"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)
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domingo, 17 de junho de 2012

Diocleciano Fernandes das Neves


VIAJANTES, AVENTUREIROS E EXPLORADORES



Diocleciano Fernandes das Neves - (Figueira da Foz, 09/07/1829 - Sauíne, 24/02/1883) - Explorador, aventureiro e comerciante. Houve dois homens que, a Sul do Save moçambicano e à escala portuguesa, foram viajantes gigantes na aventura pura e dura da exploração do sertão. De um já falámos - João Albasini e do outro abordo hoje: o lendário Diocleciano Fernandes das Neves.


Filho de um advogado liberal (Lucas Fernandes das Neves) este teve que se esconder das perseguições absolutistas e, quando Diocleciano das Neves nasceu, a família estava escondida numa quinta perto da Figueira da Foz. Tal como o seu nascimento, o seu baptizado também foi na penumbra da clandestinidade, um mês depois. A perseguição política naqueles tempos difíceis, no entanto, mantém-se e a clandestinidade em que viviam acaba quando o seu pai é preso. Só em 1834, com o triunfo do liberalismo, é que o advogado é solto e, retornando à Figueira da Foz, reabre o seu escritório, onde virá a advocatar até à sua morte (1854).


Diocleciano Fernandes das Neves, entretanto, efectua os seus estudos na sua terra natal e em Coimbra. Após a morte do seu pai resolve emigrar para Moçambique, onde chega a 05 de Julho de 1855, para assumir o cargo de Director da Alfândega de Lourenço Marques


A localidade desgosta-o e o cargo directivo traz-lhe dissabores. A localidade, nas suas palavras, "está situada em um estreito cabeço de areia. Por ocasião das marés.........É composta (a praia) de pouca areia e muito lodo; de quinze em quinze dias é toda coberta, seis das elas marés grandes, ficando nove em seco....... As emanações pestilenciais, que os infelizes habitantes dali absorvem, envenena-lhes rapidamente os pulmões. Num  espaço de três anos sucumbem  duas terças partes dos europeus que para lá vão; e o resto fica por tal modo com a sua vida detiorada, que não pode ser útil nem a si nem ao seu país." A sua postura incorrupta, adversária dos actos arbitrários e prepotentes dos governantes do Presídio e sendo, também, opositor declarado do tráfico de escravos incompatibiliza-o com os poderes do Presídio, ficando isolado.

Em 1857 vai à ilha de Moçambique, na altura capital do território, onde apresenta a sua demissão a Augusto de Castilho**, Governador-Geral. Na viagem de regresso a Lourenço Marques o barco onde viajava naufraga nas costas de Inhambane e Diocleciano Fernandes das Neves, um dos sobreviventes, enceta um viagem a pé para Sul, de cerca de quinhentos quilómetros, em direcção ao Presídio laurentino.


É nesta sua viagem  pedestre que trava conhecimento com Muzila**, filho de Manicusse**, com quem se trava de amizades até a morte os separar. Na altura do encontro de ambos em terras de Gaza, Manicusse ainda era o todo-poderoso fundador do Reino de Gaza** e Muzila um dos seus inúmeros filhos. Dele (Muzila), nessa altura, Diocleciano Fernandes dirá: "Estive em casa do Muzila, que me tratou muito bem mostrando-se meu amigo porque dizia ele que eu era o primeiro branco que ele tinha visto." A amizade que aí nasceu entre os dois será profícua no futuro para ambos.

Chegado a Lourenço Marques Diocleciano Fernandes das Neves parte para o interior desconhecido e vai dedicar-se à lucrativa actividade da caça do elefante e respectivo comércio do marfim. À época em que arranca para esta nova fase da sua vida (1858) um acontecimento ocorre que vai voltar a cruzar os dois amigos: a morte de Manicusse. Da luta que se trava entre as forças dos pretendentes ao trono angune, depois de mortos os de menor destaque (Modanissa, Couce, Chuóne e Sipanjoa) destacam-se dois: Maueva** e Muzila. Maueva leva  a melhor inicialmente e assume a liderança do Reino. Muzila vê-se obrigado a refugiar-se no Transval para salvar a vida. Duros tempos aqueles.

Foi nestes tempos de conflitos dinásticos angunes que Diocleciano Fernandes das Neves resolveu começar a sua actividade de caça ao elefante e comérico de marfim, contratando um grupo de caçadores, pisteiros, carregadores e partindo para o sertão desconhecido onde raros brancos entravam. O rio Limpopo era a sua estrada orientadora. Vai, no entanto, na sua primeira caçada para Norte, até Gaza, entre Fevereiro e Março de 1860, onde trava conhecimento com Maueva que ali reinava e de quem ficará com péssimas impressões. Deste encontro escreverá: "Estive em casa deste malvado, tendo visto como ele era cobarde. No acto de lhe falar o cafre denunciava, mau grado seu, um certo receio que a minha presença lhe impunha. Agitava-se ao mais leve movimento que eu fazia e não tinha coragem de me encarar abertamente."


 
Depois dos prejuízos financeiros que lhe advém desta expedição resolve abandonar a ideia de voltar ao Norte e opta por ir para Oeste, para a zona do Transval, então acabado de se formar como República bóer. Expediciona uma caçada entre Setembro de 1860 e Julho de 1861 e, em Zoutpansberg, volta a encontrar Muzila, então ali exilado. Da conversa havida entre os dois e de combinação com João Albasini, fica acertado o apoio destes dois aventureiros portugueses a Muzila junto das autoridades portuguesas de Lourenço Marques.

E, na realidade, os relatórios destes dois sertanejos portugueses a apoiarem as pretensões de Muzila farão com que as autoridades laurentinas lhe facilitem a vida ao incitarem os régulos que, estando avassalados aos portugueses, se colocassem ao serviço de Muzila, o que veio a pôr sob seu comando milhares de guerreiros, bem como o fornecimento de armas e munições.

A 01 de Dezembro de 1861 Muzila comparece perante o Governador de Lourenço Marques, Onofre Lourenço de Andrade, sob protecção de Diocleciano Fernandes das Neves e roga-lhe apoio para a sua causa, o que consegue. A 16 de Dezembro de 1861 as forças de Muzila que congregavam milhares de guerreiros de vários regulados do Sul moçambicano e que também englobavam caçadores de Diocleciano Fernandes das Neves e membros do exército privado de João Albasini, acabam por derrotar as do seu irmão Maueva.

 

No entanto a vitória de Muzila foi Sol de pouca dura, pois Maueva voltou ao combate, agora reforçado com forças do seu sogro a Rei Mussuate (ou Msuatzi) da Suazilândia, voltando a invadir Gaza. Novo confronto entre os dois irmãos trava-se em Cunenvecujana**, voltando a armas a sorrirem a Muzila.

Diocleciano Fernando das Neves apercebe-se que o futuro de Muzila continua incerto, bem como dos portugueses. Com o apoio das forças do seu sogro, o Rei Msuatzi da Suazilândia, Maueva não desistiria da coroa angune que já usara e, caso acabasse por derrotar Muzila de vez em próxima batalha, a sua ira contra os portugueses seria certa, por estes terem apoiado o seu adversário. E aí a influência portuguesa no imenso território do Reino de Gaza (localizado entre os rios Save e Limpopo) acabaria.

Amigo pessoal que era do Rei Msuatzi, Diocleciano Fernandes das Neves envia-lhe uma embaixada com um grande saguate pedindo-lhe que não apoiasse mais o seu genro. Msuatzi compreendendo que também não lhe interessava estar em conflito com os brancos, pois se isso sucedesse mais cedo ou mais tarde acabaria por perder face ao poderio do fogo europeu, acedeu desde que Muzila assim lho pedisse. Novamente Diocleciano Fernandes das Neves intercede junto de Muzila e convence-o e este, liderando uma embaixada enorme com um valiosa carga de marfim como saguate, visita Msuatzi e fica estabelecido um acordo de paz duradouro. Maueva saía de cena definitivamente. Era o triunfo definitivo de Muzila graças, em grande parte, às movimentações diplomáticas de Diocleciano Fernandes das Neves quer junto das autoridades portuguesas quer junto do Rei Msuatzi. 

Com a ascensão do seu amigo ao trono e da protecção que recebe do mesmo, Diocleciano Fernandes da Neves volta à sua actividade predatória de caça ao elefante e negócio do marfim,  agora até Sofala, que floresce. São os seus gloriosos tempos em que enriquece e que mais tarde dirá: "E quereis saber porque eles me estimavam tanto e me respeitavam ao mesmo tempo? Era porque eu os estimava também. Mostrava-me sempre benigno para com eles. Falava ao preto grande  e ao pequeno com a atenção igual àquela que eu prestava às pessoas da minha raça. Brincava e ria com eles." Do rir com  eles ganhará o nome de "Mafambatchéca" que significa "Aquele  que caminha rindo", cognome este que sempre acarinhará para sua vaidade pessoal.

 
Em 1869 vem a Lisboa, através do recém-inaugurado Canal de Suez. Fica uns seis meses e retorna a Moçambique para encerrar os seus negócios, pois pretendia fixar-se definitivamente na Figueira da Foz. Em 1872, depois de deixar uns representantes dos seus negócios em Lourenço Marques, retorna à sua terra natal. Mas a vida aqui não lhe corre de feição. Doenças mal tratadas em África levam-no à quase surdez, negócios ruinosos que encetou na Figueira da Foz e o aproveitamento da sua ausência em Lourenço Marques pelos seus representantes pouco escrupulosos, atiram-no para a pobreza.

Volta a embarcar para Lourenço Marques (14 de Agosto de 1878), após apresentar um projecto ao Ministério da Marinha que assentava na criação de uma grande empório agrícola nas margens do rio Limpopo, em terras do Reino de Gaza, ainda governado pelo seu amigo Muzila e onde as autoridades criariam uma alfândega, como forma de arranque iniciático da instalação de portugueses naquelas terras desertificadas de europeus e como forma  de contrabalançar a perigosa influência britânica.



Chegado a Lourenço Marques Diocleciano Fernandes das Neves envia uma embaixada a Muzila e pede: "...permissão para me estabelecer no rio Bembe (1) ou Inhampura (1) e uma porção de terreno para diversas cultivações e plantações, na margem que eu escolhesse e que chegasse desde a foz até à parte do rio onde a água doce na preia-mar das marés grandes, devendo ser quadrada a distância que se encontrar..." Calculava que a área teria  cerca de 160.000 hectares tendo Muzila anuído a esse pedido. Satisfeito, escreveria ao Governador de Lourenço Marques, o seu amigo Augusto de Castilho: "... a aquisição da foz do rio Bembe vai em breve ser um acontecimento extraordinário para a Província de Moçambique e para a Metrópole. Posso asseverar a V.Exa. que, em menos de cinco anos, a  alfândega daquele porto há-de render muito mais do que nenhuma outra da Província. Desde o momento em que o porto se abrir ao comércio, as plantações de cana-de-açúcar e de tabaco, hão-de concerteza atingir proporções grandiosas." A lentidão lusitana levaria a perceber, quase um século mais tarde, que este homem tinha toda a razão, muito antes do tempo.


De Muzila Diocleciano Fernandes das Neves recebeu todo o apoio para se instalar na sua concessão que aquele Rei lhe dera, instalando a sua base perto de Sauíne, um povoado angune, nas margens do Limpopo. Das autoridades portuguesas em Lourenço Marques recebeu pedras, tudo lhe dificultando  a vida. Quando, em Janeiro de 1882, recebeu uma intimação do Governador de Lourenço Marques,  Chaves de Aguiar, para pagar os impostos devidos da  exploração da concessão bem como legalizar a mesma, respondeu altivamente que a concessão fora-lhe dada por Muzila e não por nenhuma autoridade do Governo Português, pelo que se recusava a legalizá-la em Lourenço Marques: "Com respeito à segunda parte do seu ofício em que me previne que é necessário que eu legalize a concessão que o Governo me fez dos terrenos que estou de posse.... tenho a dizer... que o Governo português não me fez concessão nenhuma de terrenos neste país,porque não podia conceder-me coisa alguma que não possuía.O senhor do território em que estou estabelecido era o Rei Muzila e nunca o Governo contestou o direito, nem a ele nem aos seus antepassados...."


Desgastado pelos longos anos africanos, sem estar devidamente tratado de doenças tropicais que foi colecionando, morre em Sauíne, minado por uma desinteria que já se arrastava há bastante tempo. Assistiu à sua morte Magobosa, o seu fiel criado. Alertado Muzila, este mandou avisar Lourenço Marques do evento. Entretanto a casa de Diocleciano Fernandes Neves, com ele no seu interior, ficou sob guarda vátua, para que nada faltasse quando os portugueses ali chegassem. A 08 de Março, vindo de Lourenço Marques chega uma curta expedição portuguesa a Sauíne e promovem o enterro de Diocleciano Fernandes das Neves, já em adiantado estado de putrefacção. Arrolam o seus bens e retornam a Lourenço Marques sem serem minimamente incomodados pelas gentes de Muzila.


Reza a lenda que Muzila ordenou o envio de duas impis homenagear a campa de Diocleciano Fernandes das Neves com os seus gritos de "Bayete". Lenda? Talvez não, pois em 1979 (já após a independência) um grupo de estudantes da Universidade Eduardo Mondlane esteve em Sauíne e ali efectuou o reconhecimento da sepultura de Diocleciano Fernandes das Neves e recolheu testemunhos orais que ainda ecoavam nas gentes daquele povoado sobre o lendário Mafambatchéca.



Cruz que assinala a campa de
Diocleciano Fernandes das Neves (2)


Termino quase como iniciei este texto: Houve dois homens que, a Sul do Save moçambicano e à escala  portuguesa, foram viajantes gigantes na aventura pura e dura da exploração do sertão: João Albasini e Diocleciano Fernandes Neves.



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(1) - Outros nomes do rio Limpopo.
(2) - A cruz ergue-se na margem sul do rio Limpopo, a poucos quilómetros da foz.
** - A abrir ficha.



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Savane - Um dos caçadores de maior confiança que estavam ao serviço de Diocleciano Fernandes das Neves chamava-se Savane. Deste caçador ronga há o relato da seguinte história: em 1864, por ordem de Diocleciano Fernandes das Neves, Savane a alguns guerreiros escoltaram a expedição do caçador inglês John Chambers, onde se integravam os seus familiares (mulher, Diane Fourie e quatro filhos), o cunhado Daniel Fourie e a família de Jakobus Lottering entre outros os quais, fugidos do Transval, dirigiam-se para Sofala, a fim de apanharem um navio que os levasse para Inglaterra. Durante o percurso, a expedição foi vitimada por doenças, ataques de animais e de gentios locais, acabando a mesma desmembrada pelo falecimento dos quatro filhos do casal Chambers, de Daniel Fourie devorado por um crocodilo no rio Save e da mulher e do filho de Jacobus Lopttering, de febres, acabando este por retornar ao Transval. O casal Chambers atinge Sofala, mas John Chambers, numa última caçada aos elefantes, para arranjar proventos que financiassem a viagem de retorno a Inglaterra, acaba, ele também, por morrer de febres em 1865.

Savane, honrando a sua palavra, recusa-se a abandonar a viúva Diane Fourie, completamente entregue a si mesma. Inicia a viagem de retorno para Ohrigstad, no Transval, escoltando-a no meio de inúmeros perigos e acabando por entregá-la, sã e salva, aos familiares da mesma. De seguida, regressa a Lourenço Marques apresentando o relato da sua odisseia a Diocleciano Fernandes das Neves.

Esta história, muito pouco (ou quase mesmo) desconhecida da maioria das pessoas, é reveladora da postura vertical de Savane e dos seus homens que demonstraram uma elevada estatura moral e um apurado sentido de honra, tão escasso naquelas épocas conturbadas invertendo, por um breve lapso de tempo, a inexorável lei da supremacia totalitária do mais forte sobre o mais fraco.

Porque, por um breve lapso de tempo, Savane e os seus homens mantiveram acesa a chama humana da Ética e  da Honra.



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Livro: Diocleciano Fernandes das Neves escreveu o livro "Itinerário de uma viagem à caça de elefantes" quando veio a Lisboa, o qual se reporta a sua expedição de caça elefantina ao Transval, e onde reencontrou Muzila, nos tempos do exílio deste. Trata-se de um livro de memórias e onde o autor disserta sobre os povos negros com quem se vai cruzando nas suas diversas vertentes que os qualificam e da sua infantilidade nas suas crenças; sobre a escravatura; sobre os bóeres (os holandeses africanos)  e a sua formação como comunidades independentes; sobre os diversos animais da fauna africana, sobre João Albasini, algumas guerras, enfim um repositório memorialista agradabilíssimo de ler.





 
Integrado na coleção Memória Portuguesa, a Dom Quixote editou neste livro, anotado, comentado e bem documentado por Ilídio Rocha, com o título "Das terras do império vátua às praças da República Boer" (1987, 208 págs.). Um livro que vale a pena ter, que retrata a visão dum colonial sobre um mundo acabado de formar (bóer) e outro em pleno estado de consolidação (vátua). E que ambos pereceriam quase em simultâneo no findar desse século.



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Ainda sobre Diocleciano Fernandes das Neves e a caça aos elefantes, recomendo a leitura da curta mensagem colocada em 20 de Junho de 2011 do blogue "tempocaminhado.blogspot.pt" subordinada ao título "Os elefantes de Nick Brandt também choram". 



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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL


 



Colonato – Área onde se fixavam colonos vindos da metrópole. Devido à fraca densidade populacional europeia e ao incremento da guerra nacionalista, as autoridades portuguesas começaram a criar condições para fixar, no território, pessoal europeu. Assim, com o desenvolvimento de uma política agrícola, tencionava-se fixar no colonato do vale do Limpopo cerca de um milhão de europeus e, mais tarde, com o arranque das obras da barragem de Cabora-Bassa* também se pretendia fixar colonos brancos em Tete. Outro colonato criado foi o de Nova Madeira, perto de Vila Cabral*. Como medidas incentivadoras à fixação de brancos e respectivas famílias nos colonatos, era-lhes entregue terras para cultivo, material agrícola a baixo custo bem como financiamentos bancários a juros favoráveis e garantias de aquisição dos bens cultivados. Outra das medidas tendentes à fixação de brancos no território era efectuada aos militares desmobilizados, que podiam ficar no território durante um período de dois anos sem perderem as regalias de retorno à metrópole, que adquiriam no acto da desmobilização.


Colonialismo – O colonialismo é uma realidade política que teve o seu arranque definitivo a partir dos anos 70 do século XIX. Tratou-se duma concepção política que significava, no seu contexto geral e simplista, na exploração económica e dominação política de extensas regiões fora do espaço europeu, pelo que se tratava do caucionamento da expansão europeia iniciada no século XV. Tratava-se de justificar todas as correntes de pensamento europeu que pretendiam o domínio sobre outros povos mais atrasados. Sendo uma pretensão comum a todos os países europeus acabou por ter nos seus principais mentores, a Grã-Bretanha e a França, em primeira linha. O colonialismo confunde-se com imperialismo, sendo que a concepção de Império é de origem romana (Império Romano) e baseava o seu domínio sobre outros povos com base na força militar. Já no colonialismo/imperialismo do século XIX a força bélica não era condição suprema para o seu exercício permanente, mas apenas para anexação dos territórios que permitisse a instalação da autoridade política europeia que, depois, instalava as ramificações económica, religiosa, social, etc. O colonialismo moderno deve a sua génese expansionista quando a indústria europeia, na segunda metade do século XIX, atingiu um elevado nível de especialização, fruto da revolução industrial, o que acabou por provocar a procura de novos mercados para colocação desses produtos, matérias primas mais abundantes e áreas geográficas onde pudesse rentabilizar os lucros excedentes. Fruto da rivalidade dos países europeus entre si, com forte cunho nacionalista (longe vinham os tempos da União Europeia) as vantagens atrás referidas apenas se poderiam concretizar em territórios longínquos, tecnologicamente atrasados, sem consciência nacional e sem conhecimentos técnicos que permitisse suster a invasão europeia. O colonialismo europeu (no qual Portugal se enquadrou como potência europeia) apresentou diversas formas mas, em comum, pode-se considerar a sua coluna vertebral assente nos seguintes vectores: A) - domínio de uma minoria europeia assente num pensamento filosófico de superioridade racial e cultural sobre uma maioria autóctone em desvantagem material; B) - entrechoque de duas civilizações diametralmente diferentes: a europeia com base religiosa judaico-cristã, economicamente forte e tecnologicamente avançada e a autóctone carente de tecnologia, sendo uma sociedade rural de agricultura basista de subsistência e com um relógio biológico lento; C) - Na súmula das duas premissas anteriores a potência europeia, mais avançada tecnologicamente, acaba por impor a sua supremacia à cultura nativa, transplantando para essas sociedades e impondo nas mesmas a sua orgânica político-administrativa. Foram as independências dos territórios do continente americano, ocorridas na primeira metade do século XIX, que acabou por virar as atenções europeias para os continentes africano e asiático. E para melhor se aperceber da fulgurante expansão europeia em África basta atentarmos que em 1875 apenas cerca de dez por cento do território africano era dominado por países europeus e, num espaço de vinte e cinco anos, no dealbar de 1900, esse domínio territorial contabilizava-se em noventa por cento. Portugal não fugiu à regra. A independência do Brasil (o seu Segundo Império), ocorrida em 1822, mas só reconhecida três anos mais tarde cortou-lhe, cerce, o manancial sul-americano. Fruto da instabilidade política que o País atravessou, com lutas intestinas no decorrer do século XIX, em que teve uma guerra civil, só na recta final desse mesmo século é que virou as suas atenções para os seus territórios ultramarinos como forma de se afirmar, externamente, como potência europeia igual às suas congéneres e, internamente, como forma de tentar promover o seu desenvolvimento económico. Sendo, no entanto, uma País pobre e de fracos recursos financeiros, materiais e humanos tardou na reacção de impor a sua soberania colonial nos territórios ultramarinos. Em Moçambique, só após a queda do Reino de Gaza*, ocorrida em 1895, é que Portugal começou a sua lenta ascensão colonial neste território que, no entanto, só terminaria, em definitivo, após o findar da Primeira Guerra Mundial*. O colonialismo, que teve expansão à escala planetária, teve também os seus opositores que utilizaram os palcos internacionais para fazerem ouvir as suas vozes. Nos antecedentes históricos de povos ou países que lutaram pela autonomia ou libertação do jugo colonial pode-se começar por anotar a Conferência de Nagasaki (Japão), realizada em 1926 onde, no decurso dos trabalhos, se aprecia favoravelmente o findar do sultanato na Turquia, fruto da acção golpista do “Jovens Turcos” liderados por Kemal Ataturk, o pai da Turquia moderna bem como Reza Khan, chefe militar persa denuncia os tratados impostos, em 1919, pela Grã-Bretanha ao seu País. No ano seguinte (1927) realiza-se em Bruxelas (Bélgica) o Primeiro Congresso dos Povos Coloniais Oprimidos, onde participam cento e trinta e seis organizações de regiões situadas na América Latina, África e Ásia bem como alguns representantes de partidos políticos europeus, casos do Partido Trabalhista Britânico e do Partido Comunista Soviético e intelectuais europeus tais como Romain Rolland e Albert Einstein. Também neste Congresso participam ilustres desconhecidos na altura, tais como Jawaharal Nehru (futuro líder indiano), Ho Chi Min (futuro líder vietnamita) Leopold Sédar Senghor (futuro líder senegalês) e a viúva de Sun-Yat Sen, um dos fundadores da República da China em 1911. No entanto, apesar destas posturas anti-coloniais, na década de trinta observa-se um avanço físico de cunho imperial dalgumas nações, sendo o caso da invasão italiana na Etiópia e do Japão na China. A guerra civil espanhola (1936/39) e o deflagrar da Segunda Guerra Mundial (1939/45) vêm desviar as atenções do mundo para os problemas coloniais. Mas logo após o findar do conflito alguns países libertam-se do jugo colonial e tornam-se independentes, casos da Índia, em 1947, Birmânia (actual Myammar) em 1948 e Indonésia,  em 1949. Logo no ano da sua independência, a Índia realiza em Nova Deli uma reunião de vários países com interesses em África e na Ásia. Havia conflitos a dirimir tais como os da França que reivindicava o seu direito a permanecer na Indochina, a Holanda queria manter parte do seu antigo império na Indonésia, na China mantinha-se as clivagens entre a facção comunista liderada por Mao-Tsé-Tung e a nacionalista liderada por Chang-Kai-Chek e, na Europa, começava a desenvolver-se a “guerra fria” que opunha os blocos comunista e capitalista, com crescentes receios no desembocar dum terceiro conflito mundial. Assim, começa a fermentar nesta reunião a ideia de constituir-se um terceiro bloco afro-asiático que, liberto do jugo colonial não aderisse nem ao bloco comunista, onde liderava a União Soviética, nem ao bloco capitalista, onde lideravam os Estados Unidos da América. A neutralidade deste terceiro bloco de países aderentes ao mesmo não seria, no entanto, passiva, mas activa, com peso para incidir nas decisões das grandes potências hegemónicas. Tal amadurecimento político vem a incrementar-se dois anos mais tarde (1949) quando Nova Deli promove nova Conferência Governamental, com a participação de dezanove países. Nesta reunião, Nehru propõe aos estados participantes que recusem ingressar em qualquer dos blocos antagónicos (comunista ou capitalista) “sem que ela suponha uma posição anti-europeia, anti-norte-americana ou anti-ocidental” como afirmou na altura, aproveitando ainda para criticar as características de funcionamento da ONU, que se comportava como um “Clube de Brancos”. Em Abril de 1954 os governantes executivos da Índia, Indonésia, Birmânia (actual Myammar), Paquistão e Ceilão (actual Sri Lanka) pedem à França colonial, que fora derrotada em Dien-Bien-Phu, que reconheça a independência da Indochina, que acaba por ser negociada na Conferência de Genebra. No entanto, ao arrepio do que fica acordado na Suíça, os Estados Unidos entram na liça e acabam por se envolver no Vietname (bem como no Cambodja e Laos) com as trágicas consequências que só vêm a terminar em 1975. Com o incrementar da “guerra fria” as potências coloniais não simpatizam com neutralismos ou com tomadas de posição opostas aos seus interesses económicos ou estratégicos e tomam iniciativas golpistas, militares ou económicas contra os interesses dos povos que tentam seguir o seu próprio rumo. Para além da Paz de Genebra que os Estados Unidos não reconhecem, na Pérsia (actual Irão) derruba-se o governo de Mohamed Mossadegh (1954), o mesmo se passando na Guatemala (1954), entre outros exemplos. Ainda neste mesmo ano uma ofensiva económica das potência coloniais leva ao nascimento da SEATO –South East Ásia Trethy Organization (Tratado da Organização do Sudoeste Asiático) que englobam potências coloniais e imperiais (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Austrália, Nova Zelândia) e países subdesenvolvidos (Paquistão, Filipinas e Tailândia). Era uma reacção das potências coloniais, que impunham a subordinação  de alguns países colonizados, à crescente bola de neve a que se ia assistindo por todo o mundo e que era o fenómeno das guerras de libertação nas diversas colónias. Como reacção a esta ofensiva colonial, a Indonésia, a Índia, a Birmânia (actual Myammar), o Ceilão (actual Sri Lanka) e  o Paquistão realizam, entre 18 e 24 de Abril de 1955, em Bandung (Indonésia) uma conferência de países afro-asiáticos. Esta conferência é considerada como um marco histórico na luta dos países ex-colonizados como sendo não alinhados com qualquer dos blocos das potências hegemónicas e um farol de esperança para todos os povos que ainda se encontravam colonizados.  Foram fixados dez princípios que norteariam, daí em diante, as posturas dos países aderentes a saber: 1) Respeito pelos direitos fundamentais de acordo com o determinado na Carta das Nações Unidas; 2) Respeito pela soberania e integridade territorial de todas as nações; 3) Reconhecimento da igualdade de todas as raças e de todas as nações: 4) Não intervenção e não ingerência nos assuntos internos doutro país; 5) Respeito pelo direito de cada nação a defender-se individual e colectivamente de acordo com a Carta das Nações Unidas; 6) Recusa na participação dos preparativos de defesa colectiva destinados a servir os interesses particulares das grandes potências; 7) Abstenção de todo acto ou ameaça de agressão ou do emprego da força contra a integridade territorial ou a independência política doutro país; 8) Solução de todos os conflitos internacionais por meios pacíficos, tais como negociações e conciliações, arbitragens ou acordos perante tribunais, assim como qualquer outro meio pacífico que possam adoptar os países interessados de acordo com a Carta das Nações Unidas; 9) Estímulo dos interesses mútuos e cooperação; 10) Respeito pelo justiça e obrigações internacionais. Bandung acabou por simbolizar o acelerar das lutas contra o colonialismo e a recusa de qualquer país alinhar por qualquer bloco das grandes potências. A neutralidade tornava-se regra de ouro, pensamento esse consubstanciado por Nehru que, discursando em Bandung, afirmou: “Estamos, os países da Ásia e da África, desprovidos de posição, excepto quando somos pró ou anti-comunistas? Chegámos ao ponto em que não nos resta outro remédio senão apontar para este ou outro tipo de grupo, apoiar este ou outros partidos que proponham desejos que nos são alheios? Isto é muito degradante e humilhante para qualquer povo ou nação que se respeite. Um pensamento intolerável para mim é o de que os grandes países da Ásia e da África saiam da escravidão unicamente para se degradar deste modo. Vou perder a minha liberdade e a minha individualidade para me converter num seguidor doutros? Não tenho, em absoluto,  a intenção de fazer tal coisa.” Esta tomada de consciência pela neutralidade virá a dar origem ao movimentos dos países não-alinhados. Em 1956, Gamal Abdel Nasser (Egipto), Jawarahlal Nehru (Índia) e Joseph Broz Tito (Jugoslávia) reúnem-se ma ilha de Brioni (Jugoslávia) e fundamentam os princípios do neutralismo. O colonialismo entrava na sua parte final (se bem que em muitos casos desse lugar ao neo-colonialismo) e, em 1960, com o nascimento de muitos países africanos e na qual África fica quase toda independente, torna-se necessário  realizar-se uma conferência de países neutrais. Entre 01 e 06 de Setembro de 1961 realiza-se a Conferência de Belgrado (Jugoslávia) que vem dar seguimento ao ideário de Bandung, nascendo o Movimento dos Países Não-Alinhados. Congregando inicialmente 25 países de pleno direito o movimento cresceu no panorama político mundial com a adesão de novos membros efectuando, ciclicamente, em diversas partes do mundo conferências e tornando-se num arauto da luta contra o colonialismo e todas as outras formas opressoras do ser humano. Com a queda do muro de Berlim, na última década do século XX e com todas as consequências que daí advieram, este movimento deixou de ter justificação de existência.  O colonialismo já tinha passado à História, tal como a “guerra fria” que era sustentada pelo confronto capitalismo/comunismo.


Colono – 1) - Habitante livre dos prazos. Era-lhe permitido exercer qualquer tipo de actividade, excepto as de guerra e caça. 2) -  Indivíduo oriundo da metrópole, que se estabelecia numa colónia, aí se fixando para trabalhar e explorar as riquezas locais.

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LEITURAS




Wangari Maathai (1940/2011) foi uma mulher queniana laureada com o Prémio Nobel da Paz (2004) e uma grande lutadora da causa ambientalista, em África. Depois de ter completado os estudos secundários no seu País natal, ganhou uma bolsa de estudo que lhe permitiu licenciar-se em Biologia, nos Estados Unidos.



Wangari Maathai


De regresso ao seu País foi uma lutadora incansável pelos Direitos Humanos e, em simultâneo, pela causa ambiental combatendo com denodo contra a desflorestação incontrolável.  Inspirou e liderou a criação do movimento "Green Belt" responsável pelo plantio de trinta milhões de árvores. O cancro impediu de atingir o seu objectivo: plantar um bilião de árvores. Como ela dizia: "Para o hemisfério Sul e especialmente África, questões ambientais não são um luxo. Impedir o aquecimento global e proteger e recuperar os nossos sistemas naturais são questões de vida ou de morte para boa parte da população mundial." Publicou o livro "The Green Belt Movement: sharing the aproch and experience" do qual não conheço nenhuma tradução portuguesa.






Para melhor conhecermos o percurso desta notável mulher, cuja vida deve servir de fonte de inspiração para todos nós, há que ler as suas memórias no livro "Indomável - uma luta pela liberdade" (Bizâncio, 2007, Lisboa, 318 págs.) a autobiografia da mulher detentora dum doce sorriso de esperança imortal.



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E já que atrás falámos de elefantes e caçadas, sugere-se aqui a leitura dum romance da autora Barbara Gowdy, denominado "Osso Branco" (Quetzal Editores, 2000, Lisboa, 317 págs.) que se reporta à saga ficcionada duma família elefantina que deambula pelos pântanos, planícies e desertos sub-sarianos. Lama, a matriarca da manada, vai conduzir o seu grupo na busca de Osso Branco, que lhes revelará o segredo da localização do Refúgio, onde lhes será permitido ficarem a salvo dos caçadores que apenas querem as suas pontas e, por isso, mutilam e  chacinam tudo e todos, subvertendo todos os valores e códigos de conduta morais até então aí prevalecentes.



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PINTURA


 
José Guimarães - Numa das edições da Feira de Antiguidades que se costumam realizar no Convento do Beato, em Lisboa, desloquei-me como habitualmente à mesma, não só para visitar a Feira em si como também por lá ter pessoas minhas amigas com expositores. Numa dessas deslocações e em amena conversa com uma das feirantes minha amiga, reparei que a mesma tinha, num dos seus sectores uma pintura, para mim infantil e comentei, em tom de brincadeira mais ou menos: "Então agora trazes desenhos do teu neto para venderes?" (Nota: ela tinha um neto com cinco anos, na altura). Ao que a mesma me respondeu que não, que aquilo não era nenhum desenho infantil, mas uma serigrafia de José Guimarães e estava a vendê-la por 350 euros. Perante a cara de parvo com que devo ter ficado, perguntou-me: "Não sabes quem é José Guimarães? Parece impossível." E logo ali fez-me um resumo da vida deste escultor e pintor, que viveu parte da sua vida em Angola (1967/1974). E, para terminar, ainda me disse: "E vais ver que ainda hei-de vender esta serigrafia antes da Feira encerrar." E, efectivamente, assim foi.


 

Serigrafia de José Guimarães


 
Nunca pensei que aquilo conseguisse ser vendido. Se aquela serigrafia valia 350 euros logo ali propus-lhe eu pintar algumas da minha autoria e ela vendê-las. "Pois, mas tu não és José Gumarães", foi a resposta que obtive. Lembrei-me duma anedota que se contava de Pablo Picasso em que este, levando um amigo seu à cave da casa onde morava, encontravam-se espalhados pelo chão centenas de desenhos do famoso pintor. Perante a admiração do seu amigo, ele acalmou-o: "Não te preocupes, estes carvões que desenhei não valem nada porque ainda não os assinei."

Posteriormente pus-me a pesquisar a obra de José Guimarães e fui de desilusão em desilusão. Não consigo compreender como é que este pintor tem obra reconhecida internacionalmente. Eu pessoalmente não gosto, ponto final. Aquelas serigrafias qualquer miúdo as faz. Não passam de desenhos infantis, santa paciência. Não têm mensagem, as cores são colocadas como que a eito... enfim.



Serigrafia de José Guimrães

Com pintores profissionais na minha família, que tiveram no seu tempo e no seu meio alguma nomeada, e tendo também no meu círculo de amigos pintores, certa vez perguntei como é  que eles determinavam o preço duma obra sua. Sintetizo a resposta dum deles (presentemente a viver em Moçambique): "Eh pá, vai do grau de alcolémia que tenho no sangue e da cara de parvo do interessado." Elucidativo. Mas mesmo assim, nem bêbado eu daria 350 euros por uma serigrafia de José Guimarães.

Ainda por cima fiquei "piurso" quando soube, mais tarde, que uma das esculturas que estão numa praça de Lisboa e que eu sempre detestei (a escultura, não a praça) era da sua autoria. É a dedicada aos construtores da cidade e foi inaugurada, se não me falha a memória, no mandato municipal de João Soares numa das comemorações do "25 de Abril" (foto que se segue).

 



 

Não conheço José Guimarães; nunca me cruzei com o mesmo, no que lamento, pois assim talvez pudesse trocar algumas impressões com ele. Mas de certeza absoluta que não será o filho mais novo da minha mãe que num dia comprará  uma obra que seja deste pintor e escultor.


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MÚSICA

 

No decurso da guerra independentista de Moçambique (1964/1974) surgiu o "Cancioneiro do Niassa" que foi o nome com que ficou conhecido um conjunto de letras populares, adaptadas a músicas de protesto em voga na época, letras essas feita por militares portugueses que combatiam na zona do Niassa. Atribui-se a eventual paternidade do referido cancioneiro a diversos militares que integravam as companhias do Batalhão de Artilharia 2889.


As letras do referido cancioneiro reflectiam, entre várias aspectos, o pensamento do militar operacional português sobre a guerra que travava, as suas relações com os oficiais superiores, a sua interligação com o meio africano onde, por força das circunstâncias, era obrigado a estar e também a saudade da terra metropolitana.


 



No conjunto da obra pode-se considerar, na sua globalidade, como sendo um grito de revolta contra o sistema político que sustentava a guerra em Moçambique (e também em Angola e Guiné Bissau) e da separação social entre os soldados combatentes e a sociedade civil do território.


Capa do álbum "Canções Proibidas"


Posteriormente, várias dessas músicas fora editadas em disco, sob o título "Cancioneiro do Niassa - Canções Proibidas", para que as memórias daqueles duros tempos de isolamento não ficassem esquecidas. E porque a canção também foi uma arma.


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PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA


Se a estupidez pagasse impostos... esta família estaria penhorada até aos cabelos.



Uma família passa férias divertidas abatendo girafas.


 
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Esta adorei. É uma forma de protesto contra o desmatamento que ocorreu na Mata do Xarêta, em Palmares - Brasil.




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Quantas vezes, face à indiferença humana, resta a amizade com um animal.



 

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ACONTECEU

 

Políticos portugueses (1) - "Lamentava-se" há uns tempos o nosso Mui Amado Querido e Adorado Líder e Venerando Chefe de Estado, da Nação, da Pátria e da República, Cavaco Silva, perante as câmaras de televisão que, face à legislação vigente que não lhe permitia acumular dois vencimentos, optara por prescindir do vencimento de Presidente da República.  Uma das suas reformas é superior e por isso optara pela mesma.


 
Leio na imprensa que a nossa Mui Charmosa, Sorridente e Nada Barbie PresidentA(?) da Assembleia Nacional Popular, perdão, da Assembleia da República, Assunção Esteves, também prescindiu de receber o competente vencimento deste cargo, optando pela sua reforma de Juíza do Constitucional.


 
Ou seja, as duas primeiras figuras da Nação (face à hierarquia constitucional) querem o cargo mas não o pecúnio que lhes compete por aquele desempenho. Lembro-me do ex-Presidente Ramalho Enes,  numa entrevista que deu não há muito à televisão, ter dito que, aquando do exercício do seu mandato presidencial, sempre optara pelo vencimeno correspondente ao cargo, mesmo tendo podido optar pelo de militar (que era) e onde ganhava mais.


Mas exemplos como estes são raros na nossa classe política.


Que falta de sentido de Estado às duas actuais primeira figuras da Nação. Que falta de sentido de darem o exemplo aos cidadãos que passam dificuldades, porque estão pagar a factura dos erros destes mesmos políticos (e doutros). 


Não sendo nenhuma ilegalidade não deixa de ser lamentável... e nojento, a falta de respeito pela dignificação do cargo. 



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Políticos portugueses (2) - O Primeiro-Ministro (PM) Passos Coelho foi ao Parlamento, para o debate quinzenal. Desgraçadamente disse desconhecer qualquer matéria sobre o encerramento da Maternidade Alfredo da Costa e que não se guiava por jornais. Teve azar: a oposição mostrou-lhe o comunicado oficial do Ministério da saúde. Não sabia de tal, pelo que andou a apanhar bonés.



Mas, na continuidade deste debate, o PM também desconhecia as condições do resgate financeiro imputadas a Espanha tal como também desconhecia como se iriam desencadear as negociações sobre as rendas do sector da energia.



Mas... tanto desconhecimento? É que já não é a primeira vez que, no Parlamento, o PM é apanhado em contraciclo com discursos dos seus Ministros. Será que o PM só serve para apanhar bonés? É confrangedora a ignorância dele pertante questões tão sensíveis e importantes para o nosso futuro. Será que ainda não percebeu quais as verdadeiras funções do seu cargo?



 
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Declarações de intenções:


- A recusa em aceitar as normas do Novo Acordo Ortográfico.

- As referências aos produtos e pessoas acima referidos (livros, filmes, músicas, etc.) são incompatíveis com intuitos publicitários. Reflectem apenas a opinião do Autor.

- Todas as fotos foram colhidas do Google Imagens e os vídeos do Youtube.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Historiando Moçambique Colonial


Amuralhados - Os amuralhados eram construções de pedra (zimbaués) amontoadas umas sobre as outras, sistematicamente ordenadas e perfeitas e não possuindo nenhum elementos de ligação a uni-las. Tendo por função serem habitações, fortins defensivos, túmulos ou áreas demarcadas de fundições de ferro, encontram-se diversos tipos de amuralhados nas zonas de Manica e Sofala. A datação desses amuralhados devem remontar desde o século XIV, tendo os seus construtores sido os povos bantos.

Os machonas, grandes utilizadores deste tipo de construção, terão encontrado na abundância da pedra nas suas áreas de implantação a facilidade da matéria prima para construírem os seus diversos tipos de amuralhados, uma das bases culturais do Reino do Monomotapa. Com o desintegrar da cultura machona, resultante das sucessivas invasões de povos bantos (barotses, changanas, matebeles) e com a machadada final assestada pela chegada dos europeus e com a consequente substituição das velhas instituições políticas do Reino do Monomotapa pelos interesses dos novos conquistadores, os amuralhados deixaram de se construir, face à fuga perante o inimigo.

Assim, pode-se aceitar que a cultura das construções dos amuralhados do Reino do Monomotapa desapareceu depois da destruição da cultura machona por outros povos africanos e finalizada pela presença europeia. Após a queda do Reino do Monomotapa este tipo de construção manteve-se, na sua essência, no seio do povo Waungwe e entre os povos bavenda, no Transval Norte, povos estes que estiveram menos sujeitos a invasões inimigas e, assim, conservaram a influência da cultura machona no seu seio. 


Arte rupestre - A arte rupestre moçambicana é um importante legado das formas de expressão espiritual que os povos ancestrais, que habitaram este território, nos legaram. As pinturas rupestres são em muito maior número que as gravuras e o material mais utilizado, para a consumação das mesmas, eram os seixos. Por norma, as pinturas animalistas são polícromas e os locais escolhidos para fixarem a sua arte foram as cavernas e os abrigos naturais, sendo as rochas dolatíticas ou gravíticas as que melhor se prestaram para as suas reproduções.

Foi a partir de 1721 que a Prelazia de Moçambique informou a Academia Real de História Portuguesa da existência de desenhos de animais em rochas situadas perto das ruínas de zimbaués. A datação mais antiga das pinturas rupestres em solo moçambicano remetem-nos para o Período do Paleolítico e a sua carta pré-histórica assinala, entre outras localidades ou zonas, vestígios desta arte em Chiloane, Chifumbazi e Cachombo, na área de Tete, na meia encosta do monte Chimbanda da serra do Zembe, em Chimoio e, próximo de Manica, no contraforte do Vumba, do monte Chinhamapere, todos eles com pinturas rupestres de interesse artístico.

Também entre o Ligonha e o Rovuma existem nove estações de arte rupestre: Riane, Monapo, Nacavala, Campote, Murrupula, Mogovolas, Ribaué, Marrupa e Montes Oizulos. Em Riane e Monapo encontram-se figuras polícromas do tipo animalista, paleolíticas, sendo as de Riane mais ricas em movimentos, cor e arte relativamente às do Monapo, mas em ambas são de belíssimas imagens de arte. Em Nacavala, Murrupula e Mogovolas, as figuras serão do período do Neolítico, contendo traços geométricos e de menor impacto visual que as anteriores e a de Campote possui uma escrita hieroglífica. Ainda na zona do Monapo, no monte Namelépia (coisa escrita, derivado do verbo ku-lepa - escrever) existem pinturas  a tinta branca e preta, representando animais, homens e símbolos ainda não decifrados.

Nas outras localidades arqueológicas a actividade artística é testemunhada pela cerâmica aí encontrada. No sopé do monte Malembué (ma - muitos, lembué -escritos), no Niassa, existem pinturas rupestres de homens e animais alados e terrestres, pintados a branco entrecortados com traços de côr ocre. Na região de Samo, em Chiuta (Tete) existem pinturas de côr ocre num enorme rochedo representando círculos e riscos dos quais não se consegue definir quala ideia dos artistas que aí as gravaram. Ainda nesta zona de Chiuta, em Zangaia, existem pinturas a ocre, representando animais pré-históricos, homens e palhotas.

A arte rupestre era inspirada, principalmente, em cenas de guerra, dança e caça e os animais mais representados são os grandes herbívoros (gazelas, antílopes, bovinos, etc.). O manuseamento do fogo e do ferro, tanto no fabrico de armas como de cerâmicas, são também legados representativos da arte pré-histórica.




Instalação dos povos asiáticos - Investigações arqueológicas  presumem a chegada dos asiáticos à costa meridional africana no século VI, povoando a ilha de Madagáscar. Poderiam ser indonésios já misturados com sangue africano. Admite-se também que, por essa época, navegadores indonésios se tenham estabelecido a Sul de Sofala, em pontos litorais situados entre os rios Save e Limpopo, tendo trazido plantas alimentares e, também, que sejam responsáveis pela introdução do xilofone, um instrumento musical de grande repercussão no litoral sul de Moçambique, entre o povo chope (timbila). Sofala seria o seu centro portuário marítimo mais importante e as relações comerciais com os povos bantos reportar-se-iam ao planalto aurífero entre os rios Zambeze e Limpopo.

A busca do ouro na costa africana poderá ter estado, também, na origem da chagada dos persas da dinastia Sassanida, atendendo a que, depois do ano 570 DC, com a ocupação do Iémen, os Sassanida monopolizaram o controlo do comércio com a costa oriental africana. O seu porto mais importante, no Golfo Pérsico, era Siraf, que abastecia o planalto interior de Shiraz. Em 640 DC as invasões árabes nesta área não cortaram as rotas comerciais marítimas africanas a a ascensão do Califado dos Abássidas, em 750 DC, ainda implementaram mais esse comércio. Vários historiadores árabes relataram as rotas marítimas africanas e no seu comércio, que se estendiam até ao Sul de Sofalaeconómico persa dos princípes de Shiraz, datado no princípio do primeiro milénio (DC), incrementou ainda mais as relações comerciais com a costa africana.

É nesta época que um tronco da dinastia Shiraz se desloca para Quíloa, onde se instala, estabelecendo feitorias avassaladas que pontilhavam a costa africana. Quer a ilha de Moçambique, quer Angoche, quer Quelimane, eram avassaladas a Quíloa, quando os portugueses lá chegaram, em 1498. Quíloa era o principal centro cultural, comercial e religioso islâmico da costa africana, com construções de pedra, cunhagem de moeda local e era detentora duma grande mesquita de traçado árabo-persa, completada em 1300. A sua supremacia manteve-se ao ao final do século XV, quando se travou uma luta pela sucessão do Sultanato, o que provocou uma saída forçada de líderes que rumaram para o Sul. Destes, há o registo de dois deles: Husseine (ou Hassani) e Mussa, que procuraram em Quelimane e ilha de Moçambique refúgio. Husseine vem a morrer na viagem e foi sepultado na ilha de Mafalale, na foz do Angoche, tendo Mussa criado um Sultanato e posto à frente do mesmo Xosa, filho de Husseine. Mussa retirou-se para a ilha de Moçambique, onde ainda terá assistido à chegada da armada de Vasco da Gama, em 1498. Paralelamente à revolta dos princípes shirazes, também contribuiu para a queda de Quíloa a dissidência de vários sultões avassalados, entre os quais o Sultão Youssuf, de Sofala, que entraram em rota de colisão com Quíloa em busca de mais autonomia o que a acrescer à chegada dos portugueses, determinou a queda política.

Outro povo asiático que também se encontrava instalado em Moçambique, aquando da chegada dos portugueses eram os indianos, se bem que em muito menor número.  



Zimbaué ou zimbabué - 1) Nome dado às ancestrais construções de pedras existentes no Reino do Zimbabué e no Reino do Monomotapa, podendo também significar o lugar onde residia o Monomotapa.


Aconteceu


Passaram-se 25 anos sobre o falecimento de José Afonso. Uma voz que nunca se calou. Mesmo depois deste tempo passado, a sua voz ainda se ouve e, sem querer ser profeta ou futurista, daqui a 50 anos ainda se ouvirá.

Assisti ao programa "Maior que o pensamento" que a RTP 1 lhe dedicou, e que transmitiu no vigésimo quinto aniversário do seu passamento. Apreciei o gesto. Já vai sendo tempo de determinadas pessoas exorcizarem os seus fantasmas e, em relação a este Homem, por exemplo, verem-no como o compositor e cantor excepcional que foi e deixarem-se benzeduras e abrenúncios porque "ele é comuna"  e outras bacoquices quejandas.

Zeca Afonso conquistou o seu espaço e, agora, demonstrou que também conquistou o seu tempo. Viveu com dificuldades, morreu com dificuldades. Os amigos acudiram-lhe nas horas mais amargas, mas tudo o que lhe arranjavam era pouco para a doença que o atormentava. O Estado, tão mãos largas nas benesses que dá aos seus cães de fila políticos, parece que se esqueceu deste Homem. Mas o legado que,  felizmente, nos deixou já faz parte do património lusíada.  E este legado é uma excelsa bofetada de luva branca na classe política que mandava na altura no País. Pena é que em vez de luva branca não tenha sido uma marreta.

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E por falar em políticos que na altura mandavam neste País, quem era o Primeiro-Ministro, quem era? Não era um tal de Cavaco Silva que agora é Presidente da República. Pois. Enquanto Zeca Afonso, em plena ditadura e sem protecção nenhuma não calava a sua voz, tendo inclusivamente sido preso pela polícia política, o nosso Venerando Chefe de Estado, Grande Timoneiro da Nação e Suprema Honestidade em Pessoa não quiz aparecer na Escola António Arroios, porque na mesma estava a decorrer uma manifestação de adolescentes. Em plena democracia e com a protecção policial que é garantida a uma pessoa que desempenha aquele cargo... acho isto uma pura cobardia.

E é esta pobre figura o Comandante Supremo das Forças Armadas. Mas ele não tem culpa, coitadito. A culpa é de quem lá o pôs. É de todos aqueles que votaram neste singelo homenzinho que tem (ou teve) como amigos pessoas que andam a contas com a Justiça, pessoas que me estão a ir ao bolso, via impostos, para pagar os seus desfalques. Porque eu nunca tive dinheiro em off-shores, nunca comprei e vendi acções de empresas ligadas a falcatruas, nem nunca troquei de casa por outra de condomínio fechado num negócio que foram levantadas objecções por alguns políticos na última campanha presidencial, nem nunca pus um ar de fastio e dizer ao meu interlocutor que teria que nascer duas vezes para ser tão honesto quanto eu. Não, Cavaco Silva é que terá que nascer várias vezes para ser tão honesto quanto eu. 


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E já agora essa teoria do "tiro ao Cavaco", desenvolvida e condenada por Marcelo Rebelo de Sousa no seu comentário dominical na TVI, não tem pés nem cabeça. Cavaco Silva não durava um dia numa campanha presidencial norte-americana, onde a vida das pessoas é descascada até ao osso, como soe dizer-se.

Uma pessoa que queira ser Presidente da República, ou de Junta de Freguesia ou de qualquer outro cargo político, tem que se sujeitar a ser escrutinado diariamente e tem que ouvir a críticas políticas que lhe dirigirem, sem perder a cabeça ou refugiar-se em choradinhos da treta. Marcelo Rebelo de Sousa, na defesa do seu amigo Cavaco Silva, foi demagógico ao misturar Presidência da República com Presidente da República.

Uma coisa é o orgão institucional que eu, por exemplo, como republicano dos quatro costados que sou, defendo com unhas e dentes. Outra coisa é a pessoa que, transitoriamente, desempenha a função. Cavaco Silva não é a Presidência da República mas sim o Presidente da República. Tal como os seus antecessores e os que vierem a seguir. Por isso, independentemente do respeito que se é devido a uma pessoa que desempenha esse cargo (igual para todos os outros cargos políticos), esse respeito não o isenta de críticas políticas, bem como não o isenta de processos judiciais.

Só que Marcelo Rebelo de Sousa, na destreza da sua oratória, lança a confusão para a frente e faz-nos criar complexos de culpa. Mas não a mim. Por isso, sempre que tal se justificar na minha opinião, farei sempre "tiro ao Cavaco". Ou a qualquer outro político.   


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Carlos Cruz e os restantes arguidos do caso "Casa Pia" acabaram de novo condenados, agora no Tribunal da Relação, que confirmou as mesmas penas, mais ou menos, que já tinham sido atribuídas pelo Tribunal de 1ª Instância. Bom, lá veio a lenga-lenga do costume, que estão inocentes, patati e patátá. Agora vai mais um recurso para o Tribunal Constitucional, o que lhes evitou irem direitinhos para a pildra.

A Polícia investigou... e eu não lhes pude chamar pedófilos. A Polícia só investiga, não condena. O Ministério Público acusou... e eu não lhes pude chamar pedófilos. O Ministério Público só acusa, não condena. Foram para o contraditório e um Juiz confirmou as acusações... e eu não pude chamar-lhes pedófilos. A decisão do Juíz não era condenatória. Três juízes de 1ª instância condenaram todos eles a prisão por pedofilia... e eu não pude chamar-lhes pedófilos. É que havia recursos. Agora três juízes da Relação confirmam as penas prisionais...e eu continuo a não lhes poder chamar pedófilos. É que há um recurso para o Constitucional... e eu ainda me arriscava a levar com um processo de difamação, por atentar ao bom nome destes ilustres senhores. 

Só que eu posso ser peidófilo mas não sou pedófilo. Acho que cu de rapaz não me satisfaz.


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A Divisão de Trânsito da PSP de Lisboa resolveu efectuar um auto-stop numa rua que marginaliza o bairro da Madre Deus, em Lisboa e onde se encontram instaladas duas escolas, uma primária e outra secundária. À hora que estavam a efectuar a operação de controle das viaturas que circulavam e dos seus condutores, estavam também diversos pais a levarem os seus filhos para a escola primária. Com um aparato policial enorme tinha, como cereja no topo do bolo um PSP armado de "shot-gun" como que a dar cobertura aos seus colegas, caso algum condutor tentasse a fuga.

Mas, pergunto eu: estes polícias são parvos ou tiraram o curso de burrice por correspondência? Será que os responsáveis por esta operação não podiam escolher outra hora ou mesmo outro local naquele bairro para desencadearem a operação?

E é fácil de explicar estas minhas perguntas: imaginem que eu sou "marado dos pirulitos" e que, apanhado pelo auto-stop, acelero a viatura e saio dali desabrido. Não era a primeira vez que tal acontecia numa operação destas, diga-se de passagem. Lembro-me duma no Algarve em que em fuga atropelaram um polícia que veio a morrer (era um Sub-Chefe se não me falha a memória).  Não só punha as vidas das crianças em risco como arranjava ali uma confusão tremenda, com os pais aos  berros a gritarem pelos seus miúdos. E o PSP da "shot-gun" o que é que fazia? Disparava? Com a dispersão dos chumbos arriscava-se a atingir um inocente. Ou então não fazia nada para evitar acidentes. Então para quê aquele exibicionismo, feito Rambo de pacotilha?

Quando é que estas iluminárias brilhantes têm mais cuidado em escolher locais para fazerem as operações de auto-stop?

Mas será que no meio daquele conjunto de miolos policiais nenhum se apercebeu disto? Não haverá um alguma inteligência?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Théodore Monod

Viajantes, aventureiros e exploradores

Théodore André Monod - (Ruão 09/04/1902 - Versalhes, 22/11/2000). Considerado o maior explorador e especialista francês do deserto sahariano do século XX, foi um naturalista, escritor, cientista, antropólogo, humanista e pacifista, que deixou um legado de mais de 1.000 publicações entre livros, artigos de imprensa, sebentas e cadernos de anotações. Apaixonado, desde miúdo, por tudo o que se relacionasse com os diversos campos da Natureza ,vem a licenciar-se em Ciências Naturais.

Em África começa a sua carreira de pesquisador naturalista na Mauritânia (1920), onde trava conhecimento com a vida no deserto, que o apaixona desde logo. Dois anos mais tarde assume funções de assistente no Museu Nacional de História Natural de Paris. 

Em 1927 integra uma expedição científica que liga Argel a Dacar, via Timbuktu, atravessando o deserto do Sahara. Pelo caminho reunirá uma impressionante colecção de pedras e plantas do deserto. Será também neste ano que Théodore Monod fará a descoberta do "Homem de Asseldar", um esqueleto do período de Neolítico, com cerca de 6.500 anos, quando percorria o maciço de Adrar Ifhogas, no nordeste maliano.

Estabelece-se em Chinguetti (1934), uma cidade localizada no planáltico deserto de Adrar, na Mauritânia, a fim de tentar localizar um meteorito que, na sua opinião, teria caído por aquelas áreas. Este meteorito, nunca encontrado, será novamente razão da sua obsessão na recta final da sua vida de aventureiro. 

Em 1938, muda-se para a colónia francesa do Senegal, onde  funda, em Dacar, o Instituto Francês da África Negra, com o objectivo de efectuar estudos sobre todas as vertentes dos povos africanos existentes na zona sub-sahariana. O eclodir da II Guerra Mundial atrasou estes seus objectivos e, aderindo à facção do General Charles de Gaulle que resistia aos nazis,  acaba por criar um núcleo de apoio à resistência francesa das Forças Francesas Livres nesta colónia.

Opositor do Governo de Vichy, governo este que era um fantoche dos nazis, Théodore Monod, que estava casado com uma judia, emite semanalmente as suas crónicas radiofónicas de apelo à resistência, em Dacar, crónicas essas que, posteriormente serão compiladas num livro. Em 1944, quando o General Charles de Gaule visita Dacar, Théodore Monod será o seu anfitrião. Após o findar do conflito mundial, Théodore Monod retoma a liderança do Instituto, que é composto por três departamentos: Geografia, Ciências Humanas e Ciências Naturais. Desencadeia uma actividade científica notável, lançando um Boletim, apoiando outras publicações de carácter científico, realizando conferências e criando dois museus na ilha de Gorée (localizada na baía de Dacar): o Museu do Mar e o Museu Histórico. Deixou as funções deste Instituto em 1963, altura em que foi eleito para a Academia de Ciências, em Paris.

Em 26 de Outubro de 1948 realiza, juntamente com August Picard, o lendário oceanógrafo e balonista, o primeiro mergulho de batiscafo (FNRS II), ao largo da ilha Boavista, em Cabo Verde, tendo mergulhado a 25 metros.

Dotado de uma resistência física espantosa, levou as décadas de 50, 60 e 70 a percorrer, em diversas direcções, todo deserto do Sahara, sempre a pé ou de camelo. Em 1954 atravessou a Mauritânia para o Mali, sem ter levado uma gota de água consigo, num percurso de  900 quilómetros (600 milhas). Esta lendária travessia do deserto do Majâbat al-Koubrâ, que tem uma extensão de 1.000 quilómetros de comprimento por 500 de largura, e é considerado o deserto dos desertos do Sahara e comparável ao Rub al-Khali da Arábia Saudita, dará mais tarde origem a um livro (ver item "leituras").

Foi um notável explorador sahariano recolhendo, ao longo das suas peregrinações, inúmeros fósseis, plantas, animais que catalogava e remetia para os institutos científicos, para posteriores estudos. Dominando os dialectos locais, travou amizade com as populações saharianas, convivendo com as mesmas como se fosse um deles. Serviu de apoio a muita expedições arqueológicas daquele deserto, que mapeou exaustivamente.

Outra característica fundamental do seu perfil foi o seu pacifismo militante. A sua ligação de amizade a intelectuais e religiosos, quer cristãos quer islamizados, levou-o a opôr-se, por exemplo, à guerra da Argélia, o que o levou a assinar o "Manifesto dos 121", que apoiava a FLN revolucionária. Jejuava todos os dias 06 e 09 de Agosto (dia de aniversário dos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaky, na II Guerra Mundial) num movimento de protesto contra as armas nucleares. Aderiu a manifestações que denunciavam o racismo, o apartheid, as armas nucleares e a exclusão social. Era um inconformado e como ele próprio afirmou: "A tecnologia esteve de tal modo presente na guerra do Golfo que se falou em "guerra limpa". Tais teorias conduzem-nos ao abismo e à autodestruição. Os jovens devem rapidamente tomar a dianteira. Infelizmente verifico que, por vontade própria, se deixam intoxicar pela propaganda do Estado. Em todo o caso, espero deles uma revolta interior".

Vegetariano e ambientalista convicto subscreveu todas as formas de lutas que pusessem em causa o equilíbrio entre a Natureza e o Homem. Respeitador da vida em todas as suas maneiras, condenava as touradas e a caça, esta enquanto desporto. Presidiu à Comissão Científica ProAnima, uma organização que se opunha à experimentação animal e à vivissecação e exigia ciência com consciência. Em sua honra a ciência atribuiu o seu nome a vários géneros e espécies de flora e fauna.

Tardiamente descoberto para o grande público, só na década de 90 é que uma reportagem televisiva o alcandora ao conhecimento de todos.

Entre 1993/94 volta a cruzar o Majâbat al-Koubrâ, o violento deserto que atravessara 40 anos atrás sem levar uma gota de água, como forma de despedida de toda uma vida de aventura. Em meados dessa década (1995) ainda se desloca ao Iémen e, no ano seguinte, faz a sua última viagem ao seu amado Sahara no deserto do Tibesti (Chade), antes da cegueira o atingir plenamente.

Relembro aqui um soneto da sua autoria, escrito em Dar-es-Salam em 1963:

"O inexorável Tempo ao vento da tarde leva,
Em furacão soprando já por montes e vales
Os nossos velhos amores e as nossas novas concepções
Com a jovem flor a folha já morta.

O sangue demasiado generoso e a seiva demasiado forte
A trouxe-mouxe prometidos aos gelos das cavernas,
Com tanto labor, esperanças e trabalhos!
Vamos... basta de demoras... Para fora! É preciso
Irmos lá para fora.

Já que é preciso que em breve e sem demora morramos,
Já que a noite desce e já que o sono
Sobre nossos cânticos se fecha, e já que a morada

Dos nossos terrestres corpos em pó se vai tornar,
Saberemos desaparecer, pelo menos, frente ao Sol?
Irá, este olho sangrando, responder às nossas tumbas?"

Teve uma morte estúpida, em Versailhes, resultado duma queda. Estúpida porque longe do seu amado Sahara. Lamentavelmente, não morreu num dos quaisquer desertos do Sahara. Seria um túmulo mais que justo.

Historiando Moçambique Colonial

Moçambique, origem do nome - Segundo recolha popular, feita por missionários, a palavra "Moçambique" é a forma aportuguesada de Mussa-ibn-M´Biki (M´Biki, filho de Mussa), pescador nativo que tomou posse da ilha que hoje é conhecida por esse nome, muito antes da chegada dos portugueses. Antes dele a ilha fora pertença dum outro pescador, de nome Muhípiti. Como esta ilha foi das primeiras localidades onde os portugueses se instalaram, estes acabaram por alargar este nome para definir todo o território da costa oriental africana, a Sul de Zanzibar. 

Moçambique, Ilha de - Situada no Oceano Índico, no cruzamento das coordenadas 15º02´ de Longitude Sul e 40º44´ de Latitude Este e a cerca de cinco quilómetros do continente, na actual Província de Nampula, contando com cerca de três quilómetros quadrados de superfície, esta pequena ilhota do Índico viu, pela primeira vez, uma armada europeia no dia 03 de Março de 1498, quando Vasco da Gama por lá passou, na sua primeira viagem marítima para a Índia sendo, nessa altura, governada pelo Xeque Zacoeja, avassalado a Quíloa. No entanto, não foi através dos portugueses que esta ilha entrou nos anais da História, mas sim através dos árabes, que ali se encontravam instalados quando criaram o seu império talassocrássico no Oceano Índico. Saídos da Pérsia e da Arábia instalaram-se, inicialmente, junto ao Mar Vermelho. Descendo pela costa oriental africana, os árabes foram criando uma miríade de feitorias, sultanatos, xecados e estados independentes, ao longo dos séculos (Mombaça, Quíloa, Zanzibar, ilha de Moçambique, Angoche, Quelimane, Sofala, entre outros), criando uma teia de circuitos comerciais marítimos pujantes, originária duma burguesia aristocrática baseada nas alianças inter-árabes. No entanto, durante o domínio árabe, a ilha de Moçambique não atingiu o apogeu doutras feitorias irmãs, fruto da sua diminuta extensão geográfica e falta de água potável servindo, essencialmente, apenas de escala de apoio aos navio árabes. Em 1506 os portugueses ocupam-na "para as naus que ali fossem acharem mantimentos" (Fernão Lopes Castanheda / "História do descobrimento e conquista da Índia pelos portugueses") e, fruto da sua localização geográfica, transformam a ilha em base de apoio às naus que demandavam a Índia, tal como os árabes o tinham feito e também para fazer frente à actividade mercantil de Zanzibar. Assim, no ano seguinte, dão início à construção dum hospital e da pequena torre de São Gabriel, exactamente no mesmo sítio onde se situa a capela do Palácio de São Paulo, instalando aí 15 homens para a defesa da feitoria. Apesar dos incidentes iniciais, decorrentes da instalação dos portugueses que originou, da parte destes, no bombardeamento do Mossuril e das Cabaceiras por causa da água que lhes foi negada, conseguiram utilizar a feitoria como armazém de géneros alimentícios e água para apoio às naus que demandavam a Índia, entreposto de correio e recolha de informações sobre o interior do continente. " A qual povoação de Moçambique tomou tanta posse de nós que é hoje a mais nomeada escala de todo o mundo e...... poucas cidades há no reino que de cinquenta anos a esta parte enterrassem em si tantos defuntos como ela tem dos nossos." (João de Barros / Décadas). Posteriormente as naus começaram ali a invernar, quando perdiam as monções tendo, inclusivamente, sido montada uma caravela que viera do Reino aquartelada, para além da reparação e calafetagem das naus danificadas nas viagens, o que acabou por originar a criação duma estação naval com o respectivo arsenal, que se manteve até ao século XX. Em 1558 iniciaram-se os trabalhos para a construção da fortaleza de São Sebastião, pensada 20 anos antes, uma das mais importantes obras da engenharia portuguesa no Oriente. Existia, nessa altura, como defesa do porto, apenas um pequeno baluarte artilhado, situado ao lado da capela da Nossa Senhora do Baluarte, único exemplar da arquitectura manuelina, construída entre 1521 e 1522. Lentamente começa a ascensão comercial da ilha de Moçambique, servindo de entreposto para troca de panos e missangas da Índia, por escravos, ouro, marfim e madeiras (essencialmente pau-preto). Em Junho de 1604 a ilha é atacada por uma armada holandesa comandada por Steven van der Hagen, mas os portugueses conseguem resistir com êxito, obrigando aqueles a levantarem o cerco e acabando por seguirem para a Índia. Por mais duas vezes os holandeses tentaram tomar de assalto a ilha de Moçambique, durante o governo de Dom Estevão de Athaíde, com o fito de expulsarem os portugueses e aí criarem uma feitoria própria para servir de entreposto comercial à sua Companhia Concessionária das Índias Orientais, ataques esses que mediaram entre Março e Maio de 1607, sendo a armada holandesa comandada por Paul van Caerden e entre Julho e Agosto de 1608, mas acabaram sempre derrotados, o que levou os holandeses a rumarem para o Sul do continente e a fixarem-se numa zona onde hoje se situa a Cidade do Cabo (Cape Town). A reconstrução da ilha, totalmente arrasada pela intervenção militar holandesa, leva os portugueses a construírem, entre outras obras, a Santa Casa da Misericórdia, que exerce a função paralela de Câmara Municipal, até 1763. No início do século XVIII a ilha de Moçambique encontra-se totalmente decadente e em quase estado de abandono, com uma economia estagnada e uma governação corrupta e decrépita, o que obriga o governo de Lisboa a repensar a sua política ultramarina, descentralizando Moçambique do governo da Índia, à qual desde sempre esteve sujeita. Goa protestou, pois via nessa autonomização uma perca de mercado, para além duma zona privilegiada de colocação de empregos e tráfico de influências. Após 1752, com a reforma do Marquês de Pombal, sustentada pela promulgação do decreto-régio de 19 de Abril desse mesmo ano, o território de Moçambique autonomiza-se da Índia, de quem dependia política, administrativa, financeira e militarmente, tendo sido nomeado, como primeiro Governador desta nova situação política, Francisco de Melo e Castro. O referido decreto, assinado pelo Rei Dom José I, determinava ao Vice-Rei da Índia: "Dom José, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d´Aquém e d´Além Mar em África, Senhor da Guiné, etc.. Faço saber a vós, Marquês de Távora. Vice-Rei e Capitão-General do Estado da Índia, que por me ser presente a decadência do governo de Moçambique, e que será mais conveniente separá-lo do de Goa para o seu restabelecimento: fui servido, por decreto de 19 de Abril próximo nomear para governador e capitão-general de Moçambique, Rios de Sena e Sofala, Francisco de Mello e Castro, que está governando aquela Praça por nomeação vossa para que sirva o dito governo pelo tempo de três anos e mais, enquanto não lhe mandar sucessor com o soldo em cada um deles de oito mil cruzados, não ficando por ora sujeito às vossas ordens, como lhe mandei declarar na sua patente e ao dito governador e capitão-general obedecerão todos os demais governadores, capitães-mor, ministros e outros quaisquer oficiais que houver nos referidos distritos de Moçambique, Rios de Sena e Sofala e suas dependências. De que vos aviso para que tenhais entendido a resolução a que fui servido tomar nesta matéria. El-Rei, nosso senhor, o mandou pelos conselheiros do seu Conselho Ultramarino abaixo assinados e se passaram duas vias. Caetano Ricardo Silva a fez em Lisboa, 09 de Maio de 1752. - O Secretário, Joaquim Miguel Lopes do Lavre, o fez escrever.  - António Francisco de Andrade - Fernando José Marques Bacalhau." A 23 de Abril do mesmo ano, novo decreto-régio limitava a independência de Moçambique ao sector administrativo, mantendo-se subordinado no restante ao Governo da Índia, por o Rei de Portugal informar Francisco de Mello e Castro de que: "Fui servido nomear-vos governador e capitão-general de toda a costa desde a baía de Lourenço Marques até cabo Delgado e de todo o interior do País, não só da minha dominação, mas também do mais que conquistardes, ficando por ora independente do governo de Goa e jurisdição do Vice-Rei, excepto na administração do comércio, de que estais encarregado...". No entanto este decreto apenas contemplava a autonomia administrativa e defesa territorial. Só em 1756 é que foi concedido ao Governo de Moçambique a autonomia financeira em relação ao Governo de Goa. Face à sua pequena extensão territorial e crónica falta de água doce, os habitantes da ilha dependiam do continente para buscarem géneros alimentícios, pelo que existiam alguns povoados, habitados por mestiços e indianos nas Cabaceiras, no Mossuril e no Lumbo, ficando os portugueses acantonados na ilha, apesar de terem, naquelas localidades, palmares. O Governador-Geral Melo e Castro ordenou a construção, em 1753, do forte de São José, no Mossuril, a fim de proteger as povoações continentais. Após a expulsão dos jesuítas, os governadores instalaram, a partir de 1765, a sua residência e serviços administrativos no colégio de São Paulo, que aqueles religiosos tinham na ilha. Em 1761, por carta-régia, a ilha foi elevada à categoria de vila, que assume no pleno dois anos depois, ascendendo a cidade em 1818. Dois anos mais tarde, por impulso de João da Costa Brito Sanches, reconstruiu-se o fortim de Santo António, onde foi erigida uma minúscula capela àquele santo (daí o nome do fortim), aproveitando uma bateria já aí existente desde 1758, mandada construir pelo Capitão-General Pedro de Saldanha de Albuquerque na contra-costa da ilha, de formato quadrangular e só com artilharia na muralha virada para o mar o que ampliou, de sobremaneira, as capacidades de defesa da ilha pois, o cruzamento do fogo conjunto das peças dos três fortes - São Sebastião, São Lourenço e Santo António - tornava muito difícil a aproximação de barcos inimigos. No decurso do século XIX a ilha torna-se num importante entreposto negreiro, sendo os principais mercados terminais as colónias insulares francesas no Índico e o Brasil. Com o advento do liberalismo, em 1834, a ilha de Moçambique abre-se, muito lentamente aos africanos, permitindo aí a sua instalação, bem como aos árabes e goeses, marginalizados para o continente. Com efeito, sendo a ilha considerada, toda ela, uma praça militar, era interdita a não brancos a sua vivência aí, onde ninguém entrava nem saía sem autorização governamental, incluindo os brancos. Até finais deste século XIX foi, para além de entreposto negreiro, capital da colónia, altura em que perdeu este último estatuto para Lourenço Marques. Em 1948 a ilha saiu do seu torpor quando, a pedido da comunidade indiana aqui residente, o paquete "Tairea", da Companhia British India, aportou ali. O navio transportava cinzas de Mahatma Gandhi, com destino à África do Sul, a fim das mesmas serem lançadas ao mar, como homenagem ao facto deste ilustre personagem ali ter vivido vários anos. A ideia desta paragem excepcional do navio na ilha, partiu de Mangi Parsotam, gerente da firma H. Damodar Anandji, que dirigiu um convite às entidades oficiais e ao comércio local, que se fizeram representar no cortejo, bem como autoridades eclesiásticas. A urna foi levada de bordo ao templo indiano, tendo-se realizado uma cerimónia fúnebre, conforme os preceitos hindus. Com o desenvolvimento do porto de Nacala e a linha férrea a ligar o litoral ao interior, a ilha de Moçambique perdeu toda a sua importância, restando-lhe o turismo e a pesca como fonte de subsistência. Em 1967 a ilha volta a acordar da sua letargia crónica, com a inauguração da ponte que a ligava ao continente. O Almirante Sarmento Rodrigues, que fora Governador-Geral de Moçambique, era um apaixonado pela ilha e foi o grande impulsionador para a construção desta ponte. Após a independência, com o eclodir da guerra civil que assolou todo o território, a ilha tornou-se ponto de refúgio a muitos fugitivos, o que veio aumentar, pela negativa e de forma drástica, a sua componente demográfica, para dezenas de milhares um exíguo território calculado para não mais de três a cinco mil almas. O rompimento de todas as infra-estruturas, desde a canalização de água, saneamento, electricidade, rede telefónica, a manutenção da própria ponte que a liga ao continente, foram as conclusões mais que óbvias. Em 1993, apesar de estar totalmente degradada e apenas ser uma pálida ideia do pujante caldo de culturas que, apesar de tudo, fora antes da independência, a UNESCO declarou-a Património da Humanidade.

Moçambique, Brasão de armas da ilha/cidade de - Fundo vermelho com castelo de ouro aberto e iluminado de vermelho. Em chefe dois escudetes de prata carregados de um feixe de sete flechas de verde atadas a vermelho. A coroa mural de prata apresenta cinco torres e o listel branco tem gravado a negro e em reprodução de um verso dos Lusíadas, de Luís de Camões: "Esta Ilha Pequena Que Habitamos".

Moçambique, Brasão de armas da Colónia/Província de - O brasão que define as armas de Moçambique foi criado em 1935 e é composto, no seu núcleo, por um escudo dividido em três campos tendo, no primeiro campo, as cinco quinas de Portugal em azul contendo, cada uma delas, cinco moedas em prata e simboliza a soberania portuguesa no território; no segundo campo surge o símbolo de Moçambique, composto por sete flechas em verde e atadas com uma fita em vermelho, em homenagem à ilha de Moçambique, por ter sido onde se instalou o primeiro governo do território. O terceiro campo simboliza o mar, representado por cinco faixas onduladas em verde assentes em campo de prata. Este escudo central, que é arredondado em semi-círculo na base, assenta sobre uma esfera armilar (que representa a universalidade portuguesa) e, sobre esta, na sua parte superior, encontra-se uma coroa de ouro composta por cinco torres ligadas por quatro muralhas de negro existindo, em cada torre, uma pequena esfera armilar e, nas muralhas, a cruz de Cristo. Por baixo da esfera armilar existe uma faixa branca com a gravação de "Colónia de Moçambique", na altura da sua criação e, mais tarde, alterada para "Província de Moçambique".

(Continua)

Leituras

Théodore Monod (acima referido) deixou-nos cerca de uma vintena de livros. Destes possuo quatro, todos em versão portuguesa e editados pelas Publicações Europa-América, que são: A) "Os navegantes do deserto" que reporta a sua vida entre os anos de 1922 e 1936 e o seu constante caravenar cameleiro pelo Sahara. (1999; 218 págs.); B) "Majâbat al- Koubrâ - o fascínio do deserto" que relata a expedição que efectuou neste deserto no biénio de 1954/55, deserto este que liga o Sahara da Mauritânia com o Sahara do Mali. (1998; 216 págs.); C) "O explorador do absoluto" onde o Autor nos presenteia com a sua forma de pensar filosófica enquanto Homem de deserto (1998; 133 págs.); D) "A esmeralda dos garamantes - recordações de um sariano" (2001; 324 págs.) que é um percorrer memorialista de toda a sua vida desde a sua juventude até à década de 80. 


Poemas escolhidos


Grito Negro

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
E fazes-me tua mina
Patrão.

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão
Para te servir eternamente como força motriz
Mas eternamente não
Patrão

Eu sou carvão!
E tenho que arder, sim
E queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão!
Tenho que arder na exploração
Arder até às cinzas da maldição
Arder vivo como alcatrão, meu Irmão
Atém não mais ser a tua mina
Patrão!

Eu sou carvão!
Tenho que arder
E queimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim!
Eu serei o teu carvão
Patrão!

Fonte: Extraído do livro "Xigubo" de José Craveirinha.

Documentário

Sobre Théodore Monod há o registo de quatro documentários televisivos. Dois deles são da autoria de Karel Prokop, subordinados aos títulos "O velho e o deserto" (1988; 54 minutos) e "O velho e o meteorito do deserto" (1989; 56 minutos); outro é da autoria de Jacques Oger titulado de "Théodore Monod, um nómada entre o Céu e a Terra" (1995; 60 minutos) e o último, da autoria de Maximilien Dauber, é "Theodore Monod, senhor do deserto"  (2007; 52 minutos) que se reporta à última viagem deste grande explorador ao deserto do Tibesti, no Chade, em 1996.  

Imbecilidades

Esta história da CGTP-IN ir apresentar uma queixa crime contra João Proença, Secretário-Geral da UGT, é duma imbecilidade de todo o tamanho. Depois dos insultos que a Intersindical anteriormente tinha chamado ao João Proença, só faltava esta. Para além de dar uma triste imagem do movimento sindical, quem deve ficar contente é o sector patronal. Nada como dividir para reinar, ainda por cima numa guerra que não compraram. Será que a CGTP agora, deixou de ser uma correia de transmissão do Partido Comunista e tornou-se numa correia de transmissão dos patrões? Com tanta teoria da conspiração que há por aí não me admirava nada.

Eduardo Catroga, o "Pintelho Eléctrico"´, devia ter mais cuidado com a língua, quando a usa para falar. Esta de vir dizer que "Eu nem sou do PSD" (para justificar as polémicas nomeações para a EDP, após a privatização da mesma) (Sábado nº 403) é duma imbecilidade total. Se ele não é do PSD o que anda a fazer no mundo laranja? Será que o "Avô Cantigas Remix" deixou de ser adepto da laranjada e passou-se para o vodka dos comunistas? Com tanta teoria da conspiração que há por aí não me admirava nada.

Torres Couto criticou ásperamente João Proença por este ter assinado o Acordo de Concertação Social. Mas este tipo é imbecil ou é amnésico? O que é que ele fez quando era Secretário-Geral da UGT e Cavaco Silva era Primeiro-Ministro? Que acordo é que ele assinou? Até brindou com vinho do Porto. Não sabe estar calado? Há pessoas que, por vezes ou quase sempre, quando abrem a boca ou entra mosca ou... sai asneira.

"Se for condenado, peço aos que me apoiam, que me matem", disse Paco Bandeira sobre o facto de estar a ser julgado por crimes de violência doméstica e posse de arma proibida, à revista "Caras" (Visão, nº 985). Que forma mais imbecil de clamar a sua inocência. Como é que uma imbecilidade destas pôde sair da cabeça dum homem em que algumas das suas músicas temperaram tempos tórridos da minha vida? 

Positivo

Cinco portugueses foram premiados pelo Instituto Médico Howard Hugues, dos Estados Unidos, sendo reconhecidos como "futuros líderes científicos". Quatro deles trabalham em Portugal, Rui Costa (Fundação Champalimaud); Karina Xavier e Manuel Godinho Ferreira (Instituto Gulbenkien da Ciência) e Luísa Figueiredo (Instituto de Medicina Molecular) e, no estrangeiro, mais concretamente em Barcelona encontra-se o quinto português premiado, Pedro Carvalho (Centro de Regulação Genómica). De notar que a Fundação Champalimaud viu uma outra sua investigadora ser premiada, a norte-americana Megan Carey. Num universo de 760 candidatos provenientes de 18 países, termos cinco portugueses galardoados é obra. (Público, 24/01). Façamos votos para que nenhum dos cá estão emigrem. Cérebros é o que nos falta. Trocamos por políticos.

Hélder Rodrigues, que voltou a participar no Rali Dakar tendo obtido, de novo, o terceiro lugar.

Negativo


O ex-Secretário de Estado da Justiça José Magalhães dispendeu 60.000 euros na remodelação do seu gabinete de trabalho, que mandou decorar com símbolos maçónicos, quando exercia as suas funções políticas (Visão nº 985). Claro que os 60.000 euros não foram pagos do bolso dele, mas do erário público. Ou seja do meu bolso, por exemplo. E é de lamentar que um homem, prestigiado na luta pela democracia no tempo da ditadura (acho que bateu o recorde de suportar a tortura da estátua, na PIDE) agora, em final de carreira, este que foi apelidado de "ciber-deputado" no Parlamento, veja o seu nome como tendo contribuído, com a sua quota parte, para o quase afundamento do nosso Titanic lusitano. Já não lhe bastava o anátema de ter sido um governante socrete.

Lamentar

O encerramento da revista "Focus" (Visão nº 985). Sempre que um orgão de comunicação social desaparece o País fica mais pobre. Para além das lamentáveis situações de desemprego que gera. Quem foi o iluminado que disse uma vez: "não leio jornais"? Se calhar foi para fazer as poupanças que agora ajudam a reforçar o orçamento familiar  de 10.000 euros que não chegam para as despesas actuais.

As famosas afirmações que o nosso Venerando Chefe de Estado disse sobre as suas reformas e que, transversalmente, causaram repulsa. Pois eu cá, que sou daqueles que "teria que nascer duas vezes" (espero que o Venerando Chefe de Estado não me leve a mal por o plagiar) para atingir, pelo menos, o patamar de metade do que ele ganha, posso dar-lhe um conselho: porque é que V.Exa. não se aconselha (de novo) com o seu amigo Oliveira e Costa? Talvez este lhe dê umas dicas de como rentabilizar as suas economias numa "off-shore". Por curiosidade: não foi este seu amigo que aconsellhou V.Exa. sobre o vender as acções do BPN que detinha, a preço valorizado e antes de  ter estoirado a bernarda? Não estou a afirmar, estou a perguntar. Ou então Vossa Senhoria podia-se aconselhar com o seu outro amigo, um de tal Dias Loureiro. O euro em Cabo Verde é forte (acho eu, que nestas coisas de finanças nada percebo). Ou então, em alternativa, também podia trocar umas palavras com o Duarte Lima. O Brasil é o nosso El Dorado (a par com Angola) e talvez ele lhe desse uns contactos lá por aquelas bandas. Enfim... anda muito bem relacionado este nosso Venerando Chefe de Estado.

Exposição

"O Homem e o seu Olhar: a Magia do Instante" é uma exposição fotográfica que absorve seis décadas de trabalho do fotojornalista João Ribeiro, do qual foi pioneiro e cujos trabalhos foram sendo publicados em diversos jornais da nossa praça ao longo destes 60 anos. Repositório memorial de grandes eventos no nosso País é um verdadeiro legado histórico, todo este manancial fotográfico. Na Galeria Carlos Paredes da Sociedade Portuguesa de Autores (Rua Gonçalves Crespo, Lisboa), das 09 às 19H00 e de Segunda a Sexta.

Está a acontecer

Irom Sharmila, activista indiana dos Direitos Humanos, está em greve de fome há onze anos (repito: onze anos), no Estado de Manipur - Índia, sem ingerir uma gota de líquido ou de alimento sólido. Acusada de atentado contra a própria vida, que naquele Estado é crime, encontra-se internada no hospital Jawarhal Nheru, sendo alimentada à força, através duma sonda nasal. A razão da sua greve prende-se com o facto de pretender ver revogada uma lei que confere imunidade a excessos policiais ou militares, e teve início em Novembro de 2000, quando contava 28 anos de idade e quando dez jovens foram mortos por uma força paramilitar e os autores não foram investigados. Quinzenalmente é presente a um Juiz e, face à sua continuada recusa em suspender a greve de fome, volta a ficar detida hospitalarmente, sob custódia judicial. E isto é um calvário que se repete há onze anos. E em nome duma lei promulgada em 1958, que dá poderes especiais às Forças Armadas e Polícia para combaterem facções rebeldes, poderes especiais esses que se estendem a prender pessoas sem julgamento e inunidade em caso de assassinatos. (Fonte: Revista Tabu/Sol nº 273 /// htpp//:mesadoeditor.wordpress.com)


Navegar, navegar


http://www.youtube.com/movies - Trata-se de um canal de filmes que o Youtube exibe por completo. O visionamento dos filmes é gratuito não sendo necessário registarmo-nos para ver os mesmos, funcionando como um vídeo comum. 
Partiram

Manuel Fraga Iribarne, político e escritor espanhol.
Miljan Miljanic, jogador e treinador de futebol jugoslavo.
Rauf Denktash, político turco-cipriota.

Foi dito
"A História é património comum. Por isso não devemos deixá-la cair em mãos erradas." - George Duby (1919-1996), historiador fracês especialista em Idade Média, numa entrevista ao jornal L´Express (1974).