"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

sábado, 28 de abril de 2012

Ibne Batuta

Viajantes, aventureiros e exploradores

Abu Abdulha Muhammad Ibne Batuta - (Tânger, 25/02/1304 - Fez, 1377) - Geógrafo, explorador e aventureiro sendo, muito justamente, considerado um dos maiores viajantes de todos os tempos. Oriundo duma família abastada e religiosa, da tribo Lawati, pouco se  sabe da sua infância, a não ser que era oriundo duma família berbere da pequena nobreza, tendo feitos estudos religiosos. Começou  a sua peregrinação pelas Sete Partidas do Mundo em 1325 e durante vinte e quatro anos não parou.



Aos vinte e um anos decide realizar a viagem religiosa que todo o muçulmano deve tentar, que é a  peregrinação a Meca. Para tal partiu da sua cidade natal em Junho de 1325, numa viagem calculada para dezasseis meses mas que acabaria por durar vinte e quatro anos. Como ele escreveria mais tarde: "tomei a decisão .... e deixei a minha casa como os pássaros deixam os seus ninhos." (1)

Depois de ter percorrido o Norte de África chega a Alexandria, no Egipto,  seguindo depois para o Cairo onde, após uma curta estadia, resolve explorar o vale do rio Nilo. Retornando ao Cairo segue para Damasco, percorre a península  do Sinai, visita os lugares sagrados de Hebron, Jerusalém e Belém e, de novo em Damasco, ruma para Medina, onde visita a campa do Profeta Maomé e, dali, segue para Meca, onde chega em Outubro de 1326. Depois de cumpridos os rituais islâmicos atinge o estatuto de al-haji. À vista e em torno da Kaaba, Ibne Batuta cumpria o quinto pilar do Islão (2).  


 Em Novembro desse mesmo ano, cumpridos que foram os ritos religiosos que tinham sido a razão da sua saída de Marrocos, não retorna à sua terra natal e ruma para o Iraque e Pérsia. No caminho, depois de atravessar  a Península Arábica e transpor a fronteira mesopotâmica visita, em Najab, o  túmulo do Califa Ali ibn Ali Talib, que fora genro de Maomé.


De Najaf, em vez de seguir para Bagdad, flecte para a Pérsia e, seguindo o rio Tigre, atinge a cidade de Basram e, desta, vai para Shiraz. Finalmente, voltando a passar pela cordilheira de Zagros entra no Iraque, chegando a Bagdad em Junho de 1327. De Bagdad parte para para Tabriz, no Norte da Pérsia, caminhando pela  lendária e perigosa Rota da Seda. De Tabriz retorna a Bagdad, mas antes visita a Turquia e daqui volta, de novo, a Meca, onde efectua uma segunda peregrinação e repousa durante cerca de um ano.

O Iémen é o seu próximo ponto de chegada e daqui, depois de ter navegado pelo Mar Roxo, ruma para a costa oriental africana e de Mogadíscio a Zanzibar, com paragens por Maldivas, Mombaça, Quíloa e Zeila, tudo observa, regista e participa. Na viagem de retorno visita Omã e o estreito de Ormuz, acabando por regressar a Meca.



Volvido um ano de estadia em Meca, Ibne Batuta volta a partir, desta vez para a Anatólia e acaba a percorrer a costa sul da actual Turquia. Daqui atravessa o Mar Negro e desembarca em Kafka, na Crimeia. Ingressa numa caravana e atinge Astrakhan, em 1332. Cruzando os mares Cáspio e Aral atinge Samarcanda e, desta cidade, pelo Sul do Afeganistão entra na Índia. Atingira o seu objectivo que era chegar a Deli, que se regia por um sultanato. Fruto das suas credenciais de estudioso corânico e das suas prolongadas estadias em Meca, acaba nomeado juíz do Sultanato de Deli. face ao seu relacionamento instável com o Sultão Mohamed Tuguluq, Ibne Batuita resolve deixar o alto cargo que desempenhava e parte de novo para Meca, mas o governante oferece-lhe o posto de embaixador na China.


A hipótese de viajar para mais longe e conhecer novas terras leva-o a aceitar tal posto. A caminho de Cambaia, para embarcar, Ibne Batuta é assaltado e milagrosamente escapa com vida. Consegue atingir Cambaia e embarca para Calecute. Nesta cidade o azar persegue-o quando uma tempestade afunda dois dos três navios que iam para a China, e o terceiro levanta âncora sem o levar.


Receando voltar para Deli com novas do seu fracasso e temendo o feitio instável do Sultão, deixa-se ficar em Calecute, sob a protecção do governante local, Jamal al-Din, até este ser derrubado. Abandonando Calecute, embarca para as Maldivas, onde se casa um uma princesa local e  é nomeado juíz. Nove meses após a sua chegada abandona o reino insular, suspeito de estar ligado a uma tentativa de deposição do Rei e vai para a ilha de Ceilão (actual Sri Lanka).

Consegue embarcar para Calecute, mas o seu navio, que escapara dum naufrágio, acaba assaltado por piratas, na costa do Malabar, e fica encalhado nesta costa. Ibne batuta retorna às Maldivas e daqui, numa embarcação chinesa ruma, agora para a China. Sumatra (actual Indonésia)  e a costa vietnamita antecedem a sua chegada, finalmente, à China, onde aporta em Quanzedhou, na província de Fujian. Neste território vai até à zona onde actualmente se situa Xangai.

Finalmente decide retornar de vez. Fora a terras distantes, vivera muitas aventuras e achou que devia de regressar  a Meca e daí para Marrocos. Em Damasco toma conhecimento da morte do seu pai e, chegado a Meca, parte para a Sardenha e finalmente, retorna a Tânger, em 1349. 

(Mapeamento das viagens de Ibne Batuta)


Mas Ibne Batuta ainda vai à Andaluzia visitar o Reino de Granada, governada pela dinastia Nahisir e, de regresso a casa, efectua a sua última viagem de aventuras em direcção ao Reino do Mali. Assim, em 1352, partindo de Fez atravessa o deserto do Sahara, depois de transpor a cadeia do Atlas e atinge a cidade de Taghaza, no centro do Sahara, que tinha como principal actividade económica o comércio salino, para além dos escravos. Depois de percorrer centenas de quilómetros em pleno deserto atinge o rio Níger até chegar o Reino do Mali, pelo trilho caraveneiro de Tombuctu (a rota dos escravos e do sal) afim de visitar Sulaiman, o Sultão Negro. Desta viagem, em Niani, que era a capital do Império Medieval do Mali, ficar-lhe-ia retido o nojo com que assistira a um banquete onde estavam presentes os canibais de Wangara, que ele descreve: "O sultão recebeu-os sem honras e deu-lhes como presente de hospitalidade uma criada, uma negra. Eles mataram-na e comeram-na e, depois de terem sujado as mãos e os rostos com o sangue dela, vieram agradecer ao sultão." (3)



Todo o seu memorial de viagens passam para o papel quando Ibne Batuta, a conselho do seu Sultão, relata a sua odisseia ao andaluz Ibn Juzayy, que escreveu o "Rhila" (traduzido como "Minhas Viagens"), e que se trata da autobiografia do viajante.

Regressa definitivamente a Marrocos estabelecendo-se em Fez onde, finalmente, parou o seu peregrinar. Peregrinar este que o levara a ser estudante de teologia em diversas madrassas do mundo islâmico; conhecera e filosofara com diversos santos da corrente sufista; casara-se múltiplas vezes, entre as quais com uma princesa maldiviana e estivera, aí, no epicentro dum golpe  de estado; fora juiz em Deli e dos samorins de Calecute, onde chegou a ter cabeça em risco de ser pisoteada por elefantes por ter caído no desagrado dos mesmos; nomeado embaixador da Índia em Sumatra e China; naufragara na costa do Malabar onde perdeu grande parte da sua fortuna; combatera no Oriente onde também fora mercador; convivera com canibais; estudara e percorrera as rotas do ópio e da seda, dos escravos e do sal; enfim... tudo  que se possa imaginar, este ínclito viajante tudo vivera. E viveu para contá-la.


Quando fechou os olhos para iniciar a sua "Grande Grande Viagem", tinha palmilhado, neste planeta, dezenas e dezenas de milhares de quilómetros. Para a época em que viveu e com os parcos meios do conhecimento de então, poucos, mas muito poucos mesmo, é que se podem gabar de tal ousadia.


Foi, no pleno, um excepcional  e lendário Viajante e Aventureiro. 


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(1) - homepage.mac.com/sandeep/batuta/batuta.html
(2) - Os cinco pilares do Islão são: 1) Shahada: é o acto de se iniciar no credo islâmico, onde o crente especifica que "Não há outro Deus senão Alá  e Maomé é o seu Profeta"; 2) Salá: orar cinco vezes ao longo do dia (amanhecer, meio dia, a meio da tarde, pôr do sol e à noite); 3) Zakat: doar uma percentagem dos seus rendimentos, calculados em 2,5% do rendimento anual do crente, estando os pobre isentos; 4) Saum: cumprir os deveres no Ramadão: abster-se de comer, beber, fumar, ter relaçães sexuais e pensamentos negativos entre o nascer e o pôr-do-Sol, estando as grávidas, doentes e idosos dispensados destas práticas que, no entanto, poderão cumprir noutra altura quando melhorarem a sua condição física e espiritual; 5) Haji: peregrinar a Meca pelo menos uma vez na vida, aos  que tiverem dinheiro e saúde para tal. O haji deve ser cumprido entre o 8º e o 10º dia do mês de Dhu al-Haji, mês este que é o último do ano do calendário islâmico. Se a peregrinação ocorrer noutra altura do ano, apesar de aplaudida, não substitui a Haji.
(3) - "O livro dos viajantes" / Eric Newby / Publicações Europa-América/ Pág.33,34.




Historiando Moçambique Colonial





Cidade da Beira - Feitoria criado por Paiva de Andrada*, a partir do povoado de Bangué, rebaptizada com o topónimo de "Beira" para honrar Dom Luís, Príncipe das Beiras e filho do Rei Dom Carlos I, de Portugal. Em 1882 Paiva de Andrada chamara a atenção, à Sociedade de Geografia de Lisboa, para o facto de se tornar necessário, para a consolidação da soberania portuguesa, de se ocupar, em regime de efectividade, as vastas regiões de Manica, Sofala e Sena e criar o Comando Militar de Manica.

Em 1884 Paiva de Andrada, durante a sua ida às terras do Reino de Gaza** estudou o estuário do rio Pungoé e alertou, em relatório, para a necessidade de se criar um porto para navios de grande tonelagem bem como criar um posto fixo na margem esquerda do rio Arângua. Devido a isso, em 14 de Junho de 1884, por decreto real foi criado o Comando Militar de Arângua, tendo sido nomeado como primeiro Governador o Capitão Francisco Isidoro Gorjão de Moura.


Durante os meses de Abril e Maio de 1885 Paiva de Andrada e o Governador Gorjão de Moura efectuaram o reconhecimento entre Vila Gouveia e a foz do rio Pungoé, reconhecimento que, no entanto, foi inconclusivo por falta de maios adequados. No relatório então elaborado sobre essa reconhecimento, Gorjão de Moura alerta ser: "... de máxima conveniência o estudo da barra do Pungoé e o reconhecimento rigoroso deste rio na sua parte navegável ..." e, ainda nesse mesmo relatório: "as informações que tenho sobre a embocadura do Pungoé ou Arângua são as melhores e todos à uma afirmam a sua navegabilidade por barcos de certo calado, numa grande extensão, sendo o porto que ele forma acessível e seguro."


Sendo Augusto de Castilho** Governador-Geral de Moçambique, ao tomar conhecimento do relatório desta viagem, ordenou novo estudo à navegabilidade do rio. Deste modo a canhoeira "Quanza" parte da vila de Sofala*, em 06 de Agosto de 1885, comandada pelo Segundo-Tenente Cáceres Fronteira, que desembarca em Ponta Chiveve e, não só topografa toda a região, como sonda e explora a foz do Pungoé. Cáceres Fronteira elabora então o "Relatório da Comissão ao Rio Pungoé", que acaba por convencer as autoridades a ordenarem a ocupação, em definitivo, do território, criando a Portaria nº  287 de 01 de Julho de 1887, que ordena que o Posto Militar da Arângua ficasse instalado "... na Ponta Chiveve, na margem esquerda do Norte do Rio Pungoé".


Em nota de rodapé refira-se que João de Azevedo Coutinho**, em entrevista dada ao jornal "Notícias de Lourenço Marques", em 1939, relembrando esses duros tempos dizia: "E a Beira, essa nem sequer existia. Em 1886, comandava eu uma canhoeira auxiliar, demandei-a e não descobri. Era um pântano que as inundações do Pungoé com frequência cobriam."


Finalmente, em 20 de Agosto de 1887, no povoado de Bangué é montado o Posto Militar de Arângua, numa rudimentar paliçada de paus e matope, num rectângulo de sessenta por cinquenta metros, considerando-se esta a data oficial da fundação da que virá a ser a futura cidade da Beira. Para esse efeito foi lavrado um documento oficial que é o "Termo de Instalação do Posto Militar de Arângua" que temo seguinte teor: "Aos vinte dias do mês de Agosto do ano de nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil oitocentos e oitenta e sete, no sítio de Chiveve, margem esquerda do rio Pungoé, estando aqui presentes o Senhor Governador do Distrito de Sofala, Tenente-Coronel do Exército de Portugal Jorge Pinto de Morais Sarmento, o Comandante Militar de Arângua Tenente do mesmo Exército Luís Inácio, Fortunato Frederico Ferreira, Alferes Comandante do Destacamento do referido Comando, João Eduardo Coelho Barata proprietário e arrendatário do Prazo* Cheringoma, o Doutor José Auspício Simões e os habitantes do referido Prazo, Domingos Luís Lobo, Capitão Zingombe, Inácio Pereira, Inácio de Araújo, Nicolau Gonçalves, Fernando, Bucuctura, Luís Gabriel, Pedro, João Chaves, Spírio, Paulo Nhamecua Grande, Nhamecua Pequeno, Joaquim, Damião, José Chicui e muitos outros grandes do Prazo, bem como Enfermeiro de Segunda Classe António Filipe Rodolfo Fernandes e o Segundo Sargento Manuel Joaquim do Amaral; sendo todos mandados reunir para, por parte do Governo de Sua Majestade, se lhes fazer ver que a sede do Comando Militar já referida era o ponto em que se achavam e que este era também o dia da inauguração do mesmo. Sua Excelência o Governador do Distrito, num breve e claro discurso, fez ver aos circunstantes os desejos de que o Governo se acha possuído de fazer prosperar este importantíssimo ponto que há bastante tempo andava esquecido, não deixando também de exortar os mesmos habitantes para que auxiliem as autoridades nesta famosa empresa de regeneração e segurança o que, por todos compreendido, declararam ser este um dos dias de maior regozijo visto que já tinham junto de si a autoridade de que tanto careciam e de que há muito apelavam para lhes fazer respeitar os seus direitos, que eles próprios não podiam dizer que conheciam, em consequência das continuadas lutas e extorsões que sofriam dos cafres que apareciam no prazo e que se diziam landins. Nesta ocasião se deram alguns tiros de canhão festejando a Bandeira Nacional que à distância de vinte metros se hasteava no mastro mandado levantar pelo mesmo arrendatário Barata. Dando em seguida por concluído este acto de que para constar se lavrou o presente termo, do qual se vai enviar cópia a Sua Excelência o Conselheiro Governador-Geral da Província, indo o mesmo assinado por todas as autoridades presentes e indivíduos que sabem escrever. Chiveve, 20 de Agosto de mil oitocentos e oitenta e sete. Assinam: Jorge Correia Pinto de Morais Sarmento, Tenente-Coronel; Luís Inácio, Tenente Comandante Militar; Fortunato Frederico Ferreira, Alferes; João Eduardo Coelho Barata; José Auspício Simões; Domingos Luís Lobo; António Filipe Rodolfo Fernandes; Manuel Joaquim do Amaral."


Foi construída, nesta altura, a residência do Comando Militar, que era uma casa de madeiras grossas, com paredes tapadas a caniço e o tecto em palha. Media quinze metros de comprido por seis metros de largo e quatro metros de altura, estando subdividida em seis casas iguais. Passados uns meses estava construído o quartel do Destacamento, que era um barracão de vinte e sete metros de comprido por sete de largura e quatro de altura, com várias divisões interiores. Em volta do quartel foi aberta uma vala defensiva, profunda e larga, que era transposta por umas tábuas que se retiravam quando caía a noite.


Em 1888 foi elevada a vila e quatro anos depois, em 1892, é elevada a capital do Distrito de Sofala e sede do Território de Manica e Sofala. O comércio era incipiente, nestes primeiros tempos, resumindo-se à exportação da borracha, marfim*, cera e pouco mais. Em Agosto de 1890, devido ao aumento do movimento comercial, foi estabelecida uma delegação alfandegária e, no ano seguinte, criou-se uma Repartição dos Correios e outra da Fazenda.


Em 1892 passa a ter a sede do Distrito de Sofala, que estava na ilha de Chiloane e é criada a Comarca Judicial. No decurso do ano de 1907, a 29 de Junho, seria elevada à categoria de cidade, através dum Decreto  Real que rezava o seguinte teor: "Tendo em consideração o notável desenvolvimento que tem adquirido a Povoação da Beira, capital do Território de Manica e Sofala sob a administração da Companhia de Moçambique e sede do seu governo; atendendo à excepcional importância da sua posição e manifesto valor do movimento do seu porto e do tráfico do caminho-de-ferro, que a põe em contacto com a Rodésia e que sensivelmente aumenta de ano para ano, fazendo dela um grande centro de navegação e de comércio de largo e prometedor futuro; querendo dar um público testemunho de apreço pelos esforços de actividade que representa a completa transformação da Povoação da Beira, em vinte anos realizada e, ao mesmo tempo comemorar a visita que lhe vai fazer Sua Alteza Real o Príncipe Real Dom Luís Filipe, Meu Muito Prezado e Amado Filho; hei por bem decretar que a Povoação da Beira, capital do Território de Manica e Sofala sob a administração da Companhia de Moçambique, seja elevada à categoria de Cidade da Beira. O Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar assim o tenha entendido e faça executar. Paço Real, em 29 de Junho de 1907."  Em 1908 inaugura-se a iluminação eléctrica na cidade e, três anos mais tarde, arranca o serviço telefónico urbano.






Uma rua da Beira, em 1905



A título de curiosidade refira-se que, aquando da comemoração do 50º aniversário da elevação da Beira a cidade, em 1957, esteve presente a içar a bandeira municipal João Agostinho, nesta data o único nativo sobrevivente da expedição de 1887 que, acompanhando o Tenente Luís Inácio, fundara o Posto de Arângua.


A cidade da Beira veio a tomar um notável incremento, nomeadamente a partir do deflagrar da guerra nacionalista desencadeada pela FRELIMO**. O porto da Beira e a linha dos caminhos de ferro estavam direccionados para servirem de escoamento aos produtos da Rodésia (actual Zimbabué). Também na cidade da Beira, a ligá-la à Rodésia, estava instalado o maior oleoduto construído em África, a Sul do deserto do Sahara. 



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Porto da Beira - Em 1895 iniciou-se, na margem esquerda do rio Chiveve, a construção de um cais de desembarque (mercadorias e passageiros) que, no entanto, não ficou concluído por ter desabado, face à deficiente construção e utilização de materiais. 


Na margem direita do Chiveve a empresa "Port of Beira Development Company" construiu, também, um cais de madeira. Até 1925 as autoridades portuguesas não conseguiram construir um cais, sempre pela crónica falta de dinheiro e de materiais, pois o que construíam era sempre precário e sem obedecer a um plano devidamente estruturado.



Neste ano (1925) estabelece-se um acordo entre a Companhia de Moçambique** e a "The Port of Beira Development Corp. Ltd.", que cria a Companhia do Porto da Beira, com o objectivo de construir um porto com fins comerciais.  Após 1929, depois de resolvida a questão do porto da Beira, é inaugurado o cais para atracação de navios, com 160 metros de comprimento ao qual, posteriormente, se equipa com guindastes a vapor.


Passando a haver três cais, iniciam-se obras para os interligarem e, em 1937, amplia-se o cais em 360 metros. Em 1941, com o fim dos poderes da Companhia de Moçambique**, a qual era soberana na administração do mesmo, o porto passa para a administração directa do Estado Português, e a soberania plena no dia 01 de Janeiro de 1949.


Sempre em crescimento contínuo, a partir de 1950 instalam-se, anexados ao porto, os caminhos-de-ferro e constrói-se um cais de minério, com 140 metros de comprimento. Em 27 de Abril de 1965 inaugura-se o oleoduto que liga a Beira a Untáli, na Rodésia, sendo o maior a Sul do Sahara.


O porto da Beira é composto pelo cais do Chiveve, para navegação costeira (com 450 metros de comprimento); cais do Pungoé, para navegação de longo curso (com 1.680 metros de comprimento); doca seca (com 115 metros de extensão) e uma área de 310.000 metros quadrados de parques de carga geral, 24 armazéns de mercadoria em trânsito, vários depósitos de sebo, combustíveis e melaços e cais de minérios.  


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Questão do porto da Beira - No decurso do ano de 1925 a Companhia de Moçambique** e a "The Port of Beira Development Corporation Ltd." firmaram um contrato que deu origem ao nascimento da "Companhia do Porto da Beira", com a finalidade de construir, naquela localidade, um porto comercial.
Por sua vez esta nóvel Companhia, em 1926, associa-se à "Beira Works", firma britãnica sedeada em Londres e dirigida pelos mesmos administradores da "The Port of Beira Development Corporation Ltd." e que apenas se regia pela legislação britânica. Em Julho de 1926 a "Beira Works" transfere para a "The Port of Beira Development Corporation Ltd." todos os seus direitos, deveres e garantias, o que englobava a construção do cais, lançamentos de impostos sobre a actividade desse mesmo cais, criação de tarifas, dragagens e livre disposição dos seus produtos, entre outros fins.
Ou seja, era o completo domínio do porto por uma Companhia estrangeira, independente do Governo Português. Mas acaba por ser o Governador dos Territórios da Companhia de Moçambique, o Comandante Henrique Corrêa da Silva (Paço d´Arcos) quem alerta para tal facto o Governo Português. A questão ficou resolvida após negociações nas quais o Governo Português obrigou a Companhia de Moçambique a resgatar o porto dez anos após a sua construção ficando, até lá, a exploração do mesmo entregue à "Beira Works" e tendo a "Companhia do Porto da Beira" como intermediária.
No dia 01 de Janeiro de 1949 é que, em definitivo, o porto da Beira ficou na plena posse soberana do Estado Português, tendo a entrega do porto sido efectuada na sala das sessões da Junta Consultiva da Província, através da leitura da acta que se transcreve: " Às zero horas do dia um de Janeiro de mil novecentos e quarenta e nove, conforme a notificação oportunamente feita pelo Governo Português à Companhia do Porto da Beira, o representante desta Companhia, António Gomes Frois, entrega e o Director dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes da Colónia - em representação do Governador-Geral - recebe o porto da Beira e os poderes de Admnistração e Exploração que pela concessão às Companhias eram dados, bem como todos os trabalhos executados, incluídos os trabalhos complementares autorizados e apetrechamentos executados e autorizados adquiridos pela "Beira Works Limited" e também os trabalhos adquiridos directamente pela "Companhia do Porto da Beira" constantes da relação anexa, que vai assinada pelos representantes do Governo e da Companhia. Salvaguarda-se o seguinte: as operações relativas aos navios que tiverem iniciado antes das zero horas de um de Janeiro de mil novecentos e quarenta e nove continuarão até final a serem executadas pela "Companhia do Caminho de Ferro da Beira", cabendo a este e à "Beira Works" as receitas respectivas, mas pagando estes à Administração dos Portos e Caminhos de Ferro da Colónia e à Capitania do Porto as despesas com o pessoal e serviços que por eles foram prestados a esses navios a partir daquela data. Declara-se que o estatuído neste auto em nada afectará os direitos e obrigações do Governo Português, da "Beira Works Limited" e da "Companhia do Porto da Beira".
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* - Já fichado.

** - A abrir ficha



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Leituras


Sobre a "questão do porto da Beira" (acima fichado) foi Henrique Corrêa da Silva, Governador dos Territórios de Manica e Sofala, então geridos pela Companhia de Moçambique, quem alertou o Governo Português para a trama que se estava a desenrolar para retirar da total soberania deste a gestão do porto da Beira, e que acabaria por ficar nas mãos de interesses britânicos.


O escritor Joaquim Paço d´Arcos (1908/1979), filho de Henrique Corrêa da Silva estava, entre 1925 e 1927 (quando a questão do porto da Beira se desenrolou) em Moçambique, na companhia do seu pai e foi testemunha de tudo o que se passou.



Capa do livro "Herói derradeiro"
O fotografado é Carlos Sobral


Em 1931, com 23 anos de idade escreve, em França, o seu primeiro romance, precisamente "Herói derradeiro" (Bertrand Editora, reedição de 1997, 334 págs.) que é, para além duma homenagem ao lusitanismo do seu pai, um repositório memorial da sua vivência naquelas terras moçambicanas, em geito de romance e onde, misturando ficção com factos reais, relata não só partes deste assunto como também outras histórias de personagens nativas e europeias que deixaram a marca da sua pegada vivencial.


Não sendo um romance histórico é, no entanto, um romance cuja mescla de ficção com realidade e de personagens inventadas com personagens reais, descreve-nos todo um estilo de vida colonial do princípio do século XX.



O romance tem como personagem central Carlos Burnay da Cruz Sobral (1891- 26.11.1926) o "Herói derradeiro"; desportista que foi em Portugal, tendo praticado boxe, esgrima, natação e futebol (entre outros desportos) e que em 1920 foi para Moçambique para trabalhar na Companhia de Moçambique. Inveterado caçador de caça grossa neste território, acabou por morrer vítima de ferimentos causados na luta corpo a corpo que travou com o décimo terceiro leão que tentou abater. 


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Poesia


Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira - (Barcelona, 20/03/1922 - Lourenço Marques, 30/06/1959). Poeta. Filho do famoso jornalista Reinaldo Ferreira (o célebre Repórter X) chega a Moçambique em 1941, vindo de Lisboa, graças a uma "carta de chamada" e a um "termo de responsabilidade"(1) assinados por Luís Homem de Gouveia, comerciante estabelecido na capital laurentina. No ano seguinte completa o 7º ano liceal, após o que ingressa no funcionalismo público colonial, recebendo a protecção laboral do Director-Geral dos Serviços de Administração Civil da Colónia, Juvenal de Carvalho.





Com uma actividade literária prolífera desenvolveu a  mesma no jornalismo, no teatro e na rádio. Entre 1947 e 1949 publica, em diversos jornais, os seus primeiros poemas. Em 1950 torna-se o autor da letra da canção "Uma  casa portuguesa" que, interpretada inicialmente pela cantora Sara Chaves, cedo se torna num êxito internacional. Dirigindo a secção de teatro do Rádio Clube de Moçambique** começa a trabalhar nos seus "Poemas Infernais".


Em finais da década de 50 detecta-se a doença que o ceifaria e prepara a sua colectânea de poesia "Um voo cego a nada". Tendo-se deslocado à África do Sul, a tratamentos, volta em Maio de 1959 desiludido, falecendo no mês seguinte, vitimado por cancro pulmonar. A morte, que cedo lhe ceifou a vida que ele viveu até mais não, não lhe permitiu ver nenhum livro seu publicado.




No primeiro aniversário da sua morte publicou-se toda a sua obra, compilada em poemas, sob o patrocínio do Governo-Geral de Moçambique. Dois anos mais tarde "Poemas" recebe a sua primeira edição fora de Moçambique e, em 1965, em sua homenagem é criado, em Lourenço Marques, o Grupo de Teatro e Poesia Reinaldo Ferreira, que manteve uma actividade cultural até à data da independência do território.




Capa do livro "Poemas" (Vega e Herdeiros do Autor, 1998, 201 págs.)



O livro "Poemas" condensa toda a poesia de Reinaldo Ferreira, encontrando-se o mesmo dividido em quatro partes: Livro I: "Um voo cego a nada"; Livro II: "Poemas Infernais"; Livro III: "Poemas do Natal e da Paixão de Cristo" e Livro IV: "Dispersos", sendo ainda prefaciado por Guilherme de Melo* e com uma análise de José Régio.


Reinaldo Ferreira nunca foi um poeta moçambicano ou de Moçambique. Nunca se deixou capturar pela envolvência tropical que abundantemente o cercava, na capital da colónia. Reinaldo Ferreira, que nunca se deixou africanizar é, por isso mesmo, considerado o poeta mais português que viveu em Moçambique e, se tem ido viver para outra colónia portuguesa, teria sido o mesmo que ali fora: um furacão da cultura que não se deixou marcar mas que marcou.



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* - A fichar.
(1) - Carta de chamada e termo de responsabilidade - Eram documentos exigidos pelas autoridades de Lisboa, para permitirem que os portugueses da metrópole se instalassem nas colónias. Estes documentos teriam que ser passados por agregados familiares que estivessem devidamente estabelecidos na colónia para onde o metropolitano pretendia emigrar, serem de índole idónea e de bons costumes e garantindo emprego e alojamento ao indivíduo sobre quem se responsabilizavam. Esta imposição tinha por efeito dificultar a emigração de metropolitanos para as colónias pois estas, apesar de serem consideradas territórios portugueses, não interessava ao poder de Lisboa que se desenvolvessem demasiado, a fim de não se criarem "novos Brasis", num claro receio que o seu natural desenvolvimento, com a chegada de novos colonos, fizessem nascer sentimentos nacionalistas que levassem à separação da Mãe-Pátria.

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Seguem-se três dos poemas que mais admiro na obra deste artesão da palavra:


A que morreu às portas de Madrid

A que morreu às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
Teve a sorte que quiz,
Teve o fim que escolheu.

Nunca, passiva e aterrada, ela rezou.
E antes de flor foi, como tantas outras, pomo.
Ninguém a virgindade lhe roubou
Depois dum saque - antes a deu
A quem lha desejou,
Na lama dum reduto,
Sem náusea mas sem cio,
Sob a manta comum,
A pretexto do frio.

Não quiz na rectaguarda aligeirar,
Entre champanhe, aos generais senis,
As horas de lazer.
Não quiz, activa e boa, tricotar
Agasalhos pueris,
No sossego dum lar.
Nunca sonhou minorar,
Num heroísmo branco,
De bicho de hospital,
A aflição dos aflitos.

Uma noite, às portas de Madrid,
Com uma praga na boca
E a espingarda na mão,
À hora tal, atacou e morreu.

Teve a sorte que quiz
teve o fim que escolheu.


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Um cavalo de várias cores


Quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa, que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.

Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva - nimbos e cerros -
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.

Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.

Deixem que eu parta, agora, já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como partir sózinho
Sem um cavalo de várias cores?



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Sobre este belíssimo poema "Um cavalo de várias cores" logrei localizar (no Youtube) uma declamação do mesmo, dita por Luís Gaspar, que também produziu o referido vídeo.






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Menina dos olhos tristes


Menina dos olhos tristes
O que tanto a faz chorar?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Senhora de olhos cansados,
Porque a fatiga o tear?
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Vamos, senhor pensativo,
Olhe o cachimbo a apagar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

Anda bem triste um amigo,
Uma carta o faz chorar.
- O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.

A Lua, que é viajante,
É que nos pode informar.
- O soldadinho já volta,
Do outro lado do mar.

O soldadinho já volta,
Está quase mesmo a chegar.
Vem numa caixa de pinho.
Desta vez o soldadinho
Nunca mais se faz ao mar.

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Este último poema foi, mais tarde, excepcionalmente musicado por José Afonso e aproveitado como pano de fundo, para servir como uma das várias bandeira na luta política contra a persistência do Estado Novo em travar as guerras africanas.



(Nota: Retirado do Youtube)


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Aconteceu
Mia Couto, escritor moçambicano, galardoado com o Prémio Eduardo Lourenço atribuído pelo Centro de Estudos Ibéricos, recebeu o mesmo no dia 27 de Abril, na cidade da Guarda. (Visão nº 999)
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No Oceano Pacífico encontra-se à deriva um conglomerado de lixo, essencialmente constituído por plástico, que abarca de 1,7 a 3,4 milhões de quilómetros quadrados de superfície e que é  referido por "7º Continente". (Visão nº 999).
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"A soberania nacional nunca é uma licença para massacrar o seu próprio povo.", disse Barak Obama condenando o regime sírio (Visão nº 999). Por baixo desta frase uma outra notícia dava conta que a tribo Awá, da Amazónia brasileira está em vias de desaparecer, fruto da acção predatória das indústrias madeireiras mineiras e criação de gado que provocam a desflorestação (Visão nº 999).
Não sei porquê, salvo as devidas proporções, dei-me a interligar as duas notícias.
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Lançado em San Diego (Califórnia - EUA) um canal televisivo só para cães, o Dog TV, para interagir com estes animais. (Sábado nº417). Há malucos para tudo.  

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À memória de...


Não gosto, na generalidade, da classe política portuguesa. A maioria das vezes enojam-me. Apetece-me pegar numa metralhadora e fuzilá-los quando os vejo na televisão, em mesas redondas, a "cagarem postas de pescada", armados em doutores da treta e a debitarem receitas como salvar este desgraçado País. Quando foram eles que transformaram Portugal num moderno Titanic.


Eles são a prova que o crime compensa. E nós... nós somos cúmplices porque votamos neles. Não aprendemos as lições.


Mas há excepções. Felizmente. Poucas, mas há.


Lamentavelmente, uma das poucas excepções à mediocridade que grassa no nosso espectro político, morreu. Chamava-se Miguel Portas. Era um Homem de causas. Frontal. Apesar de não concordar com algumas tomadas de posição dele reconhecia-lhe cátedra para falar. E dei-me sempre a escutá-lo. E a meditar.


Morreu Miguel Portas. Todos nós, os honrados, morremos um bocadinho.

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As referências a marcas de produtos acima referidos são incompatíveis com intuitos publicitários. 

Seja amigo do ambiente. Utilize os textos do Novo Acordo Ortográfico como papel higiénico.


Todas as fotografias do presente texto foram colhidas do Google Imagens.

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domingo, 22 de abril de 2012

Francis Galton

Viajantes, aventureiros e exploradores

Francis Galton - (Birminghan, 16/02/1822 -  Surrey, 17/01/1911). Explorador, psicólogo, geógrafo, meteorologista, inventor e cientista. Um dos mais brilhantes cérebros britânicos que atravessaram o século XIX, dotado dum coeficiente de inteligência elevadíssimo. Filho de famílias quacker, depois de se ter iniciado nos estudos de medicina interrompeu estes e estudou matemáticas no Trinity College de Cambridge.



Após os estudos viajou pela Europa continental(1840) visitando a Alemanha, Áustria, Itália, Turquia e Grécia, viagem esta que despertou, nas suas palavras, "... uma paixão por viagens como se eu fosse uma ave migratória". Após o falecimento do seu pai vê-se herdeiro duma fortuna que lhe desafoga a vida economicamente e lhe permite dedicar-se à sua paixão pelas viagens. Assim a sua próxima etapa (1844) foi o Médio Oriente, pelo que foi para o Egipto, tendo descido o rio Nilo até Cartum, no Sudão. De seguida visitou a Palestina e a Síria. 


Em 1850 desembarca no Sudoeste Africano (então Damaralândia, actual República da Namíbia), um território quase completamente desconhecido pelo homem branco e tenta, de Walvis Bay abrir uma rota para o Lago Ngami por Oeste. Este lago  (situado na Bechuanalândia, actual Botswana), apesar de já haver referências de europeus ao mesmo em 1791,  fora redescoberto por David Livingstone,  a 01 de Agosto do ano anterior e localizava-se a noroeste do deserto do Kalaári, tendo o explorador missionário chegado lá depois duma violenta caminhada, onde quase encontrara a  morte. 



(A chegada de David Livingstone ao lago Ngami)


Depois de duas árduas tentativas, que resultaram sempre infrutíferas, Francis Galton, com a saúde minada por doenças tropicais, vê-se obrigado a desistir e retorna à Grã-Bretanha. Nas suas viagens registava todo ambiente envolvente das terras por onde passava, quer pessoas, quer a geografia do território, clima, usos e costumes, vestuário, gastronomia, o que o tornou num viajante/explorador extremamente credível. Fruto destas viagens exploratórias e dos seus escritos foi eleito membro da restrita Real Sociedade de Geografia de Londres (1853). 


Destas viagens escreveu os livros "Narratives of an explorer in tropical South Africa" e "The art of travel" que se tornaram, na época, em bíblias dos viajantes, de leitura obrigatória para todos aqueles que se pretendessem partir à aventura. Sobre, por exemplo, como lidar com uma mordedura de cobra, ensinava: "Ata-se um cordel firmemente por cima da parte afectada e coloca-se uma substância cáustica o mais depressa possível. Ou, na falta dessa substância, queime pólvora na ferida; ou então faça o que o senhor Mansfield Parkins sugere muito acertadamente, ou seja, corte com uma faca e depois queime o rebordo da ferida com o ponta da vareta de ferro da espingarda, aquecida o mais próximo possível da chama. As artérias estão fundas e muita carne pode, sem grande perigo, ser cortada ou queimada. O passo seguinte é usar a maior energia e até crueldade, para evitar que o paciente se entregue àquela letargia e sonolência que é o efeito normal do veneno de cobra e que vezes demais determina a morte." (Art of travel, London, 1855).


De regresso à Grã-Bretanha lança-se nos estudos da meteorologia criando, pela primeira vez, mapas meteorológicos e inventando instrumentos de leitura e medição do tempo precisos e publicando o livro "Meteorographica" (London, 1863) e criando o vocábulo "anticiclone" após ter proposto uma teoria sobre a existência dos mesmos. Dispersou a sua atenção numa multiplicidade espantosa de várias áreas, tais como beleza; saúde; moda; foi um dos fundadores da introdução do estudo das impressões digitais no Reino e da sua eficácia no combate ao crime, tendo publicado o livro "Finger Print" (London, 1893); religião; actividades desportivas; tendo ainda registado inventos dum periscópio; dum sistema de abertura de cadeados e dum modelo de impressora de teletipo. Sobre religião relata-se que Francis Galton percorria todas as igrejas londrinas a estudar o tédio que as homílias dos padres causavam nos paroquianos, contabilizando os bocejos destes, a sonolência e o andar arrastado dos pés, acabando por desenvolver a sua teoria da impotência das orações para conseguirem qualquer favor divino.






Não se ficando por aqui fundou e desenvolveu o conceito da eugenia (1865), após aturados estudos sobre e génese humana, factores de hereditariedade e de inteligência, estudos esses baseados em questionários por si criados e desenvolvidos que, segundo as suas teses, levaria a uma melhoria da condição humana através duma selecção artificial. No seu livro "Hereditary genius" (London, 1869) defendia que as capacidades físicas e intelectuais das pessoas eram hereditárias, definindo a eugenia como "o estudo dos meios que sob o controlo social podem melhorar ou detiorar física ou intelectualmente a qualidade da raça nas gerações futuras".


Assim, tal como muitos filósofos e pensadores elitistas da época, Francis Galton acreditava que a raça humana poderia evoluir mais depressa se se evitassem uniões indesejáveis. Para tal advogava o casamento entre pessoas de intelecto superior, propondo a elaboração de testes de inteligência para unir casais brilhantes, de molde a evitar o nascimento indesejável de seres de inteligência inferior.  Ou seja, a partir duma paternidade selectiva conseguia-se o apuramento biológio do ser humano.


Primo de Charles Darwin, outra mente brilhante daquela época vitoriana, deixou uma multiplicidade de artigos científicos e de livros escritos, tendo sido, por diversas vezes, condecorado. Em 1909 foi armado Cavaleiro do Império Britânico.


Historiando Moçambique Colonial




Álvaro Velho - Marinheiro. Desconhece-se a sua data de nascimento, presumindo-se que tenha nascido no Barreiro ou em Alcochete. Admite-se também que pudesse ter sido um lançado* e o presumível autor do diário de bordo que relatou a primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, a famosa "Relação da viagem de Vasco da Gama". Em Março de 1498, no decurso dessa mesma viagem, terá acompanhado Nicolau Coelho** na exploração e sondagem da zona Norte do Canal de Moçambique. 

Desconhecem-se, até hoje, quaisquer registos sobre a sua vida sendo de admitir que, no regresso desta viagem histórica não tenha chegado a Lisboa, mas sim ficado na costa ocidental africana, na zona da actual gâmbia ou Serra Leoa. Há quem adiante que isso se deveu ao facto dele ser um lançado* e, assim, ter que cumprir a missão para a qual fora destinado na altura do embarque, ou por ter sido acometido dalguma doença. 

A razão porque se admite que ele possa ser o autor da "Relação da Viagem de Vasco da Gama" deve-se ao facto desta crónica da viagem terminar abruptamente quando os navios, de regresso ao reino, circulavam naquela costa ocidental africana, onde ele terá sido desembarcado.

De qualquer modo pode-se considerar Álvaro Velho como o primeiro cronista europeu em terras do actual Moçambique.

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Sisnando Dias Baião - (? - 1647?) - Prazeiro, explorador e conquistador do interior moçambicano. Também ficou conhecido pelo nome nativo de "Mossuampaca", sendo desconhecida a sua localidade e data de nascimento. Sendo nomeado Capitão de Feira de Sena e Rios de Cuama, não só derrotou como submeteu para a Coroa Portuguesa as tribos revoltosas da zona de Morrumbala. Em 1640 auxilia Peranha a reconquistar o poder no Reino do Quiteve* e, fruto disso, é recompensado com o prazo* de Cheringoma.

Em 1644, em missão de  auxílio ao Reino do Monomotapa* chefiou, com êxito, uma incursão que o levou das regiões de Tete ao Reino do Butua*. Neste Reino, rico em minas auríferas, auxiliou o Rei local a debelar uma guerra civil tendo instalado diversos postos militares, ficando conhecido como o "Conquistador da Mãe do Ouro".

No regresso a Sena terá sido assassinado, por envenenamento, na feira de Luanze e as suas conquistas militares não lhe sobreviveram, já que foram desmanteladas todas as guarnições criadas. No entanto, esta sua actividade bélica, permitiu o conhecimento geográfico daquele território e a implantação de outros prazeiros, abrindo caminho à penetração portuguesa.

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Rios de Cuama - Antigo nome do rio Zambeze e da sua bacia hidrográfica. A sua exploração intensiva ter-se-á iniciado a partir de 1530, tendo-se acabado por criar as suas principais feitorias em Sena e Tete, com o fim de melhor captarem as riquezas do Reino do Monomotapa, bem como a de Quelimane, em 1544, com o fito de quebrar a hegemonia comercial suaíli do Sultanato de Angoche**.

O arranque do sistema de prazos, no início do século XVII, veio a fixar, definitivamente, os portugueses nas suas margens. O nome de "Rios de Cuama" vem, mais tarde, a alterar-se para Rios de Sena, onde se cria uma Capitania que, por sua vez, será substituído pelo topónimo "Zambézia", em diploma datado de 1858.

Capitania dos Rios de Sena - Anteriormente referida por "Rios de Cuama" era uma área geográfica que, até meados do século XVIII, englobava o triângulo composto por Beira**, Quelimane e Tete, tendo esta última localidade como capital. Abarcava, deste modo, as margens do rio Zambeze.Em 1858 é extinta a Capitania dos Rios de Sena, passando a chamar-se o território,até aos dias de hoje, de Zambézia.

General dos Rios - Título que, por vezes, se atribuía a alguns fidalgos que exerciam o cargo de Capitão-Mor dos Rios de Sena, no decurso do século XVIII. Não se consegue listar os nomes dos Generais dos Rios de Sena que existiram, sabendo-se dos seguintes: em 1701 - José Fonseca Coutinho; em 1752 - Roberto Tomé de Magalhães; em 1759 - Caetano de Sá Botelho; em 1762 - Marco António de Azevedo Coutinho e, em 1783 - António de Melo e Castro.
  
Rio dos Bons Sinais - Nome com que Vasco da Gama baptizou o rio que desagua em Quelimane, durante a sua primeira viagem marítima, em Janeiro de 1498, por ter notado que a população ali residente era islamizada sendo, assim, bons sinais indiciadores de que estavam a chegar à Índia ou à sua zona de influência, conforme relata Álvaro Velho, na sua "Relação...": "E aqui... e ao rio demos o nome de Bons Sinais."

Quelimane - Os árabes já aqui se encontravam instalados há séculos, quando os portugueses chegaram e aportaram, em 1498, durante a primeira viagem de Vasco da Gama com destino à Índia. "E um deles trazia uma touca posta na cabeça, com uns vivos lavrados em seda e o outro trazia uma carapuça de cetim verde. Isso mesmo vinha em sua companhia um mancebo que, segundo eles acenavam, era de outra terra, daí longe e dizia que já vira navios grandes como aqueles que levávamos.", conforme relata Álvaro Velho, na "Relação da Viagem de Vasco da Gama". Por sentir bom prenúncio no caminho que estava a tomar, baptizou o rio que ali desaguava como de "Bons Sinais".
Tendo-se iniciado a exploração da bacia do rio Zambeze a partir de 1529/30, os portugueses trataram de ali criar uma feitoria, em 1544, com a dupla finalidade de servir de receptáculo às mercadorias vindas de feitorias interiores (Sena e Tete), bem como de quebrarem o circuito comercial da feitoria suaíli de Angoche**.

Com o evoluir da fixação portuguesa ao longo do rio Zambeze e do interior da Zambézia, fruto da política dos prazos*, Quelimane perdeu o seu estatuto de feitoria, evoluindo para uma das mais importantes localidades de Moçambique, como capital da Zambézia, tendo atingido o seu apogeu ao longo do século XIX, quer como entreposto negreiro quer como centro social dos prazeiros.

Em 09 de Maio de 1761 é elevada a vila e, com o findar da política dos prazos, Quelimane perdeu o seu estatuto hegemónico, que se veio a acentuar ainda mais com o posterior findar da escravatura. A 21 de Agosto de 1941 foi elevada ao estatuto de cidade.

Terra da Boa Gente - "E asssim a esta terra pusemos o nome Terra da Boa Gente e ao rio do Cobre..." É, deste modo, que Álvaro Velho se refere, na "Relação da Viagem de Vasco da Gama", à zona onde, pela primeira vez, a Armada de Vasco da Gama, aportou na actual costa moçambicana, entre 10 e 15 de Janeiro de 1498 e reportando-se à boa recepção que os marinheiro tiveram por parte dos nativos locais, que lhes facultaram água e alimentos, sempre com relacionamento pacífico. Também é referido que Vasco da Gama terá denominado aquela zona como "Aguada da Boa Paz". 

A zona e o rio em causa terá sido Inharrime, se bem que esta localização geográfica não seja pacífica entre alguns historiadores, apontando uns para o rio Limpopo, outros para o rio Santa Luzia, no Natal - África do Sul; e outros numa área frontal ao arquipélago do Bazaruto, não se esgotando aqui as várias hipóteses. Na tradição portuguesa assentou-se chamar Terra da Boa Gente à actual cidade de Inhambane, terminologia essa que se popularizou e ainda hoje se mantém. 

* - Já fichado.
** - A fichar.
  

Aconteceu

Guiné-Bissau: O Tenente-Coronel Daba Na Walna é o porta-voz dos militares guineenses que se revoltaram contra o poder democrático que estava instalado naquele País (?), no meio duma eleição presidencial que estava a decorrer. Tudo isto já sabemos, mais a palhaçada dos partidos da oposição a aplaudirem agora este golpe de estado militar, efectuado ao arrepio das mais elementares normas de bom senso democrático. 

Mas o que desejo referir é o facto de ter lido (Público, 20/04) que o referido Tenente-Coronel Daba Na Walna é licenciado pela Faculdade de Direito de Bissau e tirou o Mestrado na Faculdade de Direito de Lisboa.

Sobre a Faculdade de Direito de Bissau não me posso pronunciar, mas calculo o quilate de juristas que lá devem formar (ou deformar ou formatar). Deve ser ... deve. Sobre a Faculdade de Direito de Lisboa, para lhe ter atribuído o Mestrado... ah, isso não me admira nada. Conhecendo eu pessoas amigas que lá andaram a estudar (digamos isso) e o que lá aprenderam, mais diria que fiquei com a sensação que aquela universidade era mais um posto avançado das "Novas Oportunidades".

E, se calhar, foi assim que atribuíram ao nosso iluminado Tenente-Coronel o Mestrado de Direito. Tudo em nome da lusofonia, dos complexos de esquerda e para nos redimirmos de 500 anos de termos andado a escravizar estes pobres intelectualóides.

Será que o ter andado na Universidade (será que andou mesmo?), ainda por cima em Direito, não lhe ensinou nada? Que em democracia não se justificam golpes de estado? Que o tráfico de droga é um crime?  

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"Cientistas conseguem fazer crescer pêlos em ratinhos carecas" (Público, 20/04). O que eu gostava de ler era que cientistas conseguiam fazer crescer dinheiro nos meus bolsos.

Está a acontecer

Hoje comemora-se o Dia da Terra (não reconhecido pela ONU). Façam-me um favor: amem este planeta.  

Vai acontecer
Assinala-se o Dia Mundial do Livro, a 23 de Abril. Façam o favor a vocês mesmos: leiam um livro.

A Feira do Livro de Lisboa começa a 24 de Abril. No sítio do costume. Façam um favor a vocês mesmos: visitem-na mais que uma vez e comprem sempre um livro. 

A Festa da Liberdade (que deve ser todos os dias) está aí a chegar. É no glorioso 25 de Abril. Façam um favor a vocês mesmos: comemorem-na de alma e coração.


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A 55ª Edição da World Prees Photo vai estar patente no Museu da Electricidade, em Lisboa, de 27 de Abril a 20 de Maio próximo.


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Uma questão de Direitos Humanos

Em São Paulo (Brasil), vai ser inaugurado, no próximo dia 30/04, o primeiro hotel exclusivo para "homens gays e solteiros" (sic). Mulher que se queira hospedar lá paga uma tabela diária muitíssimo agravada, porque "não são benvindas" (sic) sendo, em valores aproximados no câmbio de reais para euros, de 47 euros para homens e 4.800 euros para mulher (DN, 22/04).




Hum... está bem. Mas, pergunto eu, que sou um bocadito (bocadito é favor) lerdo nestas merdicolies dos mariconeros: se eu inaugurasse um hotel só para heterossexuais, por exemplo, caía-me o Carmo e a Trindade em cima, por descriminar os ... gays e bichanada afins, não? E, já agora, que tal inaugurar um hotel só para clientes pretos, por exemplo? Ou para clientes ateus, porque não? Já não há pachorra para a paneleirada.



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Frases de anónimos

Se um dia sentires um grande vazio dentro de ti... come. É porque tens fome.

A verdadeira felicidade está nas pequenas coisas: uma pequena mansão, um pequeno iate; uma pequena fortuna...

Peixe que luta contra a corrente... morre electrocutado.

Aquele que ri por último... é porque pensa mais lentamente.

Se a montanha vier ao teu encontro... foge. É um deslizamento de terras, porra.

Ter a consciência limpa é sinal de má memória.


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Imagens retiradas do Google Imagens.


Seja uma pessoa culta e educada. Mande o Acordo Ortográfico à merda.

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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Gertrude Caton-Thompson

Viajantes, aventureiros e exploradores

Gertrude Caton-Thompson - (Londres, 01/02/1888 - Worcestershire, 18/04/1985) - Arqueóloga. Tendo efectuado os seus estudos em Londres e Paris, acompanha a sua progenitora, em 1911, numa viagem ao Egipto,viagem essa que a irá marcar, definitivamente, na sua paixão pelo estudo das civilizações antigas. Após a I Guerra Mundial, e depois de ter participado na Conferência de Paz, que se realizou em Paris (1919), inicia a sua actividade de arqueóloga em 1920, no Sul de França e, entre 1921 e 1924, encontra-se em Malta e no biénio 1924/26 no Egipto, novamente envolvida em estudos (Escola Britânica de Arqueologia) e escavações (em Abydos e Oxyrhinchus).


Em 1928 é contratada pela British  Association for Advance of Science para elaborar um relatório sobre a origem das ruínas da cidade de pedra situada na Rodésia do Sul (actual Zimbabué) e que tinham sido descobertas por Karl Mauch*. Contratando uma equipa de arqueologistas, composta só por elementos femininos, lança-se ao trabalho com bastantes dificuldades, principalmente porque as ruínas tinham sido esventradas ao longo dos anos quer por outros arqueólogos quer, principalmente, por caçadores de tesouros, que acabaram por destruir importantes vestígios. Acabando por utilizar uma avioneta, para melhor visualizar todo o terreno envolvente às ruínas, logra descobrir uma zona que, por estar tapada por densa vegetação, escapara à sanha dos caçadores de tesouros.

Foi nesta área que Gertrude Caton-Thompson e a sua equipa de arqueólogas traz, à luz do dia, entre diversos artigos uma quantidade apreciável de artefactos de cerâmica e de contas de vidro que lhe permitem consolidar uma tese sobre as origens da construção das ruínas. Apresentando o seu relatório em 1929, na cidade de Joanesburgo determina, nas suas conclusões, que a cidade de pedra (zimbaué) era de origem africana e tivera a sua vida no período compreendido entre os séculos IX e XIII, sendo a mesma ponto de chegada e de partida de caravanas árabes que a ligavam ao litoral índico a comerciarem, o que a tornou no centro duma grande civilização africana, que ficaria conhecida como Reino do Zimbabué.

Afastando qualquer hipótese de intervenção de alguma civilização branca na construção daquela cidade, Gertrude Caton-Thompson criou uma ruptura com a mentalidade colonial vigente na época, que não concebia que os negros conseguissem construir o que quer que fosse que ultrapassasse a simples palhota. 

De regresso a Londres apresenta, de novo, o seu famoso relatório no Museu Britânico, onde volta a causar polémica com as suas conclusões. Depois de ter trabalhado no oásis de Kharga (Egipto, 1930/32), encontra-se no Iémen (1938) onde, no desempenho da sua actividade arqueológica, tenta encontrar elos de ligação entre artefactos daquela zona com os achados nas ruínas da cidade de pedra da Rodésia do Sul, principalmente na área da arquitectura, arte e cantaria, mas sem nunca ter conseguido estabelecer tal ligação. Destruía assim, de vez, os sonhos daqueles que tentavam ligar as ruínas zimbabuanas a depósitos de tesouros da mítica Rainha iemenita Balkis que, como amante do Rei Salomão, gerara um filho e ajudara na construção fantasiosa da lenda dos judeus negros e das suas migrações pelo Sul do continente africano.

Retornando à Grã-Bretanha exerceu funções docentes em faculdades, quer em Cambridge (Newnham College) quer em Londres (Bedford College e Escola de Estudos Orientais e Africanos).

* - Já fichado.

Historiando Moçambique Colonial


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Arquipélago do Bazaruto - Este arquipélago cujas  ilhas eram, antigamente, chamadas de Bocicas e que se encontram orientadas, sensivelmente, no sentido Norte/Sul, foi doado à Coroa Portuguesa pelo Régulo Micissa, em 1722, como forma de permuta pelo auxílio que recebera desta.

O arquipélago, que se encontra sensivelmente a 15 milhas do continente, compõe-se duma série de ilhas que se apresentam como uma fiada dum grande colar de pérolas e que são: Bangué, Chirundure ou Tumulene, Lunene (que também era referida por "ilha das casuarinas"), Magaruke, Benguèrua, Bazaruto (ou Bazaruto Grande) e Santa Carolina.


Nunca tendo figurado no mapa das preocupações dos portugueses, só em 1855 é que a administração colonial instalou, no arquipélago, uma colónia presidiária denominada "Estabelecimento D. Pedro V", na ilha de Santa Carolina, dotada duma pequena guarnição militar e também duma alfândega, tendo a mesma servido de prisão a indivíduos considerados perigosos e centro de fixação de deportados. A título de curiosidade refira-se que, nesta ilha de Santa Carolina, em 1930, era a mesma habitada apenas por uma só pessoa, um nativo de nome Mafundiça, com cerca de cem anos de idade e que tinha por missão acender o farolim ali existente e que era subsidiário do farol da ilha do Bazaruto, para efeitos de alumiamento da costa.

Frei João dos Santos** refere na sua "Etiópia Oriental" a riqueza deste arquipélago em pérolas, tendo mesmo os seus bancos perolíferos sido alvos duma intensa actividade predadora ao longo dos séculos e que acabaram por raziar os mesmos, actividade essa que era controlada a partir da ilha de Chiloane. Os bancos madrepóricos mais ricos do arquipélago e que, por isso, foram alvo de intensivas depredações, eram os bancos Inhassôro; Macondo, Chirure, Serpa Pinto, Benguérua e São Sebastião.

Em 1891, por inciativa de Serpa Pinto*, é fundada a Companhia das Pérolas do Bazaruto, que encarrega Guilherme Ivens Ferraz de efectuar estudos sobre as possibilidades económicas da apanha e exportação da actividade perlífera. No entanto a actividade já não era economicamente rentável, o que veio a confirmar-se por estudos posteriores, levados a cabo pelo General Morais Sarmento, pelo que esta Companhia passou os seus direitos para a Companhia do Luabo. Esta Companhia também acabou por se desinteressar da exploração económica da actividade perolífera pelo que transaccionou os seus direitos para a Companhia de Moçambique*. No século XIX, o arquipélago também exportou cal para a ilha de Chiloane, cal esta que era fabricada com a casca das ostras, bem como também se apanhava âmbar pardo**.

Outra curiosidade deste arquipélago era a circulação, até 1893, duma espécia de moedas, conhecidas por chudos ou mujenas**. Rica em pescado, marisco e pérolas, o arquipélago esteve sempre em estado letárgico e só na recta final da presença lusa em Moçambique (década de 60) é que se desenvolveram as suas potencialidades do turismo e ecológicas. Assim, em 1971, criaram o Parque Natural Marinho, nas ilhas de Benguera, Magaruke e Bangué, e as ilhas de Bazaruto e Santa Carolina ficaram classificadas como de Vigilância Especial.


Dotado dum sistema ecológico muito específico, onde é possível encontrar espécies animais extintas noutras parte do planeta, estas ilhas são um paraíso que ainda hoje em dia se mantêm, tendo-se tornado num dos pontos de elite do turismo índico.

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Ilha de Bangalane - Situada na baía de Lourenço Marques, na foz do rio Incomáti, só em 1862 é que foi definitivamente ocupada pelos portugueses. Até à sua instalação definitiva, serviu de palco a diversas lutas entre portugueses e forças de régulos inimigos, tal como por exemplo, em 1848, em que forças do Régulo Mapunga, da Magaia, degolaram uma pequena força militar portuguesa composta por um oficial e três soldados e, dez anos mais tarde, forças do Régulo Cobete, também da Magaia, derrotaram outra pequena força militar portuguesa, composta por um oficial e quatro soldados, que acabaram afogados, na tentativa de fuga para o continente.


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Ilha de Chiloane - Situada na foz do rio Save, perto de Sofala, servia, a partir do século XVI, de entreposto comercial para resgate do ouro e marfim.

Sem grande importância estratégica, quer militar ou marítima serviu, no entanto, a partir de meados do século XIX, de refúgios aos habitantes de Sofala, receosos das investidas das gentes de Muzila pelo que, abandonando aquela localidade, muitos deles instalaram-se nesta ilha que, no entanto, nunca atingiu nenhum tipo de desenvolvimento económico.


Também era nesta ilha que se encontravam os principais agentes económicos de origem indiana que dominavam a exploração da apanha de pérolas do arquipélago do Bazaruto.

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Xecado de Quitangonha - Localidade criada por diversos notáveis muçulmanos, em 1515, após a fixação definitiva dos portugueses na ilha de Moçambique**, como forma de se libertarem da tutela dos novos senhores. No entanto, em 1523, foram dominados por António Galvão, que lhes permitiu autonomia desde que não cortassem os fornecimentos de alimentos à ilha e não hostilizassem os portugueses.

Até finais do século XIX o Xecado conseguiu manter a sua relativa independência da administração portuguesa. No decurso do século XVIII colaboraram regularmente com as autoridades portuguesas, mantendo uma relação pacífica mas o aparecimento de negreiros franceses na sua zona, por volta de 1770, pagando bom preço por escravos, provocou um desafogo económico que levou os dirigentes do Xecado a reivindicarem a independência total, já que pretendiam monopolizar tráfico humano, na faixa compreendida entre Nacala e a baía da Condúcia.

No findar do século XVIII governava o Xeque Tuacali Hija, que desenvolveu o tráfico de escravos com a cumplicidade do Governador de Moçambique, até que em 1801 foi atacado e deposto por forças portuguesas coligadas com chefes macuas. Na década seguinte o Xeque Janfar Salim manteve uma política de relacionamento dúbia com os portugueses, até que estes o prenderam, em 1817 e o deportaram para Inhambane, onde veio a falecer em 1821.

Face à fraca administração portuguesa, também ela muitas vezes a lucrar com o comércio da escravatura, este negócio foi prosperando no Xecado, sendo mesmo a sua principal fonte de riqueza. A tentativa de derrotar e submeter o Xeque Ali Amissi Heri, que governava o Xecado em meados deste século XIX falhou, com escaramuças ocorridas entre Agosto e Setembro de 1857, tendo sido no seu consulado que se deu o apresamento da barca francesa "Charles et George"*, que provocaria um grave incidente diplomático entre Portugal e a França. Só em 1873 é que os portugueses, coligados com forças macuas e com forças de Abder Raman, que era o Vizir(1) do Xecado, conseguiram prender este Xeque e deportá-lo para Lisboa. Abder Raman acaba premiado e ascende ao poder do Xecado, mas por pouco tempo, pois acaba decapitado por um chefe macua.

Em 1884, os portugueses nomeiam Mamude Boana Amade como Xeque de Quitangonha e de Matibane, aceitando este a plena soberania lusitana. No entanto, vinte anos mais tarde, aliando-se a Farelay*, revoltar-se-á contra os portugueses, obrigando estes a formar uma coluna militar punitiva, em Março de 1904, comandada pelo Governador do Distrito, Forjaz de Serpa Pimentel que, em operações até Maio desse mesmo ano, o derrotam.

A partir daí o Xecado vai perdendo importância estratégica e económica, fruto da consolidação e expansão portuguesa no território e dos sucessivos confrontos que estalam com forças macuas e rivalidades entre os próprios membros do Xecado.


(1) - Cargo político dum estado árabe (ou arabizado), correspondente a primeiro-ministro.
* - A ser fichado.
** - Já fichado.

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Leituras

Livro: Há uns tempos atrás uma das minhas noras ofereceu-me um livro cuja leitura me tem dado imendo prazeer. Trata-se da "Caderneta de cromos contra-ataca", da autoria de Nuno Markl (Objectiva, 2011, 235 págs.). O livro, que é baseado num programa da Rádio Comercial, é uma delícia. Fez-me voltar aos idos das décadas de 70 e 80 (onde já era adulto) e relembrei-me de muitas coisas que já as tinha arquivado no sótão da minha memória. Mas que fizeram as delícias dos meus filhos e de muitos adolescentes daquelas épocas e, algumas delas, também me adocicaram a vida. O livro está dividido em  cinco secções: Comer, Brincar, Usar, Ver e Ouvir e, nestas, abrange toda uma panóplia de artigos de consumo que marcaram as nossas vidas.

A escrita é irónica, ligeira e predispõe bem o leitor, tornando esta obra não num livro em si mas numa máquina do tempo que nos transporta aos nossos tempos da inocência perdida e da adolescência vivida. 

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Acordo Ortográfico: recomenda-se a leitura do artigo que Anselmo Borges escreveu no Diário de Notícias (14/04/2012) subordinado ao título: "Acordo Ortográfico: inútil e prejudicial".

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Vídeo

Sou um apaixonado pela obra poética e musical de Pedro Barroso (PB), cantautor este que pertence à minha Santíssima Trindade Musical: Pedro Barroso, Fausto e Pedro Abrunhosa. Colhi, do Youtube, este belíssimo trabalho de PB, numa singela homenagem ao professor/poeta António Gedeão


Ainda sobre PB foi publicado, produzido pelo próprio, o DVD "Pedro Barroso - 40 anos de música e palavras", uma súmula  que abarca todo o seu período de criatividade entre 1969 e 2009, com entrevistas, fotos e 12 interpretações musicais suas. Vale a pena adquirir um exemplar deste vídeo.


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In memorian


Adriano Correia de Oliveira (Avintes, 09/04/1942 - Avintes, 16/10/1982) faria 70 anos este mês. O combate à ditadura do Estado Novo na leal militância ao Partido Comunista, fizeram-no Homem de uma só cara e cor. Mas foi na música, iniciada com um disco em 1963 que fizeram dele uma das minhas (p)referências musicais. A recordá-lo, busquei no "youtube" a "Fala do homem nascido", poemado por esse imortal António Gedeão.




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Poesia


(António) Rui de Noronha (28/10/1909 - 25/12/1943). Nasceu em Lourenço Marques (Moçambique), cidade onde também faleceu. Depois de ter feito estudos secundários tornou-se empregado ferroviário, naquela colónia portuguesa. Colaborou em diversos jornais, mas foi no "Brado Africano" que a sua poesia melhor se exprimiu. Desgostos amorosos e a desilusão de nunca ter conseguido publicar um livro, para o qual teria escolhido o título "Lua Nova") terão ajudado à sua morte prematura; ele que em vida fora um homem amargurado, introvertido e recolhido. Três anos após o seu passamento foi publicado, pela Minerva Central, parte da sua obra poética, no livro intitulado "Sonetos", numa selecção de poemas feita pelo então Professor Reis Costa mas que, posteriormente, se veio a apurar que mutilara parte dos mesmos.




Foi um  poeta de transição que, na falta duma tradição literária moçambicana, teve que se agarrar aos estereótipos portugueses do início do século XX e dar-lhe alguma roupagem de conteúdo social moçambicano, contornando a censura. Por isso Rui de Noronha é, justamente, considerado um dos percussores da nova poesia moçambicana.

Elsa de Noronha, a sua filha, declamadora ainda no activo (felizmente) tem sido a grande impulsionadora do conhecimento da obra poética do pai, atendendo a que tem um interessante espólio literário do mesmo.

Surge et ambula

Dormes! e o  mundo marcha, ó pátria do mistério.
Dormes! e  mundo avança, o tempo vai seguindo...
O progresso caminha ao alto de um hemisfério
E no outro tu dormes o sono teu infindo...

A selva faz de ti sinistro eremitério,
Onde sozinha, à noite, a fera anda rugindo.
A terra e a escuridão têm aqui o seu império
E tu,ao tempo alheia, ó África, dormindo...

Desperta. Já no alto adejam negros corvos
Ansiosos de cair e de beber aos sorvos
Teu sangue ainda quente, em carne sonâmbula...

Desperta. O teu dormir já foi mais que terreno...
Ouve a voz do Progresso, este outro Nazareno
Que a mão te estende e diz - "África, surge et ambula".

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Carregadores

A pena que me dá ver essa gente
Com sacos sobre os ombros, carregadíssima!...
Às vezes é meio-dia, o sol tão quente,
E os fardos a pesar, Virgem Santíssima.

À porta dos monhés, humildemente,
Mal a manhã desponta a vir suavíssima,
Vestindo rotas sacas, tristemente,
Lá vão espreitando a carga pesadíssima...

Quantos, velhinhos já, avós talvez,
Dez vezes, vinte vezes, lés a lés
Num dia  só percorrem a cidade!

Ó negros! Que penoso é viver
A vida inteira aos fardos de quem quer
E na velhice ao pão da caridade. 

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Aconteceu

Juan Carlos: O Rei Juan Carlos, de Espanha, foi à República do Botswana caçar elefantes e acabou por fracturar a sua anca direita, na sequência duma queda. Foi pena não ter fracturado mais nada, no mínimo. Já tem idade suficiente (81 anos) para passar uma mensagem de defesa e preservação do meio ambiente. Pode ser que um dia se vire o feitiço contra o feiticeiro e, de caçador, passe a caçado.



E o mais interessante é que a foto acima foi já retirada pela entidade organizadora, a "Rann Safaris", segundo informação que se lê na secção Pessoas do DN.


Mas, infelizmente, em relação a armas, a memória do Rei parece curta. Em 29 de Março de 1956, na "Villa Giralda", no Estoril - Portugal, Juan Carlos terá morto o seu irmão mais novo Alfonso, não propositadamente, mas por acidente ao que se terá apurado ou se entendeu apurar. Seria razão mais que suficiente para deixar as armas de lado, de uma vez por todas.


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RTP 1: Na passada quinta-feira (12/04) a nossa RTP 1 transmitiu uma tourada. É costume, é chic, é cool, é... o raio que os parta. Não sendo um extremista anti-tourada defendendo, no entanto, a abolição progressiva da mesma até ao seu desaparecimento total num espaço de tempo não muito longo; já sou um radical contra a exibição das touradas em televisões, muito mais ainda numa que vive dos meus impostos.

Alguém me consegue explicar, como se eu fosse uma criança de seis anos, qual é o orgasmo que alguém, montado num cavalo, pode ter ao espetar uma farpa longa num touro que já correu, está cansado, baba-se sedento e, ainda por cima, tem os cornos boleados, o que lhe corta as defesas? Realmente é cá duma heroicidade da treta. Para isso prefiro Espanha, onde vi espetar farpas curtas, a pé, num touro que tinha os cornos pontiagudos, intactos. Aí, ainda posso reconhecer garra ao farpeador. Apesar de também não concordar com o uso de farpas de espeto. Podiam-se perfeitamente substituir por farpas com bolas de cera com tinta que, ao tocarem na pele do touro, derramariam a mesma no seu costado.

Mas não. Há que sangrar o touro para gáudio da assistência bacoca, que bate palmas, no meio de toda aquela  fogueira de vaidades vãs. E com direito a toque de trompete. Não sei porquê, lembro-me dos Coliseu romano nos tempos augustinos e cesarianos.

Daí o meu aplauso à Catalunha e às Canárias, onde as touradas foram proibidas. E a Cidade do México vai votar, no final deste mês, a proposta de abolir as touradas. Espero que vença a proibição.
  

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Guiné-Bissau: Na República das Bananas, perdão enganei-me, na Plataforma Giratória Internacional da Droga, perdão lá me enganei outra vez, queria dizer na República da Guiné-Bissau lá aconteceu mais um golpe de estado, novamente efectuado por militares muito preocupados com o sofrimento do povo, com os caminhos da democracia, também com os seus tachos, perdão, voltei-me a enganar, também como em justificarem a sua injustificável existência num País que fazem, à força, triste e miserável. País que apresenta uma média, desde a sua independência total (separação de Cabo Verde), de um golpe de estado em cada dois anos.  

Mas o que me leva a falar sobre este assunto é a publicação duma fotografia em que um cão do Primeiro-Ministro foi abatido pelos revoltosos, quando assaltaram a casa do mesmo. Abater um cão. O canídeo devia ser perigosíssimo para os golpistas. A puta que os pariu.

E andamos nós a sustentar aqueles parasitas. Quando os guineenses, liderados por Nino Vieira, fizeram um golpe que terminaram com a  parceria política com Cabo Verde, começaram a afundar-se e cada vez mais vão a pique. Aquele "diz que é uma espécie de País" devia era chamar-se "República Titanic".  


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Foi dito


"Dou graças a Deus por não ter sido eleito Presidente" disse Manuel Alegre numa entrevista ao "Expresso", reportando-se ao facto de ter-se candidatado às eleições da Presidência da República Portuguesa e não ter vencido as mesmas.

Mas, então, pergunto eu que sou burro que nem um calhau: o que é que ele foi lá fazer? Passear-se? Gastar dinheiro? Mamar umas patuscadas?

Lembro-me de há muitos anos, era Ramalho Eanes o Presidente da República (o que eu dei graças a Deus) e terem-lhe perguntado a sua opinião sobre Manuel Alegre, com quem havia um litígio político na altura (já não me recordo qual) e ele ter respondido (cito de memória): "Em Portugal há muito bons poetas e em simultâneo maus políticos". Em cheio, meu General (como quase sempre foi seu timbre).

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Vale a pena meditar

"Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém for tão pobre que se tenha que vender a alguém" - Jean Jacques Rousseau (1712/1778; filósofo)


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As fotografias inseridas foram retiradas do Google Imagens.
Seja uma pessoa culta e educada. Mande o Acordo Ortográfico à merda.
As marcas referidas são incompatíveis com intuitos publicitários. São, só, meras opiniões do Autor. 


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