboa, com a mesma missão.
Era capitaneada por Vasco da Gama, tendo saído de Lisboa a 08 de Julho de 1497. Atinge o cabo da Boa Esperança a 18 de Novembro de 1497, aproando daí para Norte, já na costa oriental africana. Estavam no Oceano Índico. A 07 de Dezembro atinge a Angra de São Braz, ponto terminal da viagem de Bartolomeu Dias e, daí em diante, os portugueses navegavam em mares desconhecidos. A 25 do mesmo mês tocam em terra e nomeiam-na de Natal, em memória do dia que atravessavam. Finalmente, a 11 de Janeiro de 1498, os portugueses aportam em solo moçambicano (na actual geografia), na área de Inhambane (ou Inharrime, existem dúvidas) que baptizam como Terra da Boa Gente, devido ao acolhimento cordial que tiveram das populações locais. A 24 deste mesmo mês aportam na zona da actual Quelimane onde, pela primeira vez, contactam com povos islamizados (nas Terras da Boa Gente as populações eram animistas), sendo também pacíficos estes contactos. Ao rio que aí encontraram apelidaram-no de rio dos Bons Sinais, precisamente por terem encontrado gente islamizada, o que era bom prenúncio. No dia 02 de Março de 1498 a armada portuguesa chega à ilha de Moçambique, tomando contacto, pela primeira vez, com a navegação comercial asiática. De relacionamento irregular, a estadia dos portugueses que inicialmente foram tomados, pelas gentes locais, como islamizados durou até 29 de Março de 1498, altura em rumaram até Mombaça, onde chegaram a 07 de Abril de 1498 e daí para Melinde, onde aportaram a 14 do mesmo mês e, no arranque final desta portentosa viagem, atingem a costa indostânica em Calecute, no dia 02 de Maio de 1498.
Os portugueses, no morrer do século XV, tinham atingido os seus objectivos, iniciados 80 anos antes.
Esta viagem, que resumida aqui se descreveu, importa ao conhecimento da história colonial de Moçambique pois, como se referiu, uma armada portuguesa tocava, pela primeira vez, o actual solo moçambicano. 
Mas os portugueses desta armada capitaneada por Vasco da Gama não foram os primeiros europeus a atingirem Moçambique. Antes deles, um aventureiro solitário pisara solo moçambicano em busca de informes. Seu nome, Pêro da Covilhã.

(A continuar)

Uma personalidade para a Eternidade

Irena Sendler - (Varsóvia, 15/02/1910 - Varsóvia, 12/05/2008) - Foi uma mulher espantosa que viveu intensamente sobre o fio da navalha no decurso da II Guerra Mundial. Laborava como enfermeira, na sua Varsóvia natal, quando os nazis invadiram o seu País (1939). Após a criação do gueto de Varsóvia, Irena Sendler consegue um passe emitido pelos invasores, graças às suas habilitações profissionais, que lhe permitia entrar no referido gueto para, oficialmente, tratar de doenças infecciosas. Nas suas idas e vindas de e para o gueto consegue retirar do mesmo, às escondidas, 2.500 crianças judias, quer em ambulâncias como doentes do tifo, quer escondidas em cestos de roupa, em caixas de ferramenta e tudo o mais que a imaginação humana pudesse conceber. Registou os nomes de todas essas crianças, de que famílias provinham e as moradas das famílias que as acolhiam à socapa. Escondeu essas listas em frascos que enterrou. Descoberta a sua actividade humanitária, em Outubro de 1943, acaba presa pela Gestapo e interrogada sob tortura, a fim de revelar toda a rede que a apoiava nesta sua saga. Fracturaram-lhe os membros mas não a sua determinação. Nunca confessou, tendo aguentado estoicamente todas as humilhações, salvando deste modo as crianças. Condenada à morte, consegue escapar do pelotão de fuzilamento, quando um militar alemão, subornado por membros da comunidade judaica, lhe dá a fuga. Em liberdade adquire uma identidade falsa e continua a sua actividade humanitária. Em 1944, aquando da revolta do gueto, escondeu os frascos contendo os dados biográficos das crianças, apenas revelando a localização dos mesmos a pessoa de confiança. Após o findar do conflito entregou os frascos à Comissão de Salvação Judaica, tendo-se apurado que grande parte dos familiares das crianças tinham sido exterminados nos campos de concentração, pelo que estas foram sendo enviadas para a Palestina, no território onde nasceria Israel. Anos mais tarde, quando a sua heróica história veio a lume nos jornais, crianças salvas por ela, agora adultas, reconheceram o seu rosto nas fotografias que os jornais publicavam e contactaram-na. Em 1965 o Estado de Israel considerou-a "Justa entre as Nações" e outorgou-lhe a cidadania honorária. Condecorada com a Ordem da Águia Branca (2003), a mais alta distinção polaca, não chegou a ser laureada com o Prémio Nobel da Paz, que seria o corolário mais que justo para uma Mulher que, naqueles negros dias que eram mais escuros que as noites desenluaradas, nunca deixou apagar a luz da esperança. Foi (e será sempre) daquelas personalidades para a eternidade a nunca esquecer.

Leituras

"A história de Irena Sendler - a mãe das crianças do Holocausto", de Anna Mieszkowska (Editora Livros do Brasil, Carnaxide, 2001, 287 págs.), que relata a história desta extraordinária "multimãe".

A "M de Moçambique" é uma revista bimensal moçambicana, que me apraz ler. Habituados que estamos a que tudo o que vem de África é só fomes, guerras e destruição, sabe bem ler este oásis de paz noticioso virado, essencialmente, para as áreas do lazer, nomeadamente turismo, cultura e desporto. De edição bilingue (português e inglês) sem gralhas, com uma apresentação impecáve e, fotografias excelsas, transmite uma imagem muito positiva deste País irmão.

Filme

Chaimite, em Moçambique, era o local sagrado dos angunes, por aí se encontrar o cemitério real onde repousavam os restos mortais de Manicusse, fundador do Reino de Gaza. Foi também o último local de refúgio de Gungunhana, seu neto e último Rei deste potentado. A 28 de Dezembro de 1895, o Major Mouzinho de Albuquerque entrou no seu "kraal" e aí o prendeu. Gungunhana liderava, despoticamente, o Reino angune de Gaza e, apesar de se ter avassalado a Portugal, também balançava para os interesses britânicos representados por elementos da BSAC (acima referida). A fim de restaurar, no pleno, a sua soberania naquelas paragens a Sul de Moçambique, Portugal envidou esforços para enviar tropas devidamente comandadas, a batalhar as diversas rebeliões que se faziam sentir naquelas paragens e a estancar os interesses britânicos. Por iniciativa própria, o Major Mouzinho de Albuquerque, comandando uma força de 50 europeus, numa jogada arriscada do tudo ou nada, avançou para Chaimite e prendeu Gungunhana, levando-o a ferros para Lourenço Marques, o qual depois foi embarcado para Lisboa e, posteriormente, exilado para os Açores, onde virá a falecer. É sobre esta arrancada de Mouzinho de Albuquerque para Chaimite e prisão do líder africano que versa o filme "Chaimite" (1953, 157 minutos), realizado e argumentado por Jorge Brum do Canto, que se pode rever, aproveitando o facto de se atravessar, nesta semana, mais um aniversário desta saga. O filme, apesar de assentar em factos históricos irrefutáveis sofre, no entanto, do crivo da mentalidades da época em que foi realizado, no tempo da ditadura do Estado Novo, onde os valores pátrios eram sobrevalorizados e não se admitia outra concepção de que Portugal ia do Minho a Timor. Mas, mesmo assim, um filme a ver-se, desde que não nos deixemos envolver pela mensagem sub-reptícia que o mesmo enferma.

Há muitos anos (salvo erro no Quarteto) vi o filme "The rose" (1979, 125 minutos), inspirado na vida de Janis Joplin. Dirigido por Mark Rydell, coube a Bete Midler o papel principal que ganhou, com a sua representação, um Globo de Ouro.

Televisão

"Rhodes: the life and the legend of Cecil Rhodes" é uma série televisiva da BBC, em parceria com a CBC canadiana e a SABC sul-africana, que aborda a vida deste pantagruélico devorador de terras e gentes. Baseado na obra de Anthony Thomas "Rhodes - a corrida para África" e dirigido por David Drury, coube a Martin Shaw representar o papel de Cecil Rhodes. Dividido em seis episódios tem um total de 455 minutos.

Música

Janis Joplin (1943/1970) é, sem apelo nem agravo, uma das vozes que mais prazer me dá ouvir. Recordo-me que, quando iniciei a minha recruta em Boane (Moçambique), o meu primeiro pré estoirei-o todo (da miséria que me sobrou depois de descontar para a farda, para o cabrão do Cabo da Água que lavava as nossas roupas e mais não sei o quê) a comprar um "long-play" (LP) desta cantora inimitável de blues. Deu à justa e já não me recordo de quanto custou. Também já não tenho esse LP, perdido algures nas bolandas da minha vida. Hoje tenho dois "compact-disc" (CD) dela: "Kozmic blues", gravado em 1969 e "Pearl", gravado em 1970, este último publicado postumamente. São dois discos que guardo religiosamente. Texana de nascimento, foi no pico do  movimento "hippie" californiano que a sua voz rouca se impôs, rotulando-a de "branca com voz de negra". Também compositora, misturando os blues de Chicago com sonoridade do "rock", gravou o primeiro álbum "Cheap trills" em 1968. Não conseguindo conciliar o balanço da vida artística com a emocional, deixou-se arrastar pelos excessos, que a conduziram a uma morte prematura. Terá entrado no actualmente falado e restrito "Clube dos 27", relativo a músicos que faleceram aos 27 anos de idade: Jimmy Hendrix, Jim Morrinson e, mais recentemente, Amy Whinehouse. Mas a sua voz, rouca, sedutora, dolente, suplicante, o que quer que a cataloguem, trinará sempre em mim.

Exposição

Sob o tema "Obras sobre o papel", está patente ao público uma exposição com obras de Cargaleiro, Cruzeiro Seixas, Carlos Calvet, Júlio Resende e Júlio Pomar. Na Galeria Valbom (Avª Conde Valbom - Lisboa) até 29 de Janeiro próximo.

Positivo

O Governo português concluiu a primeira grande privatização do seu programa, com a venda de acções da EDP ao capital chinês. Não está aqui em causa a bondade ou não dessa acção, se devia ter aberto mão dum sector importante da estratégia nacional, enfim, tudo isso são considerandos de ordem política e económica que cada um optará por botar faladura. O positivo que atribuo é o facto de que, até ao momento e do que tenho lido, ninguém apontou qualquer tipo de irregularidades deste volumoso negócio. Nem as partes vencidas (alemã e brasileira). O que é obra, neste "jardim à beira-mar plantado". 

A eleição de Artur Santos Silva para a Presidência da Fundação Calouste Gulbenkien. Esta Fundação é, na minha opinião, o nosso verdadeiro Ministério da Cultura (sem desprestígio para outras) e não é qualquer gato-pingado que assume este cargo. Tendo lido um trabalho sobre a personalidade do mesmo (Visão nº 982) para além doutras referências que de tempos a tempos ia lendo sobre ele, a minha costela de "portuguesinho invejoso e maledicente" veio ao de cima e descobri-lhe um pecado: é simpatizante e sofredor do FCP. Bolas, não há bela sem senão. A cereja no topo do bolo seria era ser sportinguista. Mas está bem, percebe-se: afinal ele está habituado a, por norma, ganhar.

Negativo

No decurso da operação "Festas Seguras 2011" a PSP deteve 808 pessoas, a maioria das quais por condução sob o efeito do álcool (DN). Não são as detenções o negativo. Negativo é haver tanto potencial assassino à solta.


"Em cada 11 edifícios lisboetas, um está devoluto (no total 4.689 em 52.495)" (Visão nº 982). Lembrei-me dum grafiti anarca que aparece nas paredes: "tanta gente sem casa e tanta casa sem gente".
"Temos de controlar bem os gajos que escrevem." - Armando Vara escutado ao telefone, revelado  no caso "Face Oculta" (Sábado nº 400).


Quando, há uns anos atrás, andei a ler diversos livros de História sobre as duas guerras anglo-bóeres, ocorridas no último quartel do século XIX no território da actual África do Sul, recordo-me de ter lido um livro intitulado "A guerra na África do Sul - suas causas e seguimento", de Arthur Conan Doyle (o pai de Sherlock Holmes) e onde prestou serviço como médico e que caracterizava os bóeres como "homens de mentalidade do século XVII empunhando armas do século XIX". Lembrei-me desta citação a propósito duma notícia que li sobre "O calvário de Sakineh" (Visão nº 982) que nos informa que uma mulher iraniana - Sakineh Mohammadi Ashtiani - foi condenada à morte por ter cometido crime de adultério. Depois de ter sido punida com 99 chicotadas que já lhe foram aplicadas, o cumprimento da sentença de morte seria por lapidação mas, como houve protestos internacionais, as autoridades iranianas estão a ponderar liquidá-la por enforcamento. Altero um pouco a frase de Conan Doyle: eles (o poder iraniano) são homens de mentalidade medieval empunhando poder atómico do século XXI. A quem (eventualmente) me estiver a ler perdoe-me o meu desabafo: a puta que os pariu.

Recomendo

Uma visita ao Aquário Vasco da Gama, no Dafundo. Felizmente que o Oceanário de Lisboa não o liquidou como, na altura do nascimento deste gigante marinho, se chegou a recear.  

Associação

O "Grupo dos Amigos do Museu de Marinha" (GAMMA) é uma associação ligada ao Museu de Marinha, com sede em Lisboa e que, ao longo dos anos, tem desenvolvido diversas actividades ligadas à temática náutica, com regularidade. E porque a Marinha faz, indubitavelmente, parte do nosso património histórico. Não é por acaso que a nossa Marinha escolheu, para seu dia de comemoração, a data da partida de Vasco da Gama de Lisboa rumo à Índia.

Perguntar não ofende

Uma família portuguesa recebeu ordem de expulsão das autoridades canadianas, por se encontrar ilegal naquele País há uma década. Leio, ainda, que já em 2001 a família, emigrada dos Açores, tinha solicitado o estatuto de refugiado, a fim de tentar obter a sua legalização (DN Globo). Será que li bem: estatuto de refugiado? Refugiados de quê? Ou são estúpidos ou foram mal aconselhados.

Um incêndio deflagrou (pela terceira vez) num prédio devoluto, na Avª Elias Garcia, em Lisboa (Expresso). Por correr risco de derrocada a edilidade tinha encerrado a rua ao trânsito, há um ano. Há um ano? E não fizeram nada entretanto? Andam a dormir estes nossos autarcas? Até quando se resolvem a emparedar o edifício ou mesmo demoli-lo e apresentar a conta ao proprietário? E que tal começarem a justificar o que ganham?

Aconteceu

A "Strauss Festival Orchestra" actuou, para nosso deleite, no Teatro Tivoli (Lisboa). Valeu a pena.

Está a acontecer

Eusébio, o lendário Pantera Negra, encontra-se em fase de recuperação satisfatória duma pneumonia bilateral. Uma bela prenda de Natal, para todos nós, esta notícia.

Vai acontecer

A Fundação Oriente Museu vai abrir concurso para atribuição de bolsas de estudo para doutoramento e investigação em áreas que relacionem com Portugal e o Oriente. O concurso estará aberto entre 02 e 31 de Janeiro próximos e os interessados poderão obter mais informações em: www.foriente.pt

Partiram

Johannes Heesters (1903/2011), actor de cinema e de televisão e cantor, de nacionalidade holandesa. Aos 107 anos ainda representou o papel de São Pedro, sendo também nesta idade que deixou de fumar. Era considerado o actor mais velho do mundo (Sábado nº 400).


Giorgio Boca, jornalista italiano, findador do "La Republica".


Eurico Corvacho, Capitão que foi de Abril.

Memória da semana

26/12/1893 - Nascimento, em Shaoshan (China), de Mao-Tsé-Tung. Um dos líderes mais violentos do século XX, liderou a facção comunista do seu País e proclamou o nascimento da República Popular da China. O seu pensamento político está na génese da corrente do maoísmo, ainda hoje com alguns seguidores.
26/12/1937 - Nascimento, no Porto, de Alberto Pimenta. Poeta, escritor e ensaísta.

27/12/1571 - Nascimento do astrónomo e matemático Johannes Kepler. Elaborou um conjunto de postulados que descreviam o movimento dos planetas.
27/12/1703 - Assinatura do Tratado de Methuen entre Portugal e a Inglaterra, também conhecido por Tratado dos Panos e dos Vinhos. Portugal adquiria à Inglaterra têxteis e esta permutava com aquisição de vinho do Porto. O nome do tratado ter-se-á devido ao apelido do representante inglês, o embaixador John Methuen.  A representação portuguesa era liderada por D.Manuel Teles da Silva.
27/12/1831 - O navio britânico HMS Beagle deixa o porto de Plymouth, levando a bordo o naturalista Charles Darwin. Será no decurso desta viagem, que durou cinco anos, que Darwin colherá elementos decisivos para, posteriormente, compilar o controverso livro "A origem das espécies".

28/12/1895 - Mouzinho de Albuquerque prende Gungunhana (ver item "filmes").
28/12/1989 - Vaclav Havel assume a Presidência da Checoslováquia.
28/12/1989 - Alexander Dubecek, pai do "socialismo com  rosto humano" e arquitecto da malograda "Primavera de Praga" assume a Presidência do Parlamento checoslovaco.
28/12/1999 - Portugal e a Indonésia reatam relações diplomáticas, suspensas desde a invasão de Timor.

29/12/1864 - Sai a público o primeiro número do Diário de Notícias, qual ainda hoje se mantém em circulação.
29/12/1895 - Desencadeia-se o "Jameson raid" (ver item "aventureiros, viajantes e exploradores").
29/12/1911 - Nasce, em Vila Franca de Xira, Alves Redol. Escritor neo-realista de máxima envergadura no panorama literário português.

30/12/1865 - Nasce, em Bombaim, Rudyard Kipling. Romancista e poeta britânico e vencedor do Prémio Nobel da Literatura (1907).
30/12/1922 - Criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, resultante da federação de várias repúblicas autónomas (Russa, Transcaucasiana, Ucrânia e Bielorússia).

31/12/1917 - Nascimento, em Leiria, de António José Saraiva. Docente e historiador da literatura portuguesa.
31/12/1911 - A cientista polaca Marie Sklodowsja-Curie é galardoada com o Prémio Nobel da Química.

Foi dito

"Nada na vida deve ser temido. Deve ser compreendido somente." - Marie Sklodowska-Curie, Prémio Nobel da Física (1903) e da Química (1911).

Foi escrito

"O autor da História não deve ser inimigo mas escrivão da verdade." - Fernão Lopes, cronista-mor do Reino. (Fonte: Frases que fizeram história de Portugal - Ferreira Fernandes/João Ferreira - Esfera dos Livros).  


"Sou pela economia de mercado, mas não por sociedades de mercado" - Mário Soares, num artigo de opinião titulado "Vender as Jóias da Coroa" (Visão nº 982).

Foi humorizado

"Eu nunca toco de ouvido." - Ironia alusiva à surdez que o compositor Ludwig van Beethoven começou a sofrer cerca de 1796 até ter ficado praticamente surdo. (Fonte: Epitáfios apócrifos - Hilário Antas - Ulmeiro) 

Nota: Todas as referências a instituições, marcas ou firmas ou quaisquer outras são incompatíveis com intuitos publicitários. A sua menção reflete apenas, e tão-somente, a minha opinião.

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