Viajantes, aventureiros e exploradores
René Caillié - (Mauzée, 19/09/1799 - Saint-Simphorien-Du-Bois, 17/05/1938) - Explorador. Filho de famílias do mais baixo estrato social, com um pai alcoólico e preso por roubo, de quem fica órfão aos onze anos,apaixona-se pela vida aventureira após, na adolescência, ter lido o romance sobre as aventuras de Robinson Crusoé: "Sobretudo a história de Robinson inflamava-me a jovem cabeça...".
René Caillié
Aos 16 anos, com sessenta francos no bolso "Não tinha senão sessenta francos..." segue como embarcadiço na fragata "Loire", com destino ao Senegal (1816) aportando na Angra de São Luís e depois em Dacar. Por aqui fica até "Após ter permanecido alguns meses nestes tristes locais, parti para S. Luís logo que os Ingleses devolveram a colónia aos Franceses." Chegado a São Luís toma conhecimento duma expedição britânica, liderada pelo Major Gray, que partira para explorar o interior de África e estava bloqueada em Fouta Djalon (actual Guiné Conacry), por decisão dum "almami" (soberano local). Decide juntar-se à expedição pois: "... quando me falaram na expedição; e, não duvidando que o Major Gray tendo necessidade de gente, acolheria a oferta dos meus serviços, se bem que para ele eu fosse estrangeiro, decidi-me a ir para a Gâmbia, por terra..." Apesar da sua resistência de jovem, acaba por quebrar o ânimo e, convencido por africanistas mais experientes, desiste do intento e retorna a São Luís.
Embarca daí para Guadalupe, nas Antilhas francesas, onde fica durante seis meses. Retorna a França (Bordéus) e, com 18 anos, efectua nova viagem à África ocidental, desta vez ao protectorado francês de Bondu, que se localizava entre os rios Feleme e Gâmbia e era dependente da colónia francesa do Senegal. A leitura de várias biografias de exploradores daquela zona da África Ocidental, influenciou-o bastante, nomeadamente a vida aventureira do médico britânico Mungo Park (1771-1806), o primeiro europeu a atingir o rio Níger e a tentar descobrir todo o seu percurso, pagando estupidamente com a vida a sua ousadia e incúria. Como ele refere: "A minha paixão pelas viagens começava a acordar; a leitura de Mungo Park veio acrescentar uma nova força aos meus projectos; enfim, a minha constituição, tendo resistido a uma permanência assaz longa tanto no Senegal como em Guadalupe, dava-me a esperança de os executar desta vez com sucesso." Assim, retorna a São Luiz, no Senegal em finais de 1818, decidido a tornar-se explorador do interior africano. No Senegal toma conhecimento que a coluna britânica do Major Gray ainda se encontra no interior africano, bloqueada por novas exigências do rei de Boundou pelo que se oferece, de novo para se integrar na mesma. "O senhor Adrien Partarrieu, enviado pelo Major Gray para adquirir em São Luís as mercadorias exigidas pelo rei de Boundou, dispunha-se a juntar-se de novo à expedição. Apresentei-me ao senhor Adrien Partarrieu e propus-lhe acompanhá-lo sem salários e sem compromissos de nenhuma espécie de momento." Esta expedição, que virá a fracassar nos seus objectivos, será um tormento para René Caillié e para todos os restantes membros da mesma, conforme ele relata nas suas memórias, mas irá aprender com os erros cometidos ao longo da mesma, aprendizagem esta que ser-lhe-á útil no futuro.
Embarca daí para Guadalupe, nas Antilhas francesas, onde fica durante seis meses. Retorna a França (Bordéus) e, com 18 anos, efectua nova viagem à África ocidental, desta vez ao protectorado francês de Bondu, que se localizava entre os rios Feleme e Gâmbia e era dependente da colónia francesa do Senegal. A leitura de várias biografias de exploradores daquela zona da África Ocidental, influenciou-o bastante, nomeadamente a vida aventureira do médico britânico Mungo Park (1771-1806), o primeiro europeu a atingir o rio Níger e a tentar descobrir todo o seu percurso, pagando estupidamente com a vida a sua ousadia e incúria. Como ele refere: "A minha paixão pelas viagens começava a acordar; a leitura de Mungo Park veio acrescentar uma nova força aos meus projectos; enfim, a minha constituição, tendo resistido a uma permanência assaz longa tanto no Senegal como em Guadalupe, dava-me a esperança de os executar desta vez com sucesso." Assim, retorna a São Luiz, no Senegal em finais de 1818, decidido a tornar-se explorador do interior africano. No Senegal toma conhecimento que a coluna britânica do Major Gray ainda se encontra no interior africano, bloqueada por novas exigências do rei de Boundou pelo que se oferece, de novo para se integrar na mesma. "O senhor Adrien Partarrieu, enviado pelo Major Gray para adquirir em São Luís as mercadorias exigidas pelo rei de Boundou, dispunha-se a juntar-se de novo à expedição. Apresentei-me ao senhor Adrien Partarrieu e propus-lhe acompanhá-lo sem salários e sem compromissos de nenhuma espécie de momento." Esta expedição, que virá a fracassar nos seus objectivos, será um tormento para René Caillié e para todos os restantes membros da mesma, conforme ele relata nas suas memórias, mas irá aprender com os erros cometidos ao longo da mesma, aprendizagem esta que ser-lhe-á útil no futuro.
A fim de incentivar a penetração europeia no interior africano, extremamente desconhecido na época, diversos governos de países europeus criaram, juntamente com privados, as suas próprias sociedades de geografia, que funcionavam como pontas de lança da política colonial dos seus interesses político-económicos, incentivando exploradores e missionários a rasgarem o interior afro-continental, sendo estes os percursores dos mercadores e militares que dariam lugar depois à instalação do poder político-administrativo em determinada região.
Tombuctu era uma cidade lendária e milenária que povoava o imaginário dos europeus. Fundada no tempo do Império do Mali, por nómadas tuaregues, com objectivos económicos de servir de entreposto comercial na permuta do sal (fonte da vida) por escravos (fonte de poder e do prazer) e ouro (fonte de riqueza), a sua localização, a cerca de meia dúzia de quilómetros das margens do rio Níger, tornavam-se dominadora e centralizadora das rotas caraveneiras que cruzavam o Sahara, o que lhe deu uma mais valia como poderio militar. Mas remonta a essa época a construção da formosa Mesquita de Djingareiber (1325), construída em barro e que ainda se mantém até aos dias de hoje, o que também lhe conferia um estatuto de liderança espirutual. A sua construção foi ordenada pelo Imperador Mansa Mussa, que colocou Tombuctu no centro das atenções do mundo de então, ao peregrinar faustosamente a Meca com um séquito de milhares de homens, em 1324. Tendo feito uma escala no Cairo, para visitar o Sultão local, espalhou tanto ouro que a cotação deste metal nos mercados caiu a pique. Desde 1988 a dita mesquita (e também a cidade) encontra-se classificada como Património da Humanidade, pela UNESCO.
Localizada no coração do Mali, por volta de 1400 da era cristã estava sob domínio do Império Songhai e atinge, aí, o seu apogeu como centro difusor dos credos judaico, muçulmano e cristão e das culturas songhai, tuaregue e árabe. Dos seus cerca de cem mil habitantes (por volta de 1450) um terço dedica-se ao estudo corânico, vindos das mais diversas regiões do mundo árabe, desde a Granada ibérica à Meca arábica. Era um caldo de tolerância e toda essa mundivivência irá fenecer a partir de 1600 DC., com a queda do Império Songhai, fruto da invasão de forças berberes marroquinas que conquistam a cidade (1590) e liquidam os líderes religiosos locais, acusados de falta de confiança e, também, com a ingerência europeia que estava, com a expansão das navegações, a dominar o litoral africano e a mercadejar em moeda forte com as redes de escravos, da pimenta africana e do ouro. Começavam então, lentamente, a surgir as brumas nevoentas que iriam mergulhar Tombuctu na letargia.
Localizada no coração do Mali, por volta de 1400 da era cristã estava sob domínio do Império Songhai e atinge, aí, o seu apogeu como centro difusor dos credos judaico, muçulmano e cristão e das culturas songhai, tuaregue e árabe. Dos seus cerca de cem mil habitantes (por volta de 1450) um terço dedica-se ao estudo corânico, vindos das mais diversas regiões do mundo árabe, desde a Granada ibérica à Meca arábica. Era um caldo de tolerância e toda essa mundivivência irá fenecer a partir de 1600 DC., com a queda do Império Songhai, fruto da invasão de forças berberes marroquinas que conquistam a cidade (1590) e liquidam os líderes religiosos locais, acusados de falta de confiança e, também, com a ingerência europeia que estava, com a expansão das navegações, a dominar o litoral africano e a mercadejar em moeda forte com as redes de escravos, da pimenta africana e do ouro. Começavam então, lentamente, a surgir as brumas nevoentas que iriam mergulhar Tombuctu na letargia.
Tombuctu
Quando o Império Songhai claudica Tombuctu é também arrastada na queda. Fecha-se ao mundo, fruto da mentalidade dos seus novos senhores, onde apenas impera o pensamento monoteísta e monoétnico. A incapacidade de defesa da cidade pelas forças marroquinas leva-as a descarregarem as culpas na população local, que acusam de conluio com os ataques externos vindos dos bambaras, fulas e tuaregues.
E assim se mantém até aos alvores do século XIX, ajudada geograficamente pela sua centralização desértica. Dos ventos secos e arenosos do deserto virão as poeiras que criarão a neblina isolacionista a que a remetem. Quando os europeus, neste século XIX, começam a virar as suas atenções para a exploração do interior do continente africano, que nos mapas era quase que representada por uma grande mancha incolor, o deserto do Sahara não irá escapar ao seu esquadrinhamento. E nem as suas violentas temperaturas e díspares amplitudes térmicas farão parar a iniciativa europeia. A fome do negócio, a sede da aventura e a gula da conquista de terras falarão mais alto. E contra isto não havia "harmattan" (ventos secos do deserto) que os detivesse.
Tombuctu era uma cidade que estava entranhada nas mentes dos europeus aventureiros como uma lenda. A sua posição geográfica, protegida pelo deserto, a sua política de interdição de entrada na mesma a estranhos (muito menos infiéis, isto é, não islâmicos) com pena capital a quem ousasse desafiar, ainda mais acicatava a gula de a atingir. Espalhavam-e histórias fantasiosas de ser uma cidade opulenta, digna das "Mil e Uma noites".
Deste modo a Sociedade de Geografia de Paris instituiu um prémio de 10.000 francos a qualquer europeu que conseguisse chegar à mítica Tombuctu e regressar para contar o que vira. Em 1826, um britânico, o Major Alexander Gordon Laing (1793/1826) decidira estudar o curso do rio Níger. Para tal partira de Tripoli (actual Líbia) em 16 de Julho de 1825 e após várias vicissitudes na sua caminhada para sul, onde inclusivamente fora gravemente ferido em combate contra um grupo de tuaregues, conseguira entrar em Tombuctu a 18 de Agosto de ano seguinte. Tornara-se no primeiro europeu a entrar em Tombuctu vindo do norte. Mas não regressaria de lá, pois acabou assassinado a 26 do mês seguinte. Os governantes locais não toleravam interferências estrangeiras nem queriam estranhos na sua cidade, muito menos infiéis. Eram os duros tempos em que a aventura pagava-se, bastas vezes, com a vida. Mas mais que à aventura, a vida era cobrada ao desleixo, à incúria, à sobranceria, ao não se preparar cuidadosamente as explorações.
Alexander Gordon Laing
René Caillé decidiu arriscar tudo naquela que seria a viagem da sua vida: iria a Tombuctu e voltaria para relatar tudo e reclamar o prémio. Mas iria preparar-se convenientemente, para não correr riscos desnecessários nem cometer falhas. Rememorando a expedição falhada do Major Gay, em que participara, decidira agora que iria sozinho. Deslocando-se de novo para o Senegal, fixou-se a residir no seio de populações árabes, na região de Braknas, a sudoeste da actual Mauritânea, a norte do rio Senegal, aprendendo a viver com eles para aprender a tornar-se num árabe, pois ia: "aprender a língua árabe e as práticas do culto dos Mouros, a fim de mais tarde, enganando a sua zelosa desconfiança, conseguir penetrar mais facilmente no interior de África." Para tal aperfeiçoou o falar árabe, de que já dominava um pouco fruto das viagens anteriores, bem como desde o comer, ao vestir, à higienização pessoal, aos costumes das leituras e práticas religiosas, de tudo aprendeu e absorveu, tornando-se num árabe. Assim, numa "Terça-feira 3 de agosto de 1824, às quatro horas da tarde, parti de São Luís acompanhado por dois homens e uma mulher, todos habitantes de N´pâl..." para a região de Braknas. Começava a preparação para a aventura.
A 16 de Maio de 1825 retorna a São Luís. Durante nove meses aprendera e prepara-se. Arranja alguns empregos sem importância enquanto tenta arranjar financiamento por parte das autoridades francesas para o seu projecto de ir Tonbuctu. Não tendo recebido apoio das autoridades francesas para o seu plano René Caillié, desiludido, desloca-se para território britânico, na Serra Leoa, onde trabalha numa plantação de índigo: "Dali (da ilha de Goreia) passei à Serra Leoa. O general Charles Turner, governador deste entreposto inglês, acolheu-me com bondade e, para me reter na colónia que comandava, encarregou-me de dirigir uma fábrica de índigo e atribuiu este cargo que criou para mim um vencimento de 3.600 francos." Juntando o seu salário durante alguns meses: "porquanto tinha cerca de 2.000 francos de economias e este tesouro parecia-me suficiente para ir até ao fim do mundo" acaba por auto-criar uma personalidade árabe para si, alegando que era um egípcio que fora levado à força pelos franceses de Napoleão Bonaparte, aquando da invasão deste ao seu País para o Senegal e que agora pretendia regressar a casa: "... informei-os (a uns mandingas e a uns saracolés com quem se travara de amizades para melhor obter informações do interior) em segredo que nascera no Egipto de pais árabes e que fora levado para França ainda de tenra idade por franceses que faziam parte do exército que fora ao Egipto; que depois fora levado para o Senegal para ali tratar dos assuntos comerciais do meu patrão que, satisfeito com os meus serviços me libertara."
Integrando uma caravana mandingo, agora completamente disfarçado na pele dum árabe, René Caillié, em 1827, inicia a aventura da sua vida que o guindará aos píncaros da fama. Partindo da aldeia de Kakondi: "situada na foz do rio Nunes a 50 léguas a norte da Serra Leoa..." (19 de Abril de 1827), depois de ter atingido Bokê, (a oeste da actual Guiné-Conacry) e ultrapassada a cadeia montanhosa do Fouta-Djalon (no zona central da actual Guiné-Conacry) passa o rio Níger em Courussa (no noroeste da actual Guiné-Conacry).
Atingido o planalto Kong fica aí retido largos meses por doença mas, em Janeiro de 1828, retoma a viagem e atinge a cidade de Jenné. "A cidade de Jenné é barulhenta e animada; todos os dias chegam e partem numerosas caravanas de mercadores que transportam todo o tipo de coisas úteis... A cidade é sombreada por alguns embondeiros, mimosas, tamareiras e borassos;... há muitos estrangeiros estabelecidos, mandingas, fulas, bambaras e mouros...." Após uma estadia embarca para Tombuctu pelo rio Níger, a 13 de Março: "Finalmente cerca das nove horas e meia deixámos o porto...". A 20 de Abril desse mesmo ano atinge Cabra, o porto de Tombuctu. "A 20 de Abril, às três horas e meia, os homens de Sisi-Abdallahi Chebir e eu rumámos a Tombuctu, dirigindo-nos para norte... /// Por fim, chegámos felizmente a Tombuctu no momento em que o Sol tocava no horizonte... /// Ao entrar nesta cidade misteriosa, objecto das pesquisas das nações civilizadas da Europa fui tomado por um inexplicável sentimento de satisfação..."
No dia seguinte (21 de Abril) "... fui passear pela cidade para examiná-la. Não a achei nem tão grande nem tão povoada como esperava; o comércio é muito menos considerável do que faz crer a fama; nela não se vê, como em Jenné, esta grande afluência de estrangeiros vindos de todas as partes do Sudão. Não encontrei nas ruas de Tombuctu senão os camelos vindos de Cabra carregados de mercadorias trazidas pela flotilha; alguns ajuntamentos de habitantes sentados no chão sobre esteiras, conversando; e muitos mouros deitados diante das portas, dormindo à sombra. Numa palavra, tudo respirava a maior tristeza." Percorrera 2.500 quilómetros para ter uma decepção. Demora-se aqui apenas duas semanas e, disfarçado de mendigo, a 04 de Maio seguinte sai da cidade, integrando-se numa enorme caravana de 600 camelos; atravessa o Sahara, sempre para Norte até atingir Marrocos, em Fez, onde chega a 12 de Agosto e, depois, Rabat e, de seguida, Tânger. Só em Tânger é que o Cônsul francês o aceita, sob reservas, como seu compatriota, pois era tal o seu estado miserável, doente, com febres, roupas rasgadas, mal cheiroso por andar a dormir ao relento, esfomeado, sem dinheiro e cheio de feridas por ter sido atacado por cães, que os cônsules de Fez e Rabat recusaram-se a reconhecê-lo como europeu e muito menos francês. Todos se recusaram a acreditar que aquele farrapo humano fizera História. Tomavam-no por um árabe louco.
No dia seguinte (21 de Abril) "... fui passear pela cidade para examiná-la. Não a achei nem tão grande nem tão povoada como esperava; o comércio é muito menos considerável do que faz crer a fama; nela não se vê, como em Jenné, esta grande afluência de estrangeiros vindos de todas as partes do Sudão. Não encontrei nas ruas de Tombuctu senão os camelos vindos de Cabra carregados de mercadorias trazidas pela flotilha; alguns ajuntamentos de habitantes sentados no chão sobre esteiras, conversando; e muitos mouros deitados diante das portas, dormindo à sombra. Numa palavra, tudo respirava a maior tristeza." Percorrera 2.500 quilómetros para ter uma decepção. Demora-se aqui apenas duas semanas e, disfarçado de mendigo, a 04 de Maio seguinte sai da cidade, integrando-se numa enorme caravana de 600 camelos; atravessa o Sahara, sempre para Norte até atingir Marrocos, em Fez, onde chega a 12 de Agosto e, depois, Rabat e, de seguida, Tânger. Só em Tânger é que o Cônsul francês o aceita, sob reservas, como seu compatriota, pois era tal o seu estado miserável, doente, com febres, roupas rasgadas, mal cheiroso por andar a dormir ao relento, esfomeado, sem dinheiro e cheio de feridas por ter sido atacado por cães, que os cônsules de Fez e Rabat recusaram-se a reconhecê-lo como europeu e muito menos francês. Todos se recusaram a acreditar que aquele farrapo humano fizera História. Tomavam-no por um árabe louco.
Chega a França (Paris) onde, finalmente, a glória e a riqueza lhe batem à porta. Tinha sido o primeiro francês a entrar em Tombuctu e a sair de lá vivo, para relatar o que vira. As condecorações oficiais, o bendito prémio de 10.000 francos da Sociedade de Geografia, bem como uma pensão governamental vitalícia, tudo lhe é atribuído. Escreve um livro onde relata esta viagem, que titula de: "Voyage à Tombouctou et a Djenne´". O livro foi escrito com base nas suas memórias ainda frescas e com base nalguns apontamentos que ia anotando às escondidas de todos durante a sua viagem, enquanto fingia que lia o Corão. Mesmo as próprias leituras geográficas que fazia era com uma bússula que manteve sempre secreta na sua sacola de viagem e quando fingia que ia à mesma buscar ou colocar algo. Nunca cometeu nenhuma falha. Tinha nervos de aço. Por isso sobreviveu.
Capas duma edição de dois volumes
Dando por finda a sua vida de viagens retira-se, vivendo dos rendimentos que a mesma acabara por lhe proporcionar e, uma década depois desta viagem, África cobrou-lhe a façanha de a ter desventrado um pouco. René Caillié morreu vitimado por febres apanhadas em África. E só em 1894, sessenta e seis anos após a sua odisseia, é que a França se decidiu a ocupar de vez Tombuctu.
Nota: as citações do biografado foram retiradas da tradução portuguesa do livro "Viagem a Tombuctu" que de seguida se refere.
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Existe, traduzido para português, pelo menos uma versão da obra de René Caillié. Trata-se do livro com o título "Viagem a Tombuctu", editado pelas Publicações Europa-América em dois volumes. O primeiro volume é de Fevereiro de 2007, com 241 págs. O segundo volume foi editado em Março de 2007, com 278 págs.
O livro é de escrita escorreita, sem grandes floreados, objectivo e, dentro dos parâmetros da mentalidade europeia de então, trata com justeza os personagens que se foram cruzando nas aventuras do Autor.
Tem o cuidado de relatar não só a sua narrativa histórica, mas também se debruça sobre usos e costumes dos povos com quem conviveu, os tipos de agricultura a que se dedicavam, gastronomia, vestuário que envergavam, cultos religiosos a que se entregavam, para além de descrição geográfica dos territórios que atravessava. Livro que, para a época, foi um manancial de informações utilíssimas sobre regiões totalmente desconhecidas dos europeus. Para os tempos actuais, não só é um notável livro de aventuras como também é um registo muito completo sobre como se vivia e morria naqueles duros e áridos tempos em que a vida humana era decidida pelo humor momentâneo de quem empunhava uma arma.
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Historiando Moçambique Colonial
Vasco da Gama - (Sines, 1468? - Cochim, 24/12/1524) - Navegador. Um dos mais célebres homens da história dos descobrimentos marítimos europeus e que protagonizou uma das mais famosas viagens marítimas do planeta, a do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, via continente africano. Perito em navegação, o Rei Dom Manuel I entregou-lhe o comando da armada que, em 08 de Julho de 1497, saiu de Lisboa a fim de tentar chegar à Índia, o que veio a conseguir.
No decurso desta viagem aporta, pela primeira vez, no actual território moçambicano, nas localidades de Inharrime (há dúvidas entre diversos historiadores se seria aqui ou em Inhambane), Quelimane e ilha de Moçambique no decurso do ano de 1498 e, de seguida, rumando sempre para norte, chega à almejada Índia, a Calecute, a 20 de Maio deste mesmo ano.
Regressa a Lisboa onde chega em finais de Agosto de 1499, sendo promovido a Almirante do Mar da Índia. Em 1502 volta à Índia onde trava alguns combates punitivos, regressando a Lisboa dois anos mais tarde, após firmar tratados de vassalagem com o Sultão de Quíloa e tratados de aliança com os governantes de Cochim e Cananor
Em 1524 efectua a sua terceira e última viagem à Índia, para onde fora nomeado Vice-Rei, mas a malária ceifou-lhe a vida, falecendo em Cochim.
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Diogo Dias - (?/?) - Navegador. Irmão de Bartolomeu Dias*, integrou a sua armada que dobrou o cabo da Boa Esperança, pela primeira vez. Posteriormente segue na primeira armada de Vasco da Gama. Regressa de novo Índia na armada de Pedro Álvares Cabral, comandando uma caravela que, apanhada em tormenta no cabo da Boa Esperança, fica isolada das restantes e deriva até à ilha de Madagáscar, baptizando-a de São Lourenço, por a ter descoberto no dia dedicado a esse santo católico. É-lhe ainda atribuído o mérito, ainda que discutível, de ter descoberto acidentalmente a baía de Lourenço Marques.
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Nicolau Coelho - (Felgueiras, 1460? - zona das Quirimbas, 1503) - Navegador. Comandou a "Bérrio", na primeira viagem marítima de Vasco da Gama para a Índia, tendo como seu piloto o lendário Pero Escobar*. No decurso desta viagem foi este navio o primeiro a explorar e a efectuar sondagens no Canal de Moçambique, atendendo ao facto de ser a embarcação mais pequena da armada, bem como foi o primeiro a estabelecer contactos com o Sultão de Quíloa.
Regressou ao Reino em 1499, tendo sido o primeiro a chegar a Lisboa e a dar a boa nova do desbravamento marítimo para a Índia. No ano seguinte comanda uma nau, na segunda armada para a Índia, armada essa que era liderada por Pedro Álvares Cabral e que descobriu (ou "achou") o Brasil.
Em 1503, comandando a nau "Faial", volta de novo à Índia, integrado na armada de Afonso de Albuquerque e, na torna-viagem (1), morre no naufrágio que sofre na zona do arquipélago das Quirimbas.
(1) - Viagem de regresso.
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Lourenço Marques - (?/?) - Comerciante e explorador. Muito pouco se sabe sobre o homem que explorou a baía do Espírito Santo (actual Maputo), em 1544, e a quem o seu nome foi dado à cidade que aí veio a ser fundada. Terá nascido no Algarve (Tavira) e admite-se que tenha integrado a armada de Dom João de Castro, que se dirigia para a Índia. Estabelecido em Melinde ter-se-á envolvido de amores com uma árabe que raptou e, para fugir da punição de tal acto, rumou para o arquipélago do Bazaruto*.
Comerciante e navegador enceta com António Caldeira a exploração da costa sul de Moçambique, atingindo as embocaduras dos rios Limpopo, Umbelúzi e Maputo, onde explora a baía referida como "Delagoa Bay" (inicialmente conhecida como "baía da Boa Morte").
Escreve a Dom João de Castro, Vice-Rei da Índia, a narrar as descobertas. Chegado a Lisboa o conhecimento de tal facto, o Rei de Portugal Dom João III ordena que seja fornecido a Lourenço Marques um navio com alguma mercadoria, para estabelecer contactos com os nativos daquela zona sul. Pelos relatos dos sobreviventes do naufrágio da nau "São João", ocorrido em 1552 na zona do Natal (actual África do Sul) apurou-se que Lourenço Marques ainda deambulava por aquelas paragens, no trato.
Em 1557 serviu na Índia, como escrivão da feitoria de Cochim e, no ano seguinte, estava em Goa, perdendo-se aí o seu rasto.
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António Caldeira - (? - 1552?) - Explorador. Pouco se sabe da vida deste navegador da época dos descobrimentos portugueses. À semelhança de Lourenço Marques explorou a baía "da Lagoa" (ou Delagoa Bay) baía esta que viria a tomar entre vários nomes o do seu companheiro de navegações. Ter-se-á estabelecido nesta zona a comerciar com os gentios e, em 1552, numa tentativa de localizar e socorrer os naúfragos da nau "São João", onde se achava Manuel de Sousa Sepúlveda, terá falecido no interior sertanejo.
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Manuel de Sousa Sepúlveda - (1505-1553) - Apesar de ter feitos estudos ecleseásticos, em 1534 foi para a Índia, onde atingiu valorosa projecção em feitos militares. Em 1536 enquadra-se na conquista de Damão e Diu e, até 1551, os seus feitos militares fizeram-se sentir nas várias partes dos mares e territórios da Índia.
Tendo-se casado, em 1548, com Dona Leonor de Sá, regressa ao Reino em 1552, capitaneando a nau "São João" a qual, ao chegar à actual costa sul-africana índica (zona do Natal) naufraga (Abril de 1552). Manuel de Sousa Sepúlveda e os restantes sobreviventes, entre os quais se encontravam a sua esposa e filhos, iniciam uma viagem pedestre para Moçambique.
Após múltiplos tormentos, motivados por febres, fome e ataques de gentios hostis, que foram rasiando os náufragos, chegam à zona da que viria ser a futura localidade Lourenço Marques (Dezembro de 1552). Em Janeiro seguinte, depois de sofrerem mais humilhações pelos naturais da zona, que lhes saquearam tudo incluindo as roupas, e com a morte a colher toda a sua família, Manuel de Sousa Sepúlveda, enlouquecido, interna-se no mato, nunca mais voltando a ser visto com vida.
O seu fim trágico e o da sua família, bem como as vicissitudes que os restantes náufragos passaram (só alguns é que vieram a ser salvos e relataram a odisseia) deram origem, na literatura portuguesa, a múltiplas obras.
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Jerónimo Leitão - (?/?) - Comerciante e navegador. Efectuou algumas viagens à baía de Lourenço Marques, de carácter comercial e exploratório tendo, inclusive, naufragado numa dessas viagens (1588/1589) junto à foz do rio Limpopo. Quatro anos mais tarde, em nova viagem comercial àquela zona, recolhe os sobreviventes do naufrágio da nau "Santo Alberto" e, em 1597, repete novo salvamento a náufragos na ilha da Inhaca.
Profundo conhecedor das terras do sul e das gentes locais, com quem negociava, escreveu, por ordens do Governo, uma "Lista da navegação de Moçambique até ao rio de Lourenço Marques".
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Carreira das Índias - Nome que se atribuía à ligação marítima permanente que se estabeleceu entre Lisboa e a Índia, promovida pela Coroa Portuguesa. Fruto da sua posição geográfica, a ilha de Moçambique* era um dos portos de paragem obrigatório para todos os navios dessa carreira, que buscavam mantimentos, comércio e pessoas, bem como promoviam o restauro das embarcações.
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Cartaz - Autorização de navegação no Oceano Índico que os portugueses emitiam a favor dos barcos que aí navegassem, sendo uma forma de vincarem o seu domínio marítimo. A falta do salvo-conduto implicava a apreensão da mercadoria do navio e, por vezes, a destruição do mesmo.
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Inhambane - Antes da chegada dos portugueses era conhecida pelo nome de Otongue, capital do antigo Reino dos Bitongas ou Inhambane, nome este que terá derivado do chefe local Nhambi. Àquela região chegou a armada de Vasco da Gama, onde efectuou a sua primeira aguada no futuro território de Moçambique.
De populações afáveis e já sofrendo de influências islâmicas os portugueses, inicialmente,não mostraram grande interesse em se fixarem nesta zona. Em 1560 Dom Gonçalo da Silveira* e outros jesuítas instalaram uma missão religiosa e só vinte anos mais tarde é que os portugueses instalaram, definitivamente, uma feitoria.* A partir da criação da Companhia do Mazane de Diu* a zona sofre um forte incremento asiático e, em 1761, foi elevada à categoria de vila. Em 1775 o comércio de Inhambane suplantava o de Sofala*, em marfim.
Em 1834 forças angunes de Manicusse**, que tinham invadido a zona de Inhambane a guerrear os regulados daquela área, derrotam estrondosamente uma coluna portuguesa comandada por Cândido da Costa Soares, Governador de Inhambane, composta por militares, moradores e escravos. Do massacre, que foi total, apenas ficaram para contar a história dez europeus, que tinham ficado de rectaguarda a defender o perímetro da vila.
Novamente em 28 de Julho de 1849 dá-se um confronto entre forças portuguesas, comandadas pelo Governador de Inhambane António Manuel Pereira Chaves e as mangas* leais a Manicusse, que resultam em novo desastre para as forças lusas e culminando com a morte do próprio Governador António Chaves. A força militar deste Governador era composta, para além dele, que a comandava, por um Tenente, um Sargento, dois Cabos e setenta e quatro Soldados a que havia a acrescer de forças nativas aliados do régulo** Candula. A 27 de Julho, estando em Morrumbene, Pereira Chaves toma conhecimento que os nativos rebeldes estavam em Magombane pelo que, nessa mesma noite, dirige a coluna para aí. Na madrugada do dia seguinte dá-se o recontro, fatal para as forças lusas, com a morte quer do Governador quer dos graduados militares e grande parte dos Soldados. No ano seguinte, a 16 de Março, os portugueses vingam esta afronta, derrotando as forças dos régulos de Inguana e de Paranguana, liquidando também estes.
Em 1885 o Padre católico Santa Rita Montanha e o Alferes António de Sousa, ligam Inhambane ao Transval, retornando no ano seguinte e tendo elaborado um extenso relatório sobre os usos e costumes dos bóeres**, tais como tipo de governo, administração do comércio e agricultura, bem como hábitos sociais e religiosos.
No século XIX o incremento da população europeia veio a alterar a correlação das forças económicas com os islâmicos. A escravatura era a principal fonte de riqueza. Os escravos exportados por Inhambane eram altamente elogiados, relatando Vasconcelos e Cirne na sua "Memória da Província de Moçambique": "... os melhores que se conhecem nas duas Áfricas pela sua robustez, ânimo, formosura e valentia a ponto de que são bem poucos os navios que os carregam que não tenham levantes, mas que em chegando ao Brasil são pagos melhor que quaisquer outros."
Em 30 de Julho de 1875 é criado o serviço de correio terrestre entre esta localidade e a vila de Lourenço Marques**, com uma demora de cerca de quarenta dias na ida e retorno e, em Novembro do ano seguinte, cria-se a comarca judicial. Em 1955 foi elevada a capital do Distrito do mesmo nome e, no ano seguinte, é elevada a cidade, através da publicação da Portaria nº 11.594 de 12 de Agosto.
Em 1834 forças angunes de Manicusse**, que tinham invadido a zona de Inhambane a guerrear os regulados daquela área, derrotam estrondosamente uma coluna portuguesa comandada por Cândido da Costa Soares, Governador de Inhambane, composta por militares, moradores e escravos. Do massacre, que foi total, apenas ficaram para contar a história dez europeus, que tinham ficado de rectaguarda a defender o perímetro da vila.
Novamente em 28 de Julho de 1849 dá-se um confronto entre forças portuguesas, comandadas pelo Governador de Inhambane António Manuel Pereira Chaves e as mangas* leais a Manicusse, que resultam em novo desastre para as forças lusas e culminando com a morte do próprio Governador António Chaves. A força militar deste Governador era composta, para além dele, que a comandava, por um Tenente, um Sargento, dois Cabos e setenta e quatro Soldados a que havia a acrescer de forças nativas aliados do régulo** Candula. A 27 de Julho, estando em Morrumbene, Pereira Chaves toma conhecimento que os nativos rebeldes estavam em Magombane pelo que, nessa mesma noite, dirige a coluna para aí. Na madrugada do dia seguinte dá-se o recontro, fatal para as forças lusas, com a morte quer do Governador quer dos graduados militares e grande parte dos Soldados. No ano seguinte, a 16 de Março, os portugueses vingam esta afronta, derrotando as forças dos régulos de Inguana e de Paranguana, liquidando também estes.
Em 1885 o Padre católico Santa Rita Montanha e o Alferes António de Sousa, ligam Inhambane ao Transval, retornando no ano seguinte e tendo elaborado um extenso relatório sobre os usos e costumes dos bóeres**, tais como tipo de governo, administração do comércio e agricultura, bem como hábitos sociais e religiosos.
No século XIX o incremento da população europeia veio a alterar a correlação das forças económicas com os islâmicos. A escravatura era a principal fonte de riqueza. Os escravos exportados por Inhambane eram altamente elogiados, relatando Vasconcelos e Cirne na sua "Memória da Província de Moçambique": "... os melhores que se conhecem nas duas Áfricas pela sua robustez, ânimo, formosura e valentia a ponto de que são bem poucos os navios que os carregam que não tenham levantes, mas que em chegando ao Brasil são pagos melhor que quaisquer outros."
Em 30 de Julho de 1875 é criado o serviço de correio terrestre entre esta localidade e a vila de Lourenço Marques**, com uma demora de cerca de quarenta dias na ida e retorno e, em Novembro do ano seguinte, cria-se a comarca judicial. Em 1955 foi elevada a capital do Distrito do mesmo nome e, no ano seguinte, é elevada a cidade, através da publicação da Portaria nº 11.594 de 12 de Agosto.
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* - Já fichado.
** - A ser fichado.
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Poesia
No passado dia 28 de Abril fui assistir, no Hotel Real Palácio, ao lançamento do livro de poesia Mentes Perversas e outras conversas, da poetisa Ana Paula Lavado (Edium Editores, 2012, 83 págs.), tendo sido alertado para esse facto pelo aviso feito por Deana Barroqueiro no seu blogue, romancista esta que também prefacia o livro em causa.
Não sendo um especialista nesta "nobre arte do domínio da palavra" que é a poesia e não sendo, também, um crítico literário (nem pretensões para tal) tenho a ousadia de dizer que, dentro da minha simplicidade de critérios, gostei de ter lido e relido os poemas. No remanso da minha casa e no silêncio da noite, saboreei a poesia de Ana Paula Lavado e... confesso, soube-me muito bem. Como a excelente chávena de café que fui ingerindo compassada no ritmo da leitura. Há já algum tempo que não lia poemas com corpo e alma. Com forma e conteúdo.
Poemas que me souberam ao bom sabor adocicado dum mosto vinícola; que me fizeram fremir ao cheiro de pétalas polinizadas, tal como estes dois que reproduzo (esperando que a Autora - que não conheço - não me criminalize por não lhe pedir autorização).
Tempo
Já não tenho tempo para frustações
Nem para me torturar com questões
De somenos conveniência.
De ouvir vozes desumanas
Frases feitas de gentes tiranas
Falsos pudores e falsa decência.
De tudo, prefiro ser louca
E deixar que a vida pouca
Me possa tranquilizar a mente.
Até que um dia a sorte
Me leve de encontro à morte
E eu morra serenamente!
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O Poeta
O poeta é inútil!
Que o seja.
mas enquanto o poeta verseja
vibra a voz a quem declama
nasce em cada nós uma chama
gritam os sentidos a quem sente.
E até o mais céptico descrente
que teima em ser cego e cruel,
sente um arrepio na alma
sente um calafrio na pele.
O poeta é inútil!
Que o seja.
mas que toda a sua inutilidade
me encha e me arda no peito
nela viva e morra de saudade.
E, assim, eis-me que agora decidi ir comprar os outros livros que esta poetisa publicou e que vêm referidos na badana do livro agora publicado. Livro este que recomendo a sua compra.
Como nota negativa (se calhar porque não há bela sem senão), desiludiu-me o local escolhido para efectuar-se o lançamento do livro: no Hotel Real Palácio. Classificado de "cinco estrelas" (a propósito, não vi nenhum porteiro) não tinha, na área da recepção, nenhum placa de publicidade e indicação do lançamento do livro.
O lançamento do mesmo foi efectuado num saguão onde se concentraram dezenas de pessoas e que apenas tinha duas meias portas abertas, para circulação de ar. Algumas pessoas não conseguiram arranjar lugar no saguão e acabaram por não assistir em directo à cerimónia. Perto do saguão localizam-se zonas de convívio e de bar do hotel, cujos clientes conversavam animadamente, perturbando (inconscientemente) a normal decorrência do evento.
Para "cinco estrelas" ... eu tinha arranjado um local maior, mais arejado e, de certeza, mais económico. E também no centro de Lisboa.
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Como nota negativa (se calhar porque não há bela sem senão), desiludiu-me o local escolhido para efectuar-se o lançamento do livro: no Hotel Real Palácio. Classificado de "cinco estrelas" (a propósito, não vi nenhum porteiro) não tinha, na área da recepção, nenhum placa de publicidade e indicação do lançamento do livro.
O lançamento do mesmo foi efectuado num saguão onde se concentraram dezenas de pessoas e que apenas tinha duas meias portas abertas, para circulação de ar. Algumas pessoas não conseguiram arranjar lugar no saguão e acabaram por não assistir em directo à cerimónia. Perto do saguão localizam-se zonas de convívio e de bar do hotel, cujos clientes conversavam animadamente, perturbando (inconscientemente) a normal decorrência do evento.
Para "cinco estrelas" ... eu tinha arranjado um local maior, mais arejado e, de certeza, mais económico. E também no centro de Lisboa.
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Leituras
No decurso das guerras nacionalistas que deflagaram em África, nas décadas de 60/70, onde movimentos revolucionários combateram a presença portuguesa na Guiné, em Angola e em Moçambique, a religião também teve o seu papel de rectaguarda nos teatros de guerra.
Atrair para a sua causa as comunidades islâmicas e islamizadas, que tinham maior incidência na Guiné e em Moçambique, foi uma das preocupações dos governantes portugueses. No tocante a Moçambique foi gizado uma estratégia na qual pontilhou Fernando Amaro Monteiro que, quer como operacional dos Serviços de Informações (1965/1970), quer como consultor de diversos governadores-gerais, teve um papel importante no delineamento da estratégia dessa política de aliciamento do Estado Novo.
Moçambique - memória falada do Islão e da guerra (Almedina, 2011, 347 págs.), da autoria de Abdoolkarim Vakil, Fernando Amaro Monteiro e Mário Artur Machaqueiro é um livro que se reporta a uma longa entrevista efectuada a Fernando Amaro Monteiro por Abdoolkarim Vakil e onde o entrevistado desfia as suas memórias sobre a sua envolvência no binómio religião/guerra em que teve parte activa.
Um testemunho privilegiado dum tempo de guerra agora desfiado num tempo de paz.
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O antigo Estado da Índia Portuguesa continua a alimentar o imaginário dos portugueses, seja em romances seja em registos históricos. História de Goa - de Afonso de Albuquerque a Vassalo e Silva, da autoria de Pedro Avelar (Texto, 2012, 295 págs.) é uma síntese histórica da presença portuguesa naquele território indiano desde que chegaram (1498) até que saíram de lá forçados (1961). Recomenda-se, principalmente para quem não tenha paciência para ler volumes complexos de História.
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No correr da II Guerra Mundial, na Polónia, o oficial de cavalaria Slavomir Rawicz foi preso por forças soviéticas, acusado de espionagem. Julgado (?) acabou condenado a 25 anos de trabalhos forçados num gulague siberiano, mais precisamente o Campo 303.
Em Abril de 1941, consegue fugir desse campo, juntamente com outros companheiros e, numa louca odisseia percorre, a pé, 6.500 quilómetros sempre para para sul, na busca incessante da Liberdade. Odisseia essa que o leva (e aos seus companheiros de fuga) a atravessarem os gelos siberianos, o deserto de Gobi, as neves do Tibete cruzando os Himalaias até entrar na Índia Britânica, ponto inicial da sua vida em liberdade. Estava-se, então, em Março de 1942 e, para trás, ficavam o frio, a fome, as roupas andrajosas, as traições, as cobras, as doenças, as... tudo o que se possa imaginar.
É o relato desta impressionante viajem que se reporta o romance memorial Rumo à Liberdade, escrito pelo próprio Slavomir Rawicz (Editorial Presença, 2012, 283 págs.) que, felizmente, sobreviveu a todas estas provações e viveu para contá-las.
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Filme
Sobre a odisseia da fuga de Slavomir Rawicz (atrás referida) foi realizado o filme Rumo à Liberdade, baseado no livro com o mesmo nome. Produzido por Joni Levin, Peter Weir, Duncan Hendersem e Nigel Sinclair, tem um naipe de actores onde marcam presença Ed Harris, Colin Farrel, Jim Stuirguess, entre outros.
Com 130 minutos de duração, encontra-se o mesmo em DVD legendado em português, o que nos permite passar um par de horas a ver excelentes representações de actores consagrados, enquadradas em belos panoramas fotográficos.
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Música
André Rieu (1949), é um violinista e maestro holandês cujos espectáculos atingem a quase perfeição e dos quais eu sou um apaixonado, não porque tenha assistido a algum (infelizmente), mas por visionamentos de DVD´s que tenho adquirido. Percorrendo o mundo com a sua orquestra, toca todo o tipo de música popular dos países que atravessa.
André Rieu - Amazing Grace
Considerado um genuíno embaixador da música clássica, um apaixonado pelas valsas, os seus espectáculos têm feito mais para atrair multidões para apreciarem este tipo de música do que todas as palestras, livros, filmes, mesas redondas ou o que quer que seja em conjunto.
André Rieu - "The beautiful blue Danube"
Vale a pena assistir a um concerto seu ou, em alternativa, ver DVD´s que reproduzem por completo os seus espectáculos, dos quais não tenho preferência por nenhum em especial, por serem todos excepcionais.
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Frases de quem fez História
"O dinheiro não tem cheiro." - Tito Flávio Vespasiano (9-79 DC), Imperador Romano.
"Os cobardes agonizam perante a morte, os valentes nem se dão conta dela." - Caio Júio César (100-44 AC), Imperador romano.
"Eu não tenho ódio senão aos erros e não tenho amor senão à verdade." - Garcia da Horta (1501-1568), Médico, Botânico e Farmacólogo.
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Seja amigo do ambiente. Utilize os textos do Novo Acordo Ortográfico como papel higiénico.
As referências aos produtos acima referidos (livros, filmes, músicas, etc.) são incompatíveis com intuitos publicitários ou comerciais. Reflectem, apenas, a opinião do Autor.
Todas as fotografias do presente texto foram colhidas do Google Imagens e os vídeos do Youtube.
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