"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

sábado, 6 de outubro de 2012

A República, o Presidente e a asneira da Bandeira


Porque rejeito, liminarmente, a teoria do espermatezóide dourado, considero-me um republicano dos quatro costados. Em campos democráticos, a República está um patamar acima da Monarquia, apenas porque a legitimidade da chefatura dum Estado não vem plasmada na consanguinidade mas tem origem na luta política para se atingir tal lugar. Aceite este princípio pacífico tenho para mim que, abstraindo o aspecto da Chefia do Estado, no restante não haverá diferenças gritantes entre República e Monarquia.


Comemora-se no dia de hoje - 05 de Outubro - a implantação do regime republicano em Portugal. À data do evento fomos o quarto País da Europa a implementar tal regime. Apenas San Marino, a Suíça e a França eram republicanas nesse tempo. Depois disso outras monarquias europeias caíram, outras mantiveram-se e, aparentemente, gozam de boa saúde e de apoio popular.
 
 
Não sou um ferveroso adepto da nossa Primeira República, que durou de 1910 a 1926. Em quase todos os aspectos foi um completo desastre. Nem sei como é que conseguimos sobreviver enquanto Nação. A classe política dominante da Primeira República é a responsável pelo surgimento do Movimento do 28 de Maio (1926) e das subsequentes Ditadura Nacional e Estado Novo.
 
 
Mas, com todo o seu cortejo de terror sanguinário, de ingovernabilidade e de tudo o mais que lhe queiramos imputar (e não será difícil justificar tais epítetos) a verdade é que da República ficou-nos sempre associada, no nosso imaginário, o manto diáfono da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade. E esta trilogia utópica nunca nos abandonou mesmo nos tempos mais duros da  (des)governança do Estado Novo.
 
 
Os valores pátrios tornaram-se sagrados e o respeito pela Bandeira Nacional, enquanto congregadora da vontade de existir dum Povo e seu símbolo espiritual máximo, interiorizou-se em cada um de nós, aceitando tal tão natural como aguarmo-nos quando sedentos.
 
 
Após o Golpe de Estado militar abrilino que reabriu as portas Democracia, os valores pátrios abanaram, mas não morreram. Apesar disso lembro-me que Cavaco Silva, quando Primeiro-Ministro, que teve que legislar uma portaria (salvo erro era uma portaria) em que chamava a atenção ao mau estado das Bandeiras Nacionais em muitos edifícios públicos e ordenava mais cuidado na manutenção das mesmas e substituição imediata das mais degradadas.
 
 
Lamentável (não a portaria em si) mas o descuido que muitos funcionários e o laxismo de dirigentes públicos, num desrespeito para com o símbolo máximo do nosso País.  Era o tempo que estávamos a receber a Bandeira da CEE (futura UE) e, muitos de nós, esquecíamos a nossa História e só sonhávamos com a ida para a Europa  ou a vinda dos dinheiros da mesma para o nosso País.
 
 
E foi esse mesmo Cavaco Silva que, enquanto Primeiro-Ministro puxou as orelhas aos laxistas que não cuidavam dos panos simbólicos da nossa identidade nacional que, no dia de hoje e como Presidente da República protagonizou o, para mim, mais que lamentável acto de hastear a Bandeira Nacional ao contrário. Distracção? Ignorância? Monotonia?
 





Mas ele, infelizmente, não estava só. Atentando à fotografia acima, a Presidente da AR, Assunção Esteves, olha sorridente para o acto. O mesmo se passa com António Costa, Presidente da edilidade que até dá uma mãozinha. E, mais ao largo, Aguiar Branco, Ministro  da Defesa e em representação do Primeiro-Ministro, também observa calmo e sereno.
 
Uma pura pouca vergonha. Este 05 de Outubro de 2012 será o último a ser comemorado com a solenidade dum feriado activo (pelos menos nos próximos anos), por decisão duma visão economicista governamental. Atendendo à data histórica e por ser último nos próximos tempos a ser comemorado, devia de haver um pouco mais de cuidado na celebração do mesmo.
 
Mas não. O Primeiro-Ministro Passos Coelho resolveu ausentar-se para uma qualquer reunião estrangeira. Cobardia política. Foi o medo de se arriscar a ser vaiado  que o levou a fugir do País, delegando no Ministro da Defesa Aguiar Branco a sua representação.
 
Cavaco Silva, Presidente da República,também denotando cobardia política, fartou-se de dar  tiros nos pés. Também com medo do povo mandou fechar os jardins do Palácio presidencial para o povo não entrar lá, como é tradicional. Para poupar despesas, invocou. Mas, Sr. Presidente, o senhor não é o dono do Palácio. É apenas um inquilino que está de passagem. Nem vejo qual seria a despesa que o povo causaria ao ir visitar os jardins palacianos.
 
 
Depois determinou que, por motivos de segurança, as cerimónias protocolares da efeméride seriam restritas a convidados num espaço limitado. Nada de Praças do Município, onde o povo poderia lá estar e correria o risco de ser vaiado, Ele ou os governantes presentes. Nova cobardia política. Que me lembre, pela primeira vez, as cerimónias protocolares das festas republicanas foram proibidas ao povo. Nunca antes tinha acontecido.
 
 
Tirando o hastear da Bandeira Nacional e a apresentação de armas, que tinha que ser em espaço aberto (que azar, que maçada), na Praça do Município, o resto realizou-se no Pátio da Galé. Mas até no hastear da Bandeira Nacional Cavaco Silva fez asneira. Uma vergonha. Sem mais comentários.
 
 
Cavaco Silva e eu temos uma coisa em comum no passado. Ambos prestámos serviço militar em Moçambique, no tempo da guerra ultramarina (mas em períodos diferentes). Talvez ele se tenha esquecido que, em simbologia militar, a Bandeira Nacional invertida significa território ocupado. Haja alguém que o informe disso. Eu não posso. Não que eu não quisesse, mas ainda me arriscava a ser confundido com um perigoso terrorista e abatido.
 
 
Será que já claudicámos de vez à "troika"? Será que já estamos definitivamente ajoelhados à Águia Alemã? Porque se assim for... digam-me por favor. Porque se assim for, só me resta seguir as pisadas dos meus ancestrais e ir para os montes Hermínios recomeçar, com outros, a reconstruir a nacionalidade. Mesmo correndo o risco de, nesta reconstrução, se tornar para mim a maldição de Sisífo.







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