"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

domingo, 5 de agosto de 2012

Conclusão do Relatório George Stucky



Nota: Estou de férias até meados de Setembro. Hoje, só para não adiar mais, limito-me a colocar o final do relatório de George Stucky na Campanha do Niassa, na História de Moçambique Colonial; a análise sucinta de dois livros que li; dois pequenos vídeos sobre o bailado dos estorninhos e dois pequenos comentários sobre outras tantas notícias que li. E chega de computador. A partir de Setembro, este blogue será actualizado quinzenalmente.
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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL






Relatório da Campanha do Mataca, de George Stucky (Parte IV)


1 de Novembro: Descanso. Um irmão do Mataca manda também uma ponta de marfim e umas 50 espingardas. Pequena chuva de manhã; bom tempo de tarde. Devíamos partir amanhã mas há contra-ordem. 2 de Novembro: Esperamos, parece, o irmão do Mataca: o tal que enviou ontem o marfim e as armas – mas se faz como o seu sénior? Pelas 11 horas sei indirectamente (pois não vou mais ao quartel) que o Zarafi fugiu! Consequência imediata: razia de todos os habitantes das povoações. Pelo meio-dia, uma pequena força de soldados, acompanhada de sipaios, sai do acampamento. Os sipaios regressam de tarde com uma coluna considerável de presos: homens, mulheres e crianças que os seguem docilmente, sem a mínima observação. Não tiveram custo nenhum os sipaios para apanhar tanta gente, que se encontrava tranquilamente assentada diante das palhotas, e que não fez a menor resistência. Ainda mais, não mostram o mínimo medo. Mas que vamos fazer com tanta gente – que será naturalmente necessário nutrir durante o caminho? Às 8,30 horas da tarde sabemos que o regresso está fixado para amanhã. Começávamos a desesperar. 3 de Novembro: Saída às 6 horas. Os prisioneiros (?) de ontem oferecem uma ocasião única de curiosos instantâneos. Ai de mim! Não tenho nenhum aparelho fotográfico. Não se pode imaginar nada de mais estranho, de mais singular – e ao mesmo tempo – de mais triste, que o desfile desta massa humana. A contar de hoje, não estou mais na vanguarda: assim o decidiu o Major. Estou na retaguarda – posto de honra – e encarregado do comboio (vigilância). Poderia tirar orgulho de ter sido escolhido para este perigoso posto, mas tenho na ideia que não é precisamente para a honra o perigo para que eu fui designado, mas para livrar-se da minha presença. Será talvez engano meu? É facto que a vigilância do comboio ma obrigará a ficar a uns 2/3 quilómetros da coluna europeia. Pois bem, confesso que esta mudança, apesar do perigo ainda possível, trabalho e a responsabilidade suplementar que me dará, não é para desagradar-me, pois vou estar completamente livre dos meus movimentos, e quase desobrigado de relações de serviço directos com S. Exa. Um imenso alívio moral dum lado, compensado, do outro, por mais perigos, mas é preciso imaginar-se que me sairei a bem desta nova missão. Tenho, felizmente, para me ajudar o capitão Mateus e posso contar absolutamente com ele para vigiar, repreender, ajudar se for preciso os retardatários e defendê-los se fosse necessário. O Bastos, apesar de muito abatido, sempre me ajudará na medida do possível e em caso de emergência perigosa, sei que posso ter o mais dedicado dos amigos. A sua dedicação por mim participa tanto de amizade sincera, como do mais puro patriotismo. Tenho que me louvar de tê-lo guardado no nosso regresso do Kouemba, em vez de o mandar acompanhar os carregadores a Milange e Namacurra. Não fui encarregado – felizmente – da condução dos prisioneiros. Boa maçada a menos… Marcha de 24 quilómetros… Almoçámos às 2,30 horas um punhado de arroz com 3 sardinhas assadas. De tarde, um pobre soldado morre de disenteria crónica – por falta de medicamentos – sem falar dos cuidados que era de todo impossível proporcionar-lhe em campanha. É o quinto, creio, que falece na coluna. 2 em Napulu e 2 à chegada a Zomba. Que tristeza, ver esta mocidade sucumbir aos insultos do clima, às fadigas tremendas da campanha e a tantas privações. Não sou convidado às exéquias deste infeliz companheiro de luta – e do meu livre arbítrio, não quis assistir, a fim de evitar mais um conflito; mas darei parte ao Governador-Geral, desta falta de cortesia. Que Deus tenha a alma deste coitado e que descanse em paz. 4 e 5 de Novembro: Sem incidentes: etapas de 28 e 24 quilómetros. 6 de Novembro: A coluna parece completamente desorganizada. Cada um faz o que quer. O Major vai adiante, mergulhado nos seus pensamentos. Deixou o cavalo e vai de machila, o que é mais cómodo e rápido. Está muito enfraquecido, muito abatido. Como todos, envelheceu muito e mete pena. Marcha agora em primeiro e sem se preocupar de nada. Os soldados marcham como querem. Uns puderam arranjar machilas de ocasião (um pau armado em bambu e uma rede como maca e, assim, vão arrastados por carregadores armados em machileiros) outros nuns burros que vieram de Napulu e os mais robustos a pé. Param, tagarelam, fumam de vez em quando e deixar-se-iam ficar para trás – atrás de mim, se não insistisse com gentileza, mas com firmeza. É preciso dizer também a favor deles, que estas marchas são simplesmente excessivas, rápidas demais, quase as de machileiros e sem descanso nenhum desde a manhã, 6 horas, até à chegada ao campo pelo meio-dia e às vezes mais tarde. Isto é uma andadura para pretos ou caçadores bem treinados, mas nunca para soldados europeus enfraquecidos e desanimados. Aqueles que por qualquer razão pararem, que deixarem durante algum tempo a coluna, não podem mais reunir e tornam-se retardatários forçados. O almoço fica sempre pronto demasiado tarde: 21 e 23 horas. Hoje, S. Exa. parou às 11 horas debaixo da sombra, sem dúvida para deixar respirar os machileiros. Como não desse ordem nenhuma, a coluna continuou naturalmente a marcha, excepto o cozinheiro que, retido pelo Major, com ele demorou. Pela 1 hora de tarde, os oficiais mandaram parar a marcha e deram ordem de acampar. Depois, esperaram: - esperaram 1 hora, depois 2 horas e enfim 3 horas sem notícias do Major, nem, bem entendido, do “mestre”. Às 4,30 horas manda S. Exa. o seu ajudante exprimir o seu descontentamento, queixar-se da falta de consideração para com a sua pessoa, ajuntando que, quem quisesse almoçar (e naturalmente jantar) deveria vir encontrá-lo, pois não mandaria aí o “mestre”. Os oficiais estão, pois, obrigados ou a privarem-se do almoço/jantar ou a fazer uns 4 quilómetros de marcha – e a noite está quase fechada – para comer. Compadeço-me muito de quem for obrigado a submeter-se a estas obrigações. Enquanto a mim, prefiro mascar um pau de mandioca e uma bolacha, do que aturar uma tal brincadeira. Estamos apenas no 4º dia de marcha e já faltam o vinho e o açúcar. Isto é o menos, pois temos água boa dos mucurros e não necessitamos de açúcar (excepto os doentes). 7 de Novembro: Mais uma etapa medonha. Há uma quantidade de retardatários. Por excepção almoçámos às 2 horas (algum bacalhau com uma pequena porção de arroz e 3 sardinhas assadas). Temos mesmo um pouco de café. É fraco, muito fraco este pobre café, mas estamos muito felizes por bebê-lo, mesmo sob esta forma tão diluída. 8 de Novembro: Boa marcha de 26 quilómetros. Estaremos amanhã em Napulu. Chuva miúda de manhã. 9 de Novembro: Aqui estamos em Napulu, antes do meio-dia. Vamos poder-nos restaurar-nos, pois sabemos que temos víveres frescos. Era tempo que o nosso regime monacal parasse. Restava-nos só uma vitela de leite, e em qual estado pode imaginar-se, depois de tantos quilómetros percorridos. Uma sombra de vitela. Tenho o prazer de tomar conhecimento com o novo comandante do forte D. Carlos. É um oficial de marinha muito distinto, que me oferece logo de tudo que possa dispor. Uma jóia de camarada. Quanto estou comovido por tanta generosidade, depois do que tenho sofrido, algures! Mau tempo. Forte chuva de tarde. Contanto que a gente não se demore aqui. 10 e 11 de Novembro: Descanso. O rancho é melhor e há vinho à refeição. Que banquete! 12 de Novembro: Saída às 5,30 horas. O Major decide que todas as praças europeias irão montadas a cavalo, burro, machila, a fim de ganhar tempo na marcha e de evitar-lhes as fadigas que não poderiam mais aguentar. Manda-se fazer machilas com fibras tecidas que para alguns dias sempre servirão. Cerca de 800 sipaios estão afectados aos transportes das praças e recebem só 5 dias de poço, que não me parece chegar para atingir Milange, mas o Major conta sobre umas compras que deve fazer o Sinderam. Mas onde o bom do Sinderam poderá comprar alguma coisa? Só em território inglês, pois toda a região entre o Chirua e Kouemba é completamente raziada. E depois, mesmo se comprar, terá que transportar os volumes, tarefa não fácil. Mas verdade é que o homem é muito esperto e tem imensa prática com os pretos. Marcha enorme de 30 quilómetros. Apesar de andar de machila, uma boa metade das praças fica para trás, e os portadores, quer cansados, quer com má vontade, têm a culpa disto. Mas também deve dizer-se que a maior parte dos tais portadores nunca foram machileiros, o que é a sua desculpa. Não há almoço, porque os carregadores não chegaram. 13 de Novembro: Marcha das 6 até às 10 horas. Alto em Tamboué para almoço. Segunda etapa de tarde das 6 à 1,30 horas da manhã! 14 de Novembro: Pelas 7 horas da manhã a maior parte das praças ainda não chegou e os senhores carregadores armados em machileiros chegam só pelas 8/9 horas. Preferiram ontem, acampar à meia-noite e põem-se de novo a caminho pela manhã cedo. Fazem o que querem. 15 de Novembro: Boa marcha de mais de 25 quilómetros. O Chirua está à vista às 8 horas. Os montes de Zomba estão apenas visíveis. Aí, muito longe, ao Sul, perdidos nas nuvens, os picos de Milange. Fico um grande momento a contemplar a beleza da paisagem que se depara aos nossos olhos. Acampamos ao pé do monte Comoni. 16 de Novembro: Devíamos parar aqui (acordo Major/Sinderam) para receber o poço dos sipaios mas o Major, já não pensa mais no contrato feito e continuamos o caminho sem levar os volumes que o Sinderam pôde reunir. O Major, certamente doente e preocupado por não sei qual sonho, anda, anda sem parar; não parece interessar-se por coisa alguma… senão pela marcha. Marcha enorme de 37-38 quilómetros. Os soldados mesmo têm dó dos seus portadores: uma boa parte prefere andar a pé, do que estafar por completo e impor fadigas impossíveis à gente esfomeada e cujos ombros estão esfolados já desde há dias e os pés inchadíssimos. A coluna chega só pelas 5 horas. 17 de Novembro: O Major percebeu – enfim – que se devia deixar descansar os carregadores. Sinderam – bom rapaz – faz seguir as cargas que ele pode arranjar (alguma mapira, algum milho). Os sipaios recebem só litro e meio em vez dos 5 litros que deveriam ter. Campo levantado às 5 horas da tarde para irmos acampar ao Sambani, às 8,30 horas. Temperatura realmente admirável para viajar de noite – que é uma boa ideia. 18 de Novembro: Acampamento junto à serra Maosi. 19 de Novembro: Chuva durante toda a noite e até ao acampamento às 2,30 horas, perto do Toundo. Caminhos horríveis. O mais pequeno riacho torna-se rio. Oficiais e soldados chegam num estado lastimável, molhados até aos ossos. Obrigados a fazer algumas fogueiras para secarem-se. Nas somos ainda muito felizes de encontrar algumas velhas palhotas par abrigar-nos da chuva que não cessa. As praças têm as suas tendas – por assim dizer impermeáveis – mas a chuva é tão forte que não leva tempo nenhum para atravessá-las completamente. Outrossim, se encontra palha alguma para guarnecer o solo e os soldados, coitados, deverão dormir sobre a terra molhada. Inútil mesmo sonhar em utilizar os capotes e os cobertores, completamente encharcados. Quantas bronquites amanhã! Felizmente que Milange está à vista. Felizmente ainda que tivemos bom tempo durante toda a campanha: senão, não sei como teríamos chegado ao Mataca. Os pântanos da planície encheram-se de água de tal maneira que muitos machileiros tinham água até ao peito, alguns até ao pescoço. Como teriam passado as praças se não fossem os pretinhos? 20 de Novembro: Chegamos ao forte às horas do almoço. O comandante informa-me logo que o Governador de Quelimane tem dado ordens para que os nossos sipaios sejam desarmados aqui mesmo e sejam reenviados imediatamente, com o poço necessário, para os prazos. Isto é uma boa novidade. S. Exa. percebeu ou adivinhou as nossas atribulações… graças lhe sejam dadas. Estamos, pois, desligados, Bívar e eu, de todas as nossas obrigações militares e livres. Vejo na decisão do Governador uma resposta indirecta ao pedido que tínhamos feito, Bívar e eu, em Zarafi. Bívar, sobretudo, exultava. Apenas foi informado da decisão do Governador, foi falar com o Major e preveni-lo que não receberia mais ordens; é provável que lhe dissesse algo mais… Isto para quem conhece o seu carácter vivo, mas, se tal sucedesse, o Major não o teria um pouco merecido? A coluna partirá amanhã, os sipaios da Companhia da Zambézia a acompanharão até ao Chilomo. Os sipaios do Boror, Maganja e Marral estão livres de partir quando quiserem. 21 de Novembro: Ordem de saída às 6,30 horas, mas é só pelas 9 horas que a coluna põe-se em marcha para Chilomo. Não é sem uma certa emoção que me despeço de todos os meus camaradas, não sem estar profundamente comovido que me separei do Bívar e do Terry, os meus fieis companheiros de lutas e misérias, tão modestos heróis às horas do perigo (e disso tive muitas provas) como dedicados e sinceros na sua inalterável amizade. Quão terna foi a sua camaradagem e quão vivas “saudades” guardarei de sua memória, se a vida não nos permitir de mais nos encontrarmos… um dia. Durante estes cinco meses de campanha, havia-se criado entre nós – e diria mesmo entre todos os oficiais que conheci – uma sorte de comunhão de ideais, de sentimentos verdadeiramente atraentes. Esta comunhão, inspirada pela maior das virtudes: o amor da Pátria, é certamente inerente a todos os que participam durante tanto tempo nos mesmos perigos, nos mesmos sofrimentos. Amanhã, por minha vez, tomarei o caminho do regresso, que não é o dos meus lares, mas o da liberdade, do rude trabalho que me resta cumprir na Zambézia, até à extinção das minhas forças, enquanto estas forças poderem ainda “servir” no interesse supremo da País. Quando vi desaparecer a uma curva do caminho, lá ao longe, na orla da floresta, a última machila, o último carregador da coluna senti em mim mesmo como uma espécie de grande falta, como se perdesse de repente um ente caro – e muito custo tive para reter diante dos meus sipaios as lágrimas que estavam para jorrar dos meus olhos entristecidos. /// Seria um ingrato se, no momento de fechar estas notas, não dirigisse aos meus colaboradores os agradecimentos e os louvores que merecem: ao Bastos, em primeiro lugar, pela dedicação que deu tantas provas: homem calmo, pontual, reservado, sempre pronto para tudo, valente sem jactância, como se fosse uma coisa natural. Ao capitão Mateus (antigo regula da Maganja da Costa – nota do Autor: consultar ficha de Mateus (filho)) comandante dos sipaios da Companhia: modelo de chefe indígena, duma superioridade incontestável, grande táctico, caçador de grande classe, dedicado, valente, hábil, de sangue frio – vi-o fumar muito sossegadamente quando as balas lhe sibilavam por todos os lados – com golpe de vista infalível no terreno. Enfim, a todos os sipaios e carregadores, que têm cumprido com tanta abnegação e bom humor, e com a devida coragem nos combates – aoponto de verem-se citados na ordem do dia mais de uma vez, isto sem contar com as privações que sofreram com uma santa resignação, digna de toda a nossa admiração. Quanto aos pobres carregadores não morreram de doença e de esfalfamento nos ásperos caminhos do Kouemba. É preciso reconhecer ao preto da Zambézia a homenagem e o reconhecimento que lhe são devidos, pois sem as suas qualidades de disciplina, de confiança absoluta, de respeito que eles têm pelos Brancos – qualidades inculcadas desde pequenos pelos arrendatários dos prazos – jamais Europeus teriam podido conseguir o “tour de force” de chegar ao Mataca. E quando foi do regresso, quando estes Europeus, já extenuados, desmoralizados, doentes, quase todos, quando a MORTE já girava em roda deles, foram ainda os bons sipaios, armados em machileiros, que os têm salvado. E os têm salvado por caminhos impossíveis, por montes e vales, com machilas improvisadas – verdadeiros instrumentos de suplício para os seus ombros emagrecidos – a barriga vazia, os pés doloridos e feridos, sem que jamais um murmúrio lhes venha aos lábios, como se fossem plenamente conscientes da grandeza do papel que a Pátria lhes pedia para cumprir. Não só lhes haviam facilitado o caminho da vitória, como ainda os acompanhavam ao caminho definitivo da Pátria, com a mesma dedicação e o mesmo espírito de sacrifício. – George Stucky”. Em 1900 fez-se a ocupação militar da metade oeste da região, entre os rios Lúrio e Rovuma criando-se  alguns postos militares fixos no terreno, tais como o de D. Luís Filipe e Mululuca nas terras do régulo de Metarica,  Mandimba na serra Tambadala e Luângua, Metangula e Cobué nas margens do lago. Em 1907 o engenheiro hidrógrafo Eduardo Neuparth efectua estudos geológicos no lago Niassa. Por incapacidade de gestão, o Governo de Lisboa já tinha entregue a exploração deste território à Companhia do Niassa, mas a administração territorial desta companhia majestática era extremamente deficitária. Finalmente em Setembro de 1912, parte uma coluna militarizada, comandada pelo Capitão Potier de Lima para desmantelar de vez o poder do Mataca. Montando a sua base de operações em Oizulo, acabou por levar de vencida as forças do régulo e, na própria capital do Mataca foi erigido um forte ao qual foi dado o nome de Valadim, em homenagem a Eduardo Valadim que ali fora trucidado. Em 14 de Setembro de 1929, pelo Diploma Legislativo nº 182, foram mandados reintegrar, a partir de 28 de Outubro do mesmo ano, os territórios do Niassa que se encontravam sob administração da Companhia do Niassa, os quais foram divididos em dois distritos administrativos: Cabo Delgado e Niassa. Em 1931 foi criada a capital deste território, com o nome de Vila Cabral. Em 28 de Junho de 1955 Portugal e a Grã-Bretanha estabelecem um protocolo que altera parcialmente o tratado subscrito em 1891, sobre a delimitação da fronteira de Moçambique na zona do lago Niassa, alteração essa que se reportava à compartilha hidrográfica do lago, pela qual as águas se dividiram a meio. Esta alteração veio a pôr cobro a uma situação disparatada do acordo celebrado em 1891, na qual as águas do lago eram totalmente da área britânica, o que significava que as águas que banhavam o território português… eram britânicas. Entrando em letargia colonial, o Niassa fica ao semi-abandono, e só a partir da década de sessenta do século XX é que, fruto da guerra independentista desencadeada pela FRELIMO, que aí estabelece a sua segunda frente, é que os portugueses promoverão um lento desenvolvimento, baseado na instalação de colonatos europeus e na ligação ferroviária ao litoral.


Niassalândia – Território colonial britânico que estava integrado na Federação das Rodésias e Niassalândia correspondendo, presentemente, à República do Malawi. O nome de Niassalândia foi determinado pelo Governador Alfred Sharp, em 1907, em substituição de Protectorado Britânico da África Central.



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LIVROS

Título: Venturas e aventuras em África
Sub-Título: Venturas e aventuras em África: Bissau, Guiné 1969/1970; Inhambane, Moçambique 1971/1975.
Autora: Cristina Malhão-Pereira
Editora: Civilização Editora                Ano: 2007           Págs.: 343        Género: Autobiografia






Mais um livro autobiográfico, memórias de toda uma vida que, felizmente para a Autora e o seu agregado familiar e círculo de amigos, correu sempre tudo bem. Trata-se, no fundo, de mais um livro de memórias familiares muito cor-de-rosa mas, para o público em geral, nada traz de valor acrescentado.

A Autora nasceu, cresceu, estudou, casou (e bem, segundo relata) com um Oficial da Marinha, viajou (e bem, segundo relata) por algumas partidas do Império a acompanhar o esposo onde teve oportunidade de... caçar, pescar, fazer umas regatas e outras passeatas, chás canastas, etc. e tal, e viva a Marinha de Guerra que tanta paz lhe trouxe. Agora já é avó, África ai África que eu adoro, (mas tá quieto ir viver para lá), etc. e tal., as banalidades do costume e... pronto, ficamos por aqui.

Enfim, um livro que, já que o comprei, recomendo a mim mesmo para as minhas noites de insónia. É tiro e queda. Ao segundo parágrafo já ronco.



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Título: A conquista do sertão
Sub-Título: 1888, Angola. A história da busca de uma nova vida, de uma fazenda e de uma herança.
Autor: Guilherme de Ayala Monteiro 
Editora: Casa das Letras / Oficina do Livro      Ano: 2012      Págs.: 194         Género: Romance





Trata-se de mais um romance cuja saga se encontra perfeitamente enquadrada, no tempo, espaço e tema, no sub-título do mesmo. Saído de uma amor frustado, o jovem Pedro Costa embarca para Benguela e, palmilhando o interior do sertão africano, vê a sua vida a passar pelos anos enquanto luta, com denodo, pela concretização dos sonhos de mercador, com altos e baixos, fruto de eventos históricos que não pode controlar, tais como a revolta quilengue,  a proclamação da República ou a eclosão da Primeira Guerra Mundial. E o seu sonho começa a tomar forma apenas no findar da sua vida, quando adquire uma fazenda para plantio de café e algodão. A almejada prosperidade do seu investimento, com que sempre lutou com denodo durante toda a sua vida de sertanejo, apenas se virá a concretizar após a sua morte.


Um romance suave, escrito numa linguagem diplomática, como foi parte da vida profissional do seu Autor e que, num determinado espaço de tempo, o mesmo foi contemporâneo da personagem por si criada. Por isso, fica-me até a dúvida se este romance não terá partes memoriais da vida do Pai do Autor, que "incansavelmente trabalhou pela civilização em terras angolanas, sacrificando-lhes a saúde e a vida, conservando até ao fim a honra e a fé nos destinos dos portugueses em África", e da mãe do Autor que "pelo seu espírito de família e pelo amor à terra em que nasceu, me faz conhecer Angola", como o mesmo refere na dedicatória do livro.



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PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA

O fabuloso bailado dos estorninhos

O bailado dos estorninhos é uma fantástica coreografia feita por dezenas de milhares destas aves que, compactamente, efectuam uma revoada gigantesca e absolutamente hipnotizante.

Os cientistas estimam que é necessário um tempo de reacção inferior a 100 milisegundos para evitarem colisões, pois basta uma para provocarem o catastrófico efeito dominó e que nem os computadores conseguem reproduzir os algoritmos complexos por detrás desta movimentação, com a mesma eficiência e harmonia.

Uns atribuem a isto como uma forma de fugirem a predadores (águias, falcões, etc.), outros à comemoração após a época do acasalamento, outros ainda a uma forma de celebração do fim duma longa jornada.

Seja como for é um hino a tudo o que de belo possamos imaginar conforme se pode verificar nestes dois vídeos que, aleatoriamente, aqui coloco.



"Starling on Otmoor"



"Murmuration on vimeo"


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NESTA QUINZENA ACONTECEU



Quénia(DN, 08/08) O Parlamento deste País sofreu obras de renovação que orçaram, no global, em cerca de 10 milhões de euros. Cada cadeira para um parlamentar se sentar custou cerca de 2.500 euros.

Num dos países mais pobres de África, onde o nível de corrupção é dos mais elevados do mundo e onde os deputados decretaram, em 2010, um auto-aumento de 18%, passando a  auferir cerca de 95.000 euros anuais, quando o rendimento da população, per capita, é de 1.400 euros anuais... vale a pena fazer algum comentário?



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Portugal - Penso que a menopausa afecta a capacidade intelectual dalgumas mulheres, turvando-lhes o raciocínio e pondo-as a dizer baquoquices. Foi o caso há uns tempos atrás de Helena Roseta, uma das inefáveis ex-viúvas política de Sá Carneiro, ter-se lembrado de contar uma história em que Miguel Relvas a tentou aliciar (a ela enquanto liderava a Ordem dos Arquitectos) para o favorecimento duma determinada empresa. Só que essa conversa acontecera apenas entre os dois (a ter havido) e passara-se há mais duma década. Fiquei com a sensação que a senhora precisava de publicidade e, como estava na moda bater no Miguel Relvas... havia que malhar no ferro enquanto estava quente. Ou seja, não havia testemunhas, os factos era longevos no tempo, e tudo não passou duma conversa privada (mais uma vez repito, a ter acontecido) entre duas pessoas. Mais valia estar calada.



Veio agora Zita Seabra, campeã olímpica do salto em comprimento político (saltou directamente do PCP para o PSD, onde lhe foi logo atribuído um tacho) dizer, sem provas note-se, que o PCP fizera espionagem em diversos departamentos do Estado através da introdução de microfones em aparelhos de ar condicionado, instalados pela FNAC que, na altura, era liderada por Alexandre Alves, conhecido por "Barão Vermelho" fruto das suas simpatias pelo PCP e pelo Benfica (o Benfica não é vermelho mas encarnado, segundo amigos meus lampiões me informam). Tal como Miguel Relvas, quando foi atacado pela Helena Roseta, estava na berlinda também agora Alexandre Alves saltou para os escaparates por causa dum problema com uma empresa sua em Abrantes, como toda a gente sabe.

E agora esta inefável ex-viúva do comunismo veio lembrar-se de tal história de espionagem, digna de Jonh le Carré. Não ponho as mãos no fogo pelo PCP e até posso admitir que isso tivesse acontecido mas... acusar sem provas fidedignas, vir a público lançar uma atoarda destas sem consubstanciar com factos (tempo, local, pessoas intervenientes, etc.) é idiotice, é dar a sensação que quer publicidade.


E se a menopausa afecta o cérebro das mulheres, a andropausa também afecta o cérebro dalguns homens. Num ápice veio a PGR (também conhecida pela Arquivadoria-Geral da República) dizer que vai averiguar se há matéria crime e agir em conformidade. Sr. Pinto Monteiro, acorde. Agora que está de saída é que lhe deu a tesão da investigação? Oh homem, isto já se passou há décadas (a ter-se passado, note-se). O seu Departamento, que chupa dos meus impostos que não é brincadeira, nem sequer conseguiu apurar nada do José Sócrates, como se viu agora num Tribunal que inocentou os arguidos e mandou reinvestigar o ex-PM. Nem sequer conseguiram ouvir o ex-PM José Sócrates. O cúmulo da desfaçatez e da pouca vergonha. Não lhe pesa a consciência quando recebe o seu vencimento?

Realmente, recomendo a estas dinossaurias da política que podiam fundar um Clube, tipo Clube das Tiazinhas Ex-Viúvas Tentadas Politicamente Falhadas, onde se juntariam aos fins de tarde e, no meio de cházinhos e bolinhos, contavam histórias da treta umas às outras, enquanto se dominavam para não fazerem batota no jogo do Monopólio. Cujo banqueiro podia ser o Pinto Monteiro.

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DECLARAÇÕES DE INTERESSES



Texto escrito em desrespeito pelas normas do novo Acordo Ortográfico.




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Todas as referências constantes na presente mensagem que se reportam a livros, fotografias, documentários, filmes, músicas; empresas comerciais, industriais ou de quaisquer outros tipos, bem como nomes de pessoas (englobando-se Autores) são incompatíveis com intuitos publicitários de carácter comercial, reflectindo a sua menção, apenas e tão-somente, a opinião do Autor.





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As fotografias e os vídeos constantes na presente mensagem foram colhidos, respectivamente,do Google Imagens e do Youtube. Assim, a sua utilização, não pressupõe a concordância dos Autores dos mesmos com as opiniões constantes nos textos onde estejam inseridos.



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sábado, 4 de agosto de 2012

Isabelle Eberhardt


AVENTUREIROS, EXPLORADORES E VIAJANTES



Isabelle Eberhardt - (Genebra, 17/02/1877 - Ain Seffra, 21/10/1904) - Aventureira e escritora. Apesar do seu nascimento não ter tido reconhecimento oficial, por a sua mãe não se encontrar casada com o seu progenitor, Isabelle Eberhardt teve uma infância e adolescência cuidada.


 

Em 1888 o seu meio-irmão Augustin (tinham a mesma mãe mas pais diferentes) incorporou-se na Legião Estrangeira Francesa, acabando por ser colocado na Argélia, em Sidi-Bel-Abbés. Isso veio abrir ainda mais o apetite de Isabelle Eberhardt por viajar para o Norte de África pelo que, desde logo, começou a estudar a língua árabe acabando por a dominar correctamente. Paralelamente ao domínio do falar estudou, também, afincadamente a civilização árabe e a religião islâmica vindo a tornar-se, mais tarde, numa seguidora da mesma.


 
Em Maio de 1897 acompanha a sua mãe à Argélia, fixando-se em Bône. Depois duma curta estadia na zona europeia, mudam-se para um sector residencial árabe, onde ambas acabam, não só por abraçarem publicamente o islamismo, como também tomam partido aberto pela causa árabe contra o colonialismo francês. Mas, em Novembro desse mesmo ano, a sua mãe falece em Annaba, cidade mediterrânica do leste argelino, e Isabelle Eberhardt abandona a ideia de se casar com Rachid Almed, um diplomata turco. Solitária vê, serenamente, os dias correrem calmamente mas, caída a noite,  passa a envergar-se masculinamente de turco e, nocturnamente, mergulha nos bares do kasbash, onde se embriaga com licores, inalando kifes e tertuliando com os restantes frequentadores. Desses tempos dirá: "A embriaguez terrível e violenta dos sentidos, intensa, delirante, contrasta singularmente com a minha existência de todos os dias, calma e reflexiva".


 
Em 1898 retorna a Genebra, onde vem viver os últimos dias de vida do seu pai. Correu a tese que ela e o seu meio-irmão Augustin abreviaram-lhe a vida ao darem-lhe uma dose letal de medicamentos para lhe cercearem o suplício da agonia. E, quando este morre, dois anos mais tarde, já nenhum laço familiar a prendia na Suíça, pois outros membros do agregado ou tinham falecido ou tinham relações muitos tensas consigo, fruto do seu espírito rebelde e assumpção aberta pela cultura muçulmana. 


Abandona a Europa e fixa-se na Argélia, assumindo no pleno a sua arabização expontânea. Apenas vai ao Velho Continente em viagens rápidas e fugazes. Adopta o nome de Si Mahamoud Essadi, enverga trajes masculinos que lhe permitem uma maior capacidade de movimentos e parte à descoberta da Argelia, sua Pátria adoptada. Para além da Argélia, percorre todo o Norte de África, até Marrocos e interioriza-se pelo deserto do Sahara montada no "Souf", o seu puro sangue árabe. É uma fase de escrita intensa, que se desdobra em cartas, contos e reportagens.





 
Confronta abertamente o poder colonial francês, e adere a uma corrente sufista, o Qadirya. Honrando a sua nova apologia místico-religiosa envolve-se com os mais pobres dos pobres, levando-lhes alimento material e espiritual, o que ainda agudiza mais a sua revolta contra as injustiças coloniais. Em 1901 é vítima duma tentativa de assassinato, quase ficando decepada dum braço, por uma nunca devidamente elucidada questão religiosa. No entanto, ao agressor, entretanto capturado, perdoa-lhe e pugna para que o mesmo não seja condenado à morte, por fidelidade aos seus princípios religiosos. Acaba expulsa de Argel pelas autoridades coloniais, fruto das suas actividades de militância pró-árabe, indo para Marselha, para junto do seu meio-irmão Augustin, ali colocado.


 
Nesta cidade casa-se (1901) com Slimane Ehnni, um militar franco-argelino, o que lhe permite obter a nacionalidade francesa e, assim, poder regressar à Argélia. Começa a ver romances seus a serem publicados e, em 1902, torna-se jornalista do "Akhbar". No ano seguinte vêmo-la como repórter de guerra nos conflitos fronteiriços entre Marrocos e Argélia, entrevistando quer legionários quer guerreiros de tribos locais.



Sem se tornar adepta do colonialismo francês, no entanto prefere este ao domínio turco pelo que, em 1904, aceita um pedido do general Lyautey para se deslocar para o Sul argelino, em Kenadsa, a fim de tentar negociar um pacto de paz com as tribos sul-oranesas. Aqui acabará por cair à cama com malária, paludismo e sífilis.



Vai para Ain Saffra, uma localidade no interior argelino, para tentar restabelecer-se. Uma violenta e repentina  inundação derruba a pobre casa de adobe onde estava alojada, acabando Isabelle Eberhardt/Si  Mahamoud Essadi por morrer fruto da derrocada do tecto da sua casa. O seu marido sobreviveu-lhe mas, três anos mais tarde, fez-lhe companhia.


Quem foi realmente Isabelle Eberhardt? Ainda hoje há quem faça essa pergunta. Estranha mulher que, desde cedo, se travestia de homem, assumindo-se ora dum ora doutro sexo. A sua androginidade nunca a impediu de ser livre até à exaustão. Espia francesa que inteligentemente soube penetrar no mundo árabe? Transgressora de todos os tabus vigentes, foi drogada, alcoólica, amante libertina de homens e mulheres, escritora, jornalista. Conseguiu penetrar no mundo fechado das irmandades religiosas muçulmanas tornando-se num(a) da(o)s suas/seus confrades.



A sua morte violenta e ainda na flor da vida, elevou-a ainda mais aos píncaros da fama. Se bem que já estivesse sentenciada por doenças que, mais cedo ou mais tarde, a minariam, a sua morte violenta, ainda por cima na flor da idade, elevou-se ainda mais aos píncaros da fama.

 


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Isabelle Eberhardt escreveu vários livros e deixou diversas reportagens em periódicos tendo feito, também, trabalhos de reportagem de guerra na rebelião que eclodiu na região de Oran, um ano antes da sua morte. Parte dos seus escritos foram recuperados na lama que inundava a sua casa de abobe onde morreu.

Existe, editado em Portugal pela Relógio d´Água Editores Lda., um livro da sua autoria, com o título de "Escritos no deserto" (1990, 308 pags.), onde a mesma narra as suas viagens por todo Norte de África.







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O canal francês Arte dedicou-lhe uma pequena reportagem sobre a sua vida.






Existe ainda um filme feito sobre a sua vida, denominado "Isabelle Eberhardt" e que foi rodado em 1992, com um dos papeis a ser interpretado por Peter O´Toole (como Major Liautey) e Ian Prangley, mas não consegui adquirir o mesmo nem obter mais dados.


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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL





Continuação do "Diário da Campanha do Mataca", de George Stucky.


9 de Setembro: Deixámos no acampamento o pobre do capitão Brack-Lamy, bastante adoentado (era velho demais para uma campanha tão dura) e 77 praças doentes, considerados incapazes de continuar a campanha. Dois oficias encarregados de comprar víveres em Zomba, acompanharão os doentes, com um doutor. Soubemos mais tarde com muito pesar nosso que o Brack-Lamy morreu logo após a sua chegada ao hospital. Pequena marcha de 17 quilómetros. 10 de Setembro: Chegámos pelas 10 horas a Napulu, que servirá de base de operações para a futura expedição contra o Mataca. Com grande surpresa nossa e nossa maior satisfação encontramos em Napulu um magnífico acampamento já completamente instalado: um enorme sanzoro de mais de 600 metros de comprimento, palhotas para os oficiais, para a messe, para os diferentes serviços, construções servindo de casernas para os soldados, de enfermaria para os doentes, um armazém, um paiol, uma cavalariça, etc., enfim, tudo o necessário para que toda a gentes esteja à vontade. E o bom do tenente de artilharia Ferreira, que com os sipaios da C.Z. edificou, durante a nossa viagem aos Kouemba, este esplêndido acampamento apoiado a oeste ao lago Amaramba e protegido por 600 metros de paliçada. Para fazer este grandioso trabalho em menos dum mês, muita energia havia sido necessária, como muito jeito, pois devia-se tomar em consideração os indígenas da região, inspirar-lhes confiança, reclamar-lhes a comida para os sipaios, para os carregadores da coluna – proteger ao mesmo tempo estes indígenas contra a zanga dos rebeldes que viam dum olho pouco satisfatória uma tal empresa e vinham fazer razias na povoações do Napulu. Não sei se o major soube reconhecer os esforços do Ferreira, pois nada se ouviu e nada apareceu no diário da expedição. E portanto, quantos esforços, quanta perseverança deve ter mostrado o Ferreira para conseguir um tal trabalho, pois a madeira é rara em Napulu. Foi então preciso ir buscá-la longe, como também todo o caniço necessário e havia um certo risco, pois às vezes travaram-se combates contra os rebeldes de fora. Encontro aqui o meu prezado amigo, o Terry, que o Major, nunca o soube porquê, havia enviado a Milange buscar um comboio. Apesar de suas maneiras um pouco caprichosas (bizarras) era o mais amável dos camaradas, um coração de ouro, tão sábio quanto modesto, e pronto a todas as dedicações, e cuja competência e inteligência creio que não soube sempre utilizar como devia ser. 11 a 16 de Setembro: Descanso. Os víveres baixam de mais a mais e estamos sempre sem notícias de Zomba. No dia 16 o Comandante decide enviar alguém à B.C.A. – Fort Johnston – com alguns milhares de carregadores para ir buscar o indispensável – investigar do arroz que se deve ter recebido para a coluna e trazer o mais depressa possível. O Terry é designado para esta missão. Telegrafa-se no mesmo tempo aos oficiais enviados a Zomba, a fim de saber o que eles conseguiram fazer e a data da sua volta. Logo que tive conhecimento da designação do Terry para o Niassa, pedi licença ao Major para acompanhá-lo. Os meus serviços podiam-lhe ser úteis, pois ele não falava o dialecto de Quelimane, nem o chupanga (língua de Sena) e outrossim entendia eu que um oficial sozinho por mais esperto que fosse dificilmente podia governar-se com tanta gente sem nenhuma formação militar em terra incógnita; tanto mais que um perigo qualquer podia ser sempre possível. A presença, pois, dum amigo dedicado ao lado do Terry só podia reforçar a sua situação e diminuir as suas preocupações. Consegui mesmo levar connosco o tenente Ferreira, o qual ameaçado de biliosa, devia consultar um perito com urgência para fazer um exame rápido do sangue. Oficial de valor, camarada de armas do Terry, podia também em caso de perigo, apesar da sua fraqueza, ser-nos de grande recurso, pois ele havia feito as suas provas. Estava encantado por fugir, durante alguns dias, a esta vida horrível do acampamento, a este foco de intrigas, de ociosidade, mal empregada em discussões fastidiosas, causadas por uma moral deprimida por tantas privações, pelo clima, pelas fadigas suportadas até aqui. 17 de Setembro: Boa marcha de 35 quilómetros. Nada de interessante. A região é sempre a mesma: planície sobre planície, capim queimado, florestas queimadas, uma verdadeira desolação, não se vê verdura nenhuma. Atmosfera cheia de fumo, ar pesado, opressivo, percurso duma monotonia desesperada. Acampamos perto de ? 19 de Setembro: Estamos ao pé da serra de Mangoche, em cujo cume se encontra o forte inglês, a 1.250 metros de altura. Passamos a fronteira pelas 10 horas e estamos agora debaixo da protecção de Sua Majestade Britânica, o que nos livra dum certo pesadelo. Chegando ao forte de tarde, queremos (o que é natural) cumprimentar o comandante, mas ele faz-nos responder que não pode (ou não quer?) receber-nos e faz barrar o caminho por um soldado!... Todavia, o Terry, teimoso, consegue forçar a ordem por questões de serviço… e entreter-se com um hóspede tão amável e hospitaleiro. Nada vi, pois, do forte inglês. Soube pelo Terry, que é um grande quadrilátero, com altas paredes de alvenaria, um fosso à roda, 3 portas de entrada. No interior: belas acomodações, luxuoso bungalow, com janelas, quartos bem mobilados, uma sala de bilhar, até. Um jardim e uma horta. A guarnição é composta de angonis e de sicks. Um branco: o comandante. Os angonis são altos, robustos, soldados perfeitos, ensinados pelos sicks – é o tipo ideal de tropas coloniais. O comportamento deste extraordinário inglês é verdadeiramente inexplicável e inadmissível. Inútil fazer comentários, mas é a primeira vez que eu vejo tanta grosseria em terra africana. 20 de Setembro: Deixamos o forte com muito prazer, de manhã cedo, e depois de ter descido tudo o que tínhamos subido na véspera, inutilmente, entrámos na planície do Niassa, logo depois de termos atravessado uma serra chamada Ururu ou Ususu. Do alto da tal Ususu, pudemos entrever o lago, mas a atmosfera estava tão fumosa, tão perturbada, que não pudemos gozar do magnífico espectáculo que teríamos visto se o tempo o permitisse. Mas pudemos distinguir uma espécie de lençol branco-azulado: uma coisa imensa, sem fim, estendendo-se até se perder a vista do lado NO – orlado a oeste por uma linha um pouco mais sombria (as serras da margem) quase indistinta, que se perdia nos céus. Foi pena; pouca sorte tivemos, pois é a época dos incêndios: todo o horizonte está carregado com densas nuvens, que o vento do lago não consegue espalhar. A descida, tanto da serra de Mangoche como a do Ususu era de tal forma íngreme (chefa até 45º) que fomos obrigados algumas vezes a recorrer aos auxílio das mãos e… dos pretos. O Terry teve que deixar o seu cavalo no forte inglês. Chegámos a Fort Jonhston pelas 3 horas. Empregámos só três dias para fazer o trajecto de machila sempre acompanhados dos nossos carregadores. 21 de Setembro: Descendo na margem esquerda do rio Chire. 22 de Setembro: Visita da vila. Situada na margem direita do Chire, que desemboca no lago a uns quilómetros ao norte, foi fundada em 1897: tem dois anos apenas. É o porto do Niassa, não tem comércio por si mesmo, mas é um porto de trânsito bastante importante para a colónia alemã do lago, para o lago Tanganica e sobretudo o lago Méroué. Forte Jonhston conta actualmente com umas 20 casas, feitas com tijolos e cobertas de zinco, entre as quais destacam-se as de duas companhias de navegação, a do colector, do correio, do médico, de alguns negociantes, etc. Há já um pequeno hospital, com duas irmãs da caridade, bem necessárias, pois o clima desta região –pantanosa – é muito mau. Asseveram-me que, durante a estação quente – Outubro/Fevereiro – a mortandade chega a atingir 48%... para os europeus. Durante três meses reina um calor tórrido conjugado com chuvas muito fortes, o que produz febres terríveis: biliosas perniciosas e malária constante. Uma igreja está em construção, desde alguns meses e será terminada brevemente; uma missão anglicana, que presta bons serviços, está estabelecida a uns quilómetros ao norte da cidade. Fort Johnston tem um pequeno defeito: tudo é excessivamente caro; certas coisas estão fora de preço. Um saco de sal, por exemplo, de 30 quilos não custa menos de uma libra. Uma garrafa de conhaque vulgar ou de whisky: 15 a 18 francos e não é conhaque Martel, pode-se crer-me. Os pretos do Niassa são de raça jaua, geralmente bem feitos, de estatura mais alta e mais robustos do que os de Quelimane ou da Zambézia – lomués. Nestas regiões, o tipo parece ter-se conservado mais puro e isento de cruzamentos com outras raças mais fracas, que podem enfraquecê-los ou causar-lhes uma certa degenerescência. A língua parece-se com o chinioungué e o lomué mas, coisa curiosa, todos os indígenas percebem e fala a língua de Sena (que é de todo o vale do Zambeze) e o swahilí (Zanzibar). Deve pois crer-se que os chupangas da Zambézia têm tido desde tempos remotos fortes relações com o Niassa? Enquanto ao Swahilí, toda a gente sabe que a tal língua é falada em toda a costa desde a Somália até ao Chinde e que relações comerciais (de qual forma) infelizmente tiveram lugar em todos os tempos entre Zanzibar e o interior: a carne humana formava, com o marfim, a maior parte deste especial negócio e não é certo que esteja completamente acabado. O sistema de colonização inglês difere completamente do sistema português em Moçambique. Todo o território inglês (B.C.A.) é dividido em distritos. Cada distrito é administrado por um “Colector” cujo poder é formidável, e que depende unicamente do Comissário Régio, residente em Zomba. O “Colector” é recebedor de Alfândega, recebedor de contribuições, juiz, director dos correios e telégrafos, etc. Em uma palavra: centraliza tudo. Tem ele o direito de infligir-vos, sem recurso, até 100 libras de multa e pode até condenar à morte, sob reserva do Comissário Régio e em último caso do Tribunal Supremo do Cabo. O imposto indígena é de 23 libras por palhota e é somente cobrável nos arredores imediatos da cidade. Os pretos no interior não pagam nada ainda e não estão submetidos a qualquer pressão. Foi-me asseverado que todo o imposto cobrado em B.C.A. não chegava para pagar os vencimentos do Comissário Régio! Os ingleses, sendo ricos, não se preocupam com isto e preferem, antes de tudo, terem braços para o trabalho e o desenvolvimento da colónia. Os indígenas têm uma liberdade completa; o trabalho não é obrigatório e, justamente, por esta razão, a colónia tem mais gente do que precisaria. Pretos de muito longe vêm para buscar trabalho e procurar o que lhes falta para assegurar as suas poucas necessidades. 23 de Setembro: Despedimo-nos dos nossos amigos e partimos para voltar a Napulu, às 8 horas da manhã. O comboio nos seguirá, brevemente, quando se puderem comprar as coisas que ainda faltam, esta tarde ou amanhã pela manhã. Chegamos pelas duas horas ao pé dos montes Mangoche, que contornamos para evitar o grosso cansaço da subida e da descida e acampamos perto dum mucurro esplêndido. 24 de Setembro: Continuamos a contornar a tal serra e fazemos alto às 10 horas à margem do rio Mandimba para almoçar. O sítio é verdadeiramente lindo e como tenho jamais visto em África, digo em Moçambique, are agora… O rio, donde corre uma água pura como o cristal, é, por assim dizer, escondido debaixo dum vulto de verdura; árvores gigantescas, felizmente poupadas pelos incêndios do mato, enfeitam ambas as margens e formam uma sombra impenetrável aos raios solares; repousamos com delícia sobre um banco de areia – areia tão suave aos nossos corpos doridos – à espera do almoço que “mestre Meolá”, o meu habitual companheiro de viagens se apressa em preparar. O almoço é muito alegre… e acompanhado duma água tão fresca que não a trocaríamos por champanhe. Saída pelas duas horas; recomeçamos a percorrer a planície, que nos levará ao lago Amaramba – planície imensa que recomeça do outro lado do lago, para acabar nos primeiros contrafortes do Nhamouélo, lado Este, ao lago Chirua ao Sul, e parece não haver fim do lado Norte. Acampamos na tarde às 5 horas perto de…? Tornamos a encontrar aqui água empoçada, pois o tal riacho é completamente seco. Restam só aqui e acolá algumas poças, onde os animais selvagens vêm dessedentar-se. Devemos mesmo cavar uns poços pequenos, da areia dos quais retiramos só um líquido que se aparentaria mais a tudo que a gente quiser, excepto água… Devemos fazer ferver esta porcaria cuidadosamente e desinfectá-la para poder empregá-la. 25 de Setembro: Partida às 6 horas. Chegámos já ao lago para a hora do almoço. Encontramos no caminho muitas pegadas de antílopes, de gazelas, de rinocerontes – de elefantes até. Desço da machila algumas vezes para perseguir alguma caça. As orlas do lago estão guarnecidas duma quantidade de pássaros aquáticos, de todas as espécies: do pato ordinário, selvagem, até ao grande pato com esporas, da Zambézia, passando pelo pato branco, preto, amarelo-avermelhado (mais pequeno) depois a grous – aos íbis e gansos dos pântanos e tantos outros cujos nomes não saberia qualificar, por falta de competência. Toda esta família aquática é muito selvagem e muito difícil de aproximar. Posso, todavia, atirando bastante longe, com a minha Mannlicher, apanhar dois patos que constituirão o nosso regalo para o jantar. Entramos no sanzoro de Napulu de tarde, pelas 6 horas com que pesar… pode-se imaginá-lo… Logo após a nossa chegada, sou informado que os víveres se foram acabando… que estamos numa situação próxima da miséria, não temos sequer o indispensável … nem mesmo sal de há três dias… Durante a nossa ausência a comida consistiu em arroz-bacalhau e bacalhau-arroz. Todos os oficiais estão doentes, com disenteria; a maior parte estão deitados, até o Bívar que sofre de enterite aguda – e que me faz pena pois está muito emagrecido… com cara inquietante, olhos torvos-congestos, pele amarelenta… pulso fraco… tendo perdido a vivacidade nervosa que o manteve até aqui em boa condição. O Bastos também se levanta apenas e pode só com dificuldade estar de pé… a sua barba imponente lhe faz uma cara ainda mais grave, mais dolorosa na palidez acentuada do rosto… mas nem uma queixa sairá dos seus lábios, nem uma palavra… forte contra os acontecimentos que atormentam todos… Coitado… Mas o “sursum corda” é a sua característica. Que Deus seja abençoado por ter um companheiro assim, pronto até ao sacrifício supremo… sem se lamentar sequer. Com grande surpresa minha, venho a saber que os oficias enviados a Zomba, para a compra de víveres, não chegaram ainda e não chegarão tão depressa. Sou apertado com perguntas a respeito do comboio que temos precedido e posso anunciar a sua chegada provável para depois de amanhã, sem dúvida. Serão pois mais dois dias de privações para todos. 26 de Setembro: Nada de novo de Zomba. Os pobres dos soldados estão reduzidos desde há três dias à carne crua, com uma bolacha e uma porção de arroz. Têm de se governar para preparar estes alimentos. Seria mesmo assaz pitoresco vê-los cozinhar, se não fosse tão triste. É certo que os negros devem – comparativamente – comer melhor se tiverem ainda qualquer coisa, pois eles não têm as mesmas necessidades que os europeus. Muitos doentes. O Doutor atribui isto às más condições alimentares, ao ar viciado provocado por uma demora em acampamento cujos arredores estão cheios de porcarias, à má qualidade da água, que não é filtrada – nem às vezes fervida – enfim aos efeitos da grande fadiga suportada e mau clima… E em todos os doentes o estado de fraqueza piora logo por falta de cuidados convenientes e dos remédios precisos: leite, chá, café, biscoitos e outros doces, que faltam completamente desde há muitos dias. Bravos soldados, bravos companheiros de glória e de infortúnio – pobres de saúde, mas ricos de patriotismo… Que bela lição nos dão nestes momentos tão difíceis! Pois, nem um murmúrio, nem uma censura lhes saem dos lábios esfomeados, nem uma recriminação – que poderia ser nesta horas tão angustiosas tão perdoável, vem ensombrar o seu campo, ou ensombrar as suas conversas. Fazem prova duma “endurance” e dum estoicismo digno de todos os louvores; a sua resistência física é verdadeiramente extraordinária. 27 de Setembro: Há tarde, recebemos, com que alegria… um saco de sal com um pouco de café e açúcar: Deus queira que isto seja reservado aos doentes! Enfim, o comboio não deve estar longe e acabadas as nossas privações. Vamos poder reparar as nossas forças e seguir para diante. Já não era sem tempo. 28 de Setembro: Os víveres chegaram pelas 10 horas. Com que olhos ávidos, glutões, os europeus reunidos não contemplam os volumes chegados a pouco e pouco… Todos os tesouros de Golconda os perturbariam menos que estas caixas que lhes trazem um pouco de conforto, de alívio, e talvez o salvamento. É preciso ver com que alegria o cozinheiro se apossa imediatamente dalgumas latas de conservas, a fim de… encorpar o “menu” do dia. Tanto mais que hoje é o aniversário do nascimento de S.M. o Rei de Portugal e que o Major quereria festejar a inauguração do pequeno forte que se acaba de edificar a uns 200 metros a Sul do campo. Esta inauguração é feita com toda a solenidade compatível com a nossa triste situação. Toda a tropa válida a ela assiste, circundada pelos sipaios e carregadores; o chefe da região (Napulu) acompanhado pelos chefes e povoações vizinhas, também toma parte nesta cerimónia. O Major pronuncia um breve “speech” e proclama que o tal forte se chamará de hoje em diante “Dom Carlos”, em homenagem ao Rei. A bandeira nacional é em seguida içada no mastro do forte com todas as honras do estilo. Vivas são lançados em honra da família real e do exército e a cerimónia termina por uma salve de 21 tiros. A acta da inauguração é assinada por todos os oficiais e um grande número de praças; de tarde, os sipaios e carregadores regalam-nos com um grande batuque e danças guerreiras, magnificamente conduzidas. Uma força de trinta angolas, com um Alferes, guardará o tal forte, com uns cem sipaios, durante a nossa ida ao Mataca. Duas peças de artilharia – cujos serventes não temos – serão afectas à defesa, com uma metralhadora. 29/30 de Setembro: O estado sanitário torna-se cada dia pior. Uma revista é passada pelo médico antes de partir para o Norte, com o resultado seguinte: 32 praças e 4 oficiais estão designados para serem repatriados de urgência. Tristes jornadas para a expedição: os carregadores da Companhia da Zambézia fugiram em número considerável. Pretendem eles que haviam sido recrutados para serem sipaios e não para fazer o ofício de carregadores: o que no espírito deles deve ser uma singular desconsideração. Se não conseguirmos para estas fugas será muito difícil de sairmos daqui, pois toda a expedição assenta-se sobre os portadores e sem eles estamos reduzidos à completa impotência. 1 de Outubro: Os doentes que devem ser repatriados deixam-nos esta manhã. Durante a noite uma quantidade de carregadores fugiram de novo, outros safaram-se com o comboio de repatriados. Perante o grave perigo que nos ameaça, o Major decide-se a agir vigorosamente. Patrulhas de soldados de infantaria (os pouco válidos que podem marchar) são enviados por toda a parte para tentar apanhar os fugidos, que são reconduzidos pelas 11 horas, mas que encontram ainda meio de se safarem pela tarde. São perseguidos sem piedade, desta vez. Parece uma guerrilha à roda do bivaque. Atira-se sem mais nem menos sobre os que fogem a nado no lago, para tentar atingir a margem oposta. A maior parte dos golpes não os atingem, mas dá que pensar aos outros que estariam tentados de os seguir. Calor – temos 41º à sombra à 1,30 da tarde! 2 de Outubro: As fugas cessaram como que por encanto; a energia desenvolvida serviu de lição… era tempo. Começamos estar inquietos a respeito dos oficiais de Zomba. Já lá vão 24 dias que foram enviados ali para comprar víveres e nada se sabe. Mandaram-se-lhes telegramas para voltar o mais depressa possível, pois precisamos das suas remessas para poder continuar a campanha. Esta ausência de notícias é lamentável e o comportamento deste cavalheiros inexplicável, pois eles sabem muito bem em que sérios embaraços estamos, para não dizer pior, mas parece que pouco se importam. Nesta estação, cada dia de demora pode causar-nos um prejuízo considerável. Eis aqui a época quente que vai principiar brevemente e com ela todo o cortejo habitual de padecimentos: trovoadas, chuvas diluvianas, calor tremendo que aumentam as dificuldades de transportes, as doenças do peito (bronquites, pneumonias, congestões, etc.). Os soldados, já tão enfraquecidos, poderão resistir? Mais atrasamos a nossa partida, mais teremos de sofrer mais tarde. A enfermaria está constantemente cheia desde há uma semana. E se eu comparo o comportamento do Terry, enviado a Fort Johnston, com 3.000 carregadores para transportar arroz e víveres, e que levou só oito dias ao todo, para cumprir a sua missão (22º quilómetros em ida e volta), com um zelo, uma dedicação e actividade notáveis – se eu comparo, digo com o modo de proceder dos camaradas dele enviados a Zomba, já lá vai um mês, não posso impedir-me de estabelecer sertãs comparações pouco lisonjeiras. É graças a Terry que temos que comer actualmente e que os indígenas têm a sua ração assegurada por algum tempo. Não tenho ouvido dizer que o Terry fosse elogiado pelo “record” executado, mas parece que só há todas as desculpas possíveis para quem se demora à nossa custa, em B.C.A. Compreenda quem puder. 3 de Outubro: Nada que notar. 4 de Outubro: Não podemos esperar mais o comboio de Zomba e pensamos deixar Napulu depois de amanhã com os únicos víveres de que dispomos. O tal comboio fantasma seguirá logo que chegar, como também o que esperamos de Malange. 5 de Outubro: Preparativos de marcha. A coluna é reduzida a: 70 soldados de infantaria, 22 de artilharia e uns 10 diversos (enfermeiros, administração?) mais 80 landins ou angolas, 1800 sipaios – de que 2/3 têm Snyder, 1/3 espoletas – e cerca de 800 portadores (Nota do Autor: Carregadores). A artilharia compõe-se de 2 peças de 7 cms. e 2 de tiro rápido e uma metralhadora. Poço (Nota do Autor: alimento) para 5 dias só aos indígenas; isto lhes promete muita fome em perspectiva, coitados. O Terry está designado como chefe da exploração. Grande sorte e como tudo será fácil. 6 de Outubro: Levantamos o campo às 7 horas, mas partimos dificilmente às 8. Chegada ao Lugenda às 11 horas, paro lá e espero ordens do Major para saber se acampamos ou se vamos adiante. Pequena marcha de 12 quilómetros. 7 de Outubro: Partida às 6 horas. Pelas 8 encontro uma manada de búfalos, que persigo durante algum tempo e estou bastante feliz para matar um deles. É a primeira vez, desde que estou em Moçambique, que eu vejo estes animais. Pode-se julgar, pois, da minha alegria e do meu orgulho por uma tão grande sorte, sem grande risco. Fui só obrigado a correr como um preto, durante mais de um quarto de hora antes de poder abatê-lo. Julgava havê-lo errado e foi só quando o vi retardar de repente o seu galope, depois separa-se da manada, que compreendi que estava ferido. Tive, para aproximar-me dele, que arrastar-me no capim altíssimo e esperar um momento antes de lhe enviar o golpe final – tanto eu tremia de cansaço e… porque não dizê-lo de emoção. Não caiu logo; olhou de onde vinha o tiro, mugiu surdamente raspou o chão com o casco do pé –furiosamente – e pareceu querer retomar forças para precipitar-se, mas não pode: abateu-se dum golpe, morto. Deve dizer-se que as balas da Mannlicher são tão pequenas – 6,5mm – que não fazem senão feridas muito ligeiras, a não que atinja os lugares vitais… e, ainda, uma Martini produz efeitos diversamente sérios… o calibre sendo de 12mm, isto é, quase o dobro da Mannlicher. Mas não tinha a escolha das armas. Meia hora depois deste episódio, um outro búfalo, provavelmente desviado da manada já encontrada achou-se, não sei como, e de repente no meio da vanguarda, à minha direita. Bívar, manda-lhe um tiro que o parou a alguns metros apenas da primeira secção de infantaria. Como estava apenas ferido ligeiramente, buscava, naturalmente, escapar-se dum lado ou do outro, espavorido, surpreso de ver-se rodeado por tanta gente, investiu, ao acaso, adiante – de olhos fechados… Um movimento de pânico, bem compreensível, produziu-se então na coluna, depressa acalmado. O búfalo não teve tempo de fazer mal algum… apenas ele tinha empurrado alguns pretos, que fugiam espavoridos por toda a parte, recebia, a alguns metros, um tiro que atrasou o seu impulso e acabava-o um tiro à queima-roupa, no momento em que se precipitava sobre a minha machila. Mal tive tempo de saltar “en vitesse” da machila, de largar bússola, relógio, caderneta que tinha nas mãos, e, arrancando a minha arma do moleque que estava a mau lado, e fazer fogo, Deus sabe como… Um décimo de segundo a mais e era bamboleado nos ares pelo bicho, apertado de todos os lados e espantado – ele mesmo – pelos gritos da multidão. Entrevi, alguns minutos depois, uma zebra correndo na floresta. Não me foi possível atirar-lhe. Marcha de 18 quilómetros. Acampamos junto ao Lugenda. 8 de Outubro: Marcha de 15 a 16 quilómetros. 9 de Outubro: Continuamos a seguir a margem direita do Lugenda. Devemos fazer um sanzoro, pois temos observado rastos humanos no caminho: espias, sem dúvida do Mataca para espreitar a coluna. O rio tem uns 25 a 30 metros de largura, mas pouco fundo, pois estamos na estação seca. 10 de Outubro: Boa marcha de 23 quilómetros. 11 de Outubro: Boa marcha de 23 quilómetros. Os sipaios acabam o seu poço hoje, que comerão eles amanhã? Quando foi da nossa saída de Napulu, tinha pedido ao Major para distribuir aos sipaios uns 7 dias de poço (arroz), pois sabia de fonte segura que não encontraríamos nenhuma povoação: isto é, nenhum mantimento – durante os 8 primeiros dias de marcha, pois a região ficava completamente deserta até ao rio Luambala. O Major, por razões que não posso apreciar – concedeu só 5 dias – apesar de termos deixado uns 3.000 volumes de arroz. Sem dúvida, seriam precisos para a volta e devia guardar-se uma quantidade por medida de simples prudência, mas não se corria um risco ainda maior reduzir-nos a este ponto? Que tremenda responsabilidade, em caso de revés? Que Deus nos ajude. 11 de Outubro: Grande sorte. Na tarde, seguindo o rio, à procura de caça, consigo matar, numas poças de água, um cavalo-marinho, que me apresso a repartir com a gente do Bívar, pois é preciso ajudar-se… Que linda festa no nosso acampamento esta noite; que grande regozijo para muitos; estamos salvos por dois dias, pois vigiarei o consumo com cuidado. 12 de Outubro: Embocamos no Lugenda às 7 horas. O emboque deu lugar a um incidente entre o Comandante e os oficiais. Segundo o seu hábito, o Major não deu ordens nenhumas, deixando cada um governar-se no emboque como pudesse. Como o lugar era muito mal escolhido, a passagem foi muito movimentada: alguns cavalos escorregaram, outros caíram nuns buracos do rio, arriscando-se a afogarem-se; as peças de artilharia ficaram “en panne” durante algum tempo… Enfim, levou-se um tempo infinito para transportá-las duma margem à outra; o leito do rio estava atravancado com blocos enormes ou cheio de pedregulhos… Daí, zanga do Major e repreensões injustas, quanto penosas, para quem culpa alguma tinha. Os sipaios estão reduzidos (parte deles) a comer pele de cavalo-marinho! Deve ser um “petisco” que nunca teriam ainda provado e que deve ser pouco apetitoso – tanto mais que só dentes de lobo seriam capazes de mastigar isto. 13 de Outubro: Marcha de 20 quilómetros. Acampamos perto do rio Salala. Chegamos a saber que existe não muito longe, uma aldeia abandonada, onde talvez… os nossos sipaios encontrarão alguma coisa para raziar… o que precisam para não morrerem de fome? Parece, realmente, que a Providência nos protege, pois mal chegámos ao acampamento, corremos ao sítio indicado pelo guia e lá encontramos uma pequena provisão de mandioca: o suficiente para dois dias! Louvado seja Deus! Com que alegria voltaram ao acampamento estes pobres diabos, já muito emagrecidos, os olhos fundos, as feições como chupadas, a pele não brilhante como dantes, mas já dessecada… branqueada, como mal lavada… coberta de pústulas. 14 de Outubro: Boas notícias. Vamos passar o rio Luambala, à entrada das terras do Mataca. Estaremos, pois assegurados de encontrar víveres que nos permitirão continuar a nossa marcha até ao fim. Pelas 9 horas atravessamos povoações abandonadas; as culturas foram desleixadas e não encontramos ninguém. Pelo meio-dia estamos no rio Luambala – muito largo – aqui. Os guias estão inquietos, pois viram do outro lado alguns indígenas, que vão tentar impedir-nos a passagem. Fazemos alguns fogos de salva e passamos sem incidente. O inimigo não atirou um único tiro. Teria ele já fugido? Entramos numa aldeia de criação recente, pois a palha é nova e descobrimos – valha-nos Deus! – quantidades de milho, sorgo (mapira) até mesmo galinhas, pombos e alguns cabritos. Uma verdadeira fortuna para a nossa pobreza. É de crer que os indígenas na nossa chagada tão rápida, pois teriam tido o cuidado de levar tudo. 15 de Outubro: Descanso. Novidade pela manhã: pois pelas 8 horas como alguns soldados, montados sobre um muro de muchém, observavam a metralhadora, alguns tiros lhes foram enviados, atirados apenas de uns 100 metros do campo. Mas felizmente nenhum ferido… Logo grande barulhada no acampamento. Grande “branle-bas” de combate, todos os sipaios precipitam-se fora do recinto e livram-se de uma “debauche” de tiros que deve fazer rir às gargalhadas o inimigo, já longe… Igualmente alguns soldados de infantaria saíram, para fazer como os sipaios… Ordem de quem? Não se sabe. 16 de Outubro: Saída às 5,30 horas. Como passávamos, pelas 7 horas, um pequeno montículo, algum tiroteio se faz ouvir na retaguarda (isto é fantástico?) – pouco depois no meu flanco esquerdo, em seguida na minha frente – e enfim à minha direita. O que quer isto dizer? Estaremos completamente rodeados pelo inimigo? Paragem de uma hora. Escaramuças. Momento de pânico nos sipaios da Maganja e da Companhia da Zambézia… à minha esquerda, que recuaram um momento, não sei bem porquê… Por pouco, também os meus estiveram  em ponto de recuar, pois, não vendo nada, não sabendo nada, imaginaram qualquer incidente grave. A gente tem muitas vezes mais medo do que se não vê – do perigo imaginário – do que do perigo real. E sempre a mesma táctica por parte do adversário. Bem abrigado na floresta ou no capim altíssimo, faz fogo, apenas a uns metros dos sipaios e safa-se rapidamente sem ser visto e fora de vista… Foi a terceira vez, hoje, que ouvi as balas sibilar com tanta nitidez: fazem um “zim zim”, bem particular, como o sussurro duma abelha, ou dum mosquito que seria enorme – mas sobre um diapasão um pouco mais elevado. A gente tem ainda o hábito de “cumprimentar” as balas quando passam perto demais dos ouvidos… depois acostuma-se. Às 9 horas nova escaramuça, â minha esquerda e em frente. Mas depois de nos ter dado a palavra, tanto o Bívar, como o comandante da Maganja, corremos todos sobre o inimigo para persegui-lo e impedi-lo de ter tempo para carregar novamente as suas armas numa curva próxima do caminho. Corrida muito fatigante de dez minutos, pois o terreno é difícil. O adversário, cheio de medo perante este assalto, fugiu a valer e a coluna pode pôr-se em marcha sossegadamente. Acampamos perto do Namatamba às 9,30. Resultado do encontro: 3 sipaios, 1 carregador mortos, e 4 feridos: o inimigo deixou 4 cadáveres; numerosas manchas de sangue junto às margens do Namatamba. 2 outros cadáveres encontrados à tarde. Felicitações do Major, citações na ordem do dia: eis que nos encoraja e nos recompensa dos nossos esforços e perigos. O que não se faria com algumas palavras de reconhecimento e… de louvor? Já noite, pelas 9 horas, tendo visto o Terry e eu algumas luzes a alguma distância do campo, e julgando que pudessem ser sinais ou fogueiras do inimigo, saímos do sanzoro, depois de termos avisado o Major – acompanhados de alguns sipaios – para ver o que isto significava… Mas não era nada: só algumas fogueiras deixadas pelos incêndios. Mas no regresso tivemos muito medo que as sentinelas rompessem fogo à queima-roupa, pois não se via a dois passos. Há leopardos e outra bicharia. Houve carregadores feridos e só nos lembrámos disto quando voltámos do nosso passeio nocturno. Fora, a noite era fresca e clara, cheia de rumores; nas trevas, os fogos do acampamento estendiam rentes ao solo os seus clarões vermelhos e palpitantes: uma sinfonia de gritos, de ruídos – de murmúrios que enchiam o silêncio do acampamento. 17 de Outubro: Novo combate às 7 horas; no carga, feita por todos os sipaios, com “fúria francesa”, que impele definitivamente o inimigo, pois que não somos mais incomodados durante o resto do dia. Novas felicitações, nova ordem do dia. Encontrámos no terreno 4 mortos, tivemos só um sipaios ferido; o inimigo atira sempre muito alto. 18 de Outubro: Entrámos esta manhã nos arredores de Mataca; às 9 horas passámos na aldeia da Matola: um dos chefes grandes do régulo. Nenhuma resistência – não há ninguém; a povoação é incendiada; alto em Assonga, outro chefe, situado ao pé do monte Lisali. O adversário fugiu desde de alguns dias, se pudermos julgar segundo os indícios que deixou. 19 de Outubro: Dia histórico para as nossas armas. Às 9 horas, do alto duma colina descobrimos enfim a povoação do régulo: Mataca, a uns quilómetros de distância. Tais os hebreus descobrindo a “Terre Promise”, ficámos comovidos e cheio de assombro perante a vista deslumbrante duma tal quantidade de palhotas, que raras vezes um ser humano pode contemplar. Eis, pois, a capital do tal régulo que assassinou, em 1899 – há pois exactamente 10 anos –uma expedição portuguesa chefiada pelo Tenente Valadim. Eis a capital do maior potentado negreiro do Niassa e do Norte da Província: objecto da expedição e alvo final a atingir… e que atingimos. Ninguém pensa agora nos seus males, nas suas fadigas; tudo está esquecido na alegria do sucesso. Parada a coluna para permitir a todos gozar o lindo e curioso ponto de vista. O panorama vale a pena. Aproximando-nos, Bívar e eu, que estamos sempre na vanguarda - ficamos não pouco admirados de não encontrar resistência alguma, de não ver alma viva nos arredores desta imensa aglomeração. Então o Mataca não tentaria os mínimos esforços? Nenhuma resistência? Teria ele fugido? Custa-me a crê-lo, pois este régulo deu já que fazer aos ingleses e com a gente que submeteu debaixo do seu domínio deve ser-lhe muito fácil reunir alguns milhares de espingardas. Marchamos com redobro de vigilância e de precauções, pois esta tranquilidade não nos diz nada… A nossa aproximação é lenta; bombardeamos as primeiras povoações rodeando a capital. Às 10 horas passamos estas povoações depois de tê-las queimado. A marcha torna-se muito pesada, pois encontramos barrancos, riachos sobre riachos, com leitos muito fundos que a artilharia e as bagagens têm dificuldades em passar. Em três horas avançamos só alguns quilómetros e a marcha é tanto mais dura que já se aproxima o meio-dia. Calor tórrido, aumentado por fumo intenso provocado por centenas de palhotas queimadas. Pouco tempo depois do meio-dia chegamos a uns dois quilómetros de Mataca, que dominamos agora inteiramente. Enviámos alguns obuses sobre a vila, de onde nada parece mover-se; nenhum movimento neste formigueiro gigante; tudo parece abandonado e poderemos entrar sem recear qualquer armadilha imprevista. Graças à rapidez dos meus machileiros, chego primeiro à cidade; já, de longe, pude distinguir, dominando todas as outras pelas suas dimensões enormes, colossais, a sua forma, a sua posição central, uma palhota que julgo logo como devendo ser a da residência do régulo. Não foi sem custo, e depois de me ter perdido algumas vezes nos dédalos das ruas, que eu pude enfim lá chegar. Ficámos lá mudos de admiração, os meus sipaios e eu em presença desta monumental construção. Orientada leste/oeste, ela não tem menos de 7 metros de altura; rectangular, com varanda muito larga; um peristilo imenso, servindo de sala de audiência, precede a entrada dos quartos. Um trono decora este peristilo – de terra amassada – e pintado de cor cinzento, assaz original; alguns assentos, em planos inferiores, o rodeavam, que deviam servir de cadeiras para os grandes da sua corte. No meio do tal peristilo, a que se sobe por dois degraus elevados, destaca-se a porta maciça de entrada: enorme, com dois “battants”, com umas ombreiras, ornadas de incrustações de marfim e de pau-preto, alternado (vide croquis). O interior da palhota é imenso e compreende: Uma sala rectangular e dois quartos grandes, separados por um corredor grande conduzindo à porta de entrada da fachada posterior. A sala é forrada, com excepção dum quarto que parece não terminado (vide croquis). A casa tinha um vasto sótão a que servia de sobrado o vigamento do tecto, feito de varas de bambus – rebocadas com uma espécie de argamassa especial. Algumas frestas davam iluminação interior, conjuntamente com as portas. A escuridão que lá reinava era a mesma que nas casas dos súbdito do régulo. Percorro todos os cantos, remexendo tudo para descobrir alguma coisa, uma curiosidade, um “souvenir” qualquer – mas debalde; apenas, lá num canto afastado, acho um barril de pólvora, vazio, algumas panelas quebradas e uma espécie de cama de madeira, grosseiramente lavrada… (será a cama do Mataca?). Esta mobília é um embaraço muito grande e será apenas boa para acender o fogo da cozinha. Vou desforrando-me em destacar com uma faca as pequenas incrustações que guarnecem as ombreiras da porta; assim terei ao menos uma lembrança da casa. A morada do régulo, como a de muitas outras palhotas dos chefes, é contígua a uma pequena construção muito bem feita: uma verdadeira miniatura circundada por uma paliçada. Seria o Trianon da capital? Não, são (quem o teria acreditado?) os W.C. do Sr. Régulo… Confesso que é a coisa que mais me surpreendeu, pois isto revela um certo grau de civilização. Um buraco na depressão circular constituía a fossa fixa do lugar. Cerrados diversos, que se ligavam à residência, constituíam as dependências da casa: cozinhas, celeiros, pombais, etc., mais longe, elevavam-se uns currais que indicavam que o régulo possuía algumas manadas de gado. A cidade (não posso dar-lhe este nome) estende-se – imensa – entre duas colinas, sobre uma espécie de “plateau”, situado a 750 quilómetros de altitude, ligeiramente inclinado do Norte ao Sul, de 42 quilómetros pouco mais ou menos (refiro-me só à vila, pois a capital do Mataca poderia – se quisermos – principiar já desde o Lisali – o casario não cessando com as culturas a perderem-se de vista. Estimei o número total de palhotas em 1.800 – as dos arredores não compreendidas. Houve alguns que asseveram ter a cidade, calculando 45 pessoas em cada cubata chega-se a 3.000 cubatas. Pensar que o núcleo do Mataca só, chegava a 10.000 pessoas! Quase todas as habitações são rectangulares e não diferem das em uso nos outros povos: algumas são de tecto cónico e mais singelas de construção. As moradas dos chefes reconhecem-se pela grandeza e seu sítio. Tenho enviado sipaios a remexer toda a vila e nada têm encontrado que possa satisfazer a minha curiosidade. Tudo foi levado desde há muito tempo. Trouxeram-se só um arco com flechas, esquecidos num canto, por acaso, e algumas “tablettes” com inscrições corânicas: Árabe… ou em Swahilí. Os pretos desta região assemelham-se um pouco ao árabe de Zanzibar (mouro) e do monhé da Índia, cujo vestuário têm adoptado, com também certos costumes. O nível intelectual é mais elevado que o dos seus vizinhos os lomués, matupuiris, etc.: o islamismo reina nas classes altas. E o culto dos mortos assemelha-se ao dos muçulmanos; as tumbas, são, é facto, sobrepujadas por um túmulo, sorte de sarcófago em terra ceirada; junto se viam os vasos, panelas, etc. destinados piedosamente às oferendas; os túmulos são cobertos dum telheiro de colmo, coberto de panos e vestidos dos defuntos. O do Mataca pai, que se erguia a uns 3 quilómetros é realmente notável (Vide croquis nºs 4 e 5). Os nossos sipaios consideravam com um certo respeito este túmulo dos reis dos jáuas, e, quando se lançou fogo à vasta cidade, foi o Dr. Martins que deitou o archote – (pois um sentimento de grande temos supersticioso paralisavam os braços dos sipaios) ao túmulo do Mataca – em vingança póstuma do sacrifício do heróico tenente Valadim. Todos os pretos, sem excepção, dormem sobre uma espécie de quadro em madeira suportado por 4 pés. Uma rede de corda serve de leito. A língua da terra é o jaua, mas toda a gente fala o swahilí e alguns indígenas mesmo o escrevem. A região é muito rica. Nunca tinha visto por toda a parte onde tenho viajado tanto terreno cultivado. Desde o mucurro Liciolo até muito além do Mataca, os campos de savila, mandioca, feijões, ervilhas, seroco, arroz, amendoim, bambaias, etc., não têm fim. Há bananeiras em toda a parte. Vi mesmo cana de açúcar e tabaco. Sipaios e carregadores comem de manhã até à tarde; bem mereciam eles tais ágapes depois de tantas privações sofridas. Numerosos foram os que ficaram doentes por excesso de comida, pois as refeições eram ininterruptas não só durante o dia, mas mesmo de noite. Tanto pode o cafre estar sóbrio, segundo as circunstâncias, como pode vir a ser glutão e desperdiçar loucamente, quando tudo tem à discrição. Ao pé da serra Lizali, a uns 6 a 7 quilómetros do Mataca, ao Sul, acha-se o antigo sítio do Mataca pai, onde foi assassinada a expedição do tenente Valadim em 1899 – 2 europeus e uma centena de angolas. Só dois angolas escaparam à morte e puderam trazer a notícia a Milange… Poucos vestígios restam da antiga vila de Mataca: algumas palhotas muito velhas – a maior parte escangalhadas – e um cajueiro magnífico (raridade na região); uma fonte notável pela frescura da sua água, jorra ao pé do tal cajueiro. Um preto meu descobriu, nos arredores, uma antiga bainha de baioneta. 20 e 21 de Outubro: Descanso. Bem necessário este repouso; os soldados, sobretudo, estavam estafados com duas semanas de marchas consecutivas. Todos os sipaios estão ocupados a por fogo na cidade. A questão dos víveres (europeus) recomeça a ser o tema do dia. Ficam só 7 cabeças de gado – e quão magros!... E as más línguas pretendem que as praças não querem beber mais café por falta de açúcar! Os oficiais não estão tão difíceis… É um hábito a tomar… Sempre sem notícias do tal comboio fantasma… O Major enviou há 3 dias recados urgentes ao comandante do comboio para lhe dar ordem de parar em um lugar designado, a fim de não se expor a correr indefinidamente atrás da coluna, e com os riscos possíveis que isto pode trazer. De noite, grande batuque e ouvir, na calma da noite, mais de mil bocas entoar o hino famoso “Sinamama” da Zambézia – com um ritmo, uma união de vozes impecáveis – era pungente. Nunca canto cafreal tanto me deleitou. 22 de Outubro: Largamos Mataca às 6 horas queimando as últimas palhotas que haviam sido reservadas. Destino: SSE. Falta-nos, para completar a campanha, visitar o irmão do Mataca – régulo dos arredores e um outro grande chefe de nome Zarafi, a alguns dias de marcha ao Sul-Este. O nosso caminho passa ao pé do Lizali, um pouco mais baixo do antigo Mataca… No momento de contornar o Lizali, lançamos um último olhar sobre as ruínas fumegantes do que foi o potente Mataca: Babilónia ajaua moderna, que jamais renascerá das suas cinzas… A vista seria deslumbrante, se o céu não fosse escurecido pelo fumo, que a brisa não chega a dispersar. Acampamento pelo meio-dia, ao lado dum riacho bonito. 23 de Outubro: Marcha fraca de 16 quilómetros. 24 de Outubro: Chegámos às 8 horas ao rio Luângua, que seguimos durante um momento e entrámos às 11 horas na povoação do irmão do Mataca: um tal Chechuma. Palhotas abundantes – víveres à farta, numerosos escravos. Na morada do chefe achou-se uma espécie de bandeira de seda, realmente original – dum colorido indefinível, tal é a sua velhice e a sua negridão… causada pelo fumo – mas suponho que devia ser carmesim. Parece igual à bandeira de que usam os árabes nas suas festas religiosas. Achou-se também uma “Muchira à Condo” ou rabo de guerra, que deve ter pertencido a uma chefe de guerra da localidade. É um dos maiores feitiços dos pretos, este rabo de guerra – e objecto de maior veneração; é simplesmente a cauda dum rinoceronte (às vezes dum gnu ou dum mudoda) enfaixada num pedaço de pano adornado com missangas, anéis e outras futilidades. O cabo de guerra leva ostensivamente esta cauda, quer no pescoço, quer à cinta ou ainda no cano da espingarda. Este “Muchira à Condo” é o emblema da vitória. Quem o traz não pode ser vencido, pois é assegurado da imunidade em combate, da coragem e da força dos grandes guerreiros seus avós, mas é necessário ainda que as cerimónias tenham sido propiciatórias. Um chefe de guerra que partisse sem a sua Muchira seria vencido de antemão; os seus súbditos não o seguiriam muito longe por falta de confiança e da mais simples consideração. Toda a gente sabe que os cafres, como todos os povos supersticiosos, têm feitiços para tudo e para todos os actos da sua vida: para a guerra, para o amor, para as doenças, para as viagens, sem esquecer a caça. Têm feiticeiros habituais, que têm nomes diferentes, segundo a importância do feiticeiro e da cerimónia. Seria sair do quadro destas simples notas descrevê-los aqui. Às 6 horas da tarde o Major recebe uma carta do comandante do comboio fantasma, avisando S. Exa. Da sua chegada a … Mataca (!!!) e rogando a S. Exa. De lhe designar o lugar onde poderá encontrar-nos. Para uma “chance”, eis uma “chance” insensata. O Major decide, pois, ficarmos aqui amanhã para esperar o tal comboio, que era com evidência o mais certo. Pequena chuva pelas 7 horas, a primeira de toda a estação e da campanha. Grande sorte tivemos sob este ponto de vista, pois não vejo bem onde estaríamos se tivéssemos tido mau tempo, pois as doenças não nos teriam poupado e não ficaria talvez um único soldado capaz. 25 de Outubro: Descanso. Este bem-aventurado comboio – tornado tristemente célebre pela sua demora, chega enfim à tarde. Mas com grande assombro de todos só traz 4 caixas de massa, alguns barris de vinho, pequenas e diversas caixas sem grande importância. Como num desprezível chumbo, este ouro havia sido mudado! E nós que tanto nos regozijámos! Mas como é isto possível? E por qual subterfúgio todos estes sonhos de mil e uma noites foram brutalmente mudados em tão pobre acontecimento? Valia a pena fazer-nos secar a língua tanto tempo. Que pungente desilusão! Mas para acalmar-nos e apaziguar a nossa indignação conta-se que a maior parte do comboio ficou… em Napulu, como reserva. É simplesmente por sentimento de previdência bem entendido, meus senhores! Faz-me lembrar a política do Gribouille que se deitava à água para não se molhar. Teimou-se que, chegando a Napulu, nada nos ficaria. O seguro morreu de velho, diz um ditado português, e aplicou-se à risca a sabedoria lusitana. Somente receio muito que uma tal previdência se torne contra nós. Era bom ver a cara do Bívar… em tal momento, a do Bívar… e dos outros. Valha-nos Deus que à gente esteja assegurada esta tal reserva, que se quis guardar em Napulu… existe realmente, pois as más-línguas desesperam um tanto. Com o comboio chegam também 40 praças (angolas) e dois alferes e mais o Doutor que acompanhou os doentes a Zomba. O oficial da administração, encarregado em Setembro de comprar os víveres, ficou sabiamente em Napulu. Tem que se notar – “en passant” – a “chance” inaudita desse comboio que pode atravessar uns 200 quilómetros de país inimigo sem jamais ter tido o menor embaraço, nem uma aparência de hostilidade! É de pasmar! Com o tal comboio veio também o Sr. Sideram (holandês) muito conhecido na região, como no B.C.A. Foi o tal senhor que foi vítima dos lomués há tempos; a sua caravana foi aniquilada perto de Kouemba e ele conseguiu salvar-se por verdadeiro milagre. O Sinderam leva com ele dois ministros plenipotenciários: um é do Mataca e o outro do Zarafi. Estes dois delegados querem-nos fazer saber que reconhecem a soberania de Portugal e que estão prontos a submeterem-se a todas as nossas condições. O Major fez responder ao Mataca de vir apresentar-se, ele mesmo para o “pegar-pé” (submissão). Enquanto ao Zarafi, que havia já enviado uma ponta de marfim, o encontraremos daqui a pouco. Vamos esperar durante dois ou três dias para receber a resposta do Mataca, mas duvido fortemente que ele venha em pessoa fazer a sua submissão. Deve ter boas razões – as do seu feiticeiro – para julgar que uma vez em nossas mãos, a sua vida poderia correr algum perigo, e que, estaria privado da sua liberdade. Estando a campanha por assim dizer terminada, peço ao Major licença de voltar a Milange, com o Bastos e os sipaios. Explico-lhe que com as dificuldades sofridas pela Companhia e a ausência do meu irmão, saído para Lisboa, era da maior importância para mim tentar ganhar alguns dias. Esta licença é-me negada e é difícil adivinhar porquê. Estou, pois, condenado a perder ainda um mês – e talvez mais – isto é, o tempo que levará a coluna a regressar a Milange… se tudo correr bem. Resta-me só um recurso: telegrafar a S. Exa. o Governador. De tarde chegam as bagagens do Sr. Sinderam e com elas algumas cartas para mim, a qual a mais recente é de 15 de Agosto, de Quelimane. Outras são de minha mãe, de Junho e Julho. Grande alegria, pois já lá vão 4 meses que não tinha notícias de casa. Há também outra carta do nosso Director que me reclama com urgência em Namacurra e que acompanha uma outra do mano, confirmando essa ordem. Posso só responder à pressa, pelo intermediário de Sinderam, ao Director da C. B. (nota do Autor: Companhia do Boror) que não me foi possível voltar quando foi da recepção do telegrama do Sr. Machado (Dr. da C.Z.) (nota do Autor: C.Z. – Companhia da Zambézia) do 8/9 passado pelas razões que indiquei no meu telegrama via Zomba do dia 12 de Setembro. 26 de Outubro: Descanso. 27 de Outubro: Incidente com o Major, por uma futilidade. Um nada, mas que se pode explicar pelo estado de fadiga e do enervamento de S. Exa., a respeito do itinerário da coluna – que tenho levantado desde Milange. No nosso regresso de Kouemba, havia eu traçado sobre o mapa oficial do Major, o percurso da coluna. Não podia está claro negar esta comunicação pois era o único que tinha feito este trabalho. Ora, na tarde, o Major enviou-me o seu ajudante: o C. – para pedir-me que lhe traçasse agora a marcha da coluna desde Napulu até aqui. Fiz gentilmente observar ao C. que o Tenente Terry, na sua qualidade de chefe de exploração, tinha também levantado o itinerário – e como ele era o meu chefe directo – não julgava dever dar comunicação do meu trabalho sem prevenir o Terry. De que maneira o bom do C. deu parte ao Major da minha resposta? Não o pude saber, mas o facto é que S. Exa. veio, furioso, à minha presença, fazer-me uns “reproches” violentos. Por pouco, teria eu ofendido S. Exa. Muito calmo, fiz observar a S. Exa. que o pedido feito parecia-me a mim uma falta de atenção para quem estivesse oficialmente encarregado deste serviço, tanto mais que o trabalho do Terry valia tanto como o meu, senão mais e que o Terry poderia ficar magoado da preferência que S. Exa. me quis mostrar. Esta resposta teve o ensejo, infelizmente, de exasperar o Major, que perdendo toda a calma, chegou a dizer-me: que não me reconhecia mais por oficial, que me proibia a mesa comum, etc. Por pouco, fazia-me passar em conselho de guerra. Grande agitação no meio de todos, em consequência destas medidas. A simpatia que me testemunharam todos, consolou-me do rigor com que tinha sido injustamente tratado, por querer poupar o amor-próprio dum amigo meu. Terry foi sobretudo tão sinceramente afectado, que veio, sem tardar, assentar-se à minha mesa, o que me comoveu imenso. Deus queira que este gesto não torne maior a ira do Major. 28 e 29 de Outubro: Esperamos sempre a vinda do Mataca. Creio que podemos esperar muito tempo. Na tarde do dia, o Zarafi mandou uma ponta de marfim e uma escrava, como prova de submissão. No dia 29, recebeu-se alguns cabritos e uma segunda escrava – não sei de qual chefe vizinho. Decide-se que partiremos amanhã, sem mais espera. 30 de Outubro: Saída às 5,30 horas. Chegamos ao Zarafi às 11 horas, última etapa da expedição. Pelas 3 horas, Zarafi em pessoa apresenta-se. De tarde grande trovoada e primeira chuva forte da estação. O tempo parece bem pegado. Chove grande parte da noite, uma miséria para os soldados. 31 de Outubro: Descanso. Mataca manda igualmente uma ponta de marfim em sinal de vassalagem. Forte chuva às 6,30 horas que dura até à W.H. (?). Os soldados recebem só uma refeição fria, pois é impossível fazer a cozinha. O “mestre” não me parece muito “debrouillard” (desembaraçado).

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Nota: o relatório finaliza na próxima mensagem.


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RECORDANDO LENDAS E HISTÓRIAS DE ÁFRICA


Nehanda - (Dande, 1863 - Harare, 27/04/1898) - Feiticeira e líder espiritual do povo shona. Rezam as lendas e as tradições orais que, tendo registado a existência duma primeira Nehanda (ou Nyanda) no século XV esta, sendo descendente dum líder shona houve que se submeter à prática do incesto com um seu irmão, após a morte do pai, como era costume naquela época, a fim de se manter a autoridade política nas mãos da mesma família. Mas, continua a lenda sem especificar pormenores, esta Nyanda acabou por desaparecer na fenda duma colina mas o seu espírito continuou a pairar protectoramente sobre o seu povo.


Para os shonas, Nehanda tornou-se um espírito protector muito forte e a sua descendência fica assegurada quando, após a morte física duma, o seu espírito vagueia por entre as florestas até encontrar uma outra mulher que reconhece que está apta a acolher o seu espírito. Quando tal sucede o espírito deixa de vagabundear e incorpora-se no novo corpo femenino que encontra, assumindo esta todas as funções mágico-religiosas da falecida acabando, depois, por ser reconhecida pelas outras médiuns do Reino shona como encarnadora do espírito do Leão  da Montanha.


Na última década do século XIX, assistimos ao avanço das forças britânicas da British South Africa Company (BSAC), de Cecil Rhodes, a instalarem-se no que é hoje o Zimbabwé. O seu avanço, precedido  inicialmente por missionários e meia dúzia de brancos, é lento mas gradual e firme. Jogando entre as rivalidades nbedeles  (instalados mais a Sul) e os shonas (instalados mais a Norte), o colonialismo britânico vai-se internando e vencendo resistências mais ou menos armadas que serão melhor analisadas quando abordar a História do Zimbabwé.

 

A Nehanda a que se prende este texto terá nascido cerca de 1863 tendo, inicialmente, o nome de Chargwé. Tornando-se Nehanda em data desconhecida, após ter sido capturada pelo espírito duma outra, conforme a lenda e a tradição shona, fixou-se no vale do Mazoe onde montou o seu santuário. Quando a BSAC se instala em Harare, os missionários e os mercadores avançam mais para Norte em direcção a Mazoe. O Rei Lobengula, dos nebedeles já fora derrotado pela BSAC, e os shonas, sem o poder centralizado também não seriam grande ameaça, face ao poder de fogo e disciplina das forças para-militares britânicas.


 

Mas a prepotência dos brancos, considerando-se senhores absolutos das terras e dos povos acabou por levar à sublevação shona sendo, um dos rastilhos da eclosão desta revolta, o comportamento tirânico de Pollard, Comissário para os Assuntos Indígenas da zona de Mazoe. A revolta shona eclode, abençoada e incitada por Nehanda que cauciona a prisão do Comissário Pollard a quem o obriga a trabalhar como seu escravo e, depois manda matá-lo (1896). Foi um erro crasso pois os britânicos, já senhores do terreno, detentores do poder das armas de fogo  e já caldeados em campanhas de subjugação de povos, não iriam deixar passar em branco a morte dum comissário branco às mãos de negros.

A repressão abate-se sobre os revoltosos e nem os esconderijos destes nas grutas e fendas montanhosas os salvam de morte, pois os britânicos dinamitam tudo. Reforços militares vindo da África do Sul desembarcam no porto moçambicano da Beira, seguem directos para Untáli e foi uma questão de tempo que, mesmo assim, durou cerca de um ano, mais ou menos. Em Setembro de 1897 os britânicos obtêm a rendição dum dos líderes da revolta, o Chefe Makoni e depois capturam outro líder rebelde, Kagubi. Praticamente apenas Nehanda agora liderava a rebelião mas, perseguida, retira-se para a sua Dande natal, onde acaba por se render. Claudicava assim a rebelião shona e era o triunfo do colonialismo britânico em toda a linha.

 


Prisão de Nehande (ao centro)


 
Nehanda foi levada presa para Harare, juntamente com Kagubi. Em 02 de Abril de 1898 inicia-se o julgamento de ambos, que culmina com a sentença da condenação à morte por enforcamento, facto que se vem a consumar a 27 de Abril seguinte. Reza a História que até o alçapão se abrir e provocar a queda do seu corpo no vazio, Nehande não parou de dançar e clamar contra os seus opressores. Morreu abraçada às suas convicções.

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Em homenagem a esta mulher, o agrupamento zimbabuano "Harare Mambos "lançou uma música de tributo a ela com o nome de Mbuya Nehanda (Avó Nehanda) que se reproduz de seguida.




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LIVROS


Título: Recriar África (cultura, parentesco e religião no mundo afro-português 1441/1770)
Autor: James H. Sweet
Editora: Edições 70 - Lisboa  Ano:  2007  Género: ensaio histórico-sociológico   Páginas: 350




Trata-se dum ensaio onde o Autor analisa a saga dos escravos africanos que, sobreviventes da forçada travessia atlântica para o Brasil, mantiveram os seus comportamentos africanos nas paragens sul-americanas, levando com eles muitas das suas tradições e práticas místico-religiosas, para além doutras tais como as danças, os comeres, as estruturas de parentesco e de hierarquização social, rituais fúnebres e sociedades secretas, mantendo essas práticas nos primeiros anos de vida no Brasil até que, com o rolar dos anos e das sequências geracionais, esses rituais foram-se transformando de molde a adaptarem-se à nova realidade da sociedade brasileira. Trata-se dum olhar sobre o incremento da cultura africana na emergente sociedade brasileira, que veio a originar a expansão da mestiçagem naquela colónia, como forma de sobrevivência cultural. 



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Título: O legado de Nhô Filili
Autor: Luís Urgais (pseudónimo de Luís Manuel de Sousa Teixeira)
Editora: Oficina do Livro - Alfragide           Ano:  2012       Género: Romance          Páginas: 223






Romance centrado em Cabo Verde, que aborda a relação amorosa entre um europeu, Nhô Filili (José Bento Rodrigues) e a cativa Maguika, capturada nas matas da Guiné e levada para o arquipélago, tornando-se propriedade daquele. Tomando-a de amores ardentes, casa-se com a mesma, desafiando os cânones da época e escandalizando a sociedade colonial de então. E este assumir de cruzamento de raça e cultura acaba por se tornar no legado que Nhô Filili transmite aos seus. Temporizado entre os meados dos séculos XIX (1869, ano de nascimento de José Bento Rodrigues em simultâneo com o decreto real que aboliu a escravatura) e meados do século XX, o romance atravessa o fim da monarquia, a ascensão e queda da Primeira República e os primórdios da Ditadura, retratando uma Cabo Verde bela e generosa mas também pobre e miserável, demonstrando o Autor um bom conhecimento da sociedade e da História de Cabo Verde.



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EFEMÉRIDE HISTÓRICA


Batalha de Alcácer-Quibir - 04 de Agosto de 1578



Considerado o maior desastre político-militar da História de Portugal, esta contenda, também conhecida popularmente pela "Batalha dos Três Reis"(1), ao findar deu início à contagem decrescente para a perca da nossa independência nacional, facto este que viria a ocorrer dois anos mais tarde.







Em 1576 Mulay Mohamed, Xerife de Marrocos, pede a Dom Sebastião que o ajude a recuperar o trono, donde fora corrido pelo seu tio Mulei Moluco, que fora auxiliado nos seus intentos pelos otomanos. Estava arranjado o pretexto que o jovem e imaturo Monarca português carecia para legitimar e justificar uma expedição à África nortenha, naquilo que era um dos seus sonhos constantes como forma de o mitificar como um grande Rei guerreiro.


Caldear o fio da sua espada no sal sanguíneo da moirama infiel (mesmo que fosse para ajudar outro infiel) era um desejo ardente que acalentava há muito. Para tal se preparara em torneios e justas, caçadas e duelos de espadas, reunindo à sua volta uma corte de aduladores que a ele, Rei, a tudo o mimavam e aos interesses do Reino, a tudo minavam. Se às espadas e lanças dizia sim, às mulheres dizia não, contrariando cuidados conselhos que lhe recomendavam casamento frutificado com varão vivo, para garantir a continuidade da Coroa em caso de, no arriscado desaire africano, por lá se ficar. Não fosse o Demo tecê-las. E o Demo teceu mesmo.



Na ânsia de perseguir o mouro, louco que já era fez ouvidos de mercador mouco a estes conselhos e  a outros que tais, como os custos ruinosos da expedição que, de concreto, nada traria de bens e benesses para o Reino, salvo uma efémera e vã glória das armas, que a brisa do tempo logo removeria da memória dos homens como se de areia do deserto se tratasse. Impondo a sua determinação, coadjudado por uma cáfila de conselheiros capados, incapazes de lhe dizerem não, porque ávidos eram do saque dos corpos mortos e de escravas vivas de pele tisnada.



El-Rei Sebastião arregimentou, para este evento, cerca duma vintena de milhar de homens, maioritariamente forçados, dos quais uns cinco mil desgarrados de várias nações mas com garra para o mercenarismo e, reza a lenda ou a História (nunca o apurei), vaidade das vaidades, mandou vir de Coimbra o pesado espadeirame do "Conquistador", o fundador da nacionalidade que ele acabaria por destruir. "Gloria sic transit mundi".



Embarcaram os cerca de vinte mil homens, mais as armas, ligeiras e de artilharia e as montadas, mais os animais alimentares e de tracção e, muito importante para esta expedição, dez mil guitarras, tal era a sobranceria com que os faunos encaravam, soberbamente, as suas sortes. Aportaram a Tânger a 07 de Julho 1578 e alcançaram Arzila quatro dias mais tarde, acabando aqui o cruzeiro mediterrânico. Depois... o pó do deserto e a incerteza do apoio popular a caminho de Larache.


Mas, a 01 de Agosto e na beiramas marginais do rio Mocazim, a vintena e meia de quilómetros do povoado de Alcácer-Quibir as forças lusas avistam cavalaria moirama. Entre conselhos de evitar o confronto naquele momento ou de ir à liça e mostrar quem realmente impunha o andar dos acontecimentos, El Rei Sebastião, arrebatado e desavisado como sempre, optou pelo combate não considerando os conselhos mais cuidados.




(Nota: imagem retirada do blogue www.areamilitar.net)



E no raiar do dia 04 de Agosto, entre os toques das trompas lusas e dos atabales mouriscos os exércitos antagónicos puseram-se em posição de combate. Apanhados de surpresa, por as força de Mulei Moluco disporem de artilharia da qual davam bom uso, as forças portuguesas lá foram pelejando, por Cristo, por El-Rei, por São Jorge e por Portugal na versão oficial. Na prática quase todos combatiam era pela vida e pelo saque, se tivessem a sorte de serem sobrevivos após a peleja. 

Rapidamente a infantaria, cavalaria e a artilharia mouras, num proporção numérica superior de quatro para um, segundo alguns, desmoronaram as pretensões portuguesas. E, no meio da refrega, a explosão acidental de grande parte do poderio de pólvora que presumia estar ponderadamente posta nas carroças portuguesas, ainda mais veio a debilitar e desmoralizar as nossas forças. Em fuga acobertada e acobardada, o pretendente à recuperação do trono, Mulay Mohamed, acabaria por morrer afogado no rio Mocazim. 



Sorte semelhante no finamento (mas não em fuga ) terá tido o seu tio, o titular reinante Mulei Moluco. Já bastante doente e febril, podendo apenas deslocar-se em liteira, resolveu-se a montar num cavalo para animar as suas tropas, mas tal esforço acabou de vez com o seu coração, tendo a sua morte sido ocultada, inteligentemente, até ao fim da batalha para não desmoralizar as suas forças.


El Rei Sebastião combatia furiosamente desnorteado. Mudava de montada e, à sua volta, os seus fiéis companheiros já só se preocupavam em resguardar-lhe a vida e, em vão, tentavam convecê-lo a baixar a espada e a render-se. "Senhores, a liberdade real só se há-de perder com a vida", poderão ter sido muito provavelmente as suas últimas palavras quando, a cavalo, se lançou doidamente para o turbilhão nuclear do combate. Outros dirão que foi: "Morrer sim, mas devagar". Mais palavra menos discurso a verdade é que ninguém o viu a ser morto, segundo uns. Segundo outros foi cercado por um grupo de combatentes inimigos que o despojaram e cutilaram-lhe a cabeça. Irrelevante. Para a História, nua e crua, fica apenas o registo de desaparecido em combate. Morrendo o Rei na loucura do seu "quero, posso e mando", nascia a louca lenda do seu regresso, algures numa mui madruga manhã nevoenta. À conta da posterior governança castelhana de "Detestado" passou a "Desejado".


 
No saldo sanguinolento desta batalha, umas sete a dez mil lusalmas das que aí pelejaram partiriam, embaladas na balada burilada da cantiga glorificante da morte purificadora, para as profundezas redentoras do Reino de Hades. Aos outros, desgraçadamente ainda a respirarem, coube-lhes a humilhação total das prisões totalitárias com todas as subsequentes sujeições sabujas, até que algum resgate pago a peso de ouro ou, no concreto duma fuga assaz feliz, tivessem permitido o regresso a um resignado Reino resilente. Alguns voltariam anos mais tarde, tristes para contar a triste História que todos já sabiam ter tido um triste final. Éramos espanhóis forçados (ou talvez nem tanto) depois de termos sido portugueses libertados. Demoraríamos sessenta anos a reiniciarmos a recuperação do retorno da redenção do Reino.  


Jeronymo de Mendonça, que combateu em Alcácer-Quibir e que a ela foi sobrevivo acabou cativo e, mais tarde, comprou o resgate da sua liberdade, o que lhe permitiu recuperar os anos perdidos e regressar ao Reino, anos volvidos. Escreveu as suas memórias desta penosa purga, no seu histórico-memorial "Jornada de África" (2) dizendo, sobre o destino de El Rei Sebastião: "El-Rei neste tempo bem certificado de tanta desventura, depois de lhe matarem outro cavalo, fazendo as maravilhas que todo o mundo viu, andava acompanhado de alguns fidalgos que pretendiam salvá-lo a troco de suas vidas, quando se viu cercado de uma multidão de Alarves, donde não sentindo os que o acompanhavam algum remédio a sua salvação, se apartou um deles por conselho dos mais com um lenço posto na ponta da espada, e dando conta aos mouros como ali estava El-Rei, no melhor modo que lhe foi possível lhe responderam que largassem as armas primeiro e então poderiam tratar do que lhe convinha. A qual resposta El-Rei sentiu de maneira, que sem escutar mais acordo se lançou a eles furiosamente, acompanhados dos que o seguiam, pelejando todos com desesperada ousadia por sua salvação, onde dizem que caiu depois de morto o cavalo. Até esse passo houve algumas pessoas dignas de fé que ousaram revelar o acontecido, porém se viram mais, não se sabe, o que se viu sempre claramente é que nunca alguém disse que vira matar a El-Rei e não é muito realmente, pois nenhum homem que ficasse vivo é razão que tal confesse." (Volume I - pág. 83/84). Sebastião morreu como um Soldado valoroso, porque  não soube nem comandar como General nem viver como um Rei.



Monumento evocativo da batalha de Alcácer-Quibir

 

Jovem imberbe, caprichoso, imprudente, surdo aos sábios conselhos, rodeado de bajuladores, habituado a ver todas as suas vontades satisfeitas, impreparado para exercer o real cargo, dotado de um ego maior que o seu físico, sonhador de grandes feitos militares que o alcandorariam aos pináculos da Ibéria e, depois, da Europa, El Rei Sebastião e a sua corte de aduladores planearam mal a expedição, arrastaram uns vinte mil homens para a morte ou cativeiro e, pior que tudo, arruinaram todo um património político de independência nacional e imperial que levaria seis décadas até se começar a reconstruir de novo. Tudo claudicado por um miúdo de vinte e quatro anos que, numa breve centelha do Tempo, julgou-se ser a desaparecida cabeça da helénica Samortácia. Se a conhecesse, pelo menos pedantismo para propôr isso pediria.


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(1) - Batalha dos Três Reis" porque nela pereceram os três reis em contenda: Molei Moluco, Mulay Mahomed e Dom Sebastião.
(2) - Jeronymo de Mendonça - Jornada de África - Escriptório, Lisboa, 1904 - 3ª edição - Dois volumes. /// Sobre este livro registe-se que a primeira ediçãofoi em 1607, a segunda foi em 1785 e só em 1904 é que saiu a terceira edição.


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Leitura



Sobre este tema, tão cáustico do nosso passado histórico, a escritora Deana Barroqueiro brindou-nos brilhantemente com um romance histório, saído à estampa em 2006 e sob a égide da Porto Editora, que titulou de "Dom Sebastião e o vidente" (629 págs.).






Ao longo do livro vamo-nos entranhando no cruzamento das vidas de Sebastião, que viria a ser Rei suicidário e de Miguel Leitão de Andrada, seu escudeiro e seu vidente e que o acompanharia, desde jovem até à hecatombe marroquina ao que, sobrevivo à mesma, seria um dos mensageiros documentados da má-nova que todos já sabiam, no seu retorno ao Reino.


Como sempre Deana Barroqueiro conduz-nos, na máquina do tempo que é este seu livro, com a mestria duma guia-mor, pelos nublosos corredores palacianos da corte na capital lusa, pejadas de ilusões, alegrias, intrigas, dislates e também pelo País profundo de então, com as suas romarias, surpestições e crendices.

Desde o relato do real nascimento da criança em dia de São Sebastião que lhe originaria a causa do seu nome, passando pelo seu crescimento afastado de carinhos e amores familiares até ao desenlace alquibiriano onde Sebastião, qual émulo dum belicoso espartano, fez a sua catarse pessoal e arrastou todo um viveiro parasitário de nobres e um conjunto valoroso de guerreiros para a honraria da morte estupidamente heróica ou para a humilhação duma prisão dos descendentes almorávidas onde, escravizados e andrajosos, muitos buscarão a sua liberdade com o passaporte da morte humilhante ou pela permuta de posses que ainda possuíam no País partido. 



Se se pede que, num romance histórico, qual balança de dois pratos, haja um equilíbro calibrado entre a voluptuosidade de um romance e a aridez dum compêndio de História, Deana Barroqueiro diverte-se a baralhar-nos as contas pois, ao imergirmos na leitura deste romance que versa um facto histórico, depois de o lermos, emergimos dele com conhecimentos da História, porque o houvemos lido prazenteiramente como se de um romance se tratasse (e que na realidade o é).

Suportado (como sempre é de seu timbre) numa extensa rede de apoio bibliográfica, a Autora desta excelente obra ainda cuidou, em final de livro, de nos bandejar umas mui pequenas súmulas biográficas dos intervenientes directos e indirectos desta tragédia ajudando, destarte, a enquadrar o leitor menos conhecedor destes factos. Se fosse um soneto... chamaria a isto a sua "chave d´ouro".

 

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Manuel Alegre, vate de eleição e que já por mim foi abordado anteriormente tem, dentre a sua poesia, temas onde aborda o sebastianismo. Um exemplo é o que se reporduz de seguida.






"Abaixo El Rei Sebastião", autoria de Manuel Alegre, que
o declama acompanhado por Carlos Paredes à guitarra.


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Lembro-me que um dos grandes êxitos do "Quarteto 1111", conjunto da década de 60 e liderado por José Cid, foi precisamente o tema das lendas que se criaram sobre o destino de Dom Sebastião, após a batalha.  Quem de nós é que não trauteou esta canção ou não conhece a sua letra?




"A lenda del-Rei Dom Sebstião",
interpretada por José Cid e seus amigos


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DOCUMENTÁRIO


"A história do racismo" é um excelente documentário assinado pela BBC, com uma duração de cerca de duas horas e meia. Legendado em português transporta-nos, por este Mundo fora, a ver os actos rácicos e genocidas perpretados em nome de ideologias, religiões, governos ou interesses económicos.





 

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MÚSICA


Estava a trabalhar no computador com o rádio sintonizado na "Smooth" quando me apercebi que esta estação de rádio estava a efectuar um excelente programa dedicado ao género musical Bossa Nova e tendo, como pano de fundo, a música "Garota de Ipanema", que faz hoje (02/08/2012) precisamente 50 anos que foi lançada para o estrelato mundial.

 


 
"A garota de Ipanema", com Tom Jobim (teclas)
e Vinícius de Morais (voz)

 

Da autoria de Tom Jobim e de Vinicius de Morais, a referida música reportava-se a uma garota de 15 anos de idade que todos os dias ia para a praia de Ipanema e, a caminho da mesma, passava frente à esplanada da Bar Veloso, onde os músicos se juntavam sempre para tomarem uma bebida. Foi a beleza do seu andar voluptuoso que acabou por inspirar a criação desta música que se tornou numa das mais famosas e mais reproduzidas a nível mundial.



 
"A garota de Ipanema" na altura,
como musa inspiradora

 

A garota em causa veio a ser identificada posteriormente, por Vinícius de Morais, como sendo Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto que, mais tarde, catapultada para a fama adoptaria o nome artístico de Helô Pinheiro, que mantém até aos dias de hoje.

 


 
"A garota de Ipanema",
hoje em dia.



A música em causa veio a estar na génese do relançamento do estilo musical Bossa Nova, como uma das referências de marca daquele País, ombreando com o samba.



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PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA



Como cuidarmos das nossas florestas





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Um documentário que aborda a pujante beleza das florestas tropicais





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NESTA QUINZENA ACONTECEU...


Mali - Um casal foi morto por apedrejamento pelos tuaregues islâmicos, em Aguelhik (cidade do Norte do Mali) que fizeram cumprir a lei da sharia, ao acusá-los de adultério, atendendo a que viviam juntos mas não estavam formalmente casados. Para cumprimento da sentença enterraram o casal, deixando ambos com a cabeça de fora e, perante a assistência de 200 pessoas, apedrejaram-nos até à morte, tendo a senhora sido a primeira a falecer. Ficaram orfãs duas crianças, uma delas com  seis meses. (Público, 30/07/2012)

 
Tudo em nome de Allah, o Misericordioso.  



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Papua Nova Guiné - Vinte pessoas relataram à Polícia terem participado um festim canibal ao terem morto sete feiticeiros e comido os seus miolos crus acompanhado duma sopa feita com os pénis ficando, assim, na posse dos seus poderes mágicos. Calcula a Polícia que, nas regiões mais remotas do País, ainda subsistem cerca de um milhar de canibais. (Visão, 26/07/2012).



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DECLARAÇÕES DE INTERESSE


 
Os textos são escritos com desrespeito pelas novas normas do Acordo Ortográfico. O Autor recusa-se a colaborar com o aumento do PIB nacional à custa da mercantilização da nossa Língua.




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E agora... hambanine. Até daqui a quinze dias.