"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Carta aberta a Ehud Gol


Carta aberta a Ehud Gol
ou a imbecilidade dum Embaixador

Numa conferência realizada no dia 30/10 na Fundação Calouste Gulbenkien, subordinada ao tema “Portugal e o Holocausto – aprender com o passado, ensinar para o futuro” o Embaixador de Israel em Portugal, Ehud Gol, teceu duras críticas a Portugal sobre a sua postura em relação à questão judaica afirmando em determinada altura que Portugal “foi o único País que colocou a sua bandeira a meia haste durante três dias quando soube da morte da Adolfo Hitler” e que “É uma nódoa que para todos nós, judeus, vai aparecer sempre associada a Portugal”. Para além do mais no seguimento do seu discurso, fez uma ardente defesa da divulgação da História do Holocausto e referiu anda que os professores deviam de ensinar o mesmo nas escolas. (Público, 31/10)

Eu entendo que Ehud Gold, como judeu, defenda a divulgação do Holocausto. Como Embaixador de Israel já não percebo a sua tomada de posição que considero insultuosa para o meu País ao afirmar, entre outras coisas, que temos uma nódoa que nos estará sempre associada (a Bandeira Nacional a meia haste aquando da morte de Adolfo Hitler).

É que nem todos os israelitas são judeus, nem todos os judeus são israelitas. Estando na conferência na qualidade de Embaixador devia ter-se comportado como um diplomata israelita. E como Embaixador, liderando o corpo diplomático do seu País em Portugal, atacar publicamente o País hospedeiro não lhe fica bem diplomaticamente. Tal como não lhe fica bem confundir uma pessoa (neste caso Oliveira Salazar) ou a corte que o serviu (o regime ditatorial) com todo um povo. Porque ao mesmo tempo que a Bandeira era colocada a meia haste, a maioria da população rejubilava com a vitória Aliada e portugueses houveram que estavam nas prisões políticas do regime.

É verdade que Oliveira Salazar mandou colocar a Bandeira Nacional a meia haste, durante três dias, como pesar pela morte de Adolfo Hitler. Foi uma decisão estúpida e prepotente, característica do seu regime ditatorial. Mas eu (e decididamente a quase totalidade dos portugueses) condeno esta atitude. E o regime político de Portugal de hoje nada tem a ver com o sistema que vigorava na altura. Por este andar os cidadãos de Roma têm uma nódoa por terem mandado cristão servirem de pasto às feras no Coliseu; a Igreja Católica por causa do Tribunal do Santo Ofício também tem as suas nódoas, enfim… nem vale a pena rememorar factos do passado, tantos são eles em diversas épocas e latitudes, que foram transversais, no tempo e no espaço, a todos os povos do planeta.

Até no Estado de Israel existem nódoas, desde quem defenda a sustentabilidade das teses sionistas do povo eleito de Deus (a teoria do sionismo assenta em pressupostos rácicos), ao rapto e execução de pessoas (nazistas e árabes, por exemplo), à anexação de territórios vizinhos, com a construção de colonatos, reduzindo os povos que milenarmente aí vivem à miséria; à construção dum “muro da vergonha” em território extra fronteira, pelo que lemos. E não será por isso que eu vou olhar para um judeu ou para um israelita e ver em cada um deles pessoas nodolentas. Nem insultar o Estado de Israel ou as suas instituições. Seria imbecil e não quero ter um comportamento idêntico ao de Ehud Gol. Como cidadão do Mundo poderei criticar certos actos políticos do Governo de Israel ou dos políticos que os determinaram, mas não mancharei nem o bom-nome do País nem a honra de todo um povo lançando-lhes anátemas conspurcantes.

Porque, Embaixador Ehud Gol, há que não confundir a árvore com a floresta. Porque há que não colocar estrelas amarelas a todo um povo. Seja ele qual for.

Por outro lado o Holocausto, que foi uma mancha na História europeia, faz parte do passado. É História, nada mais do que isso. Não partilho da ideia que o Holocausto nunca existiu. Acredito que existiu, não ponho em causa nada (mas mesmo nada) do que sobre ele se relata mas, neste momento… é História. Aconteceu há sete décadas, é passado. Já estamos a navegar em pleno no século XXI. Há desafios mais importantes a enfrentar para o futuro como, por exemplo, a desflorestação, a desertificação, a falta da água, o aquecimento global, a poluição, o desaparecimento de reservas piscícolas nos mares, do que estarmos a chorar sobre o leite derramado.

O Holocausto deve ser ensinado nas aulas de História, deve ser lembrado para que os erros não se repitam, mas também houve muitos outros holocaustos antes e depois deste. Já chega de tanto choradinho sobre os coitadinhos dos judeus que foram massacrados pelos malditos alemães. Já cansa tanta lamechice. A Europa sofreu, ao longo da sua História, invasões que chacinaram populações inteiras. Os índios na América foram massacrados aos milhões. Os negros em África foram escravizados aos milhões. Estes são apenas alguns exemplos de outros holocaustos. Os judeus não foram os únicos. Há que estudá-los a todos, perceber as suas causas e consequências. O Holocausto que os judeus sofreram não foi o único. E o sofrimento dum judeu de certeza que não é mais doloroso ao dum negro ou dum índio ou seja de quem for.

Volto a repetir: nem a discursar como judeu eu perceberia a sua posição e críticas ao meu País, mas poderia dar algum desconto. Agora, como Embaixador… foi imbecil.

Alexandre A. Ferreira,
 

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