"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)
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domingo, 24 de junho de 2012

Hugh Clapperton


VIAJANTES, AVENTUREIROS E EXPLORADORES


 
Hugh Clapperton - (Annan (Escócia), 18/05/1788 - Sokoto (actual Nigéria), 13/04/1827) - Oficial da Marinha Britânica e explorador da África Ocidental. Filho dum cirurgião escocês que lhe deu vinte e um irmãos, ingressou na Marinha Britânica, tendo prestado serviço quer no Oceano Índico quer no Canadá. No Índico combateu as forças napoleónicas tendo-se distinguido na tomada de Port Louis (Novembro de 1910), capital mauriciana. No Canadá (1814/1817) conviveu e viveu com os índios huron.  

 
Hugh Clapperton



Em 1820 encontra-se em Edimburgo, quando trava conhecimento com um colega de seu pai, o cirurgião naval e explorador Walter Oudney que, dois anos mais tarde vai liderar uma expedição ao Reino de Bornu, com a finalidade de abrir uma rota comercial entre aquele Reino e outros da África Ocidental e o Mediterrâneo. Hugh Clapperton integra esta expedição cujo trio é completado, mais tarde, com o Major Dixon Denham, do Exército Britânico, que os vai encontrar na cidade oásis de Murzuk, no Sul da actual Líbia, em Novembro de 1822. Em boa hora Dixon Denham ali chegou pois os dois exploradores estavam num estado completamente miserabilista, por doenças.

 
O Reino de Bornu situava-se na África sub-sariana, cujas rotas apenas eram dominadas pelos caravaneiros árabes e escapava ao conhecimento geográfico europeu. O Reino, que fora fundado no século XIV, localizava-se no Norte da actual Nigéria, na intersecção dos actuais estados do Níger, Nigéria e Chade; abanava neste século XIX nas suas estruturas e acabaria por ruir, de vez, no findar deste mesmo século.  

 
O Reino de Bornu em meados do século XVIII

A expedição parte de Tripoli, no início de 1822 mas, em Murzuk, surgem as desavenças entre Hugh Clapperton e Dixon Denham, com este a acusar aquele de práticas sodomitas com os seus criados. Apesar de tudo a expedição vai seguindo o seu percurso e, volvido um ano da data da partida de Tripoli, a 04 de Fevereiro de 1823, o trio descobre o lago Chade, tendo sido os primeiros europeus a conseguirem tal feito, bem como o terem cruzado o deserto do Sahara no sentido Norte-Sul. Tinham demorado um ano.


Nesta área lacustre o grupo separa-se. Dixon Denham vai explorar o lado Este e Sul do lago Chade, enquanto  Hugh Clapperton e Walter Oudney dirigem-se para Oeste em direcção ao Reino de Bornu, que atingem e sendo bem recebidos pelos governantes locais. Ficam neste Reino e, em Dezembro de 1823, a dupla de exploradores resolve partir para o Reino dos Haussas, para atingirem a famosa cidade de Kano e explorarem o rio Níger.


Nessa etapa Walter Oudney morre, doente, e Hugh Clapperton continua a viagem sozinho, atingindo Kano, em 20 de Janeiro de 1824, que o desilude. Da sua chegada a Kano escreverá: "Às onze horas entrámos em Kano, o grande empório do reino de Haussa, mas ainda mal tinha passado as portas quando me senti amargamente desapontado; pois devido à descrição florescente que me tinha sido feita pelos árabes esperava ver uma cidade de uma grandiosidade surpreendente. Encontrei, pelo contrário, as casas a quase quatrocentos metros das muralhas e em muitas zonas espalhadas em grupos distantes, entre grandes poças de água estagnada. Podia ter poupado todo o trabalho que tinha tido com a minha toilete, pois não houve um único indivíduo que virasse a cabeça para olhar para mim, e todos absortos nas suas vidas, deixaram-me passar sem repararem e sem fazerem quaisquer cometários..."




Kano



De Kano segue a sua viagem exploratória para o Império Fulani, onde tenta atingir Sokoto, a capital deste Reino, mas vê-se impedido de concretizar os seus fins por ordens do Sultão desta cidade. Exausto, resolve retornar e acaba por encontrar Dixon Denham em Kukuva (no norte da actual Nigéria). mas a inimizade entre os dois prevalece e Denham retorna sozinho a Tripoli em Agosto de 1824 e Hugh Clapperton segue depois, atingindo Tripoli em Janeiro de 1825.


De regresso à Grã-Bretanha, nesse mesmo ano de 1825, é organizada outra expedição para atingir o Reino Fulani e entrar em Sokoto (no actual Norte da Nigéria), atendendo a que o Sultão pretendia estabelecer laços comerciais com o sector oeste do seu Reino (oceano Atlântico) e também para se tentar descobrir a nascente do rio Níger. A intenção do Sultão de Sokoto era a de exportar escravos que os europeus comprariam a bom preço para levarem para as Américas. Daí que ele tivesse travado, anteriormente, a jornada de Hugh Clapperton que vinha pelo interior do continente.


Hugh Clappertton segue de barco até ao Golfo da Guiné e desembarca em Badagry (localidade costeira da actual Nigéria) a 07 de Dezembro de 1825. Está acompanhado pelo Doutor Morrinson (médico) pelo Capitão Pearce e pelo seu criado Richard Lemon Lander. Morrinson e  Pearce acabam por falecer face às inclemências climáticas. Hugh Clapperton e Richard Lander prosseguem a sua odisseia e atravessam o Reino Ioruba (Janeiro de 1826) e cruzam o rio Niger, na zona onde o médico explorador Mungo Park falecera ferido e afogado duas décadas antes.



Região de Sokoto

Atinge, em Julho desse mesmo ano, de novo Kano, que tanto o desiludira na viagem anterior e prossegue a viagem para Sokoto, com a intenção de reentrar depois no Reino de Bornu, onde fora bem acolhido na viagem anterior. Mas em Sokoto é retido, de novo, pelo Sultão. As febres, as marchas forçadas, a deficiente alimentação e as águas pútridas que tinha que beber por falta doutra, atiram-no doente para a cama, vindo a falecer, de desinteria, perto de Sokoto.  



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Walter Oudney - (Escócia, 1790 - Katagum (actual Nigéria), 1824) - Explorador do deserto do Sahara. Formado em medicina pela Universidade de Edimburgo, desempenhava o cargo de cirurgião naval, quando foi encarregue de liderar uma expedição que, partindo de Tripoli (actual Líbia) deveria de explorar as rotas para o Reino de Bornu. Integra na sua expedição os exploradores Hugh Clapperton e Dixon Denham e cumpre-a com êxito. Foram os primeiros europeus a cruzarem o deserto sariano de Norte para Sul, a atingirem o lago Chade e a chegarem ao Reino de  Bornu. Não volta á Pátria, pois morre em Janeiro de 1824, vitimado por doenças, numa aldeia perto de Katagum, cidade que fica a norte da actual Nigéria, quando pretendia atingir a cidade de Kano.



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Dixon Denham - (Londres, (01/01/1876 - Serra Leoa, 08/05/1828) - Militar e explorador. Foi um oficial valoroso, que combateu contra as forças napoleónicas, quer na Península Ibérica, quer em França e Bélgica e também na famosa batalha de Waterloo.



Dixon Denham

Em 1822 quando tentava efectuar uma ligação entre Tripoli e Tombuctu recebeu instruções para acompanhar a expedição de Walter Oudney que se dirigia ao Reino de Bornu e estava bloqueada em Murzuk. Atinge este oásis, no Sul da Líbia, e estabelece contactos com os exploradores Walter Oudney e Hugh Clapperton mas em breve ele e Clapperton ficarão de candeias às avessas, quando Dixon o acusa sistematicamente de homossexualismo com criados seus. Escolta-os até ao lago do Chade e aqui separam-se.


Dixon Deham vai explorar a parte Oeste, Leste e Sul do lago enquanto os outros dois exploradores seguem para o Reino de Bornu. Depois de completada a sua missão exploratória do lago e de ter concluído que o mesmo não era fonte abastecedora do rio Níger retorna à Grã Bretanha. Em 1826 é colocado na Serra Leoa, onde acaba por atingir o cargo de Governador daquela colónia. Virá a morrer aí, de febres, dois anos mais tarde.

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Richard Lemon Lander - (Londres, 08/02/1804 - Badagry - 06/02/1834) - Explorador. A primeira vez que se desloca a África é na qualidade de criado e secretário de Hugh Clapperton, quando este realiza a sua segunda e fatídica viagem ao interior da actual Nigéria. Assiste à sua morte, por doença, e enterra-o perto de Sokoto. Desta cerimónia escreverá: "Eu abri um livro de orações e, por entre uma torrente de lágrimas, li o impressionante serviço fúnebre da Igreja de Inglaterra sobre os restos mortais do meu prezado patrão com a bandeira inglesa a baloiçar tristemente sobre ele nesse preciso momento. Nem uma única alma escutou esta cerimónia peculiarmente pertubadora pois os escravos estiveram a discutir uns com os outros durante todo o tempo que durou." Da expedição inicial Richard Lander é o único sobrevivente europeu. Continua na missão de recolha de informações e conhecimentos geográficos do terreno até que resolve retornar à Grã Bretanha no ano seguinte (1828).




Richard Lemon Lander


Dois anos mais tarde, acompanhado dum seu irmão, retorna a Badagry e explora o rio Níger, subindo o mesmo umas duas centenas de quilómetros como também estuda o seu delta e o seu principal afluente, o rio Benué. Regressa à Grã-Bretanha (1831) mas no ano seguinte está de regresso, pela terceira vez ao rio Níger, a soldo de vários empresários britânicos que pretendiam montar uma feitoria na confluência dos rios Níger e Benué.


Mas desta vez a viagem não lhe sorri. Depois de perder pessoal por doenças, entra em confronto armado com tribos hostis. Desses confrontos acaba ferido num deles por bala e, regressado à costa, acaba por morrer gangrenado.



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A mítica imagem que sempre romantizaram do aventureiro que ia para África (ou outros continentes) em busca de emoções, aventuras, caçadas e tesouros perdidos, quase nunca correspondeu à realidade. Todos os aventureiros, dum modo ou doutro pagaram caro as suas ousadias. Quase sempre. Como o exemplo dos quatro que hoje se sumarizou. As suas vidas entrosaram-se uns nos outros. Todos morreram em África. Destes quatro, ninguém regressou à Europa a gozar os proventos. Antes deles Mung Park e Daniel Houghton, já aqui lembrados, também pagaram com a vida a ousadia de terem ousado. Outros houve que sim, que regressaram à Europa. Mas poucos, em relação à legião de aventureiros que para lá partiram. África cobrou sempre caro o esventrarem-na. Pela vegetação, fauna, doenças, climas ou tribos aguerridas, África nunca se rendeu. Pode ter sido vencida mas nunca convencida.


 
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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL

 


 

Companhia Colonial - O mesmo que companhia majestática.
Companhia da Zambézia – Companhia majestática cuja área de jurisdição abrangia múltiplos prazos, tais como o de Andone e Anguase, perto de Quelimane, o de Timbué, na foz do Zambeze e o de Massingir, na margem esquerda do rio Chire, bem como também possuía larga jurisdição no Distrito de Tete. Dedicava-se, principalmente, ao cultivo e exploração de palmares, de sisal, algodão e tabaco e à criação de gado bovino de alimento e de trabalho. Explorava, ainda, um serviço fluvial de barcos a vapor e a gasolina, estabelecendo ligações entre o Chinde e Tete, com diversas escalas pelos portos fluviais do rio Zambeze. Com capital maioritariamente de particulares portugueses tinha, no Governo, o seu accionista principal, tendo sido constituída em 1891 com sede em Quelimane.
Companhia de Mazane de Diu – Companhia comercial indiana que se estabeleceu na ilha de Moçambique a partir de 1686, quando o Vice-Rei da Índia concedeu, a partir daquele ano, à Companhia de Mazane de Diu o monopólio do negócio entre os dois territórios. O Mazane era uma entidade comercial que podia ter uma estrutura de carácter individual, familiar ou colectiva e de fortes recursos económicos e financeiros. Intervinha na aquisição e troca de mercadorias, regulava o mercado dos preços, alugava ou comprava os meios de transporte que viesse a ter necessidade, estabelecia contactos e acordos com as outras entidades, nomeadamente portuguesas, contratava pessoal e planificava a expansão do negócio. Instalado, inicialmente em Diu, rapidamente alargou as suas áreas de actuação por diversas partes da Índia e, posteriormente, alargou a sua rede comercial a Moçambique. Tinha, a seu cargo, uma rede de funcionários com funções específicas, onde se podiam encontrar comissionistas, que eram gestores do negócio e que escolhiam a mercadoria e controlavam toda a contabilidade inerente à mesma, os caixeiros-viajantes que vendiam a retalho, os fieis de armazém que guardavam a mercadoria e observavam a sua conservação, os alfaiates que costuravam e reparavam os tecidos e todo um rol infindável de vendedores ambulantes, que palmilhavam os territórios do interior, mercadejando os produtos. Muitas vezes a orgânica comercial dos baneanes, moldada numa estrutura familiar, era geracional, fruto da forte identidade de sangue que identificam e caracterizam as famílias hindus. Em Moçambique, conluiando-se com as autoridades das áreas política, administrativa, fiscal e militar, como cunha de entrada nos mercados, obtenção de monopólios territoriais e isenções fiscais, acabaram por correr com os comerciantes portugueses em muitas áreas, quando se apercebiam da sua fraqueza económica e fraco poderio militar. No acordo de 1686 que foi estabelecido entre o Vice-Rei da Índia (Conde de Alvor) e a Companhia de Mazane de Diu, que entregava a estes o monopólio do comércio entre os dois territórios, estabelecia-se, entre outras cláusulas, que: a) os funcionários portugueses davam prioridade e apoio aos seus negócios; b) os membros da companhia estavam isentos de direitos aduaneiros sobre as importações e exportações; c) os compradores eram obrigados a pagar de pronto os bens comprados à companhia, para evitar que esta ficasse com capital empatado; d) os barcos da companhia tinham prioridade sobre todos os outros no tocante a facilidades alfandegárias e portuárias, reparação dos mesmos e recrutamento coercivo, caso fosse necessário, de tripulantes. A Companhia foi extinta em 1777.
Companhia de Moçambique – Companhia majestática que administrava um quarto do território moçambicano, cerca de 13.500.000 hectares. A Companhia administrava uma área referida por Território de Manica e Sofala, completamente independente da administração directa do Estado Português. O Território tinha, por limites, o rio Zambeze, a Norte, e pelo paralelo 22 a Sul, a Rodésia, a Oeste e o oceano Índico, a Este, com cerca de 434 quilómetros de costa marítima. À Companhia de Moçambique foram concedidos privilégios por Carta Régia de 1891, por um período de cinquenta anos, renováveis mas, em 1929, o Estado Português assumiu a soberania plena do território, cessando a actividade da Companhia, cerca de uma década mais tarde e que tinha a sua sede principal em Lisboa e a Beira como capital do Território. Dedicava-se, principalmente, à exploração dos minérios (ouro, prata, estanho, cobre e algum carvão); da agricultura (sisal, algodão, milho, amendoim e arroz); pecuária; indústria do açúcar e exploração de madeiras. O Governo de Lisboa era representado, na Companhia de Moçambique, por um Comissário, cujas competências para fiscalizar a Companhia foram estabelecidas pelo Ministério das Colónias, no âmbito do Decreto nº 28.006 de 02 de Setembro, cujo teor rezava o seguinte: “Nos termos do art.º 28 do Acto Colonial e usando da faculdade conferida pelo parágrafo 1 do art.º 10 com referência ao parágrafo 2, do mesmo artigo e ao art.º 91, parágrafo 49, da Carta Orgânica do Império Colonial Português, o governo decreta e eu promulgo o seguinte: Artigo 1º: - É autorizado o Ministro das Colónias a ordenar ao Comissário do Governo junto da Companhia de Moçambique a realização em África de inspecções e inquéritos à actividade exercida pela mesma Companhia nos territórios confinados à sua administração. Artigo 2º: - O Ministro das Colónias fixará o tempo da sua duração e bem assim das normas a que devem obedecer e os objectivos em vista. Artigo 3º: - Dentro dos territórios administrados pela Companhia de Moçambique terá o Comissário do Governo precedência sobre todas as entidades, com excepção do Chefe de Estado, Presidente do Conselho, Ministros, Sub-Secretários de Estado e Governador-Geral da Colónia de Moçambique. Artigo 4º: - A Companhia de Moçambique abonará ao Comissário do Governo durante todo o seu tempo de impedimento nos serviços que trata o artigo primeiro, os vencimentos que legalmente está percebendo, os quais serão pagos na metrópole a pessoa que o mesmo Comissário designar. Artigo 5º: - O Comissário do Governo, quando em serviço em África, terá um secretário, nomeado pelo Ministro das Colónias sob proposta daquele. Artigo 6º: - Tanto o Comissário do Governo como o seu secretário vencerão diariamente ajudas de custo, a fixar em portaria pelo Ministro das Colónias. Parágrafo Único: Pode o Ministro autorizar, por meio de despacho, que um e outro recebam antes do embarque a ajuda de custo correspondente a quarenta dias. A restante ajuda de custo será paga na Beira, semanalmente, observadas as formalidades estabelecidas na lei para o seu processamento. Artigo 7º: - Constituem encargo da Colónia de Moçambique as ajudas de custo a que se refere o artigo precedente e os transportes do Comissário do Governo e do seu secretário os quais poderão fazer-se pelas vias que o Ministro determinar. Parágrafo Único: Para efeitos do preceituado neste artigo é autorizado o Governo da Colónia de Moçambique a abrir desde já um crédito especial da importância de 250.000$00. Publique-se e cumpra-se como nele se contém.”.
 
 
Companhia de Seguros Nauticus – Inovadora no ramo dos seguros em Moçambique, esta companhia foi fundada em 01 de Julho de 1943, com capital social de dez mil contos, como forma de reacção a evitar que as empresas moçambicanas segurassem os seus produtos em empresas estrangeiras, nomeadamente sul-africanas. Pode-se considerar a Nauticus como a primeira seguradora moçambicana, tendo tido no seu grupo fundador nomes como Paulino Santos Gil, Manuel Moreira da Fonseca, Álvaro de Sousa, Carlos Teodoro Martins, Manuel Simões Vaz e António Figueiredo. Sedeada em Lourenço Marques, impunham os seus regulamentos que 80% das suas acções deviam obrigatoriamente pertencerem a portugueses.

Companhia do Boror – Companhia majestática de pequena dimensão, situada na área de Quelimane e que era arrendatária de um conglomerado de prazos que abrangiam os do Boror, que se estendia desde o rio Namacurra até à parte mais ocidental do Distrito de Quelimane, aos do Licungo e Macuse, que ficavam nas margens dos rios com o mesmo nome ainda os prazos de Namecurro e Tirre. Dedicava-se, principalmente, à agricultura e era detentora do maior palmar do mundo, que ultrapassava um milhão de palmeiras, dedicando-se ainda ao cultivo da borracha, do sisal e da cana sacarina, com a consequente indústria do açúcar e álcool.

Companhia Holandesa das Índias Orientais – Em 1602 forma-se, nos Países Baixos, a Dutch East Índia Company (Companhia Holandesa das Índias Orientais). Esta grande Companhia, formada com um capital inicial de 550 libras, resultou da junção de diversas pequenas companhias comerciais, que permilhavam o Oriente e era dirigida por um Conselho de 17 Directores. Fundou e governou a Colónia do Cabo, génese da actual República da África do Sul, durante 140 anos. Por volta dos finais do século XVIII a conquista da Holanda pelos franceses e a supremacia naval britânica, trouxeram a ruína à Companhia, que pagou os últimos dividendos em 1782. Em 1794 entrou em bancarrota e, no ano seguinte, deixou de existir, mas o seu legado histórico como formadora inconsciente e única duma futura nova nação ainda hoje perdura.

Companhia do Niassa – Companhia majestática fundada em 1891, que administrava os territórios nortenhos de Moçambique, e que abrangiam toda área de Cabo Delgado e Niassa referidos, genericamente, como Territórios de Cabo Delgado, em finais do século XIX e princípios do século XX. Os Territórios, eram limitados, a sul, pelo Distrito de Moçambique, no prolongamento do rio Lúrio, a norte pelo rio Rovuma, a oeste pelo Lago Niassa e a este pelo Oceano Índico, possuindo cerca de 170 milhas de costa marítima. Estabelecida desde 1894 na zona, a Companhia do Niassa detinha poderes absolutos nos Territórios, excepto nas áreas militares e judiciais. A sede do Governo dos Territórios de Cabo Delgado era em Porto Amélia, onde residia o Governador da Companhia, como máxima autoridade e mantinha em funcionamento vários serviços públicos tais como Secretaria-Geral, Fazenda, Correios e Telégrafos, Trabalho Indígena e Polícia e subdividia a região em catorze concelhos bem como publicava um Boletim Oficial. A entidade que se encontrava por detrás da Companhia do Niassa era a britânica Niassa Consolidated Company, a qual detinha 219.000 acções das 436.539 emitidas, no valor fiduciário de uma libra cada. As receitas da Companhia do Niassa provinham, principalmente, do imposto de palhota e das alfândegas, sendo certo que a sua intervenção ao longo dos anos, no território, foi parasitária e em nada beneficiou o desenvolvimento da mesma, quer agrícola, quer pecuária, quer piscatória ou mesmo industrial, que ficaram, praticamente, na estaca zero. Os interesses da Companhia não passavam pelo desenvolvimento mas sim, apenas, pelo arrecadar dinheiro pelas vias mais fáceis. Em 28 de Outubro de 1929 os referidos Territórios de Cabo Delgado deixaram de ser administrados pela Companhia e passaram para a soberania directa do Estado Português.

Companhia dos Mujaos e Macuas – Tendo sido proibido à Companhia de Mazane de Diu comerciar no interior do território havia que disciplinar o negócio entre a ilha de Moçambique e os povos do litoral (macuas) e do interior continental (mujaos). Nasceu, assim, em Março de 1766, a Companhia dos Mujaos e Macuas, fundada por diversos habitantes da ilha de Moçambique, com a finalidade de estabelecerem comércio com os macuas e os mujojos. Autorizada a estabelecer cinco feitorias tinha, ainda, que manter na ilha uma loja e um armazém e a sua actividade comercial limitava-se ao território fronteiro à capital, tendo-se criado quatro feitorias no Mossuril e uma na Cabaceira. As permutas entre a companhia e o interior eram, na sua essência, a troca de tecidos de algodão e missangas, vindos da Índia, por marfim, abada, escravos e bens alimentares, estes últimos tão necessários à ilha e sendo os três primeiros monopólio da companhia. A mesma teve curta duração já que, face aos inúmeros protestos dos comerciantes da Índia e apoiados pelo governo de Goa, o Rei de Portugal ordenou a extinção da mesma em 1769, invocando que os seus monopólios feriam a liberdade de comércio no território.

Companhia Majestática - Em finais do século XIX, o Estado Português alienou grande parte do território moçambicano ao capital privado, autorizando a criação de companhias majestática, a quem concedia não só a exploração económica de vastas  regiões, como também lhes autorizava a prática dos vários actos  de soberania como, por exemplo, o lançamento e cobrança de impostos, vassalagem de povos e  policiamento, entre outros. Foi a evolução do sistema feudal dos prazos para o sistema capitalista das grandes companhias. Com esta medida o governo português decapitava os prazos, cuja africanização dos prazeiros e as suas permanentes rebeliões, com a consequente estagnação económica juntamente com a desertificação humana causada pelas guerras e tráficos de escravos, só traziam dores da cabeça para os governantes e, ao mesmo tempo, realizava dinheiro, pois leiloavam-se extensas áreas a indivíduos ou grupos financeiros com capital garantido. Em 1892 o governo português leiloa, em hasta pública, todo o território do vale do Zambeze. Esta medida atraiu os capitalistas estrangeiros, já que os nacionais não tinham recursos financeiros, o que também serviu os interesses do governo português, pois foi uma maneira de saciar os apetites estrangeiros pelas terras de Moçambique, evitando possíveis conflitos armados. Nasceram, assim, três grandes companhias: a Companhia da Zambézia, a Companhia de Moçambique e a Companhia do Niassa. Apareceram, em segundo plano, outras companhias majestática secundárias, mais pequenas, tais como a de Inhambane, da Gorongosa, do Luabo, do Boror, a Sena Sugar Estates, Ltd., a Societé du Madal e Empresa Agrícola do Lugela, Lda., entre outras, as quais centravam a sua actividade na exploração de prazos que arrendavam. Em 1929 o Estado Português iniciou o processo de cessação das actividades das companhias majestáticas e assumiu a soberania directa dos territórios, integrado numa nova visão política de nacionalismo vincado. No entanto, as companhias secundárias sobreviveram a esta nacionalização e transformaram-se em empresas de cariz capitalista, mantendo as suas actividades adaptadas às novas determinações políticas da administração portuguesa.

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IN MEMORIAN


 

Lyn Lusi - Faleceu Lyn Lusi, uma mulher lendária que amou África até à exaustão. Cidadã britânica de nascimento, tendo efectuado estudos na sua Pátria embarcou para o Congo, em 1971, ao serviço da Sociedade Missionária Batista. 

 

Lyn Lusi

No Congo conheceu a sua "alma gémea", o cirurgião ortopédico Kasereca "Jo" Lusi, com quem viria a celebrar os votos do matrimónio para o resto da vida. Ambos irão viver, até mais não, a celebração da solidariedade humana, no leste congolês montando um hospital sob a égide da sua fundação "Heal Africa", localizado numa das zonas mais violentas do mundo, devido à forte densidade de bestialidade humana que ali se concentra por quilómetro quadrado.


 
O apoio incondicional que sempre deu aos humilhados e ofendidos, nomeadamente às crianças, adolescentes e mulheres que sistematicamente foram (e continuam a ser) espoliadas, mutiladas e  violadas pelos "heróicos" guerreiros das diversas etnias daquela região africana, foi sobre-humano. Porque estamos a falar de crianças, adolescentes e mulheres violadas, bastas vezes colectivamente, com introdução anal e vaginal de paus, pedras e armas de fogo que depois chegavam a disparar. Após terem sofrido espancamentos e mutilações.


 
O casal Lusi


Porque importa denunciar o sadismo primitivo destes ditos "senhores da guerra", comanditários de todos os Mobutus, Kabilas e outros quejandos chefes congoleses que foram, são e hão-de vir a ser, sustentados pela máfia política do Hemisfério Norte, que muitas vezes se senta à mesa com eles a negociar a partilha das riquezas do solo.


 
Para todas estas pessoas que viviam na escuridão das doenças infecciosas que lhes inoculavam, no desespero da fome, com as aldeias incendiadas, os membros quebrados e os familiares assassinados à sua frente, a única luz que de esperança que ainda as fazia agarrarem-se à vida era, entre um punhado deles, o casal Lusi.


 
Lyn Lusi não foi agraciada com nenhum Prémio Nobel da Paz. Lyn Lusi não foi agraciada com viagens à volta da Mundo a dar conferências. Lyn Lusi não criou nenhuma fundação em que 95% de verbas colhidas se destinam a pagar vencimentos, comissões, contratações e outras confusões e a engordar as contas dos seus mentores. Lyn Lusi era uma ilustre desconhecida para quase todo o Mundo, salvo os que verdadeiramente se debruçam sobre os problemas africanos. Apenas neste último ano da sua  vida foi-lhe agraciado o Prémio Opus. O milhão de dólares que lhe coube do prémio investiu-o na íntegra no hospital e na Fundação. 

Morreu Lyn Lusi. Morreu uma Mulher-Coragem. Morreu uma Mãe-África. Morreu pobre materialmente. Mas era detentora duma riqueza humana fabulosa. Há mais uma estrela no luzeiro celestial. Aqui fica a minha singela homenagem. Sinto-me órfão.

 
Haja alguém que lhe faça um poema. Para que, na celebração da palavra, se celebre a sua memória.

 
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LEITURAS


 
Raramente tenho apontado a leitura de livros de História, mas hoje, a propósito de ter falado de Lyn Lusi e da sua Pátria adoptada que foi o Congo refiro dois livros excepcionais que li sobre a História deste País.

Um é "O fantasma do Rei Leopoldo: uma história de voracidade, terror e heroísmo na África colonial", da autoria de Adam Hochschild (Caminho, Lisboa, 2002, 484 págs.), e que se reporta aos lendários tempos do século XIX quando o rei Leopoldo da Bélgica quis ter uma coutada privada africana só para si e contratou, ao seu serviço, Henry Morton Stanley. Do Estado Livre do Congo, como coutada privada da realeza belga até ao Congo depois colonizado pelos empresários belgas e administrado pelo Governo deste País, este livro é um memorial histórico fabuloso reportando-se, como base de arranque, no romance que Joseph Conrad escreveu e onde relata a saga fictícia dum capitão de navio fluvial que, navegando no Congo, transporta marfim e vai em busca do lendário Kurtz, romance esse que ficou com o título de  "Heart of darkness" (traduzido em português para "Coração das trevas").

 

Capa do livro

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O outro tem por título "O assassinato de Lumumba" da autoria de Ludo de Witte (Caminho, Lisboa, 2001, 463 págs.) e historiografa o caminho para a independência do Congo e todas as clivagens que o mesmo sofreu após a mesma bem como reconstitui, com precisão, a ascensão e queda do Primeiro-Ministro federal Patrice Lumumba, caído em desgraça, preso, colocado sob protecção da ONU, donde opta por fugir e, após perseguição, acaba localizado e assassinado por congoleses ligados à facção Moisés Tchombé.


 
Capa do livro

Ambos os livros acima referidos são sólidos, bem documentados, muito bem escritos, e apaixonantes. Num misto de investigação histórica e jornalística, não enganam o leitor e para quem queira documentar-se sobre o Congo, quer colonial quer após a independência, estes dois livros acima referidos são, para mim, topo de gama.


 
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Sobre o "Heart of darkness" um dos livros do romancista Joseph Conrad é uma obra mundialmente famosa, traduzida para português com o título "Coração das Trevas" existindo, na nossa língua, várias edições desta obra. Joseph Conrad, em determinada altura da sua vida (1890) e por motivos profissionais, efectuou uma viagem ao Congo. Passado tempos demitiu-se e dedicou-se à escrita, tendo publicado diversos livros de aventuras. "Coração das Trevas" foi inicialmente publicado em 1899, em fascículos no "Blackword´s Magazine" e teve como fonte de inspiração  a viagem que ele efectuara uma década antes ao Congo.

Uma das capas das muitas edições em
língua portuguesa que este livro já teve.

É um romance onde relata a saga de Marlow um inglês que capitania um barco duma companhia belga no rio Congo e que tem que trazer uma carga de marfim rio abaixo e também ir buscar um tal Kurtz que ele não conhece mas que todos os membros da tripulação, ao falarem dele o engrandecem, como que o endeusando. Mas Kurtz, anos a fio isolado naquele interior africano, onde se comportava como um Deus despótico, afinal não é a personagem mitificada que contavam a Marlow.  Mas o cerne da narrativa romanesca é o relato do que toda a gente sabia, vivia e aceitava: um violento regime esclavagista.

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Lembro-me de há uma meia dúzia de anos atrás ter visto o filme "Coração das Trevas" que foi realizado com base no livro de Joseph Conrad. O filme foi transmitido na RTP 2, e não fixei nenhum nome, quer da produção, quer da realização ou de actores. Tendo pesquisado o filme na "rede" e nos vídeos do "youtube", não o localizei mas seleccionei um resumo da história em causa, que se segue. 


Resumo da história de "Coração das trevas"

 
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A título de curiosidade refira-se que este livro serviu de inspiração ao guião do filme "Apocalipse Now" realizado pelo magistral Francis Ford Copolla. É um dos filmes da minha vida.


 
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RECORDANDO HISTÓRIAS E LENDAS DE ÁFRICA




Rainha Amina dos haussas - Tendo andado a escrever sobre os exploradores europeus que penetraram nas regiões da área que compreende o actual Norte da Nigéria, em finais do século XVII e princípios do século XVII (Mungo Park, Daniel Houghtin e os quatro de hoje), tropecei nalgumas leituras da vida da Rainha Amina, cuja biografia é uma mistura de lenda e verdade. 


Rainha Amina (uma representação romantizada)


Entre séculos VIII e XVIII nasceram e morreram diversos impérios e estados naquela região africana, tais como o Gana, Mali, Songay, Bornu e Sokoto, entre muitos outros. O Impéria Haussa (Haussa Bakwai) começou a formar-se por volta do ano 1.000 e consolidou-se com a união de sete estados: Daura, Garun, Gobir, Kano, Katsina, Rano e Zaria (ou Zazau). Rezam as lendas locais e em parte subscritas em antigos estudos arabistas que, antes da formação da Casa Haussa (Haussa Bakwai), toda aquela região que viria a compô-lo e que se situava entre o rio Níger e o lago Chade, fora governado por dezassete rainhas.



E última delas, a mítica Shawata (também referida por Magajia Daurama), oferecia o seu corpo em casamento e o seu reino  em governação a quem matasse a monstruosa cobra Sarki (outras variantes dizem que era um dragão), que habitava num poço da cidade de Daura. Esta cidade (que também é referida por Katina ou Katsina, que é presentemente um dos estados nortenhos da federação nigeriana) tornou-se na capital espiritual do Império Haussa. De qualquer modo e continuando a seguirmos o relato desta lenda chega àquela cidade, vindo de Bagdade, um príncipe (ou plebeu, os relatos são variáveis) que dava pelo nome de Baiajida o qual matou o monstro que atemorizava o povo. Casando-se com a Shawata foram os filhos gerados deste casamento e dum outro anterior que ele efectuara antes de chegar a Daura que fundaram Casa Haussa, que liderou o Império que vieram a formar.



De qualquer modo também não é pacífica a veracidade da existência - física ou não - de Baiajida, o matador de dragões e progenitor dos fundadores da Casa Haussa. Estudiosos árabes e europeus não acreditam na sua existência mas que sintetizava a representação de grupos de migrantes do Oriente e que se deslocaram para o lago Chade e daí para o Norte do actual Níger onde se fixaram. A História de África muitas vezes mistura-se com histórias africanas.

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Regressando à nossa biografada, a mesma seria oriunda do estado de Zazau e o seu nome Amina (ou Aminatu) passou para a posteridade como uma rainha guerreira que liderou, em vários combates, milhares de guerreiros. Muito do que se relata dela é lenda, pois deeificam-na e a falta de documentos escritos contemporâneos que fossem idóneos (à sua época) mais dificultam o rigor da História. As fontes históricas haussas assentam, principalmente, em relatos efectuados por cronistas árabes que não enalteciam, por (de)formação religiosa, o papel da mulher. Inclusive a sua época de vivência não é pacífica. Para uns ela viveu nos princípios do século XV para outros em meados desse mesmo século. Para uns ela foi Rainha, para outros não passou duma cortesã ou princesa. Crónicas há que nem a referem minimamente


Sabe-se que ela existiu, governou, liderou guerras durante cerca duma trintena e meia de anos. Mas tudo o resto mescla-se com lendas. É assim a velha África.



Voltando ao Estado de Zaria (ou Zazau), um dos integraram o Império Haussa, o vigésimo Rei do mesmo, Nohir, não gerou filhos varões até à data da sua morte, pelo que foi o seu irmão quem ascendeu ao trono. Com a morte deste a coroa do Reino é entregue a uma filha de Nohir, que se chamava Bakwar Torunku. Esta mulher, que foi uma Rainha combatente e que liderou guerreiros, gerou a nossa biografada Amina (era a sua filha mais velha), a qual herdou o espírito bélico da sua mãe.  O Estado de Zaria começou por dominar o comércio trans-sariano após o colapso do Império Songai e, por ser o mais estruturadamente belicoso, tinha por função defender em primeira linha os outros estados haussas.

Amina teria uns dezasseis anos quando a sua mãe assumiu a governação de Zazau. Ao suceder-lhe, novamente,as contradições históricas surgem. Uns centram o seu reinado entre 1536 e 1573, outros que foi o seu irmão, Karama, quem governou realmente e só após a morte deste (que teria ocorrido em 1576) é que ela assumiu o Reino. De qualquer modo, torna-se pacífico que ela desencadeou guerras aos reinos vizinhos. Segundo relatos: "Ela levou a guerra a esses países, derrotando-os completamente, de modos que o povo de Katina passou a pagar-lhe um tributo bem como os homens de Kano. Combateu ainda as cidades de Bauchi até que o seu Reino atingiu o mar, a sul e a ocidente." À data da sua morte o Império Haussa tinha uma dimensão geográfica nunca antes alcançada.



Outra representação romantizada da Rainha Amina

Terá combatido durante uma trintena e meia de anos. Nunca se tendo casado rezam as lendas e as crónicas que recebia um homem por cada cidade que conquistava. Como depois abandonava essa cidade para partir para outra o desgraçado era decapitado. A época em que, comunemente, se enquadra o seu reinado correspondeu ao florescimento da expansão haussa. Os seus artífices tornaram-se bastante procurados fora das fronteiras territoriais. As cidades haussa tornaram-se centros de mercados e de negócios trans-fronteiriços, fazendo com que a língua local se tornasse franca. O comércio do sal, couro, tecidos, obi (cola), cavalos e camelos e metais expandiram-se e terá sido no decurso do seu reinado que Zaria tornou-se no "umbigo do mundo" sudanês ocidental. Tal facto também se deveu porque se relata que a Amina não lhe interessava tanto a subjugação das terras conquistadas mas sim que estas deixassem o livre trânsito às mercadorias haussas (em termos modernos seria como isenção de impostos fronteiriços).



Amina, a lendária  Rainha que, segundo as crónicas, era conhecida por "Amina, yar bakuwa ra san rana" ("Amina, a mulher que era capaz de tudo como se fosse um homem"), morrreu em Atagara, com a sua reputação de invencibilidade e de boa governante intocáveis.



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POESIA



 Ana Paulo Lavado - Amante que sou de ler e ouvir declamar poesia, há uns tempos atrás fui assistir ao lançamento dum livro duma poetisa que não conhecia, (e continuo a não conhecer pessoalmente)de seu nome Ana Paula Lavado. No decurso do lançamento comprei um exemplar da obra em causa "Mentes perversas..." e, posteriormente, li-o, leitura essa que se tornou numa agradável surpresa. Há já algum tempo que não tropeçava num conjunto de poemas bem encorpados e enquadrados, tal como depois comentei neste blogue.

Ana Paula Lavado


 
Movido pela curiosidade acabei por adquirir, passados uns dias, os dois livros que a referida poetisa já tinha publicado antes: "Vozes do vento" e "Um beijo... sem nome". Não sou um crítico literário e pertenço àquele enorme grupo de pessoas que gosta ou não do que lê, do que ouve ou do que vê sem ter que se justificar porque sim ou porque não da apreciação de determinada obra. Preocupa-me mais a sua divulgação do que analisá-la. E, mesmo que aconteça conhecer pessoalmente o/a Autor(a) (o que ainda não acontece neste momento com esta poetisa), isso não me inibe de gostar ou não da dita obra, independentemente do grau de (ini)amizade ou (des)conhecimento que possa ter com ele/a.

 
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A poesia de Ana Paula Lavado leva-nos a um longo caminho lajeado por pedras apanhadas, aparadas e polidas nas dores dos amores perdidos porque partidos, quando ela diz


 
Se eu te chamasse e tu viesses,
como outrora fizemos um dia,
contar-te-ia minhas mágoas, minhas preces
e, numa quietude que só tu conheces,
tornarias leve minha melancolia.
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nas emoções das paixões cheias de (des)ilusões e na constante luta que trava e porfia na labuta do dia-a-dia, sempre na esperança dum amanhã que tarda e nem sabe se chegará,


 
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E a maré sobe,
e a lua nova adormece....

É a vida que se repete,
no ar fatigado e banal
da vida onde nada acontece.


 
e no sorriso que embala a pessoa com quem fala. E, assim, vai adiando os desejos incontidos do partir de novo, do se sonhar a dizer


 
Vou para longe.
Embarcar num barco à vela,
para lá onde o mar engrandece
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porque fatigada e cansada das falsas amizades que a levará a clamar

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Ó gente impura
que mal fadaste as pedras do chão,
nem ácidos sulfúreos
seriam tão corrosivos,
nem lava ardente
faria tal combustão.
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que a fazem sentir-se impotente perante o avançar inexorável do tempo, que pára antecipadamente a sua vida como se fosse um  anúncio de pré-morte:



Pedi um tempo
ao tempo,
que não ousou esperar.
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Resta-me a morte,
resta-me esperar.



O pensamento ou o tema da morte acompanha, por algumas vezes, o correr da sua caneta, mas não a torna a sua poesia moribunda. Encara-a como acto natural e filosofa se terá merecido a pena ter vivido.


Vou morrer um dia!

Claro que vou.
É a sorte que me sobra.
Resta saber se a existência
que emprestei a  este corpo
terá valido a pena.
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Tropicalmente oriunda duma geograficamente longínqua Angola, mas que está colada ao seu coração e aonde não sabe se voltará, magnificamente nostálgica poema:



Lembrei o aroma selvagem
que me viu nascer!

As imagens fogem,
ficam difusas...

Como se o tempo estivesse a desfocar!

Mas os cheiros não se apagam no tempo...
e trazem-nos lembranças
vindas nas vozes do vento!


 
Refugia-se na poesia, como forma de combate ao torpor do dia-a-dia e, ilusoriamente triunfante dirá:

Este é o meu reino
onde as palavras tomam a cor dos madrigais
e se esquecem da realidade 
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Pela sua poesia passa um lirismo com ritmo, musicalidade, cor. E, entre vários, há o cântico sublime ao Amor, como acto de redenção da vida e purificação da alma, quando proclama


Se amor fosse decidido ser doença
Qualquer químico seria o bastante
P´ra tornar o seu estado demência
Num estado de equilíbrio constante.  
Mas amor não é doença.................
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Ou, como magistralmente inspirada diz:


 
Apetecia-me escrever um poema
daqueles que falam de orgasmos
de loucuras e erecção,
de gemidos e fantasias
de corpos suados e de tesão!
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Encerro esta minha singela apreciação à sua poesia com a chave de ouro de um dos mais belos poemas sentidos que já li na minha vida (e tantos tantos que  já li).


 
Um Cálice de Porto

Hoje já não pergunto porque não voltas.
Apresso-me apenas para chegar a destino nenhum
e apagar as luzes que te vestiram.
Depois permaneço deste lado do palco. Este lado
que se mantém inalterável e escuro, onde a vida
não é mais que um reflexo isento de espelhos.
Quisera ter-te... mas não passei de um adereço
dispensável na representação.
Resta-me apenas o cenário onde ainda te revejo
e vou confundindo a realidade para que o sonho não se suicide.
De alma nua, amo apenas o mar que nos uniu
e odeio o mar que nos afastou.

 
Havíamos ficado, noites inteiras, depois de um brinde
onde juramos eternidade. Perdidos no riso
ou exaustos na paixão, deixamos vazios, todos os cálices
daquele Porto que escolhias por amor.
As horas morriam no silêncio dos nossos corpos
emudecidos de prazer, numa cama
que ficou gravada pelas nossas mãos.

 
Se a morte chegasse, pediria apenas um cálice
de Porto dourado. E morreria bebendo cada beijo teu!


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Sem sombra de dúvidas que volto a repetir o que dela disse (na mensagem de 01 de Maio último) aquando primeiramente li o seu terceiro filho literário: "Há algum tempo que não lia poemas com corpo e alma. Com forma e conteúdo."

Ana Paula Lavado. Uma estrela a reter na constelação poética que envolve o nosso mundo imaginário.

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PINTURA


 
Roberto Chichorro - Pintor luso-moçambicano, nascido em 1941, em Lourenço Marques. Depois de completados os estudos secundários na capital laurentina começa logo a trabalhar em diversos empregos, atendendo a que o curso universitário que pretendia tirar só era possível (na altura) em Portugal e o factor económico pesou pela negativa.


Roberto Chichorro



Quando cumpria serviço militar, no início da década de 60, trava conhecimento com o jornalista Carneiro Gonçalves que o desafia a integrar uma exposição pictórica colectiva em 1966. No ano seguinte já expõe individualmente, sempre em Lourenço Marques.



Quadro de Roberto Chichorro



Em 1971 vem, pela primeira vez, a Lisboa e na década seguinte profissionaliza-se, de vez. Ganha uma bolsa do Governo espanhol para arte de cerâmica e de zincogravura. Até meados desta década circula entre Moçambique, Espanha e Portugal, até que acaba por se fixar neste último país.




Quadro de Roberto Chichorro


Cruzei-me, pela primeira vez, com a sua arte na ilha de S. Miguel (Açores). Tem um traço característico que o individualiza na panóplia dos pintores moçambicanos, sendo o azul a sua tonalidade preferida.  Não sendo um apaixonado pela sua pintura não deixo, no entanto, de a apreciar.



Quadro de Roberto Chichorro



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ESCULTURA


A minha tardia homenagem a um amigo que partiu.



António Magina - Escultor angolano que conheci e tive o prazer de ter cruzado com o mesmo por alguma vezes. Não sendo íntimos e de convívio constante, no entanto cruzámo-nos esparsamente e o seu trato afável com uma voz calma tornavam as nossas conversas um momento de prazer.




António Magina

Tomei conhecimento agora, muito tardiamente (estupidamente tardio mesmo) da sua morte ocorrida em Novembro último, em Lisboa, por motivos de doença. Lamento. Tanto como a sua morte, o meu lamento vai para o não ter convivido mais com ele, o não ter aprendido mais com ele, ou se calhar o não ter sabido ouvi-lo melhor. Opções profissionais da minha vida levaram-me, por vezes, a deslocar-me para outros lados e o afastamento dos amigos mais chegados ou não era inevitável.



Escultura de Magina



Mas isto também não serve de desculpas à minha falha. É estúpido estar para aqui com lamentações e auto-críticas. Errei ao não ter convivido mais com  um Homem da cultura. Cuja presença e amizade só me honravam. Se um dia me cruzar com ele, no Além, não voltarei a cometer este erro terreno. Agora e aqui já é tarde.


Até lá apenas estas linhas para, publicamente, redimir-me do meu erro e dizer que, sinceramente, a partida de Magina, deixou-me a mim (e a todos nós) mais pobres. Morreu um Homem. RIP.



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PORQUE  SÓ HÁ UM PLANETA


 
Há que denunciar os maus tratos que energúmenos praticam nos animais. Não se acorbadem. Ao calarem-se tornam-se cúmplices desses facínoras.


 

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Felizmente há animais que crescem e vivem em ambientes compatíveis. Mas, infelizmente, a cada ano que se passa são uma minoria. 

 


 

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ACONTECEU


Crónica de uma morte anunciada - Leio no Expresso que , na zona do Bombarral, uma senhora grávida de oito meses acabou assassinada pelo seu ex-companheiro e que este, por sua vez, suicidou-se. Infelizmente acontecimentos destes ocorrem aqui e em qualquer parte do Mundo, não sendo essa a causa do meu escrito. 


É que no seguimento da notícia leio que a referida senhora era alvo, sistematicamente, de maus tratos do referido companheiro e que por quarenta sete vezes ela e seus familiares directos apresentaram queixa nas autoridades. Repito, sublinho e carrego a negro, quarenta e sete vezes ela e seus familiares directos apresentaram queixa nas autoridades. Ah, já me esquecia: no espaço de 14 meses.

Depois de múltiplas vezes ter sido ou esfaqueada,  ou pontapeada, ou ficado com costelas partidas, ou ter tido uma pistola encostada à cabeça e todas as demais violências, as autoridades policiais... pacatamente continuaram sentadas no maldito posto de trabalho. Trabalho? Se isso é trabalho eu quero concorrer a esse tacho.



Estava grávida de oito meses quando foi assassinada à catanada e o bébé que transportava no ventre também morreu. Revolta-me a passividade disto tudo. Enojam-me estas autoridades. Rápidas a passarem multas de trânsito... lentas a defenderem uma pessoa indefesa. 

Das 47 queixas a maioria foi apresentada na GNR do Bombarral e cinco no Tribunal daquela comarca. Leio que "Com a tomada de posse da nova procuradora-adjunta no início de Março o processo ainda acelerou...." e a trinta desse mês "quase um ano após a primeira agressão atribuíram a  "M....." o estatuto de vítima de violência doméstica".


Vocês desculpem-me mas só me apetecia espetar uns bufardos nos focinhos das autoridades (policiais e judiciais) de tal aberração. Um ano para considerarem uma pessoa vítima de violência doméstica? Mas estamos em que País?  Vivemos em que século? Somos regidos porque leis?


Mas o desprezo para com a integridade física duma pessoa (ainda por cima grávida) não acaba aqui. Finalmente, os polícias mexeram-se (coitaditos, lá tiveram que justificar o "al contado do fim do mês" e, de certeza por ordem do Procurador-Adjunto (coitadito, lá teve que dar um despacho para justificar o "al garantido ao fim do mês") apresentaram o agressor a um Juiz de Intrução Criminal que, em vez de o mandar para o local correcto (a cadeia) pô-lo na rua com Termo de Identidade e Residência e proibição de contactar com a vítima. Coitado do Senhor Doutor Juiz, se tivesse que o prender tinha que dar um despacho fundamentado a justificar a prisão (é a Lei, meus senhores, é a Lei) e, assim, mandando embora é tudo mais rápido e vamos todos para casa ver a Selecção.


Um mês depois o caso ficou resolvido. De vez. Com três mortos e um ferido (o pai da senhora também foi agredido com a catana) o processo vai para o arquivo, com  passagem pelo tratamento estatístico. Caso resolvido.



Os polícias lá voltaram para o fresquinho do posto a verem os jogos da Selecção e comendo tremoços, o Ministério Público com menos um processo para despachar e a atrapalhar as estatísticas (pois arquivaram-se 47 queixas duma assentada) e o Juíz, qual Vitor Constâncio do Bombarral, de nada tem culpa, de nada se apercebeu, nada mais podia fazer.



Enojam-me todos eles. Sem excepção. Lamentavelmente são analfabetos demais para lerem e compreenderem Gabriel Garcia Marquez. Talvez algum dia um drama destes lhes toque à porta. Mas aí... eu não lamentarei.



A família está disposta a presentar queixa contra o Estado Português devido ao laxismo e incompetência com que tratou o caso. Acho muito bem e faço voto que o Estado seja condenado a pagar uma indemenização cível aos queixosos.



Só lamentarei essa indemenização (a ser determinada) não sair do bolso dos polícias, procuradores e juízes que não tenham tratado o caso com a rapidez e humanidade que o mesmo requeria. Será o Estado a sacar o dinheiro dos meus impostos para pagar a incompetência destes cafagestes que não merecem o tacho que têm e só envergonham as classes profissionais que representam.

 

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Seja amigo do ambiente. Utilize os textos do Novo Acordo Ortográfico como papel higiénico.


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As referências aos produtos acima referidos (livros, filmes, músicas, etc.) bem como a Autores são incompatíveis com intuitos publicitários de carácter comercial.  Refletem, apenas, a minha opinião.

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Todas as fotos do presente texto foram colhidas do Google Imagens e os vídeos do Youtube.
Deste modo, os Autores quer das imagens quer dos vídeos em causa, não estão
cingidos às opiniões por mim manisfestadas. 


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E agora... até um destes dias. Vou dormir.

 



 

terça-feira, 1 de maio de 2012

René Caillié

Viajantes, aventureiros e exploradores

René Caillié - (Mauzée, 19/09/1799 - Saint-Simphorien-Du-Bois, 17/05/1938) - Explorador. Filho de famílias do mais baixo estrato social, com um pai alcoólico e preso por roubo, de quem fica órfão aos onze anos,apaixona-se pela vida aventureira após, na adolescência, ter lido o romance sobre as aventuras de Robinson Crusoé: "Sobretudo a história de Robinson inflamava-me a jovem cabeça...".

René Caillié
Aos 16 anos, com sessenta francos no bolso "Não tinha senão sessenta francos..." segue como embarcadiço na fragata "Loire", com destino ao Senegal (1816) aportando na Angra de São Luís e depois em Dacar. Por aqui fica até "Após ter permanecido alguns meses nestes tristes locais, parti para S. Luís logo que os Ingleses devolveram a colónia aos Franceses." Chegado a São Luís toma conhecimento duma expedição britânica, liderada pelo Major Gray, que partira para explorar o interior de África e estava bloqueada em Fouta Djalon (actual Guiné Conacry), por decisão dum "almami" (soberano local). Decide juntar-se à expedição pois: "... quando me falaram na expedição; e, não duvidando que o Major Gray tendo necessidade de gente, acolheria a oferta dos meus serviços, se bem que para ele eu fosse estrangeiro, decidi-me a ir para a Gâmbia, por terra..." Apesar da sua resistência de jovem, acaba por quebrar o ânimo e, convencido por africanistas mais experientes, desiste do intento e retorna a São Luís.

Embarca daí para Guadalupe, nas Antilhas francesas, onde fica durante seis meses.  Retorna a França (Bordéus) e, com 18 anos, efectua nova viagem à África ocidental, desta vez ao protectorado francês de Bondu, que se localizava entre os rios Feleme e Gâmbia e era dependente da colónia francesa do Senegal. A leitura de várias biografias de exploradores daquela zona da África Ocidental, influenciou-o bastante, nomeadamente a vida aventureira do médico britânico Mungo Park (1771-1806), o primeiro europeu a atingir o rio Níger e a tentar descobrir todo o seu percurso, pagando estupidamente com a vida a sua ousadia e incúria. Como ele refere: "A minha paixão pelas viagens começava a acordar; a leitura de Mungo Park veio acrescentar uma nova força aos meus projectos; enfim, a minha constituição, tendo resistido a uma permanência assaz longa tanto no Senegal como em Guadalupe, dava-me a esperança de os executar desta vez com sucesso." Assim, retorna a São Luiz, no Senegal em finais de 1818, decidido a tornar-se explorador do interior africano. No Senegal toma conhecimento que a coluna britânica do Major Gray ainda se encontra no interior africano, bloqueada por novas exigências do rei de Boundou pelo que se oferece, de novo para se integrar na mesma. "O senhor Adrien Partarrieu, enviado pelo Major Gray para adquirir em São Luís as mercadorias exigidas pelo rei de Boundou, dispunha-se a juntar-se de novo à expedição. Apresentei-me ao senhor Adrien Partarrieu e propus-lhe acompanhá-lo sem salários e sem compromissos de nenhuma espécie de momento." Esta expedição, que virá a fracassar nos seus objectivos, será um tormento para René Caillié e para todos os restantes membros da mesma, conforme ele relata nas suas memórias, mas irá aprender com os erros cometidos ao longo da mesma, aprendizagem esta que ser-lhe-á útil no futuro.  

A fim de incentivar a penetração europeia no interior africano, extremamente desconhecido na época, diversos governos de países europeus criaram, juntamente com privados, as suas próprias sociedades de geografia, que funcionavam como pontas de lança da política colonial dos seus interesses político-económicos, incentivando exploradores e missionários a rasgarem o interior afro-continental, sendo estes os percursores dos mercadores e militares que dariam lugar depois à instalação do poder político-administrativo em determinada região. 
Tombuctu era uma cidade lendária e milenária que povoava o imaginário dos europeus. Fundada no tempo do Império do Mali, por nómadas tuaregues, com objectivos económicos de servir de entreposto comercial na permuta do sal (fonte da vida) por escravos (fonte de poder e do prazer) e ouro (fonte de riqueza), a sua localização, a cerca de meia dúzia de quilómetros das margens do rio Níger, tornavam-se dominadora e centralizadora das rotas caraveneiras que cruzavam o Sahara, o que lhe deu uma mais valia como poderio militar. Mas remonta a essa época a construção da formosa Mesquita de Djingareiber (1325), construída em barro e que ainda se mantém até aos dias de hoje, o que também lhe conferia um estatuto de liderança espirutual. A sua construção foi ordenada pelo Imperador Mansa Mussa, que colocou Tombuctu no centro das atenções do mundo de então, ao peregrinar faustosamente a Meca com um séquito de milhares de homens, em 1324. Tendo feito uma escala no Cairo, para visitar o Sultão local, espalhou tanto ouro que a cotação deste metal nos mercados caiu a pique. Desde 1988 a dita mesquita (e também a cidade) encontra-se classificada como Património da Humanidade, pela UNESCO. 

Localizada no coração do Mali, por volta de 1400 da era cristã estava sob domínio do Império Songhai e atinge, aí, o seu apogeu como centro difusor dos credos judaico, muçulmano e cristão e das culturas songhai, tuaregue e árabe. Dos seus cerca de cem mil habitantes (por volta de 1450) um terço dedica-se ao estudo corânico, vindos das mais diversas regiões do mundo árabe, desde a Granada ibérica à Meca arábica. Era um caldo de tolerância e toda essa mundivivência irá fenecer a partir de 1600 DC., com a queda do Império Songhai, fruto da invasão de forças berberes marroquinas que conquistam a cidade (1590) e liquidam os líderes religiosos  locais, acusados de falta de confiança e, também, com a ingerência europeia que estava, com a expansão das navegações, a dominar o litoral africano e a mercadejar em moeda forte com as redes de escravos, da pimenta africana e do ouro. Começavam então, lentamente, a surgir as brumas nevoentas que iriam mergulhar Tombuctu na letargia.


Tombuctu



Quando o Império Songhai claudica Tombuctu é também arrastada na queda. Fecha-se ao mundo, fruto da mentalidade dos seus novos senhores, onde apenas impera o pensamento monoteísta e monoétnico. A incapacidade de  defesa da cidade pelas forças marroquinas leva-as a descarregarem as culpas na população local, que acusam de conluio com os ataques externos vindos dos bambaras, fulas e tuaregues.


E assim se mantém até aos alvores do século XIX, ajudada geograficamente pela sua centralização desértica. Dos ventos secos e arenosos do deserto virão as poeiras que criarão a neblina isolacionista a que a remetem. Quando os europeus, neste século XIX, começam a virar as suas atenções para a exploração do interior do continente africano, que nos mapas era quase que representada por uma grande mancha incolor, o deserto do Sahara não irá escapar ao seu esquadrinhamento. E nem as suas violentas temperaturas e díspares amplitudes térmicas farão parar a iniciativa europeia. A fome do negócio, a sede da aventura e a gula da conquista de terras falarão mais alto. E contra isto não havia "harmattan"  (ventos secos do deserto) que os detivesse.


Tombuctu era uma cidade que estava entranhada nas mentes dos europeus aventureiros como uma lenda. A sua posição geográfica, protegida pelo deserto, a sua política de interdição de entrada na mesma a estranhos (muito menos infiéis, isto é, não islâmicos) com pena capital a quem ousasse desafiar, ainda mais acicatava a gula de a atingir. Espalhavam-e histórias fantasiosas de ser uma cidade opulenta, digna das "Mil e Uma noites".


Deste modo a Sociedade de Geografia de Paris instituiu um prémio de 10.000 francos a qualquer europeu que conseguisse chegar à mítica Tombuctu e regressar para contar o que vira. Em 1826, um britânico, o Major Alexander Gordon Laing (1793/1826) decidira estudar o curso do rio Níger. Para tal partira de Tripoli (actual Líbia) em 16 de Julho de 1825 e após várias vicissitudes na sua caminhada para sul, onde inclusivamente fora gravemente ferido em combate contra um grupo de tuaregues, conseguira entrar em Tombuctu a 18 de Agosto de ano seguinte. Tornara-se no primeiro europeu a entrar em Tombuctu vindo do norte. Mas não regressaria de lá, pois acabou assassinado a 26 do mês seguinte. Os governantes locais não toleravam interferências estrangeiras nem queriam estranhos na sua cidade, muito menos infiéis. Eram os duros tempos em que a aventura pagava-se, bastas vezes, com a vida. Mas mais que à aventura, a vida era cobrada ao desleixo, à incúria, à sobranceria, ao não se preparar cuidadosamente as explorações.


Alexander Gordon Laing

René Caillé decidiu arriscar tudo naquela que seria a viagem da sua vida: iria a Tombuctu e voltaria para relatar tudo e reclamar o prémio. Mas iria preparar-se convenientemente, para não correr riscos desnecessários nem cometer falhas. Rememorando a expedição falhada do Major Gay, em que participara, decidira agora que iria sozinho. Deslocando-se de novo para o Senegal, fixou-se a residir no seio de populações árabes, na região de Braknas, a sudoeste da actual Mauritânea, a norte do rio Senegal, aprendendo a viver com eles para aprender a tornar-se num árabe, pois ia: "aprender a língua árabe e as práticas do culto dos Mouros, a fim de mais tarde, enganando a sua zelosa desconfiança, conseguir penetrar mais facilmente no interior de África." Para tal aperfeiçoou o falar árabe, de que já dominava um pouco fruto  das viagens anteriores, bem como desde o comer, ao vestir, à higienização pessoal, aos costumes das leituras e práticas religiosas, de tudo aprendeu e absorveu, tornando-se num árabe. Assim, numa "Terça-feira 3 de agosto de 1824, às quatro horas da tarde, parti de São Luís acompanhado por dois homens e uma mulher, todos habitantes de N´pâl..." para a região de Braknas. Começava a preparação para a aventura.


René Caillié


A 16 de Maio de 1825 retorna a São Luís. Durante nove meses aprendera e prepara-se. Arranja alguns empregos sem importância enquanto tenta arranjar financiamento por parte das autoridades francesas para o seu projecto de ir  Tonbuctu. Não tendo recebido apoio das autoridades francesas para o seu plano René Caillié, desiludido, desloca-se para território britânico, na Serra Leoa, onde trabalha numa plantação de índigo: "Dali (da ilha de Goreia) passei à Serra Leoa. O general Charles Turner, governador deste entreposto inglês, acolheu-me com bondade e, para me reter na colónia que comandava, encarregou-me de dirigir uma fábrica de índigo e atribuiu este cargo que criou para mim um vencimento de 3.600 francos."  Juntando o seu salário durante alguns meses: "porquanto tinha cerca de 2.000 francos de economias e este tesouro parecia-me suficiente para ir até ao fim do mundo" acaba por auto-criar uma personalidade árabe para si, alegando que era um egípcio que fora levado à força pelos franceses de Napoleão Bonaparte, aquando da invasão deste ao seu País para o Senegal e que agora pretendia regressar a casa: "... informei-os (a uns mandingas e a uns saracolés com quem se travara de amizades para melhor obter informações do interior) em segredo que nascera no Egipto de pais árabes e que fora levado para França ainda de tenra idade por  franceses que faziam parte do exército que fora ao Egipto; que depois fora levado para o Senegal para ali tratar dos assuntos comerciais do meu patrão que, satisfeito com os meus serviços me libertara."
Integrando uma caravana mandingo, agora completamente disfarçado na pele dum árabe, René Caillié, em 1827, inicia a aventura da sua  vida que o guindará aos píncaros da fama. Partindo da aldeia de Kakondi: "situada na foz do rio Nunes a 50 léguas a norte da Serra Leoa..." (19 de Abril de 1827), depois de ter atingido Bokê, (a oeste da actual Guiné-Conacry) e ultrapassada a cadeia montanhosa do Fouta-Djalon (no zona central da actual Guiné-Conacry) passa o rio Níger em Courussa (no noroeste da actual Guiné-Conacry).




Atingido o planalto Kong fica aí retido largos meses por doença mas, em Janeiro de 1828, retoma a viagem e atinge a cidade de Jenné. "A cidade de Jenné é barulhenta e animada; todos os dias chegam e partem numerosas caravanas de mercadores que transportam todo o tipo de coisas úteis... A cidade é sombreada por alguns embondeiros, mimosas, tamareiras e borassos;... há muitos estrangeiros estabelecidos, mandingas, fulas, bambaras e mouros...." Após uma estadia embarca para Tombuctu pelo rio Níger, a 13 de Março: "Finalmente cerca das nove horas e meia deixámos o porto...". A 20 de Abril desse mesmo ano atinge Cabra, o porto de Tombuctu. "A 20 de Abril, às três horas e meia, os homens de Sisi-Abdallahi Chebir e eu rumámos a Tombuctu, dirigindo-nos para norte... /// Por fim, chegámos felizmente a Tombuctu no momento em que o Sol tocava no horizonte... /// Ao entrar nesta cidade misteriosa, objecto das pesquisas das nações civilizadas da Europa fui tomado por um inexplicável sentimento de satisfação..."


No dia seguinte (21 de Abril) "... fui passear pela cidade para examiná-la. Não a achei  nem tão grande nem tão povoada como esperava; o comércio é muito menos considerável do que faz crer a fama; nela não se vê, como em Jenné, esta grande afluência de estrangeiros vindos de todas as partes do Sudão. Não encontrei nas ruas de Tombuctu senão os camelos vindos de Cabra carregados de mercadorias trazidas pela flotilha; alguns ajuntamentos de habitantes sentados no chão sobre esteiras, conversando; e muitos mouros deitados diante das portas, dormindo à sombra. Numa palavra, tudo respirava a maior tristeza." Percorrera 2.500 quilómetros para ter uma decepção. Demora-se aqui apenas duas semanas e, disfarçado de mendigo, a 04 de Maio seguinte sai da cidade, integrando-se numa enorme caravana de 600 camelos; atravessa o Sahara, sempre para Norte até atingir Marrocos, em Fez, onde chega a 12 de Agosto e, depois, Rabat e, de seguida, Tânger. Só em Tânger é que o Cônsul francês o aceita, sob reservas, como seu compatriota, pois era tal o seu estado miserável, doente, com febres, roupas rasgadas, mal cheiroso por andar a dormir ao relento, esfomeado, sem dinheiro e cheio de feridas por ter sido atacado por cães, que os cônsules de Fez e Rabat recusaram-se a reconhecê-lo como europeu e muito menos francês. Todos se recusaram a acreditar que aquele farrapo humano fizera História. Tomavam-no por um árabe louco.   
Chega a França (Paris) onde, finalmente, a glória e a riqueza lhe batem à porta. Tinha sido o primeiro francês a entrar em Tombuctu e a sair de lá vivo, para relatar o que vira. As condecorações oficiais, o bendito prémio de 10.000 francos da Sociedade de Geografia, bem como uma pensão governamental vitalícia, tudo lhe é atribuído. Escreve um livro onde relata esta viagem, que titula de: "Voyage à Tombouctou et a Djenne´". O livro foi escrito com base nas suas memórias ainda frescas e com base nalguns apontamentos que ia anotando às escondidas de todos durante a sua viagem, enquanto fingia que lia o Corão. Mesmo as próprias leituras geográficas que fazia era com uma bússula que manteve sempre secreta na sua sacola de viagem e quando fingia que ia à mesma buscar ou colocar algo. Nunca cometeu nenhuma falha. Tinha nervos de aço. Por isso sobreviveu.


Capas duma edição de dois volumes

Dando por finda a sua vida de viagens retira-se, vivendo dos rendimentos que a mesma acabara por lhe proporcionar e, uma década depois desta viagem, África cobrou-lhe a façanha de a ter desventrado um pouco. René Caillié morreu vitimado por febres apanhadas em África. E só em 1894, sessenta e seis anos após a sua odisseia, é que a França se decidiu a ocupar de vez Tombuctu.

Nota: as citações do biografado foram retiradas da tradução portuguesa do livro "Viagem a Tombuctu" que de seguida se refere.



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Existe, traduzido para português, pelo menos uma versão da obra de René Caillié. Trata-se do livro com o título "Viagem a Tombuctu", editado pelas Publicações Europa-América em dois volumes. O primeiro volume é de Fevereiro de 2007, com 241 págs. O segundo volume foi editado em Março de 2007, com 278 págs.

O livro é de escrita escorreita, sem grandes floreados, objectivo e, dentro dos parâmetros da mentalidade europeia de então, trata com justeza os personagens que se foram cruzando nas aventuras do Autor.


Tem o cuidado de relatar não só a sua narrativa histórica, mas também se debruça sobre usos e costumes dos povos com quem conviveu, os tipos de agricultura a que se dedicavam, gastronomia, vestuário que envergavam, cultos religiosos a que se entregavam, para além de descrição geográfica dos territórios que atravessava. Livro que, para a época, foi um manancial de informações utilíssimas sobre regiões totalmente desconhecidas dos europeus. Para os tempos actuais, não só é um notável livro de aventuras como também é um registo muito completo sobre como se vivia e morria naqueles duros e áridos tempos em que a vida humana era decidida pelo humor momentâneo de quem empunhava uma arma.  

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Historiando Moçambique Colonial





Vasco da Gama - (Sines, 1468? - Cochim, 24/12/1524) - Navegador. Um dos mais célebres homens da história dos descobrimentos marítimos europeus e que protagonizou uma das mais famosas viagens marítimas do planeta, a do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, via continente africano. Perito em navegação, o Rei Dom Manuel I entregou-lhe o comando da armada que, em 08 de Julho de 1497, saiu de Lisboa a fim de tentar chegar à Índia, o que veio a conseguir.

No decurso desta viagem aporta, pela primeira vez, no actual território moçambicano, nas localidades de Inharrime (há dúvidas entre diversos historiadores se seria aqui ou em Inhambane), Quelimane e ilha de Moçambique no decurso do ano de 1498 e, de seguida, rumando sempre para norte, chega à almejada Índia,  a Calecute, a 20 de Maio deste mesmo ano.

Regressa a Lisboa onde chega em finais de Agosto de 1499, sendo promovido a Almirante do Mar da Índia. Em 1502 volta à Índia onde trava alguns combates punitivos, regressando a Lisboa dois anos mais tarde, após firmar tratados de vassalagem com o Sultão de Quíloa e tratados de aliança com os governantes de Cochim e Cananor  

Em 1524 efectua a sua terceira e última viagem à Índia, para onde fora nomeado Vice-Rei, mas a malária ceifou-lhe a vida, falecendo em Cochim.   


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Diogo Dias - (?/?) - Navegador. Irmão de Bartolomeu Dias*, integrou a sua armada que dobrou o cabo da Boa Esperança, pela primeira vez. Posteriormente segue na primeira armada de Vasco da Gama. Regressa de novo  Índia na armada de Pedro Álvares Cabral, comandando uma caravela que, apanhada em tormenta no cabo da Boa Esperança, fica isolada das restantes e deriva até à ilha de Madagáscar, baptizando-a de São Lourenço, por a ter descoberto no dia dedicado a esse santo católico. É-lhe ainda atribuído o mérito, ainda que discutível, de ter descoberto acidentalmente a baía de Lourenço Marques.


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Nicolau Coelho - (Felgueiras, 1460? - zona das Quirimbas, 1503) - Navegador. Comandou a "Bérrio", na primeira viagem marítima de Vasco da Gama para a Índia, tendo como seu piloto o lendário Pero Escobar*.  No decurso desta viagem foi este navio o primeiro a explorar e a efectuar sondagens no Canal de Moçambique, atendendo ao facto de ser a embarcação mais pequena da armada, bem como foi o primeiro a estabelecer contactos com o Sultão de Quíloa.


Regressou ao Reino em 1499, tendo sido o primeiro a chegar a Lisboa e a dar a boa nova do desbravamento marítimo para a Índia. No ano seguinte comanda uma nau, na segunda armada para a Índia, armada essa que era liderada por Pedro Álvares Cabral e que descobriu (ou "achou") o Brasil. 

 Em 1503, comandando a nau "Faial", volta de novo à Índia, integrado na armada de Afonso de Albuquerque e, na torna-viagem (1), morre no naufrágio que sofre na zona do arquipélago das Quirimbas. 

(1) - Viagem de regresso.

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Lourenço Marques - (?/?) - Comerciante e explorador. Muito pouco se sabe sobre o homem que explorou a baía do Espírito Santo (actual Maputo), em 1544, e a quem o seu nome foi dado à cidade que aí veio a ser fundada. Terá nascido no Algarve (Tavira) e admite-se que tenha integrado a armada de Dom João de Castro, que se dirigia para a Índia. Estabelecido em Melinde ter-se-á envolvido de amores com uma árabe que raptou e, para fugir da punição de tal acto, rumou para o arquipélago do Bazaruto*.

Comerciante e navegador enceta com António Caldeira a exploração da costa sul de Moçambique, atingindo as embocaduras dos rios Limpopo, Umbelúzi e Maputo, onde explora a baía referida como "Delagoa Bay" (inicialmente conhecida como "baía da Boa Morte").

Escreve a Dom João de Castro, Vice-Rei da Índia, a narrar as descobertas. Chegado a Lisboa o conhecimento de tal facto, o Rei de Portugal Dom João III ordena que seja fornecido a Lourenço Marques um navio com alguma mercadoria, para estabelecer contactos com os nativos daquela zona sul. Pelos relatos dos sobreviventes do naufrágio da nau "São João", ocorrido em 1552 na zona do Natal (actual África do Sul) apurou-se que Lourenço Marques ainda deambulava por aquelas paragens, no trato. 

Em 1557 serviu na Índia, como escrivão da feitoria de Cochim e, no ano seguinte, estava em Goa, perdendo-se aí o seu rasto.

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António Caldeira - (? - 1552?) - Explorador. Pouco se sabe da vida deste navegador da época dos descobrimentos portugueses. À semelhança de Lourenço Marques explorou a baía "da Lagoa" (ou Delagoa Bay) baía esta que viria a tomar entre vários nomes o do seu companheiro de navegações. Ter-se-á estabelecido nesta zona a comerciar com os gentios e, em 1552, numa tentativa de localizar e socorrer os naúfragos da nau "São João", onde se achava Manuel de Sousa Sepúlveda, terá falecido no interior sertanejo.

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Manuel de Sousa Sepúlveda - (1505-1553) - Apesar de ter feitos estudos ecleseásticos, em 1534 foi para a Índia, onde atingiu valorosa projecção em feitos militares. Em 1536 enquadra-se na conquista de Damão e Diu e, até 1551, os seus feitos militares fizeram-se sentir nas várias partes dos mares e territórios da Índia.

Tendo-se casado, em 1548, com Dona Leonor de Sá, regressa ao Reino em 1552, capitaneando a nau "São João" a qual, ao chegar à actual costa sul-africana índica (zona do Natal) naufraga (Abril de 1552). Manuel de Sousa Sepúlveda e os restantes sobreviventes, entre os quais se encontravam a sua esposa e filhos, iniciam uma viagem pedestre para Moçambique.

Após múltiplos tormentos, motivados por febres, fome e ataques de gentios hostis, que foram rasiando os náufragos, chegam à zona da que viria ser a futura localidade Lourenço Marques (Dezembro de 1552). Em Janeiro seguinte, depois de sofrerem mais humilhações pelos naturais da zona, que lhes saquearam tudo incluindo as roupas, e com a morte a colher toda a sua família, Manuel de Sousa Sepúlveda, enlouquecido, interna-se no mato, nunca mais voltando a ser visto com vida.

O seu fim trágico e o da sua família, bem como as vicissitudes que os restantes náufragos passaram (só alguns é que vieram a ser salvos e relataram a odisseia) deram origem, na literatura portuguesa, a múltiplas obras.

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Jerónimo Leitão - (?/?) - Comerciante e navegador. Efectuou algumas viagens à baía de Lourenço Marques, de carácter comercial e exploratório tendo, inclusive, naufragado numa dessas viagens (1588/1589) junto à foz do rio Limpopo. Quatro  anos mais tarde, em nova viagem comercial àquela zona, recolhe os sobreviventes do naufrágio da nau "Santo Alberto" e, em 1597, repete novo salvamento a náufragos na ilha  da Inhaca.

Profundo conhecedor das terras do sul e das gentes locais, com quem negociava, escreveu, por ordens do Governo, uma "Lista da navegação de Moçambique até ao rio de Lourenço Marques".


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Carreira das Índias - Nome que se atribuía à ligação marítima permanente que se estabeleceu entre Lisboa e a Índia, promovida pela Coroa Portuguesa. Fruto da sua posição geográfica, a ilha de Moçambique* era um dos portos de paragem obrigatório para todos os navios dessa carreira, que buscavam mantimentos, comércio e pessoas, bem como promoviam o restauro das embarcações.

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Cartaz - Autorização de navegação no Oceano Índico que os portugueses emitiam a favor dos barcos que aí navegassem, sendo uma forma de vincarem o seu domínio marítimo. A falta do salvo-conduto implicava a apreensão da mercadoria do navio e, por vezes, a destruição do mesmo.

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Inhambane - Antes da chegada dos portugueses era conhecida pelo nome de Otongue, capital do antigo Reino dos Bitongas ou Inhambane, nome este que terá derivado do chefe local Nhambi. Àquela região chegou a  armada de Vasco da Gama, onde efectuou a sua primeira aguada no futuro território de Moçambique.

De populações afáveis e já sofrendo de influências islâmicas os portugueses, inicialmente,não mostraram grande interesse em se fixarem nesta zona. Em 1560 Dom Gonçalo da Silveira* e outros jesuítas instalaram uma missão religiosa e só vinte anos mais tarde é que os portugueses instalaram, definitivamente, uma feitoria.* A partir da criação da Companhia do Mazane de Diu* a zona sofre um forte incremento asiático e, em 1761, foi elevada à categoria de vila. Em 1775 o comércio de Inhambane suplantava o de Sofala*, em marfim.

Em 1834 forças angunes de Manicusse**, que tinham invadido a zona de Inhambane a guerrear os regulados daquela área, derrotam estrondosamente uma coluna portuguesa comandada por Cândido da Costa Soares, Governador de Inhambane, composta por militares, moradores e escravos. Do massacre, que foi total, apenas ficaram para contar a história dez europeus, que tinham ficado de rectaguarda a defender o perímetro da vila.


Novamente em 28 de Julho de 1849 dá-se um confronto entre forças portuguesas, comandadas pelo Governador de Inhambane António Manuel Pereira Chaves e as mangas* leais a Manicusse, que resultam em novo desastre para as forças lusas e culminando com a morte do próprio Governador António Chaves. A força militar deste Governador era composta, para além dele, que a comandava, por um Tenente, um Sargento, dois Cabos e setenta e quatro Soldados a que havia a acrescer de forças nativas aliados do régulo** Candula. A 27 de Julho, estando em Morrumbene, Pereira Chaves toma conhecimento que os nativos rebeldes estavam em Magombane pelo que, nessa mesma noite, dirige a coluna para aí. Na madrugada do dia seguinte dá-se o recontro, fatal para as forças lusas, com a morte quer do Governador quer dos graduados militares e grande parte dos Soldados. No ano seguinte, a 16 de Março, os portugueses vingam esta afronta, derrotando as forças dos régulos de Inguana e de Paranguana, liquidando também estes.


Em 1885 o Padre católico Santa Rita Montanha e o Alferes António de Sousa, ligam Inhambane ao Transval, retornando no ano seguinte e tendo elaborado um extenso relatório  sobre os usos e costumes dos bóeres**, tais como tipo de governo, administração do comércio e agricultura, bem como hábitos sociais e religiosos.


No século XIX o incremento da população europeia veio a alterar a correlação das forças económicas com os islâmicos. A escravatura era a principal fonte de riqueza. Os escravos exportados por Inhambane eram altamente elogiados, relatando Vasconcelos e Cirne na sua "Memória da Província de Moçambique": "... os melhores que se conhecem nas duas Áfricas pela sua robustez, ânimo, formosura e valentia a ponto de que são bem poucos os navios que os carregam que não tenham levantes, mas que em chegando ao Brasil são pagos melhor que quaisquer outros."


Em 30 de Julho de 1875 é criado o serviço de correio terrestre entre esta localidade e a vila de Lourenço Marques**, com uma demora de cerca de quarenta dias na ida e retorno e, em Novembro do ano seguinte, cria-se a comarca judicial. Em 1955 foi elevada a capital do Distrito do mesmo nome e, no ano seguinte, é elevada a cidade, através da publicação da Portaria nº 11.594 de 12 de Agosto.

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* - Já fichado.
** - A ser fichado.

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Poesia

No passado dia 28 de Abril fui assistir, no Hotel Real Palácio, ao lançamento do livro de poesia Mentes Perversas e outras conversas, da poetisa Ana Paula Lavado (Edium Editores, 2012, 83 págs.), tendo sido alertado para esse facto pelo aviso feito por Deana Barroqueiro no seu blogue, romancista esta que também prefacia o livro em causa.



Ana Paula Lavado

Não sendo um especialista nesta "nobre arte do domínio da palavra"  que é a poesia e não sendo, também, um crítico literário (nem pretensões para tal) tenho a ousadia de dizer que, dentro da minha simplicidade de critérios, gostei de ter lido e relido os poemas. No remanso da minha casa e no silêncio da noite, saboreei a poesia de Ana Paula Lavado e... confesso, soube-me muito bem. Como a excelente chávena de café que fui ingerindo compassada no ritmo da leitura.  Há já algum tempo que não lia poemas com corpo e alma. Com forma e conteúdo.   

Poemas que me souberam ao bom sabor adocicado dum mosto vinícola; que me fizeram fremir ao cheiro de pétalas polinizadas, tal como estes dois que reproduzo (esperando que a Autora - que não conheço - não me criminalize por não lhe pedir autorização).  

Tempo

Já não tenho tempo para frustações
Nem para me torturar com questões
De somenos conveniência.
De ouvir vozes desumanas
Frases feitas de gentes tiranas
Falsos pudores e falsa decência.

De tudo, prefiro ser louca
E deixar que a vida pouca
Me possa tranquilizar a mente.
Até que um dia a sorte
Me leve de encontro à morte
E eu morra serenamente!

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O Poeta


O poeta é inútil!
Que o seja.
mas enquanto o poeta verseja
vibra a voz a quem declama
nasce em cada nós uma chama
gritam os sentidos a quem sente.
E até o mais céptico descrente
que teima em ser cego e cruel,
sente um arrepio na alma
sente um calafrio na pele.

O poeta é inútil!
Que o seja.
mas que toda a sua inutilidade
me encha e me arda no peito
nela viva e morra de saudade.


E, assim, eis-me que agora decidi ir comprar os outros livros que esta poetisa publicou e que vêm referidos na badana do livro agora publicado. Livro este que recomendo a sua compra.


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Como nota negativa (se calhar porque não há bela sem senão), desiludiu-me o local escolhido para efectuar-se o lançamento do livro: no Hotel Real Palácio. Classificado de "cinco estrelas" (a propósito, não vi nenhum porteiro) não tinha, na área da recepção, nenhum placa de publicidade e indicação do lançamento do livro. 


O lançamento do mesmo foi efectuado num saguão onde se concentraram dezenas de pessoas e que apenas tinha duas meias portas abertas, para circulação de ar. Algumas pessoas não conseguiram arranjar lugar no saguão e acabaram por não assistir em directo à cerimónia. Perto do saguão localizam-se zonas de convívio e de bar do hotel, cujos clientes conversavam animadamente, perturbando (inconscientemente) a normal decorrência do evento. 


Para "cinco estrelas" ... eu tinha arranjado um local maior, mais arejado e, de certeza, mais económico. E também no centro de Lisboa. 


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Leituras


No decurso das guerras nacionalistas que deflagaram em África, nas décadas de 60/70, onde movimentos revolucionários combateram a presença portuguesa na Guiné, em Angola e em Moçambique, a religião também teve o seu papel de rectaguarda nos teatros de guerra.

Atrair para a sua causa as comunidades islâmicas e islamizadas, que tinham maior incidência na Guiné e em Moçambique, foi uma das preocupações dos governantes portugueses. No tocante a Moçambique foi gizado uma estratégia na qual pontilhou Fernando Amaro Monteiro que, quer como operacional dos Serviços de Informações (1965/1970), quer como consultor de diversos governadores-gerais, teve um papel importante no delineamento da estratégia dessa política de aliciamento do Estado Novo.

Moçambique - memória falada do Islão e da guerra (Almedina, 2011, 347 págs.), da autoria de Abdoolkarim Vakil, Fernando Amaro Monteiro e Mário Artur Machaqueiro é um livro que se reporta a uma longa entrevista efectuada a Fernando Amaro Monteiro por Abdoolkarim Vakil e onde o entrevistado desfia as suas memórias sobre a sua envolvência no binómio religião/guerra em que teve parte activa.

Um testemunho privilegiado dum tempo de guerra agora desfiado num tempo de paz. 

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O antigo Estado da Índia Portuguesa continua a alimentar o imaginário dos portugueses, seja em romances seja em registos históricos. História de Goa - de Afonso de Albuquerque a Vassalo e Silva, da autoria de Pedro Avelar (Texto, 2012, 295 págs.) é uma síntese histórica da presença portuguesa naquele território indiano desde que chegaram (1498) até que saíram de lá forçados (1961). Recomenda-se, principalmente para quem não tenha paciência para ler volumes complexos de História.

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No correr da II Guerra Mundial, na Polónia, o oficial de cavalaria Slavomir Rawicz foi preso por forças soviéticas, acusado de espionagem. Julgado (?) acabou condenado a 25 anos de trabalhos forçados num gulague siberiano, mais precisamente o Campo 303.



Slavomir Rawicz


Em Abril de 1941, consegue fugir desse campo, juntamente com outros companheiros e, numa louca odisseia percorre, a pé, 6.500 quilómetros sempre para para sul, na busca incessante da Liberdade. Odisseia essa que o leva (e aos seus companheiros de fuga) a atravessarem os gelos siberianos, o deserto de Gobi, as neves do Tibete cruzando os Himalaias até entrar na Índia Britânica, ponto inicial da sua vida em liberdade. Estava-se, então, em Março de 1942 e, para trás, ficavam o frio, a fome, as roupas andrajosas, as traições, as cobras, as doenças, as... tudo o que se possa imaginar.  




Itinerário da fuga

É o relato desta impressionante viajem que se reporta o romance memorial Rumo à Liberdade, escrito pelo próprio Slavomir Rawicz (Editorial Presença, 2012, 283 págs.) que, felizmente, sobreviveu a todas estas provações e viveu para contá-las.

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  Filme

Sobre a odisseia da fuga de Slavomir Rawicz (atrás referida) foi realizado o filme Rumo à Liberdade, baseado no livro com o mesmo nome. Produzido por Joni Levin, Peter Weir, Duncan Hendersem e Nigel Sinclair, tem um naipe de actores onde marcam presença Ed Harris, Colin Farrel, Jim Stuirguess, entre outros.



Capa do DVD


Com 130 minutos de duração, encontra-se o mesmo em DVD legendado em português, o que nos permite passar um par de horas a ver excelentes representações de actores consagrados, enquadradas em belos panoramas fotográficos.


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Música

André Rieu (1949), é um violinista e maestro holandês cujos espectáculos atingem a quase perfeição e dos quais eu sou um apaixonado, não porque tenha assistido a algum (infelizmente), mas por visionamentos de DVD´s que tenho adquirido. Percorrendo o mundo com a sua orquestra, toca todo o tipo de música popular dos países que atravessa.



André Rieu - Amazing Grace

Considerado um genuíno embaixador da música clássica, um apaixonado pelas valsas, os seus  espectáculos têm feito mais para atrair multidões para apreciarem este tipo de música do que todas as palestras, livros, filmes, mesas redondas ou o que quer que seja em conjunto.



André Rieu - "The beautiful blue Danube" 

Vale a pena assistir a um concerto seu ou, em alternativa, ver DVD´s que reproduzem por completo os seus espectáculos, dos quais não tenho preferência por nenhum em especial, por serem todos excepcionais.

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Frases de quem fez História

"O dinheiro não tem cheiro." - Tito Flávio Vespasiano (9-79 DC), Imperador Romano.

"Os cobardes agonizam perante a morte, os valentes nem se dão conta dela." - Caio Júio César (100-44 AC), Imperador romano.

"Eu não tenho ódio senão aos erros e não tenho amor senão à verdade." - Garcia da Horta (1501-1568), Médico, Botânico e Farmacólogo.
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Seja amigo do ambiente. Utilize os textos do Novo Acordo Ortográfico como papel higiénico.

As referências aos produtos acima referidos (livros, filmes, músicas, etc.) são incompatíveis com intuitos publicitários ou comerciais. Reflectem, apenas, a opinião do Autor.

Todas as fotografias do presente texto foram colhidas do Google Imagens e os vídeos do Youtube.


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