Carta
aberta a Ehud Gol
ou
a imbecilidade dum Embaixador
Numa conferência realizada no dia 30/10
na Fundação Calouste Gulbenkien, subordinada ao tema “Portugal e o Holocausto – aprender com o passado,
ensinar para o futuro” o Embaixador de
Israel em Portugal, Ehud Gol, teceu duras críticas a Portugal sobre a sua
postura em relação à questão judaica afirmando em determinada altura que
Portugal “foi o único País que colocou a sua bandeira a meia haste durante
três dias quando soube da morte da Adolfo Hitler” e que “É uma nódoa que para todos nós, judeus, vai aparecer
sempre associada a Portugal”. Para além
do mais no seguimento do seu discurso, fez uma ardente defesa da divulgação da
História do Holocausto e referiu anda que os professores deviam de ensinar o
mesmo nas escolas. (Público, 31/10)
Eu entendo que Ehud Gold, como judeu,
defenda a divulgação do Holocausto. Como Embaixador de Israel já não percebo a
sua tomada de posição que considero insultuosa para o meu País ao afirmar,
entre outras coisas, que temos uma nódoa que nos estará sempre associada (a
Bandeira Nacional a meia haste aquando da morte de Adolfo Hitler).
É que nem todos os israelitas são
judeus, nem todos os judeus são israelitas. Estando na conferência na qualidade
de Embaixador devia ter-se comportado como um diplomata israelita. E como
Embaixador, liderando o corpo diplomático do seu País em Portugal, atacar
publicamente o País hospedeiro não lhe fica bem diplomaticamente. Tal como não
lhe fica bem confundir uma pessoa (neste caso Oliveira Salazar) ou a corte que
o serviu (o regime ditatorial) com todo um povo. Porque ao mesmo tempo que a
Bandeira era colocada a meia haste, a maioria da população rejubilava com a
vitória Aliada e portugueses houveram que estavam nas prisões políticas do
regime.
É verdade que Oliveira Salazar mandou
colocar a Bandeira Nacional a meia haste, durante três dias, como pesar pela
morte de Adolfo Hitler. Foi uma decisão estúpida e prepotente, característica
do seu regime ditatorial. Mas eu (e decididamente a quase totalidade dos
portugueses) condeno esta atitude. E o regime político de Portugal de hoje nada
tem a ver com o sistema que vigorava na altura. Por este andar os cidadãos de
Roma têm uma nódoa por terem mandado cristão servirem de pasto às feras no
Coliseu; a Igreja Católica por causa do Tribunal do Santo Ofício também tem as
suas nódoas, enfim… nem vale a pena rememorar factos do passado, tantos são
eles em diversas épocas e latitudes, que foram transversais, no tempo e no
espaço, a todos os povos do planeta.
Até no Estado de Israel existem nódoas,
desde quem defenda a sustentabilidade das teses sionistas do povo eleito de Deus (a teoria
do sionismo assenta em pressupostos rácicos), ao rapto e execução de pessoas
(nazistas e árabes, por exemplo), à anexação de territórios vizinhos, com a
construção de colonatos, reduzindo os povos que milenarmente aí vivem à
miséria; à construção dum “muro da vergonha” em território extra fronteira,
pelo que lemos. E não será por isso que eu vou olhar para um judeu ou para um
israelita e ver em cada um deles pessoas nodolentas. Nem insultar o Estado de
Israel ou as suas instituições. Seria imbecil e não quero ter um comportamento
idêntico ao de Ehud Gol. Como cidadão do Mundo poderei criticar certos actos
políticos do Governo de Israel ou dos políticos que os determinaram, mas não
mancharei nem o bom-nome do País nem a honra de todo um povo lançando-lhes
anátemas conspurcantes.
Porque, Embaixador Ehud Gol, há que não
confundir a árvore com a floresta. Porque há que não colocar estrelas amarelas a
todo um povo. Seja ele qual for.
Por outro lado o Holocausto, que foi uma
mancha na História europeia, faz parte do passado. É História, nada mais do que
isso. Não partilho da ideia que o Holocausto nunca existiu. Acredito que
existiu, não ponho em causa nada (mas mesmo nada) do que sobre ele se relata
mas, neste momento… é História. Aconteceu há sete décadas, é passado. Já
estamos a navegar em pleno no século XXI. Há desafios mais importantes a
enfrentar para o futuro como, por exemplo, a desflorestação, a desertificação,
a falta da água, o aquecimento global, a poluição, o desaparecimento de
reservas piscícolas nos mares, do que estarmos a chorar sobre o leite
derramado.
O Holocausto deve ser ensinado nas aulas
de História, deve ser lembrado para que os erros não se repitam, mas também houve
muitos outros holocaustos antes e depois deste. Já chega de tanto choradinho
sobre os coitadinhos dos judeus que foram massacrados pelos malditos alemães.
Já cansa tanta lamechice. A Europa sofreu, ao longo da sua História, invasões
que chacinaram populações inteiras. Os índios na América foram massacrados aos
milhões. Os negros em África foram escravizados aos milhões. Estes são apenas
alguns exemplos de outros holocaustos. Os judeus não foram os únicos. Há que
estudá-los a todos, perceber as suas causas e consequências. O Holocausto que
os judeus sofreram não foi o único. E o sofrimento dum judeu de certeza que não
é mais doloroso ao dum negro ou dum índio ou seja de quem for.
Volto a repetir: nem a discursar como
judeu eu perceberia a sua posição e críticas ao meu País, mas poderia dar algum
desconto. Agora, como Embaixador… foi imbecil.
Alexandre A.
Ferreira,
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