Viajantes, exploradores e aventureiros
Historiando Moçambique Colonial
Karl Gottlieb Mauch - (Stteten im Renstal (Alemanha), 07/05/1837 - Estugarda (Alemanha), 04/04/1875) - Explorador alemão. Apaixonou-se por África ainda na sua terra natal (Alemanha), onde exercia o mister de professor. Depois do Instituto Geográfico Alemão lhe ter recusado financiamento para explorações africanas, por não lhe reconhecer competência para tal, decide partir à aventura tornando-se embarcadiço num navio, para Durban, em 1864.
Lentamente começa a internar-se no sertão africano, elaborando mapas e recolhendo espécies animais e vegetais, que envia para a Alemanha, tornando-se mesmo num dos primeiros europeus a descobrir ouro, em Hartley Hills (Transval) em 1867. Adquire prestígio e o Instituto Geográfico Alemão altera a sua posição e começa a apoiá-lo, o que lhe permite aventurar-se mais ainda pelo interior africano.
Em 1868, contando 31 anos, inicia a que virá a ser a sua mais famosa expedição solitária. Tendo ouvido falar, por nativos, da existência duma grande cidade abandonada para lá das margens do rio Limpopo, as suas buscas acabam por o levar à descoberta das famosas ruínas de pedra do Zimbabué, no decurso do ano de 1871 e que mais não era que uma das cidades do Reino do Monomotapa*, tornando-se no primeiro europeu a descobrir tal civilização.
Imbuído do espírito da época, cujo paradigma assentava no eurocentrismo e faltando-lhe formação académica e arqueológica, já que era um autodidacta que se metera na aventura, recusa-se a aceitar que a civilização por si descoberta fosse obra de negros, mas sim que pertenceria a uma antiga civilização perdida de europeus. Baseando as suas ideias na Bíblia e nas lendas nativas que recolheu localmente, atribuiu as ruínas como tendo sido a capital do lendário Reino de Ophir, da Rainha de Sabá, amante do Rei hebreu Salomão, e onde ela guardaria parte do seu fabuloso tesouro.
Regressado à Alemanha escreve e publica o livro "The jounals of Karl Mauch - 1869/1872", mas viu as suas teses serem contestadas, incluindo pelo próprio Instituto Geográfico Alemão. Doente e sofrendo de depressões, buscou na morte voluntária a cura para a incompreensão a que fora votado pelo sociedade científica do seu País. Seria Gertrude Caton-Thompson** que estabeleceria, de vez, as raízes de origem africana da civilização do Zimbabué.
* - Já fichado.
** - A fichar.
Companhia do Mazane de Diu - Companhia comercial indiana que se estabeleceu na ilha de Moçambique a partir de 1686, quando o Vice -Rei da Índia concedeu, a partir daquele ano, à Companhia do Mazane de Diu o monopólio do negócio entre os dois territórios. O Mazane era uma entidade comercial que podia ter uma estrutura de carácter individual, familiar ou colectiva e de fortes recursos económicos e financeiros.
Intervinha na aquisição e troca de mercadorias, regulava o mercados dos preços, alugava ou comprava os meios de transporte que viesse a ter necessidade, estabelecia contactos e acordos com outras entidades, nomeadamente portuguesas, contratava pessoal e planificava a expansão do negócio.
Instalado, inicialmente em Diu, rapidamente alargou as suas áreas por diversas partes da Índia e, posteriormente, alargou a sua rede comercial a Moçambique. Tinha, a seu cargo, uma rede de funcionários com funções específicas, onde se podiam encontrar comissionistas, que eram gestores do negócio e que escolhiam a mercadoria e controlavam toda a contabilidade inerente à mesma, os caixeiros-viajantes que vendiam a retalho, os fiéis de armazém que guardavam a mercadoria e observavam a sua conservação, os alfaiates que costuravam e reparavam os tecidos e todo um rol infindável de vendedores ambulantes, que palmilhavam os territórios do interior, mercadejando os produtos. Muitas vezes a orgânica comercial dos baneanes, moldada numa estrutura familiar, era geracional, fruto duma forte identidade de sangue que identificavam e caracterizavam as famílias hindus.
Em Moçambique, conluiando-se com as autoridades das áreas política, administrativa, fiscal e militar como cunha de entrada nos mercados, obtenção de monopólios territoriais e isenções fiscais, acabaram por correr com os comerciantes portugueses em muitas áreas, quando se apercebiam da sua fraqueza económica e fraco poderio militar.
No acordo de 1686 que foi estabelecido entre o Vice-Rei da Índia, o Conde de Alvor, e a Companhia de Mazane de Diu, e que entregava a estes o monopólio do comércio entre os dois territórios estabelecia-se, entre outras cláusulas, que: A) os funcionários portugueses davam prioridade e apoio aos seus negócios; B) os membros da Companhia estavam isentos de direitos aduaneiros sobre as importações e exportações; C) os compradores eram obrigados a pagar de pronto os bens adquiridos à Companhia, para evitar que esta ficasse com o capital empatado; D) os barcos da Companhia tinham prioridade sobre todos os outros, no tocante a facilidades alfandegárias e portuárias, reparação dos mesmos e recrutamento coercivo, caso fosse necessário, de tripulantes. A Companhia foi extinta em 1777.
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Aforamento - Nome dado às concessões feitas em Portugal, a partir do século XII e que tinham carácter enfitêutico no qual, através dum pagamento, que era anualmente estipulado, o enfiteuta assumia todos os direitos sobre o terreno. Tinha a finalidade de promover a agricultura no País, pois obrigava o enfiteuta a cultivar o solo. É na linha deste pensamento medieval que irá nascer, em solo moçambicano, a política dos prazos*.
Anil - Produto extraído das folhas da anileira, que é uma planta tropical herbácea ou arbustiva, da família das leguminosas, produto esse que era uma tinta que depois sofria um processo de desidratação. De tom azul servia para tingir diversos tipos de roupa. A sua cultura, em Moçambique, terá sido introduzida nas Quirimbas e na Zambézia, no decurso do século XVII.
Baneane - Expressão portuguesa que se referia à casta hindu dos "vanias", comerciantes por tradição e integrados na Companhia do Mazane de Diu.
Boma - Paliçada defensiva que circundava as aldeias do Niassa, mas que apresentava no entanto um estrutura mais fraca e simples que as aringas* zambezianas.
Canarim - Indivíduo proveniente de Canará, localidade situada na antiga Índia portuguesa, e que era um espaço geográfico situado na costa industânica, entre Goa e Cananor.
Caneco - Termo depreciativo com que se referiam a pessoas de proveniência indiana e de baixo estrato social.
Monhé - Aportuguesamento da palavra "muinhe", que significa "senhor", tendo-se tornado num termo colonial depreciativo com que se referiam a pessoas de origem indostânica.
* - Já fichado.
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Leituras
Através de amigo comum que nos apresentou, tive o privilégio de conhecer Francisco Xavier Valeriano de Sá, um dos mais profundos conhecedores da História da nossa presença na ex-Índia Portuguesa.
Nascido em Diu, completado os estudos secundários em Goa e universitários (economia) em Lisboa, para além de funcionário do BNU, Francisco Xavier de Sá dedicou-se ao estudo da história da presença portuguesa naquele antigo território indostânico, para além de se dedicar à fotografia, pintura e música goesa.
Considero-o um erudito de fino trato e, sem dúvida, um Príncipe da Cultura, da "velha guarda" que o tempo, no seu inexorável andamento, se encarrega de fazer desaparecer. Sem complexos de esquerda ou de ser apodado de saudosista do passado, meteu a ombros a ingrata tarefa de biografar todos os políticos e religiosos que dirigiram os destinos daquele território, dando à estampa, depois de inúmeras dificuldades e sacrifícios financeiros, dois livros interessantes, a saber:
A) "Vice-Reis e Governadores da Índia Portuguesa" (Comissão Técnica de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999, 430 págs.), que contém o historial biográfico de todos os governantes lusos que lideraram a Índia, do primeiro (D.Francisco de Almeida) ao último (Vassalo e Silva). Como complemento deste trabalho monumental, o Autor deslocou-se àquele território e fotografou todos os retratos existentes na famosa Galeria dos Vice-Reis da Índia, galeria esta que foi idealizada e iniciada pelo Vice-Rei D.João de Castro. Salvou, para memória futura, todos este património iconográfico já que, de há muito, as pinturas estão em degradação face às inclemências climáticas (temperaturas e humidade elevadas) e ausência de competentes cuidados técnicos para preservação dos mesmos.
B) "O Padroado Português do Oriente e os Mitrados da Sé de Goa" (Plátano Editora, 2004, 163 págs.), onde consta um resumo histórico do Padroado Português do Oriente, desde o seu início, à criação da Sé Metropolitana, Primacial e Patriarcal de Goa, bem como um resumo histórico dos Governos da Arquidiocese de Goa e do Patriarcado das Índias Orientais encorpando, depois, na relação cronológica dos governos e governantes da Diocese, Arquidiocese e Patriarcado de Goa, desde o seu início (1505) até ao final do milénio.
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Aconteceu
Governo - À sucapa, às escondidas, promoveu uma lei que impede as reformas antecipadas aos beneficiários da Segurança Social. Para salvar a dita cuja Segurança Social. Com o conluio do nosso inefável Venerando Chefe de Estado, esta Augusta Personalidade subscreveu o diploma e, depois, quiçá debaixo do braço dalgum contínuo, foi de mansinho, mui mansinho, para a Imprensa Nacional onde foi logo publicado.
"Prontes, já tá", penso que terão cogitado os nossos benditos governantes. Assim os malditos trabalhadores já não vão a correr pedir as reformas antecipadas.
Não sei porquê lembrei-me da música "Vampiros" de Zeca Afonso, quando ele canta: "No céu cinzento sob o astro mudo/ batendo as asas pela noite calada / vêem em bandos com pés de veludo / chupar o sangue fresco da manada."
Assembleia da República - Na quinta feira, que antecedia o feriado pascal de sexta, os Senhores Deputados anteciparam o plenário para o período da manhã (que por norma acontece sempre no período da tarde). E, desta maneira singela, o Parlamento - a dita Casa da Democracia - os nossos Excelsos Representantes da Nação (ERN) puderam desaparecer, gozando umas mini-férias antecipadas.
A Função Pública, entre os quais os funcionários do Parlamento, o Sector Empresarial do Estado e o Privado trabalharam. Mas os ERN esses foram gozar à tripa forra.
Lá voltei a lembrar-me da música dos Vampiros: "São os mordomos do Universo todo / Senhores à força, mandadores sem lei / enchem as tulhas, bebem vinho novo / dançam a roda no pinhal do rei."
Mário Soares - Circulava, com motorista, numa viatura do Estado a 199 km/hora na A8, quando foi interceptado pela BT da GNR. Perante a emissão da multa, no valor de 300 euros, reagiu dizendo ao motorista: "O Estado paga a multa". Lamentável este exemplo de como uma pessoa, com responsabilidades, dá aos cidadãos, não só do incumprimento da Lei como também de que sejam outros (o Estado, ou seja eu, via impostos) a pagarem as tropelias dele. Oh "shôtor", "atão" custava-lhe muito pagar a porra da multa?
Não sei porquê voltei-me a lembrar do refrão dos "Vampiros" de Zeca Afonso: "Eles comem tudo / eles comem tudo / eles comem tudo / e não deixam nada."
"Tá" mal - Voltou-se atrás com a decisão de se nomear Teixeira dos Santos para a Caixa Geral de Depósitos. Lá seria mais um tacho. O ex-ministro, que foi um dos coveiros deste País (mas não o único), um pau mandado socratiano, talvez não tenha que esperar muito para lhe acomodarem qualquer coisita. Tadito, o homem também tem direito, que Diabo. Temos que ser democratas. Ou comem todos (um ou mais tachos) ou não come ninguém. Se os incompetentes deste País são premiados com tachos chorudos, tais como Freitas do Amaral (Presidente da ONU), Durão Barroso (Comissão Europeia), Victor Constâncio (BCE), António Guterres (Alto Comissário da ONU), Santana Lopes (Santa Casa da Misericórdia), por exemplo ou vão para paragens calmas, como José Sócrates (Paris), há que arranjar qualquer coisita.
Foi escrito e dito
Coragem - Tem-se utilizado muitas vezes esta palavra para qualificar certas atitudes de governantes ou agentes desportivos nossos. "O ministro fulano de tal demonstrou uma coragem ao decidir isto ou aquilo", ou " o treinador fulano de tal demonstrou uma coragem ao não colocar em campo o jogador cicrano de tal" por exemplo. São comentários, essencialmente, na área política ou desportiva onde mais vezes tenho detectado o uso e abuso esta palavra.
E acho errado. Banalizou-se o sentido de "coragem". Actos de coragem acontecem dia-a-dia, praticados por anónimos. É o caso dos que lutam desesperadamente para salvar um filho da droga, trabalhando no duro em mais que um emprego para arranjarem dinheiro para pagarem desintoxicações; é o caso do bombeiro que arrisca a vida no meio dum incêndio para resgatar alguém que ficou retido no meio das chamas; é o caso do cônjuge que não abandona o seu parceiro atingido por uma doença fatal e luta desesperadamente ao seu lado até ao fim, sabendo da inevitabilidade do destino mas secando as lágrimas e indo de vitória em vitória até à derrota final; é... enfim, poderia enumerar aqui tantos casos de heroicidade anónima em que aqui, sim, há Coragem. E com "C" grande.
Agora o treinador que não põe certo menino a jogar ou o ministro que assina um diploma... meus senhores, tenham mais tento no uso de expressões. Para estas situações a nossa língua, que é muito rica, tem outros vocábulos: "dever", "obrigação", por exemplo.
Língua portuguesa - Sobre as hipóteses de um patrício nosso emigrar para o Brasil e tentar arranjar trabalho naquele País, a Visão nº 995 na pág. 62, sintetizou os pontos mais importantes para esse objectivo, facultando alguns conselhos. Num deles, refere: "A língua é a mesma: Só em teoria. A prática pode revelar-se desastrosa. Conselho essencial: fale devagar. E não se esqueça: fale devagar" (sic).
Pois é. E andámos nós a prostituir a nossa língua aos interesses económicos brasileiros, conspurcando-a por decreto.
Ricardo Araújo Pereira (RAP) - Aliás sobre isto de ambos os países falarem a mesma língua, foi humorizado por RAP, numa sua deslocação ao Brasil e num espectáculo que deu onde, no decurso do mesmo, humorizou: "Vou falar devagar. Não que seja retardado, mas porque sou português. Sei que para vocês é mais ou menos a mesma coisa, mas não é..." (retirado da Visão nº 995, pág.99)
Pois é. E andámos nós a prostituir a nossa língua aos interesses económicos brasileiros, conspurcando-a por decreto.
Ricardo Araújo Pereira (RAP) - Aliás sobre isto de ambos os países falarem a mesma língua, foi humorizado por RAP, numa sua deslocação ao Brasil e num espectáculo que deu onde, no decurso do mesmo, humorizou: "Vou falar devagar. Não que seja retardado, mas porque sou português. Sei que para vocês é mais ou menos a mesma coisa, mas não é..." (retirado da Visão nº 995, pág.99)
Dinheiro - Interessante o artigo que li (Sábado nº 413, pág. 81) sobre um movimento que pretende acabar com o dinheiro fisicamente, e tudo passar a ser adquirido com cartões de débito. Exemplificando o caso sueco, que é um dos países onde cada vez circula menos dinheiro, as vantagens seriam, por exemplo, a diminuição de assaltos e de corrupção, atendendo a que todas as transacções electrónicas deixam registo. Para além do custo que orça aos contribuintes o fabrico, distribuição e garantia de segurança da circulação do dinheiro vivo.
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Pensamento
"O preço a pagar pela tua não participação na política é seres governado por gente inferior." - Platão, filósofo, 428AC - 327 AC.
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Seja uma pessoa culta e educada. Mande o Acordo Ortográfico à merda.
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