"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Armand Denis e Michaela Denis


VIAJANTES, AVENTUREIROS E EXPLORADORES


Armand Denis

Belga de nascimento, cujo evento ocorreu na capital Bruxelas, a 02 de Dezembro de 1896, desenrola a sua infância em Antuérpia, por força da deslocalização do seu pai para aquela cidade onde exerceu a judicatura. Cresce feliz e despreocupado no seio duma família conservadora e, nas férias judiciais, a família viaja pela Europa donde adquire o gosto pela deslocalização.


Combate na Primeira Guerra Mundial, incorporando-se no Exército aos 17 anos: “Alistei-me no próprio dia em que os exércitos alemães invadiram a Bélgica…”, mas acaba capturado e remetido para um campo de concentração na Holanda. Com dezoito anos foge do campo de concentração e atinge a Bretanha francesa, onde se junta às residuais tropas belgas que aí combatiam. Doente, fica hospitalizado e acaba enviado para Inglaterra, em Oxford.

Fica a estudar química, em Oxford e, depois, entra na Royal Aircraft Factory durante dois anos: “…fazendo experiências com combustível para aviões, óleos lubrificantes e tinta acética.”
Depois volta a Oxford e acaba a licenciatura em Química. Viaja pela Europa e, finalmente, retorna à Bélgica, onde se emprega: “…como químico numa firma de engenharia, em Bruxelas, especializada no desenho e na construção de fornos de coque metalúrgicos.” Daqui ruma para Paris, onde vai trabalhar como Assistente do Professor Charpy, na Escola de Minas de Paris, onde fica dois anos. Ruma depois para os Estados Unidos onde se demora alguns meses, oficialmente a efectuar estudos científicos sobra o carvão, mas na realidade a maior parte do tempo passou-a a viajar pelo território americano. Adora viajar pelo imenso território americano onde sentia: “…pura excitação por estar na América. Tinha estado tanto tempo limitado à Europa, que a brisa e a imensidade deste novo continente ma subiram à cabeça.” Retorna à Bélgica mas por pouco tempo. Regressa aos Estados Unidos onde se emprega como: “químico investigador num laboratório em Cambridge, no Massachusetts, junto da Universidade de Harvard e do Instituto de Tecnologia do Massachusetts.” Acaba por inventar: “um método de controlo automático de volume, para aparelhos de rádio, que desde aí tem sido universalmente empregado” (1926). Regista a patente e vende o produto a uma empresa que lhe paga seis mil dólares pela propriedade do invento. Despede-se do emprego que tinha, e resolve, depois de pesquisar locais no planeta partir para a ilha de Bali (1). “Na altura, Bali era apenas conhecida por uma pessoa em cem.” A paixão da adolescência pela fotografia vem ao de cima e amplia-se pela arte cinematográfica. Decide ir a Bali realizar um filme qualquer, pelo que adquire material fílmico e treina algumas horas o manuseamento do mesmo. Embarca em Boston no navio “Silver Prince” que fazia escala em Bali. Consigo viaja a sua companheira “Jake”, uma tartaruga dos Galápagos que adquirira ilegalmente tempos antes.

Quando aporta a Bali, apaixona-se imediatamente pela ilha. “À chegada a Bali, logo percebi que nenhum dos extravagantes elogios que eu tinha ouvido antes de partir, me tinham preparado para a beleza da ilha.” Roda o filme “Goona Goona” (“Magia do amor”, em javanês), cujo tema romântico se reporta a trágicos amores, como ele próprio descreve: “O enredo era uma história tradicional de amor entre um príncipe do Bali e a linda mulher dum pobre camponês. A tragédia desenrola-se quando o camponês encontra a prova da infidelidade da mulher: um punhal ricamente cravejado de pedras preciosas, caído ao pé da cama. Imediatamente o trabalhador fica encolerizado com o ciúme, persegue o príncipe até à praia e, depois duma luta terrível, fere-o de morte, com o seu próprio punhal. Horrorizado por ter assassinado um príncipe real, o camponês serve-se do mesmo punhal para se matar”. Maravilha-se em Bali, apaixonando-se pela beleza ilhéu. Começa a aperceber-se que aquele paraíso está condenado a desaparecer, com a chegada e fixação de comerciantes que, trazendo novidades consumíveis, virão alterar de forma drástica o comportamento vivencial não só daquelas gentes balinesas como também do ecossistema da ilha. Começa a desenvolver teses sobre o conservacionismo, e a questionar até onde a civilização terá o direito de destruir toda uma cultura ancestral: “Agora, por fim, os comerciantes tinham chegado e estavam firmemente instalados. Os balineses já compravam ansiosamente as suas primeiras bicicletas e automóveis. A chapa ondulada tinha começado a deixar as suas cicatrizes nas aldeias. Máquinas de tecer o algodão, vindas do estrangeiro, tinham já tornado obsoletos os antigos teares manuais e corantes suíços baratos eram já importados pelos diligentes holandeses (2), para tomarem o lugar dos ricos corantes de “batik” que, durante séculos, se fizeram em Bali……… O sereno isolamento de Bali estava a desaparecer para sempre………. O progresso aqui não substituía, destruía simplesmente ……… A sua cultura degeneraria numa caricatura de civilização primitiva para divertir os turistas ………… Foi este sentimento de deterioração que originou em mim as primeiras dúvidas reais sobre o meu papel como cientista…….”. Quatro meses mais tarde depois de ter chegado a Bali, retorna aos Estados Unidos, quando o navio que o trouxera ali, o “Silver Prince” efectuava a torna-viagem. Traz o filme “Goona Goona”, para vender nos circuitos comerciais norte-americanos deixando a sua tartaruga dos Galápagos, “Jake”, aos cuidados dos naturais duma aldeia balinesa que a mimavam e lhe prestavam culto.
 


Chegado aos EUA contacta o Dr. Mees, cientista da Eastman Kodak Company, em Rochester, que lhe dá emprego nos laboratórios da empresa e o ajuda a salvar os negativos das bobines fílmicas de “Gona Gona”, que tinham sido mal relevados em Bali. Assiste ao nascimento da fotografia a cores, o “kodachrome”, conhece pessoalmente “Mr. Eastman” o fundador da empresa e inventa uma máquina que reproduzia automaticamente as cópias negativas dos filmes, invenção esta que a Kodak lhe compra por cinco mil dólares. Dedica-se, a par do seu trabalho, a coleccionar répteis tendo atingido 200 ofídeos em casa. Efectua um filme sobre répteis que vende à Eastman Teaching Films, uma subsidiária da Kodak: “Nesta altura, quando acabei o filme para a Eastman, a colecção (de cobras) ultrapassava os duzentos exemplares. Gostei muito de fazer o filme e aprendi muito sobre os répteis da América do Norte.” Através das suas visitas a casa de “Mr. Eastman”, o dono da Kodak, vem a travar conhecimento com um casal de fotógrafos e documentaristas a quem Eastman financiava as suas viagens pelo mundo na rodagem de documentários: Martin e Osa Jonhson, casal este que Armand Denis considerava os verdadeiros pioneiros do documentarismo planetário: “…e, por seu intermédios (de Eastman) conheci duas pessoas que foram verdadeiros pioneiros do que eu viria a fazer dentro de alguns anos. Chamavam-se Martin e Osa Johnson. ….. e, após o casamento com Osa, formaram uma equipa de marido e mulher, viajando através de África e da Ásia e filmando por onde passavam.

Viaja por diversas vezes a Nova Iorque na tentativa de vender o filme “Goona Goona”. A sua inexperiência no seio da comercialização cinematográfica atrasa o seu desejo de lucrar com o mesmo mas, por fim, acaba por conseguir vendê-lo a um agente. Contra a sua expectativa o filme acaba por ser um êxito de bilheteira: “O filme deu muito dinheiro, muito mesmo, a alguns. Se eu não fosse tão verde e ignorante no negócio do cinema, também me teria dado muito dinheiro.

Este filme deu visibilidade a Armand Denis nos circuitos de produção cinematográfica, o que o leva a ser convidado para realizar o filme “Wild cargo” (“Carga selvagem”), em que o protagonista principal é o famoso Frank Buck, um caçador de animais e aventureiro. “Frank Buck era um do heróis da América. A lenda de Buck tinha principiado com uma série de artigos na revista “Colliers” com o título excitante de “Tragam-nos vivos”, descrevendo como este intérprido e resoluto aventureiro, com o chapéu tropical e bigode à Errol Flynn, revolvia as selvas do mundo para trazer animais selvagens para os jardins zoológicos e circos dos estados Unidos.” Rodado perto de Singapura, este filme, com cerca de uma hora e meia, centra o seu guião nas actividades de caça de animais bem como incorpora aspectos da vida selvagem. No entanto a realização deste filme, se bem que não lhe tivesse trazido grande satisfação pessoal, compensou-o quer em termos financeiros quer por ter viajado em grande estilo a expensas da companhia produtora do filme. Começava aqui a ascensão de Armad Denis como um dos pioneiros dos documentários sobre vida selvagem, principalmente animal.

 
Em 1935, Armand Denis parte para o Congo Belga, a expensas do governo de Bruxelas, onde realiza uma série de filmagens sobre a vida animal da colónia, bem como também no campo antropológico onde filma danças e cantares dos manbetu (3) e dos watutsis (4): “… e as nossas gravações incluíam os tambores reais dos gigantes Watsutis, a música barulhenta dos negros da floresta e as grandes orquestras da precursão da Manbetu, que se compõem muitas vezes de mais de trinta tocadores”. Organizando a expedição cinematográfica, partem de Nova York para a Europa, onde é recebido pelos reis belgas. Da Bélgica, a expedição ruma para Espanha e, atravessando o Mediterrâneo entre em Marrocos e, três meses mais tarde, atingem o Congo, depois de várias peripécias: “A viagem, por terra, até ao Congo, levou-nos aproximadamente três meses.” Ficam seis meses a filmarem na paradisíaco Park National Albert (5) que: “… proporcionaram-nos uma introdução única aos grandes animais de África, porque o parque era enorme – bem mais de oito milhões de km2 – e como era comprido e relativamente estreito, estendia-se por uma extraordinária diversidade de paisagem e vegetação.” Roda cerca de vinte mil metros de filme que envia para Bruxelas. Desta incursão pelo mato africano dirá que: “O tempo que passei em Albert Park foi, verdadeiramente, a minha primeira tentativa séria para fazer um filme com animais selvagens no seu próprio ambiente…” Pela primeira vez, em África, são efectuadas filmagens sonoras e do material fílmico ainda retira o suficiente para produzir um filme de acção que titula de “Dark Rapture”, onde aproveita para filmar as grandes manadas elefantinas do Congo. Aproveita para conhecer Pat Putnam (6) e convive com os pugmeis da orla da floresta de Ituri. Demora dezoito meses a deambular pela colónia belga após o que regressa aos Estados Unidos, com uma passagem intermédia pela Europa.

Vende o filme “Dark Rupture” em Holywood e o filme “Wheels across África” à Companhia Chrysler. Depois duma estadia de três nos Estados Unidos, volta a partir. Entre 1939 e 1948 viaja pelos continentes africano e asiático, sempre na realização de filmes e documentários sobre a vida selvagem. Percorre o Oriente (China, Birmânia (actual Myanmar), Índia entre outros) e consegue atingir o Nepal, por se ter relacionado amigavelmente com uma das filhas do Marajá do Nepal, território este que, na altura, era muito restrito a autorizar entradas a estrangeiros. Entra em Katmandu, que acaba por o aborrecer: “…apesar de todas as associações românticas, achei-a um lugar completamente triste e decadente, sem o mais pequeno encanto o interesse.” A II Guerra Mundial rebenta (1939) encontrando Armand Denis e a sua equipa cinematográfica no Nepal. Abandona Katmandu, que detestou, e dirige-se para a Índia, onde apanha um barco que o deixa em Mombaça, no Quénia. Aliando-se a Al Klein, um caçador ali residente há 30 anos, que lhe serve de guia, percorre toda a África Oriental (Quénia, Tanzânia e Uganda) filmando cenas da vida africana captando imagens duma África ainda não desvirginada pela colonização europeia: “Mas de todos, o mais notável aspecto de Ngorongoro (7) era o facto de, naquele tempo, estar ainda virtualmente intacta. As estradas que lá conduziam eram más. Somente alguns masai (8), uma tribo nómada, que não é de caçadores e que respeita a caça faziam uso da cratera e nenhum homem da tribo ali se fixava permanentemente…”. Regressa aos Estados Unidos e monta um centro de estudos de investigação científica de chimpanzés, recebendo vários destes animais vindos de África. No Verão de 1941 arranca com este novo projecto: “ Nesse Verão, como o centro de investigação ficou pronto, o número dos meus chimpanzés aumentou e, no Outono de 1941 eu tinha comprado mais de quarenta, de todas as idades…”.


Em 1941, no decurso dum encontro fortuito com um conhecido seu num bar em Nova York que lhe fala da existência de gorilas na África Equatorial Francesa (9) vai levá-lo a efectuar a: “… mais desastrosa aventura da minha vida…”. Apenas sabia da existência de gorilas na colónia congolesa da Bélgica, tendo-os avistado aquando da sua deslocação ao Park National Albert. Em Fevereiro de 1944 parte para Brazaville e daqui segue para Okio, no Norte da colónia congolesa da França. Estabelece relações com uma tribo semi-primitiva do interior, caçadora de gorilas como forma de sustento. Assiste e filma uma violenta caçada a um grupo de gorilas que termina num mar de sangue. Apercebe-se que será uma espécie a desaparecer em breve, tal a intensidade com que e caçado, não só ali como noutras poucas partes congolesas onde ainda subsiste. Paga pela captura de gorilas vivos e arrecada trinta destes animais, com que retorna a Brazaville, depois de os enjaular, para os levar para os Estados Unidos, a fim de os incorporar no seu centro de estudos dos primatas. Mas uma epidemia acaba por matar todos os gorilas capturados, ainda no Congo. Para o desastre ser completo, o filme que efectuara ao longo desse ano sobre os gorilas, e a violenta caçada aos mesmos desaparece no naufrágio do navio onde embarcara todo o seu equipamento, quando este estava nas Bermudas. Armand Denis salvara-se porque tinha regressado de avião. Restava apenas o seu testemunho.

Retorna ao Congo mais tarde (1946) em nova expedição cinematográfica. Vai por Matadi até Brazaville e daqui atinge Okio onde revisita a tribo caçadora de gorilas com que convivera. Fila cenas de gorilas, mas sem ser em caçadas, bem como leopardos, elefantes e macacos. Atinge o reino dos watsuti, onde lá estivera anos antes e reencontra o Rei dos mesmos, mais velho mas já a trajar ocidentalmente e a viver numa vivenda. Abandonara o palácio e as famosas danças guerreiras já só sabiam ser executadas pelos mas velhos. Sentia África a mudar: “Dentro dalguns anos, mais uma parte sem igual da velha África teria desaparecido e sido esquecida. Aquele mesmo progresso que tinha visto e odiado em Bali, esteva agora aqui, em África.” Vai até à floresta de Ituri e reencontra Pat Putnam e o seu hotel em estado letárgico, onde fica duas semanas. De seguida percorre as enormes planícies da África Oriental, penetrando no Uganda e apercebe-se que no vale do Rift a fauna escasseia, contrastando com os milhares de espécimes que ali vira em 1940. A predação humana estava à vista. Vai até Nairobi e vai filmando sequências que darão origem ao documentário “Savage Splendor” (“Esplendor selvagem”), onde chega a efectuar espectaculares filmagens de hipopótamos a nadarem debaixo de água.

No regresso aos Estados Unidos, onde comercializa o seu último documentário, acaba convidado a efectuar filmagens sobre uma viagem pela América do Sul, onde captasse imagens das florestas, dos cumes e das tribos humanas que, dentro do possível, estivessem o mais possível afastadas da civilização branca. Nos finais da década de 40 percorre os Andes e é nesta viagem que se cruza em Potosi, na Bolívia, com Michaela Holdsworth, aquela que virá a seu o grande amor da sua vida. Casa-se com ela naquela localidade andina e Michaela (agora Denis) será a sua companheira constante, até ao fim da sua vida. Com ela viver´+a a sua lua-de-mel a atravessar as densas florestas do Equador na busca da tribo dos índios Colorado que ainda mantinham a sua pureza, o que virá a conseguir.

Michaela Denis

Londrina de nascimento, facto ocorrido em 28 de Agosto de 1914, fica órfã do seu pai (o arqueólogo Yorkshire Holdsworth) pouco após o nascimento, por o mesmo ter sido morto nas trincheiras a combater na Primeira Guerra Mundial.


Estuda moda e estilismo em Paris, até ao eclodir da Segunda Guerra Mundial, altura em que retorna a Londres. Colabora na rectaguarda no esforço de guerra, integrando o serviço de voluntariado feminino, onde desenha a sua própria farda. No findar da guerra conhece um Almirante norte-americano que se apaixona por ela e a pede em casamento. Aceita, mas por pragmatismo, pois sabia-o viúvo e com filhos na Califórnia. Apenas queria era entrar nos Estados Unidos.

Viaja para os Estados Unidos mas, chegada a Nova York vai adiando sempre a sua ida para a Califórnia, até que comunica ao desolado noivo que mudara de ideias e já não se casava com ele. Aqui vem a travar conhecimento com Armand Denis, com quem virá a casar-se passado algum tempo (1948), na Bolívia, em Potosi,

Sendo ela uma amante de viagens e também para realizarem dinheiro que lhes permitissem realizar o sonho de documentarem filmicamente a vida selvagem, em 1950 o casal integra o grupo de trabalhos da equipa de filmagens da longa-metragem “As minas do Rei Salomão” (10), onde Michaela Denis actua como “duplo” (11) da actriz principal, Deborah Kerr. Durante os seis meses que duraram as filmagens, o casal, bem como toda a equipa de filmagem, viveu luxuosamente em acampamentos pagos pela companhia cinematográfica MGM (Metro Goldwin Mayer), quer no Quénia quer noutros locais onde decorreram as filmagens: “O contrato com a MGM durou seis meses e nós passámos esse tempo a voar em aviões fretados para diversos lugares do Tanganica, Uganda, Ruanda e Congo, dormindo em acampamentos luxuosos construído especialmente para o pessoal do filme…”

O casal Denis

Juntos irão viver a vida até à exaustão dos sentidos, viajando por todo o mundo sempre na realização de filmes e documentários sobre a vida selvagem, principalmente patrocinadas pela britânica BBC. Quando as filmagens das “Minas de Salomão” terminam o casal Denis resolve ficar no Quénia, onde escolhem uma propriedade onde irão construir a sua futura casa e preparam uma nova incursão cinematográfica pelo interior africano, que ligasse as duas costas. Volta de novo a visitar os gigantes watutsis e aos pigmeus do Ituri e, de seguida, desce o continente até à África do Sul, onde termina a filmar leões-marinhos, perto da Cidade do Cabo e na Namíbia. Tal viagem, que durou dezoito meses e quinze mil quilómetros, dará origem ao filme “Below to Sahara” (“Sob o Sahara”), em 1953, cujos direitos venderam à companhia cinematográfica RKO.


 
O casal organiza nova expedição cinematográfica, desta vez à Austrália e Papua Nova-Guiné. A ideia era filmar a Grande Barreira de Coral e os caçadores de cabeças da Papua, uma tribo que ainda vivia da Idade da Pedra. Arrancam para Sidney na Primavera de 1952 e filmam crocodilos marinhos, no norte australiano bem como toda a restante fauna. Quando estivera em Bali, na sua primeira viagem, Armand Denis tinha avistado um crocodilo destes. Partem depois para a Nova Guiné e sobrevoam o Vale de Waghi “no coração da montanha ainda por explorar, situada no interior da Nova Guiné e que está sob mandato australiano…” onde convivem durante algum tempo com estes povos civilizacionalmente atrasados, efectuando filmagens sobre os mesmos. Retornam aos Estados Unidos com os três filmes documentários completos, rodados no norte australiano, na Grande Barreira de Recife de Coral e na Papua Nova-Guiné.

 
Responsáveis da britânica BBC, vendo o potencial daquela dupla, contratam-nos (1953) para realizarem para aquela estação televisiva documentários da vida selvagem. Logo no ano seguinte começa a ser projectado publicamente o documentário “Animais Selvagens” que se torna num estrondoso êxito. Depois desta série documental, outras serão rodadas, quem em África quer na Ásia, todas elas sempre com assinalável êxito. No entanto o casal não efectuava as filmagens todas como dava a entender. Ao seu serviço tinham operadores de câmara, que distribuíam por várias regiões da África Central colhendo depois as filmagens efectuadas por estes. Um desses operadores foi o lendário Alan Root (12) a quem lhe entregou a tarefa de cobrir as imagens do Serengueti. A partir de 1963 editam a revista “Animals” que viria, posteriormente, a tornar-se na “BBC Wildlife”.

As décadas de 50 e 60 foram o seu apogeu, tornando-se sua imagem de marca os land-rover´s, as câmaras de filmar. O beleza e o “glamour” de Michaela Denis sobressaem nos documentários aumentando ainda mais a empatia do público para com aquela mulher que vivia os riscos da vida selvagem sem nunca se esquecer de pentear o cabelo e pôr-lhe laca, pintar os lábios ou colocar o pó de arroz no rosto, mesmo antes de entrar num rio onde fossem filmar crocodilos, por exemplo. Estes tiques e toques de feminilidade que nunca perdeu, viriam a ser parodiados e escarnecidos, mais tarde, por outros documentaristas e não só. O próprio Armand Denis se referira a isso quando escreveu: “… Se Michaela fizesse o que queria, iria sempre para o safari com várias malas cheias dos vestidos mais chistosos que tinha e com uma extraordinária quantidade de cosméticos e loções que ela achava indispensáveis…”


 
Em meados da década de 60 o casal assenta a sua base perto de Nairobi, construindo uma casa dentro duma propriedade que adquiriram e daqui partiam para as suas excursões documentaristas à escala planetária. Ambos crentes em poderes psíquicos e em vida extra-terrestre afirmaram terem avistado um OVNI (13) em forma duma nave espacial azulada, que planou sobre território masai (8).

O fim

Na capital queniana virá a falecer Armand Denis, em 15 de Abril de 1971, atingido pela doença de Parkinson, aquele que, para muitos, é considerado o pioneiro dos documentários da vida selvagem em larga escala e que deu um contributo inolvidável para um melhor conhecimento da vida animal afro-asiática e da sua preservação. Amava África até mais não: “…A diversidade de África é inesgotável e embora eu tenha passado tanto tempo da minha vida com as máquinas fotográficas, procurando e registando as maravilhas do continente, lembro-me continuamente do que fica por descobrir. Uma vida só não é suficiente.” Desaparecia da face da terra um homem que vagabundeou tanto pelo mundo que dizia “…ainda considero a tenda de campanha e o hotel as duas invenções mais sagradas do homem…”. Dele retenho uma frase emblemática que lapidou no seu livro de memórias: “Desprezo o culto da caça do homem branco, com fatos especiais, cães treinados, espingardas caras de precisão e o cuidadoso luxo da morte. Nunca possuí ou usei uma espingarda de caça e não posso sequer compreender porque é que alguém gosta de matar um animal, sem ser por fome ou extremo perigo.”

Quatro anos de viuvez volvidos e Michaela Denis voltou a casar-se (1974) mas foi de curta duração, pois o segundo marido (William Lidsay O´Brian) faleceu pouco depois. Deixando-se ficar em Nairobi, Michaela Denis que se afirmava detentora de poderes espirituais curativos abriu um consultório esotérico. Tendo escrito alguns livros sobre animais e a sua relação com eles (“Um leopardo no colo”, por exemplo), viajou sempre por toda a África.



Conflituou com outras lendas de África tais como com a escritora Karen Blixen (14) por a mesma detestar animais e queimar árvores para fabrico de carvão e com a conservacionista Joy Adamson (15) pelo modo como esta tratava desumanamente os criados. Faleceu a 04 de Maio de 2003, aos 88 anos de idade.
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(1) – Bali – Ilha mundialmente famosa no plano turístico, integrada na República indonésia. Habitada essencialmente pela comunidade hindu, desenvolveu a arte da dança como um dos seus pergaminhos mais preciosos. A par das coralinas praias paradisíacas e da doçura e hospitalidade do seu povo, que lhe valeu o charmoso nome de “Ilha do Amor” ou “Ilha dos Deuses”, esta última por ali terem milenariamente florescido o culto a nove deuses hindus. Os seus trajes e os seus adornos femininos, extremamente elaborados e graciosos, aliados à incomensurável beleza inata dos habitantes dão um toque de Midas na estética antropológica.

Inicialmente aportada por navios portugueses, no decurso da epopeia marítima no correr do século XVI, rapidamente os holandeses ali se implantaram, a partir do início do século XVII através da sua Companhia Holandesa das Índias Orientais.

No entanto, é a partir da década de 30 do século XX que a ilha entra no roteiro mundial dos pintores, poetas, escritores, e outros agentes da cultura quando um reduzido núcleo intelectual de europeus ali instalados a concebem num projecto direccionado para o turismo em larga escala.

(2) – “…pelos diligentes holandeses…” – Na altura (década de 20 do século passado) a ilha de Bali, bem como outras ilhas que hoje integram a República da Indonésia, era uma colónia holandesa.

(3) – Mangbetu – povo que reside na parte oriental do Congo. Tradicionalmente dedicados à música, desenvolveram um instrumento musical, misto de harpa e viola, hoje em dia muito em voga e até bastante comercializado em variantes sucedâneas, nas ruas de Lisboa, por exemplo, por vendedores ambulantes.

 
Uma característica fisiológica dos elementos desta etnia era a sua cabeça alongada artificialmente por panos nos bebés recém-nascidos, prática esta que a partir da década de 50 do século passado começou a ser abandona por acção do aumento da presença de europeus na região e que proibiam tal uso.

 
(4) – Watutsis – povo que habita maioritariamente as zonas orientais do Congo, bem como do Ruanda e do Burundi.

(5) – Park National Albert – Criado em 1925, pelo Rei Alberto I da Bélgica. Presentemente, com 7.800 km2 de área, é conhecido como Parque Nacional Virunga, sendo classificado como Património Mundial pela UNESCO. Infelizmente a gestão congolesa, ali instalada após a independência do País, tem-se revelado, desde sempre, muito deficitária, não só devido à instabilidade política que o País sempre teve, como as guerras e a corrupção generalizada que grassa no seio das cliques africanas que têm responsabilidades sobre patrimónios valiosos.

(6) – Pat Putnam (1904/1953) – Um misto de aventureiro, antropólogo e hoteleiro norte-americano, que efectuou levantamentos etnográficos sobre os pigmeus no Ituri Como forma de financiar o seu projecto conseguiu a autorização das autoridades belgas para construir um hotel junto à floresta, onde albergava turistas ávidos de experiências africanas emocionantes.


 A sua mulher, Anne Eisner, pintora nova-iorquina encontra-se referida nesta mensagem, no campo “Pintura”.

(7) Ngorongoro – A cratera de Ngorongoro localiza-se na Tanzânia e é uma região que alberga centenas de espécies de animais. Considerada Património Mundial da Humanidade, este fabuloso ecossistema também é conhecido popularmente por “Arca de Noé africana”.

(8) Masai – tribo nilótica, semi-nómada, que se dedica à pastorícia e habita o Quénia e partes da Tanzânia.

(9) África Equatorial Francesa – possessões coloniais que a França detinha na África Ocidental e que correspondiam, em termos geográficos, às actuais Repúblicas do Congo, Gabão, Centro-Africana e Chade.

(10) – “As minas do Rei Salomão” – filme inspirado na obra de Henry Rider Haggard, com o mesmo título. Trata-se dum banal filme de aventuras e amor passado no coração de África, no qual uma mulher e o seu irmão partem para aquele continente em busca do seu pai. Para tal contratam um caçador-guia que os irá conduzir por terras interiores africanas, surgindo então diversas peripécias que irão resolvendo até que conseguem atingir os seus objectivos.

(11) – “Duplo” – No cinema o papel de “duplo” é o de interpretar as partes mais perigosas duma filmagem, que possam pôr em causa a integridade física do actor/actriz principal. Busca-se, nos duplos, as parecenças físicas e fisionómicas com o artista que vão fugazmente substituir.

(12) – Alan Root – Espantoso aventureiro, documentarista da vida selvagem e que foi casado com a não menos lendária Joan Root. Sobre ela já abordei ao de leve aqui neste blogue. Brevemente voltarei à carga com a vida fantástica deste casal, mas agora mais pormenorizadamente.
 
(13) – OVNI – Objecto Voador Não Identificado.

(14) – Já biografada resumidamente em mensagem anterior – ver Beryl Markham.

(15) – Joy Adamson – Já biografada anteriormente – ver George Adamson.

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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL



Ascensão e queda do Reino de Gaza

Parte I

António Enes (Lisboa, 15/08/1848 – Queluz, 06/08/1901 – António José Enes) - Jornalista e político. Tendo concluído o Curso Superior de Letras, e fundado o Partido Histórico, trabalhou na redacção da “Gazeta do Povo” e depois tornou-se director do jornal “O País”.



Deputado a partir de 1880, seis anos mais tarde é nomeado Bibliotecário-Mor da Biblioteca Nacional de Lisboa. Após o Ultimato entra para o Governo, em 14 de Outubro de 1890, como Ministro da Marinha e do Ultramar. Cinco anos mais tarde, sendo nomeado Comissário Régio em Moçambique, promove acções bélicas contra Gungunhana que, no entanto, nunca quis prender, contrariando o parecer dos seus subalternos, tais como os de Mouzinho de Albuquerque, mas tão-somente limitar-lhe o poder e abalar-lhe o prestígio. Opositor da prisão de Gungunhana, contrariando as teses de Mouzinho de Albuquerque ofereceu a este, como presente envenenado, o governo de Gaza, pouco antes de regressar a Lisboa. Mouzinho de Albuquerque serviu a sua vingança em prato quente, prendendo Gungunhana, ainda António Enes estava na viagem de regresso a Lisboa. Enquanto Comissário Régio tenta incrementar medidas de cariz político-administrativas, denunciando a incapacidade dos colonos brancos que lhe eram remetidos da metrópole, tenta que as forças metropolitanas sirvam apenas por curtos períodos de tempo nesta colónia, promove alterações na admissão de funcionários para a administração pública, denuncia o perigo do islamismo como potencial rastilho para acicatar os negros contra os brancos, e incentiva para que as missões católicas “acostumem os indígenas a orarem na língua do Rei”. Publicou vários trabalhos sobre esta colónia, destacando-se o relatório “Moçambique”, onde relata a sua acção governativa e “A guerra de África em 1895. Em 1896 foi nomeado Ministro de Portugal no Brasil. Membro destacado da Maçonaria, foi um dos mais conhecidos governantes coloniais de Moçambique, apesar do escasso tempo que esteve à frente dos destinos daquele território tendo, em sua homenagem, sido dado o seu nome à vila de Angoche. Em 08 de Setembro de 1910 foi inaugurada, em Lourenço Marques*, uma estátua de bronze em sua homenagem, da autoria do Mestre Teixeira Lopes, tendo a mesma sido erguida sobre uma coluna de granito no mesmo local onde, pela primeira vez, pôs o pé em terra quando desembarcou na capital, como Comissário Régio.

Chaimite - Local sagrado dos angunes*, por aí se encontrar o cemitério real onde repousavam os restos de Manicusse**, fundador do Reino de Gaza. Foi o último local de refúgio de Gungunhana, tendo sido aí preso, em 1895, por Mouzinho de Albuquerque.

Combate de Macontene – Batalha  travada em 21 de Julho de 1897, na qual as forças portuguesas, comandadas por Mouzinho de Albuquerque, vencem as forças de Maguiguana, induna de Gungunhana e que escapara aquando da prisão deste. Maguiguana não sobreviveu à derrota, tendo sido morto e decapitado, com o fim de se exibir a sua cabeça e não restarem dúvidas sobre o seu trágico destino, perante régulos* que pudessem vir a duvidar de tal facto. De referir que foi no decurso desta batalha que ocorreu a primeira e única carga de cavalaria contra forças inimigas, em Moçambique, liderada por Mouzinho de Albuquerque.

Eduardo Galhardo – (Lisboa, 26/06/1845 – Lisboa, 08/02/1908 – Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo) – Oficial de Infantaria do Exército Português (General). Estudou no Real Colégio Militar e cursou na Escola do Exército.


Em 1863 assenta praça e, dois anos depois, é promovido a Alferes. Com breves passagens pelas armas de Engenharia e Artilharia, retorna à Infantaria, e ascende progressivamente na carreira militar, acabando promovido a Coronel em 1894. No ano seguinte encontra-se em Moçambique, comandando forças expedicionárias que desencadeiam operações militares contra os apoiantes de Gungunhana. Em 07 de Novembro desse ano derrota as forças angunes* no combate de Coolela**. De seguida marcha sobre Manjacaze** e destrói o kraal** daquele Rei vátua contribuindo, em larga medida, para a queda do Reino de Gaza. Em Janeiro de 1896 regressa a Lisboa, onde é condecorado com a Medalha de Ouro do valor Militar, pela sua campanha africana. Em 1897 governa Macau e três anos depois é nomeado Governador da Índia, onde subjuga a que ficou conhecida por “revolta dos Ranes (campanha militar contra os maratas). Promovido a General em 1903, foi condecorado por diversas vezes possuindo, entre outras, a comenda de Grande Oficial da Torre e Espada.

Induna  - Chefe militar.

Maguiguana – (? - Mapulanguene 10/08/1897) – Régulo* cossa*, de Magude e um dos chefes militares do exército angune*, acabando mesmo por ser tornar o Comandante-Chefe das forças de Gungunhana, na recta final da existência do seu Reino. No entanto não se achava presente no combate de Coolela**, por se encontrar na zona do Bilene a tentar arranjar forças para travar uma outra coluna militar portuguesas que tinha partido de Inhambane*. Após a prisão de Gungunhana, mantém a sua actividade bélica contra os portugueses. Em 21 de Julho de 1897, trava a sua última batalha, a de Macontene, da qual saiu derrotado e, ironias da História, é um africano como ele, João Massabalane**, fiel servidor das tropas coloniais que o alveja a tiro e facilita a sua captura pelos portugueses, dias depois, em Mapulanguene. O seu corpo foi reconhecido pelo seu irmão Jorge Cossa Torretana, que também promoveu o seu enterro local. Depois de morto é decapitado e a sua cabeça foi exibida a outros régulos* como prova da sua morte e da vitória das armas portuguesas e também levada, como troféu, para Lourenço Marques. No local da sua morte e para comemorar esta vitória, os portugueses erigiram, em 02 de Fevereiro de 1924, um pequeno monumento.

Mouzinho de Albuquerque – (Batalha, 12/11/1855 – Lisboa, 08/01/1902 - Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque) - Oficial de Cavalaria do Exército Português (Tenente-Coronel). Nasceu na vila da Batalha, tendo falecido, de forma voluntária, em Lisboa.


Esteve na Índia, em 1886, sendo colocado em Moçambique, no ano de 1890, onde desempenhou as funções de Governador do Distrito de Lourenço Marques, cargo que mantém até Abril de 1892, altura em que regressa a Lisboa. Em 1895 retorna a Moçambique, integrando a coluna militar do Coronel Eduardo Galhardo, que tem a finalidade principal de reforçar as forças portuguesas que combatem as do Reino de Gaza. Desde sempre um acérrimo defensor da prisão de Gungunhana, opôs-se à política do Comissário Régio António Enes, que apenas visava enfraquecer a posição do Rei angune. Em 10 de Dezembro desse mesmo ano de 1895, António Enes, nas vésperas de regresso a Lisboa nomeia-o Governador de Gaza. Mouzinho de Albuquerque, imbuído dum espírito patriótico, sonhando com altos feitos heróicos que redimissem a Pátria da vergonha do Ultimato**, jogando uma cartada temerária, para os meios postos à sua disposição, lança-se no seu objectivo de sempre - a prisão de Gungunhana - o que vem a conseguir depois de uma perseguição, em marchas forçadas,  entremeadas de combates e tentativas de suborno. Antes do findar desse ano de 1895, mais precisamente a 29 de Dezembro, na povoação de Chaimite, Mouzinho de Albuquerque obrigava a ajoelhar-se, aos seus pés, Gungunhana e, a seguir, era todo um País que se ajoelhava à sua passagem quando enviou o mesmo Gungunhana para a metrópole. Pura operação de charme e vingança pessoal, Mouzinho de Albuquerque, rotulado de herói nacional, colhe os frutos da sua ousadia, sendo nomeado, deste modo, Governador-Geral de Moçambique em 13 de Março de 1896 e Comissário Régio, do mesmo território, em 27 de Dezembro desse mesmo ano. Desencadeia novas acções militares, para consolidar a soberania portuguesa quer no Norte - Naguema e Itoculo, na campanha dos Namarrais**  - quer no Sul – combate de Macontene – culminando com o cerco e morte de Maguiguana**, em Agosto de 1897, o último induna de Gungunhana a resistir aos portugueses. Transporta para a política a sua faceta do “antes quebrar que torcer” e granjeia inimizades quer no seio da classe política quer no seio da classe empresarial colonial, o que o leva a pedir mais poderes de actuação junto de Lisboa, crendo ainda na influência do Rei. Mas este nada pode contra o poder executivo e Mouzinho de Albuquerque cai em desgraça. Face à recusa do Governo Central em ceder às suas pretensões, não lhe resta outra alternativa senão pedir a demissão. Como o próprio explica numa circular, onde refere: “Em 09 do corrente (09 de Julho de 1898) recebi um telegrama de Sua Exa. O Ministro e Secretário de Estado da Marinha e do Ultramar transmitindo-me na íntegra o decreto de 7 de Julho pelo qual eram restringidas as funções dos Comissários Régios, a ponto tal que julguei ficarem assim inutilizados quaisquer esforços que fizesse para bem administrar esta Província e continuar a encaminhá-la no sentido, não só de desenvolver, mas de nacionalizar em parte o comércio e introduzir nos mercados da costa e do interior os produtos da indústria fabril e também da agricultura nacional…”. Demissão apresentada e aceite sem rebuço, Mouzinho de Albuquerque despede-se, desgostoso, das tropas estacionadas na Província e, em nota publicada a 29 do mesmo mês, dirigidas às mesmas, refere: “…É com o maior sentimento que renuncio à honra de comandar tão briosas tropas, com as quais ainda esperava concorrer, comandando-as, para mais exaltar o nome do Exército Português, que tão alto aqui têm mantido saber…”. Volta, em definitivo, para Lisboa e, em 1899 publica “Livro das campanhas” e “Moçambique 1896/ 1898”. Muito apreciado pelo Rei D. Carlos, que o nomeia seu Ajudante de Campo e Aio do Príncipe Dom Luís, herdeiro da Coroa, Mouzinho de Albuquerque, monárquico convicto, que não confundia o Rei com a classe política assiste, impotente, à previsível morte anunciada deste regime. Em 1901 escreve a sua famosa “Carta” dirigida ao seu pupilo real, o Príncipe D. Luís onde discorre todo o seu pensamento político, baseado sempre numa coluna vertebral militar e respeito pela causa monárquica e pela indestrutibilidade da Nação. Em 1902, desgostoso com a vida que levava, longe da acção e rodeado de uma classe política decadente, na qual não se revia e que desprezava, instalado numa corte decrépita e autofágica, Mouzinho de Albuquerque, essa mítica personagem do imaginário português buscou, eventualmente, no voluntarismo da sua morte, a alforria da prisão dourada onde o tinham encarcerado.

Gungunhana – (1850? – Angra do Heroísmo, 23/12/1906) - Rei angune*, filho de Muzila**. Ascende ao poder em 1884 e depois de mandar matar o seu irmão, Mafemane, que era, também, um forte candidato ao trono.


Outros potenciais herdeiros, tais como Anhana e Mafambaze encetaram a fuga do Reino e Como-Como desapareceu sem ter deixado rastro, pelo que se pode admitir que também tenha sido morto. De seu nome original Mudungaze, adoptou o nome de Gungunhana, que significa “homem forte”, após a morte do seu pai. Manteve, quase sempre, um relacionamento pacífico, com os portugueses tendo enviado, por duas vezes, dois emissários seus – Ntonga e Udaca - à corte de Lisboa assinar um protocolo de vassalagem, que se concretizou em  12 de Outubro de 1885, documento esse que, devido à sua notabilidade histórica e para melhor se entender a correlação de forças entre os dois reinos e o tipo de padrão de vassalagem, se transcreve de seguida: 1)- O régulo Gungunhana, por si e seus sucessores, faz acto de vassalagem ao Rei de Portugal e de obediência às leis e ordens que lhe forem transmitidas pelo Governador-Geral da Província de Moçambique, ou pelos Agentes subordinados a esta autoridade, comprometendo-se a não consentir, em seu território, o domínio de qualquer outra nação; 2)- O território sobre que o Régulo Gungunhana exerce jurisdição é aquele em que seu pai tinha domínio e lhe havia sido garantido em 2 de Dezembro de 1861; 3)- Junto ao Régulo Gungunhana haverá um Delegado do Governo Português, denominado Residente-Chefe, para o aconselhar na forma de administrar o País e na resolução das questões que, porventura, se levantem entre a sua gente e os súbditos portugueses; 4)- Nas povoações principais do território em que o Régulo Gungunhana exerça jurisdição e, principalmente, naquelas que confinam com os distritos de Lourenço Marques, Inhambane e Sofala, haverá Residentes subordinados ao Residente-Chefe, para exercerem sobre as autoridades locais, dependentes do referido Régulo, a tutela a que se refere o número precedente; 5)- Os Residentes arvorarão a bandeira portuguesa nas suas residências e terão, para sua guarda, a força militar que lhes for destinada; 6)- Quando algum indígena, dependente da jurisdição do Régulo Gungunhana, praticar crime ou delito em território sujeito à administração das autoridades portuguesas, será julgado e sentenciado pela justiça portuguesa; 7)- Os indivíduos portugueses que cometerem crime ou delito nas terras sujeitas ao Régulo Gungunhana serão entregues ao residente da localidade, ou ao mais próximo, para serem remetidos à autoridade portuguesa, que os fará julgar no seu distrito; 8)- Em todos os actos solenes de sucessão de Régulos será presente o Residente-Chefe, munido do acto de confirmação do sucessor, passado pelo Governador-Geral da Província de Moçambique; 9)- O Régulo Gungunhana obrigará a sua gente a entregar-se à agricultura e ao aproveitamento de todos os produtos indígenas que possam servir à indústria ou ao comércio; 10)- O Régulo Gungunhana terá um selo fornecido pelo Governo português, com o fim de tornar autêntica qualquer ordem que expeça para os outros Régulos, ou qualquer comunicação para as autoridades portuguesas; 11)- Todos os súbditos portugueses transitarão livremente pelas terras do Régulo Gungunhana e, semelhantemente, todos os naturais destas terras poderão transitar pelas terras dos distritos governados pelas autoridades portuguesas; 12)- Somente aqueles indivíduos que se destinarem à caça dos elefantes terão de obter prévia licença das autoridades dependentes do Régulo Gungunhana e autorização do Residente-Chefe; 13)- O  Régulo Gungunhana permitirá a exploração de minas e de outros produtos do País aos indivíduos que para esse fim tiverem obtido concessão do Governo Português e a ela se apresentarem com os presentes correspondentes e usuais; 14)- O Régulo Gungunhana facilitará, por todos os modos, a exploração e estudo de todos os rios, montanhas e lagos que o Governo Português julgar necessários para conhecimento corográfico do País; 15)- Sendo o intuito principal deste acto de vassalagem o chamar, pouco a pouco, à civilização, os povos sobre que tem jurisdição o Régulo Gungunhana, este fica obrigado a proteger a fundação de escolas e missões religiosas que o Governo Português quiser estabelecer, fornecendo gente e materiais para a construção dos edifícios que tais estabelecimentos reclamarem, mediante a respectiva remuneração; 16)- O Régulo Gungunhana terá a graduação, por decreto real, de Coronel de Segunda-Linha; 17)- Por proposta do referido Régulo, com intervenção do Residente-Chefe, poderá o Governador-Geral da Província de Moçambique conceder as honras de Capitão de Segunda-Linha aos dois principais secretários do mencionado Régulo, honras que perderão com a destituição do seu cargo.” No entanto, em 1890, estabelece idêntico protocolo com enviados da British South Africa Company**. Mantendo a política de boa vizinhança com o Reino N´bedele, encetada por seu pai, casa com uma das filhas de Lobengula**. Em 1889 desloca a sua capital, Manjacaze**, do planalto interior a norte do rio Save, fixando-a no sul, numa área compreendida entre os rios Limpopo e Inharrime. Em 1892 é descrito pelo médico missionário Liengme, que o visitou, do seguinte modo: Em 1892 por ocasião da nossa visita, Gungunhana poderia ter 40 a 45 anos. Era um ébrio inveterado. Após qualquer das numerosas orgias a que se entregava, era medonho de ver com os olhos vermelhos, a face tumefacta, a expressão bestial, que se tornava diabólica, horrenda, quando, nesses momentos se encolerizava. Lembramo-nos de, um dia, termos ousado contradizê-lo a propósito dos Chopes, seus mortais inimigos, defendendo que também eram seres humanos e como tal deviam ser tratados. Apossou-o um furor terrível, rilhando os dentes, rolando os olhos ferozes, invectivou esses desgraçados Chopes que, segundo ele, deviam ser exterminados ou reduzidos à escravatura...” Desencadeia a campanha contra os chopes** e vencendo-os em toda a linha, depois de combates ferozes. Nesta campanha teve ajuda portuguesa, em armamento, como referiu, por exemplo, Caldas Xavier**: “... ajudámos com artilharia e outro armamento moderno, os soberanos angunes a submeter os chopes. Receosos do seu poder, e da grandeza territorial e guerreira do Reino de Gaza; que ia do Limpopo às terras de Manica e, militarmente, estruturada nos moldes zulus**, os portugueses, fruto da nova política colonial europeia, em que eram obrigados a colonizar os territórios em toda a sua efectividade, sob pena de os perderem para outras potências e, a fim de travarem os apetites dos ingleses da BSAC**, desencadeiam a guerra aos vátuas. Para tal serviu-lhes de pretexto a recusa de Gungunhana em lhes entregar os chefes rebeldes Matibejana** e Mazula**, que se tinham asilado no seu kraal**, recusa essa que se baseava num costume angune no qual a concessão de asilo a alguém tornava-se num acto sagrado e inviolável. A recusa de entregar os régulos* acolhidos no seu seio não foi pacífica entre os conselheiros da Gungunhana que, estrategicamente, advogavam a sua entrega aos portugueses como forma de os acalmar, mas este recusou sempre tal pretensão, por estar convencido que o conflito com os portugueses iria acontecer de qualquer maneira e, a ceder a tal pretensão, trar-lhe-ia desprestígio no seio das populações e dificuldades em arregimentar forças. Em dois combates, no decurso de 1895, as forças aliadas a Gungunhana foram batidas em Marracuene**, Magul**, mas onde as suas forças não intervieram. Em Outubro desse mesmo ano Gungunhana desmobiliza, inexplicavelmente, o seu exército de cerca de quarenta mil homens que mantinha nas imediações de Manjacaze**, acto suicida, atendendo a que uma coluna militar portuguesa, comandada pelo Coronel Eduardo Galhardo e saída de Inhambane*, já se encontrava em Chicomo. Por fim, em Coolela**, deu-se o combate que opôs directamente angunes* contra europeus, culminando com a derrota daqueles. Em desespero de causa, vendo o seu Reino a desmoronar-se com a consequente perca de poder e prestígio, Gungunhana tenta o suborno aos portugueses, enviando-lhes marfim* e ouro e, violando regras dos costumes do seu povo, manda entregar o Régulo Matibejana**, numa tentativa humilhante de travar o ímpeto dos portugueses, mas nada detém as intenções de Mouzinho de Albuquerque. A 28 de Dezembro desse mesmo ano Gungunhana é preso, por Mouzinho de Albuquerque, em Chaimite, terra sagrada dos angunes*, consumando-se a queda do Reino de Gaza. Após a sua prisão, Gungunhana é trazido para Lisboa, onde é exibido, baptizado pelos cânones da religião católica com o nome de Reynaldo Frederico Gungunhana e graduado em Sargento de segunda linha. Deportado para a ilha Terceira, nos Açores, em Portugal, aí veio a falecer, em 1906. Acompanharam na sua deportação o régulo* Matibejana*, o seu tio e conselheiro Molungo e o seu filho Godido, tendo todos falecido nos Açores. Déspota, assassino, alcoólico, faltando-lhe a estatura administrativa e militar do seu avô Manicusse**, ou o perfil diplomático e pragmático do seu pai Muzila**, ultrapassado no tempo e sem nunca se ter apercebido dos novos ventos a História que se estavam a formar, Gungunhana foi um joguete nas mãos dos europeus, quer portugueses quer britânicos, sendo completamente injustificável todo o branqueamento que alguns historiadores tentaram fazer da sua figura como lutador anti-colonial, já que o mesmo não passou dum peão no tabuleiro do xadrez político que se jogou o destino da África meridional, em finais do século XIX. Estava desfasado no tempo, e nunca se apercebeu disso. Em 1985 trasladaram-se as suas ossadas para Moçambique, onde foi sepultado como herói nacional, numa pura operação de demagogia política levada a cabo pelo regime ditatorial moçambicano.
                                                                                                                     
Reino de Gaza – Reino angune*, fundado por Manicusse**, que entrou no actual território de Moçambique por volta de 1820, em consequência do difacane**. Abrangia os actuais territórios situados entre os rios Limpopo e Zambeze, em Moçambique. Teve quatro governantes: Manicusse**, Maueva**, Muzila** e Gungunhana. Em 1895 com a prisão de Gungunhana, os portugueses puseram fim a este Reino, cujo nome é uma homenagem do fundador do mesmo ao seu avô. Era um Reino assente numa estrutura centralizadora e militar, no qual o poder do Rei era inquestionável. O poderio militar, peça fundamental nesta monarquia, era copiado à imagem do que fora idealizado por Shaka Zulu**, sendo extremamente violento e economicamente parasitário, pois vivia em permanente estado de guerra, única forma de manter os seus guerreiros activos e com os seus pensamentos desviantes para outros povos mais fracos, com as consequentes rapinagens e direitos de saque com que se alimentavam. No entanto a existência de fenómenos naturais adversos, tais como pragas, secas e doenças, levava os angunes a arrasarem outras aldeias mais além, em busca de gado para se alimentarem, o que acabava por aumentar a pobreza das regiões, atendendo a que a agricultura não tinha cabimento no conceito de gestão do Reino. Assim, tendo uma estrutura económica baseada principalmente no direito de saque, o Reino era miserável e as populações famintas. Como exemplo refira-se que, quando Gungunhana mudou a sua capital para o Sul, por volta de 1890, a migração forçada de milhares de pessoas deslocadas gerou situações de miséria absoluta. Outro exemplo reporta-se ao exército que Gungunhana tinha de cerca de quarenta mil homens, perto da sua capital e por si mandado destroçar em Outubro de 1895, o qual padecia de fome e de prolongado estado de subnutrição. As permanentes incursões militares provocavam também desgaste na actividade da caça e a destruição de núcleos comerciais, como aconteceu com Inhambane*, em 1834, provocava também total ruptura no abastecimento alimentar das regiões o que aumentava o estado de miséria das populações locais que se punham em fuga e, como consequência, criava-se o ciclo vicioso de novas incursões militares em busca de gado e escravos. O permanente estado de guerra atrofiava as relações comerciais com o exterior, tendo mesmo Manicusse* proibido de entrarem navios na barra do Limpopo. Em relação à escravatura, o mesmo Rei proibiu o tráfico da mesma. Muzila, mais aberto, incrementou o tráfico de marfim*, como forma de aumentar os seus proventos, tendo sido no período do seu reinado que aumentou a exportação de marfim* para a ilha de Moçambique*, bem como acabou por remover a proibição do seu pai e autorizar a entrada de navios no Limpopo e também terá permitido o tráfico de escravos para o Transvaal. Com a migração de súbditos seus para a África do Sul, para trabalharem na indústria mineira, a moeda inglesa começou a correr no seu Reino, conjugada também com as visitas que recebia de comerciantes britânicos que se deslocavam às suas terras. O findar da riqueza proveniente do comércio do marfim, devido ao seu desaparecimento por excesso de caça e o surgimento de novas fontes de riqueza no Sul, onde a libra de ouro britânica começava a circular em abundância terá sido uma das razões fulcrais que levaram, mais tarde, Gungunhana a mudar a capital do seu Reino de Mossurize, no norte, para Manjacaze, no sul, a fim de poder estar mais perto dessas mesmas fontes de riqueza. O tráfico externo de escravos nunca terá tido grande importância no seu reinado, contrariamente ao interno, que se incrementou aquando da destruição dos chopes**. Mas já então o Reino se encontrava no seu ocaso.

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Nota: Finaliza na próxima mensagem.

* - Já aberta ficha
** - A abrir ficha posteriormente

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VELHAS HISTÓRIA E LENDAS ANTIGAS


A propósito do filme “As minas de Salomão”, acima referido pelo facto da Michaela Denis ter desempenhado no mesmo o papel de “dupla” da actriz principal Deborah Kerr, nas cenas mais arriscadas, o filme em causa inspirou-se no livro com o mesmo título e que foi escrito por Henry Rider Hagard.  A lenda das minas de Salomão teve bastante disseminação no século XIX e foi um dos temas mais apaixonantes que passaram pelas mentes dos nossos bisavós europeus.

Muitas outras lendas existiram, tal como a do cemitério dos elefantes, que fantasiosamente afirmava que todos os elefantes instintivamente procuravam um local certo para morrerem. Quem localizasse um cemitério de elefantes ficaria poderosamente rico face ao marfim aí localizado. Nada disto era verdade pois os paquidermes morrem em qualquer local quando a hora chega ou são caçados.

No decurso do século XIX começou a descoberta do interior africano, até aí desconhecido e cujos mapas apresentavam grandes manchas em branco. Aliás, na África Central, face ao desconhecimento geográfico desses territórios uma enorme área era referida por “Montanhas da Lua”, razão deste nome já aqui explicado numa mensagem anterior.

A par das expedições militares, religiosas, mercantis, geográficas e científicas ou doutro tipo que iam rasgando o continente em todos os pontos cardinalíceos, quase todas eram movidas pela ânsia da gigantesca posse de terra e de gentes. As minas de Salomão foram uma das muitas lendas que encaminharam aventureiros das setes partidas para África, na busca de encontrarem fortunas de ouro e pedras preciosas que remontavam aos tempos biblicamente salomónicos.

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A lenda das minas de Salomão:

Como qualquer lenda desconhece-se a sua paternidade, a sua fonte de origem. Uma das fontes inspiradoras desta lenda poderão ter sido os relatos descritos no Kebra Nagast (1).

Baseava-se a mesma na existência de Salomão, um Rei bíblico, sábio, poderoso e muito rico que tinha a sua corte em Jerusalém e que aí viveu mil anos antes de Cristo. A sua fama ultrapassava as fronteiras e chegou ao Reino de Sabá, no actual Iémen, onde reinava a Rainha Balkis (também chamada de Makeda). Esta, desejosa de criar laços comerciais com Salomão, armou uma caravana com o que de melhor havia no seu Reino e deslocou-se a Jerusalém, tendo ficado na corte judaica durante uns meses. Os dois acabaram por gerar um filho, a quem deram o nome de Menelik. Reza a tradição, ou a lenda como lhe queiram chamar, que Salomão sempre desejou carnalmente Balkis, mas esta, inteligente e sagaz, sempre se esquivou às investidas do Rei. Então certa vez, Salomão, cansado dos resultados infrutíferos dos seus pedidos, ofereceu um jantar real exclusivo à Rainha e ordenou aos seus cozinheiros que condimentassem bem os manjares a serem servidos, para esta ingerisse bastantes líquidos para se dessedentar. Rezam as crónicas que, nessa noite, Balkis bebeu mais do que a conta e quando deu por ela estava nos braços salomónicos.

E foi esta a causa do nascimento de Menelik. Seja como for, Balkis acaba por regressar ao seu Reino, com o filho gerado com Salomão e, na fase da adolescência deste, envia-o para junto do pai, a fim de melhorar a sua educação pois, com a sapiência paterna, evoluiria muito mais. Menelik fica na corte do seu pai vários anos, onde aprende o mestrado na arte da política e é quando Salomão, sentindo-se velho e com a morte a aproximar-se, entrega a Menelik o comando duma faustosa caravana cameleira, carregado de riquezas inimagináveis e remete-o, de novo, para a corte materna. Rezam as crónicas que, nessa caravana, Salomão terá entregue a Menelik a Arca da Aliança (2).

De seguida Menelik ruma para África e instala-se em Axum, dando origem a um reino que seria a Etiópia. Inicia, então, o mais longo reinado africano que iria durar, intermitentemente, dois mil e quinhentos anos, até 1974, quando o seu último descendente em linha directa (3) – o Imperador Hailé Selassié (4) – foi deposto por um golpe de estado militar nesse ano e falecido em 1975.

Ora foi toda esta lendária fortuna de riquezas inimagináveis que Menelik I e os seus descendentes, a fim de evitarem que a mesma caísse em mãos alheias e com base no princípio de não pôr todos os ovos no mesmo cesto, que dividiu a mesma em várias partes e mandou, secretamente, esconder a sua fortuna em vários pontos de África. Um desses locais secretos onde parte da sua fortuna estaria guardada seria no que é hoje o Zimbabwé.

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Nota: Na próxima mensagem finalizar-se-á a história desta lenda

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(1) – O Kebra Nagast, também conhecido pelo “Livro da Glória dos Reis”, é como que a Bíblia copta, sintetizada. É um livro sagrado, como a Bíblia, o Alcorão ou a Tora, onde se encontra relatado o relacionamento do Rei Salomão e da Rainha de Sabá, o nascimento do filho de ambos, Menelik e a sua vinda para a Etiópia, donde descende a linhagem monárquica que findou com Hailé Selassié.

O mesmo pode ser consultado, em português (279 páginas), na internet: http://www.holybooks.com/queen-sheba-kebra-nagast que é um dos sítios de consulta, existindo outros.

(2) – A Arca da Aliança seria uma caixa onde se encontravam guardadas as tábuas dos Dez Mandamentos, bem como seria um elo de ligação entre Deus e os hebreus. Nunca tendo sido encontrada, relata-se que a mesma desapareceu quando Jerusalém foi conquistada por Nabucodonosor, e que poderia ter sido escondida por fiéis. A história da Arca da Aliança tem sido combustível que tem alimentado a fornalha de inúmeros romances sobre a mesma e, por sua vez, geradora de miríades de lendas.

(3) – Historicamente isto não corresponde à verdade. Ao dizerem que a linhagem de Menelik I foi ininterrupta até Hailé Selassié queriam dar uma razão místico-religiosa à mesma, pois sendo Menelik I filho de Salomão, todos os seus descendente seriam consanguíneos de Jesus Cristo.

Na realidade, ao longo dos dois milénios e meio que a Coroa etíope terá prevalecido, sofreu diversas quebras dinásticas, documentadas historicamente.

(4) Hailé Selassié – (1892/1975) – Último Négus (Imperador) etíope. Tafari Makonem era o seu nome de nascença (Tafari – nome próprio; Makonem – nome do pai, segundo o costume cristão copta). De linhagem nobre torna-se Ras (Governador) de Herer. Ascende à coroa etíope em 1930, adoptando o nome de Hailé Selassié (traduzido: Poder da Trindade) I. Em 1923 conseguiu a admissão da Etiópia na Sociedade das Nações (antecessora da actual ONU), apadrinhado pelos governos português e francês. Combate as forças italianas que invadem a Etiópia em 1935, mas acaba derrotado e exila-se. Com o findar da II Guerra Mundial e a derrota das forças italianas, regressa ao trono. Governou com mão de ferro o País tendo sido um dos fundadores da OUA – Organização de Unidade Africana, actual UA – União Africana. Foi deposto em 12 de Setembro de 1974 e morreu, sob prisão, em 27 de Agosto de 1975.


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LEITURAS EM PROSA

Título: Safari
Sub-Título: Memórias da minha vida
Autor: Armand Denis
Editora: Livraria Morais Editores   Ano: 1965       Págs.: 480    Género: Autobiografia

 
Apenas encontrei este livro, na sua edição portuguesa, em alfarrabistas. Trata-se das memórias de Armand Denis sobre a sua vida de documentarista da vida selvagem e sobre o qual assentei as transcrições que se encontram plasmadas na sua biografia. 

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Título: As minas do Rei Salomão
Autor: Henry Rider Haggard
Editora: Colares Editora    Ano: 2000       Págs.: 271    Género: Romance de aventuras

 
Esta obra, publicada em 1885, em plena época vitoriana é, na área da literatura de aventura, dos livros mais vendidos de todos os tempos, sempre com sucessivas edições de múltiplos editores, em quase todas as línguas do planeta. Trata-se da narrativa ficcionada dum grupo de aventureiros que liderados por Alan Quartmain (o principal personagem do livro) penetram no interior africano na busca dum local onde estariam guardadas fabulosas riquezas provenientes do tesouro real de Salomão, o Rei bíblico, sucedendo-se pelo caminho diversas aventuras. Foi um dos primeiros (para não dizer o primeiro) livro de aventuras que se escreveu com o cenário africano a dominar toda a narrativa. Mais de um século volvido sobre a sua publicação ainda continua a fazer as delícias de muitos leitores, sendo transversal a todos os grupos etários.
 
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Título: Novembro
Autor: Jaime Nogueira Pinto
Editora: Esfera dos Livros     Ano: 2012       Págs.: 637    Género: Romance

 
Trata-se do primeiro romance deste historiador, professor universitário e politólogo. Abarca o cruzamento de diversas vidas no período temporal entre duas agonias: o Verão de 1973 – o crepúsculo do Império Português – e o Outono de 1975 – o findar do período revolucionário que se seguiu.

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Título: Mulheres afegãs
Subtítulo: Histórias por detrás da burka      
Autora: Zarghuna Kargar
Editora: Albatroz      Ano: 2012    Págs.: 270      Género: ensaio jornalístico

 
Um livro que é um libelo acusatório contra a opressão a que as mulheres afegãs estão submetidas nas suas várias vertentes. Tratadas como peças de carne para prazeres inconfessáveis, escravas domésticas e domesticadas, saco de pancadas para descarregamento das frustrações dos homens que as violam, violentam e vilipendiam, neste livro há toda uma recolha corajosa de testemunhos das mulheres humilhadas e ofendidas por homens que, em nome dum radicalismo religioso, não passam de bestas bípedes.
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Acabo de ler na imprensa diária (DN, 24/0172013) a notícia que uma jovem afegã, de 15 anos de idade e residente na província de Daikundi, após ter sido violada não se calou e denunciou o facto conseguindo que o violador fosse identificado, preso, julgado e condenado a 16 anos de prisão (e cinco para um cúmplice). Posteriormente colocada num abrigo governamental que acolhe mulheres em risco, para serem protegidas, acabou por ser novamente violada por vários elementos desta instituição, numa mesma noite. Voltou a denunciar os factos e o escândalo foi tal que obrigou o Presidente da República, Hamid Karzai, a enviar uma força especial investigatória dos factos. De novo logrou a prisão dos autores. No entanto, este é um dos raros casos em que uma mulher, numa sociedade culturalmente dominada pelos homens, ergue a cabeça e, corajosamente, denuncia as humilhações a que é forçada a ter. Mas que o seu exemplo de coragem e tenacidade seja um ponto de partida para que outras vozes femininas rompam o silêncio a que se encontram violentadas.

Porque nenhuma religião, opção política, ou mentalidade, seja ela qual for, pode justificar tais atrocidades.

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MÚSICA


Júlio Fernando de Jesus Pereira

Um dos mais importantes músicos do actual panorama português, nasceu em Lisboa, em 1953. Iniciou-se nos meandros da música na área do rock, na década de 70, ao integrar o grupo “Petrus Castrus”, conjunto este já aqui abordado em mensagem anterior. Para além de ter integrado este conjunto também contribuiu com a sua participação em eventos doutros músicos, tais como José Afonso, Fausto e Carlos do Carmo, entre outros.


Compositor e musicólogo português, especialista virtuoso a tocar alguns instrumentos de raiz popular portuguesa, a ele se deve a redescoberta do cavaquinho, esse pequeno instrumento de cordas que tão abandonado andava e já quase só se ouvia nas feiras e romarias nortenhas e que muita gente julgava ser havaiano (o ukelele). O cavaquinho é um instrumento de cordas originário do Minho. Encontra-se amplamente divulgado em várias partes do Mundo, principalmente onde a emigração portuguesa mais afluiu. Até que apareceu Júlio Pereira e repôs as coisas no seu devido lugar. Em 1981 lançou “Cavaquinho” um excepcional álbum dos mais importantes da música instrumental portuguesa.


Música: "Venho de comer macela"

No ano seguinte editou outro álbum memorável – “Braguesa” – onde também recupera os acordes deste instrumento de cordas. Titular duma discografia onde se contam por dezenas os títulos por si compostos e tocados, Júlio Pereira, que considero um musicólogo a quem a cultura do nosso País muito deve, tem andado, infelizmente, arredado dos holofotes públicos.



Música: "Chula de Lisboa"

Talvez porque recuse a mediocridade. Mas, nem que fosse só por isso, aqui lhe presto o meu sincero aplauso de um admirador incondicional da sua obra.
 
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VOZ DE OURO

Lizz Wright – Nascida em 1980, é uma compositora e cantora norte-americana de jazz e de blues, que começou a editar álbuns a partir de 2003.


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FILME


Título: As minas do Rei Salomão
Produtor:                            Realizador: J. Lee Thompson
Actores:  Richard Chamberlain; Sharon Stone e outros
Ano: 1985     Género: Aventura    Duração: 100 minutos
 
Esta é uma versão mais recente deste tema, inspirado parcialmente no livro de Rider Haggard. Pesquisando no Youtube logrei visionar esta mais recente versão que aqui reproduzo.


O primeiro filme a ser rodado, em 1950 tinha, como actores principais, Stwart Granger e Deborah Kerr (que Michaela Denis fez de dupla nalgumas partes), com 100 minutos de duração. Na minha opinão, ambos são de fraca qualidade, sem grande motivo de interesse, apenas os anotando aqui por se ter referido ao mesmo quando acima se biografou o casal Denis.

 
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PINTURA


Anne Eisner – (Nova York, 1911 - Nova York, 1967)


Anne Eisner (1941)
 
Em 1930 o antropólogo norte-americano Pat Putnam (Patrick Tracy Lowell Putnam; 1904/1953) instalou-se no Congo Belga a efectuar trabalhos de pesquisa sobre os pigmeus Mbuti. Numa das suas idas à terra Pátria logrou conhecer Anne Eisner, uma pintora nova-iorquina que se apaixonou por ele e se deixou embalar pelas histórias que ele relatava em conferências sobre o fascinante mundo africano no geral e dos pigmeus em particular que viviam nas belíssimas florestas de Iuturi.


As mulheres 1956

Acompanha-o no seu regresso a África e, no período compreendido entre 1946 e 1958 Anne Eisner desenvolve trabalhos etnográficos sobre os pigmeus Mbuti, transcrevendo por exemplo, todo o acervo de lendas deste povo – para cima de duas centenas – a par de continuar a sua arte da pintura. Foi a primeiro mulher branca a conviver na intimidade com este povo.


Mãe com criança (1957)

Em 1953, após a morte do seu amado, Anne Eisner continua no Congo junto dos pigmeus a dirigir a estação antropológica que o seu marido tinha fundado bem com o hotel que albergava os turistas até que, em 1958, por ter fracturado a anca foi obrigada a regressar aos EUA para ser operada. Não mais voltou aos seus amados pigmeus das selvas do Ituri, entretanto exterminados na voragem do avanço duma civilização que criou outros tipos de selvas, tendo ela falecido de cancro.

 
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ESCULTURA
 
Amazing Nelson Mandela Sculpture

Consiste em 50 placas de aço com 10 metros de altura, cortadas a laser e inseridas na paisagem, representando o 50º aniversário da captura e prisão de Nelson Mandela, em 06 de Agosto de 1962, no próprio local onde tal sucedeu e que lhe custaria 27 anos de cárcere.





 
Num ponto específico de observação, a visão em perspectiva das colunas surpreende ao assumir a imagem de Nelson Mandela. O escultor é Marco Cianfanelli, de Joanesburgo, que estudou Belas-Artes em Wits.

 


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PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA

Raposa do deserto – Sahara e Península Arábica

Trata-se dum canídeo carnívoro, típico habitante do deserto do Sahara e península arábica. O que chama desde logo a atenção são o tamanho das suas orelhas, que atingem os 15 cms. de comprimento num corpo cuja altura não ultrapassa os 30/40 cms. de altura e ma mesma medida para o comprimento (sem contar com a cauda). Trata-se dum cão extremamente bem adaptado ao deserto, pois o tamanho desproporcionado das orelhas tem como função expulsar o excesso de temperatura corporal atendendo a que, não tendo glândulas sudoríferas, poderia sobreaquecer. Para além do mais também funcionam como excelentes instrumentos de captação de sons de baixo intensidade provenientes de eventuais presas (insectos, répteis e pequenos roedores) ou de eventuais predadores que o caçam (aves de rapina e caracais, por exemplo).

 
Outra admirável adaptabilidade ao rude solo desértico são a espessa camada de pêlos que se encontram sob a ponta das patas, almofadando as mesmas, o que não só o protege do excessivo calor que emana do solo, durante o dia como também, nas suas deslocações, o almofadam da aridez do solo pedregoso para além de lhe fornecer deslocações mais seguras em terrenos arenosos que por si são mais instáveis.

 
O corpo encontra-se também protegido por uma espessa pelagem cor de areia, que o camufla durante o dia, confundindo-se com o solo como também o protege das quedas abruptas de temperatura quando desce a noite. Caça solitariamente, apesar de viver em comunidades que podem atingir os dez indivíduos. A raposa do deserto também é conhecida por feneco e, felizmente, não corre perigo de extinção.

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Parque Nacional Djoudj – República do Senegal

O rio Senegal, com cerca de 1600 quilómetros de comprimento, nascendo nas montanhas do Futa-Djalon desagua no Oceano Atlântico. O seu último terço de percurso delimita a fronteira entre as repúblicas mauritana e senegalesa. O estuário deste rio, que é bastante amplo, acaba por constituir um local de repouso para um grande número de aves migrantes que, vindas da Europa em fuga aos frios invernosos, ali chegam. O cruzamento das águas marinhas, que são salgadas, com as do rio que são doces promove o surgimento dum ecossistema endémico. A vegetação ribeirinha, essencialmente de juncos e canaviais, proporciona um abrigo e refúgio a numerosas aves. Os insectos que ali esvoaçam acabam por proporcionar alimento bastante às aves ali acoitadas.

 
O Parque, deste modo, tornou-se num fabuloso santuário centenas de espécies de aves migratórias que ali, ou vindas da Europa repousam antes de prosseguirem mais para Sul, ou então ficam a fazer a sua invernada, até regressarem às suas fontes de origem. Com cerca de 10.000 hectares de superfície e localizado no Senegal, abriu ao público em 1971 e conta, como seus hóspedes anuais, garças, garcetas, marabus, íbis, patos, pelicanos, flamingos.


Este fabuloso habitat ornitológico está classificado pela UNESCO como Património Mundial.

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ACONTECEU

A falta de ética -  Miguel Relvas

A sua passagem de fim de ano num dos hotéis mais luxuosos no Rio de Janeiro revelou, mais uma vez, a falta de sentido de Estado e de ética deste “xico-esperto” da política portuguesa. O luxo faustoso com que se rodeou (interessante saber das suas origens e apurar donde veio tanto dinheiro) perante um povo que come o pão que o Diabo amassou, revelou uma insensibilidade e mentalidade terceiro-mundista, como soía dizer-se. Não sei porquê quando o vejo vem-me à memória o Jean Bedel-Bokassa. E assim, temos um Primeiro-Ministro refém deste seu Ministro que, sozinho, consegue desgastar mais a imagem do Governo perante a opinião pública que o restante elenco governativo. Que favores deverá Passos Coelho a este energúmeno da política para ainda não o ter demitido?
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Para além do local faustoso da passagem do ano, também o passou com duas companhias das mais gradas dos portugueses (então não?): Dias Loureiro e José Luís Arnaut. Realmente, lembra-me do dito popular: “diz-me com quem andas dir-te-ei quem és.” Enfim, um nojo. Quando vi fotos dos três todos lambareiros no hotel a gozarem à tripa forra, lembrei-me do BPN, esse banco da elite “laranja” que os meus/nossos netos ainda andarão a pagar as falcatruas do mesmo, por cobardia da nossa classe política que não consegue domar os homens de cinzento da SLN.

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Antes tarde que nunca - SPA

Num comunicado lavrado a 09 de Janeiro corrente, a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) veio informar que não adoptava as normas do novo Acordo Ortográfico, face às posições assumidas pelo Brasil (que adiou para 2016 uma decisão final) e por Angola (que sempre se manifestou contra o Acordo). Mais adiantava que face à posição destes dois países não fazia “… sentido dar como consensualizada a nova norma ortográfica quando o maior Pais do espaço lusófono (Brasil) e também Angola tomaram posições em diferente sentido.” O comunicado em causa lamentava ainda a actuação da classe política portuguesa nomeadamente do ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado, que não se dignou a ouvir as partes interessadas (entre elas a própria SPA) e da Assembleia da República que “foi subalternizada no processo do debate deste assunto.” Enfim, tardaram mas lá se decidiram.
 
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A hipocrisia – Ricardo Salgado

O banqueiro Ricardo Salgado, do Banco Espírito Santo, não declarou 8,5 milhões de euros no seu IRS “por esquecimento”, como justificou ao ter sido apanhado “na curva” como popularmente se diz. A verba em causa reportava-se a rendimentos de capitais e de trabalho no estrangeiro. Pois claro. Também não percebo a sanha popular que recaiu sobre o pobre homem. Que Diabos, oito milhões de euros são amendoins. Uma ninharia. Ao coitado, não declarar oito milhões e meio de euros “por esquecimento” é normal. Acontece a qualquer um. Até a mim. Realmente este povo é pobre e mal agradecido.
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Foi este mesmo senhor que teve que se deslocar ao (Departamento de Acção e Investigação Penal (DIAP) para ser ouvido mas frisando que fora: “a seu pedido”. Assim mesmo. Eu pensava que era o DIAP que decidia quem queria ouvir no âmbito de processos e não o contrário. Mas afinal eu estava enganado. Ele pediu para ser ouvido e o DIAP fez-lhe a vontade. Ouviu-o. Então é assim: amanhã ninguém me liga nenhuma e eu quero falar com alguém, mas não tenho com quem. Ah, não faz mal. Vou ao DIAP e peço para ser ouvido: “Olhe, faz favor, senhor Procurador, ouça-me.” E então fazem-me a vontade. E ainda nos queixamos do DIAP. Realmente este povo é pobre e mal agradecido.
 
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DECLARAÇÃO DE INTERESSES


O texto acima reproduzido foi escrito em desacordo com o Novo Acordo Ortográfico.
 
 
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(Raposa do deserto)