"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Historiando Moçambique Colonial


Amuralhados - Os amuralhados eram construções de pedra (zimbaués) amontoadas umas sobre as outras, sistematicamente ordenadas e perfeitas e não possuindo nenhum elementos de ligação a uni-las. Tendo por função serem habitações, fortins defensivos, túmulos ou áreas demarcadas de fundições de ferro, encontram-se diversos tipos de amuralhados nas zonas de Manica e Sofala. A datação desses amuralhados devem remontar desde o século XIV, tendo os seus construtores sido os povos bantos.

Os machonas, grandes utilizadores deste tipo de construção, terão encontrado na abundância da pedra nas suas áreas de implantação a facilidade da matéria prima para construírem os seus diversos tipos de amuralhados, uma das bases culturais do Reino do Monomotapa. Com o desintegrar da cultura machona, resultante das sucessivas invasões de povos bantos (barotses, changanas, matebeles) e com a machadada final assestada pela chegada dos europeus e com a consequente substituição das velhas instituições políticas do Reino do Monomotapa pelos interesses dos novos conquistadores, os amuralhados deixaram de se construir, face à fuga perante o inimigo.

Assim, pode-se aceitar que a cultura das construções dos amuralhados do Reino do Monomotapa desapareceu depois da destruição da cultura machona por outros povos africanos e finalizada pela presença europeia. Após a queda do Reino do Monomotapa este tipo de construção manteve-se, na sua essência, no seio do povo Waungwe e entre os povos bavenda, no Transval Norte, povos estes que estiveram menos sujeitos a invasões inimigas e, assim, conservaram a influência da cultura machona no seu seio. 


Arte rupestre - A arte rupestre moçambicana é um importante legado das formas de expressão espiritual que os povos ancestrais, que habitaram este território, nos legaram. As pinturas rupestres são em muito maior número que as gravuras e o material mais utilizado, para a consumação das mesmas, eram os seixos. Por norma, as pinturas animalistas são polícromas e os locais escolhidos para fixarem a sua arte foram as cavernas e os abrigos naturais, sendo as rochas dolatíticas ou gravíticas as que melhor se prestaram para as suas reproduções.

Foi a partir de 1721 que a Prelazia de Moçambique informou a Academia Real de História Portuguesa da existência de desenhos de animais em rochas situadas perto das ruínas de zimbaués. A datação mais antiga das pinturas rupestres em solo moçambicano remetem-nos para o Período do Paleolítico e a sua carta pré-histórica assinala, entre outras localidades ou zonas, vestígios desta arte em Chiloane, Chifumbazi e Cachombo, na área de Tete, na meia encosta do monte Chimbanda da serra do Zembe, em Chimoio e, próximo de Manica, no contraforte do Vumba, do monte Chinhamapere, todos eles com pinturas rupestres de interesse artístico.

Também entre o Ligonha e o Rovuma existem nove estações de arte rupestre: Riane, Monapo, Nacavala, Campote, Murrupula, Mogovolas, Ribaué, Marrupa e Montes Oizulos. Em Riane e Monapo encontram-se figuras polícromas do tipo animalista, paleolíticas, sendo as de Riane mais ricas em movimentos, cor e arte relativamente às do Monapo, mas em ambas são de belíssimas imagens de arte. Em Nacavala, Murrupula e Mogovolas, as figuras serão do período do Neolítico, contendo traços geométricos e de menor impacto visual que as anteriores e a de Campote possui uma escrita hieroglífica. Ainda na zona do Monapo, no monte Namelépia (coisa escrita, derivado do verbo ku-lepa - escrever) existem pinturas  a tinta branca e preta, representando animais, homens e símbolos ainda não decifrados.

Nas outras localidades arqueológicas a actividade artística é testemunhada pela cerâmica aí encontrada. No sopé do monte Malembué (ma - muitos, lembué -escritos), no Niassa, existem pinturas rupestres de homens e animais alados e terrestres, pintados a branco entrecortados com traços de côr ocre. Na região de Samo, em Chiuta (Tete) existem pinturas de côr ocre num enorme rochedo representando círculos e riscos dos quais não se consegue definir quala ideia dos artistas que aí as gravaram. Ainda nesta zona de Chiuta, em Zangaia, existem pinturas a ocre, representando animais pré-históricos, homens e palhotas.

A arte rupestre era inspirada, principalmente, em cenas de guerra, dança e caça e os animais mais representados são os grandes herbívoros (gazelas, antílopes, bovinos, etc.). O manuseamento do fogo e do ferro, tanto no fabrico de armas como de cerâmicas, são também legados representativos da arte pré-histórica.




Instalação dos povos asiáticos - Investigações arqueológicas  presumem a chegada dos asiáticos à costa meridional africana no século VI, povoando a ilha de Madagáscar. Poderiam ser indonésios já misturados com sangue africano. Admite-se também que, por essa época, navegadores indonésios se tenham estabelecido a Sul de Sofala, em pontos litorais situados entre os rios Save e Limpopo, tendo trazido plantas alimentares e, também, que sejam responsáveis pela introdução do xilofone, um instrumento musical de grande repercussão no litoral sul de Moçambique, entre o povo chope (timbila). Sofala seria o seu centro portuário marítimo mais importante e as relações comerciais com os povos bantos reportar-se-iam ao planalto aurífero entre os rios Zambeze e Limpopo.

A busca do ouro na costa africana poderá ter estado, também, na origem da chagada dos persas da dinastia Sassanida, atendendo a que, depois do ano 570 DC, com a ocupação do Iémen, os Sassanida monopolizaram o controlo do comércio com a costa oriental africana. O seu porto mais importante, no Golfo Pérsico, era Siraf, que abastecia o planalto interior de Shiraz. Em 640 DC as invasões árabes nesta área não cortaram as rotas comerciais marítimas africanas a a ascensão do Califado dos Abássidas, em 750 DC, ainda implementaram mais esse comércio. Vários historiadores árabes relataram as rotas marítimas africanas e no seu comércio, que se estendiam até ao Sul de Sofalaeconómico persa dos princípes de Shiraz, datado no princípio do primeiro milénio (DC), incrementou ainda mais as relações comerciais com a costa africana.

É nesta época que um tronco da dinastia Shiraz se desloca para Quíloa, onde se instala, estabelecendo feitorias avassaladas que pontilhavam a costa africana. Quer a ilha de Moçambique, quer Angoche, quer Quelimane, eram avassaladas a Quíloa, quando os portugueses lá chegaram, em 1498. Quíloa era o principal centro cultural, comercial e religioso islâmico da costa africana, com construções de pedra, cunhagem de moeda local e era detentora duma grande mesquita de traçado árabo-persa, completada em 1300. A sua supremacia manteve-se ao ao final do século XV, quando se travou uma luta pela sucessão do Sultanato, o que provocou uma saída forçada de líderes que rumaram para o Sul. Destes, há o registo de dois deles: Husseine (ou Hassani) e Mussa, que procuraram em Quelimane e ilha de Moçambique refúgio. Husseine vem a morrer na viagem e foi sepultado na ilha de Mafalale, na foz do Angoche, tendo Mussa criado um Sultanato e posto à frente do mesmo Xosa, filho de Husseine. Mussa retirou-se para a ilha de Moçambique, onde ainda terá assistido à chegada da armada de Vasco da Gama, em 1498. Paralelamente à revolta dos princípes shirazes, também contribuiu para a queda de Quíloa a dissidência de vários sultões avassalados, entre os quais o Sultão Youssuf, de Sofala, que entraram em rota de colisão com Quíloa em busca de mais autonomia o que a acrescer à chegada dos portugueses, determinou a queda política.

Outro povo asiático que também se encontrava instalado em Moçambique, aquando da chegada dos portugueses eram os indianos, se bem que em muito menor número.  



Zimbaué ou zimbabué - 1) Nome dado às ancestrais construções de pedras existentes no Reino do Zimbabué e no Reino do Monomotapa, podendo também significar o lugar onde residia o Monomotapa.


Aconteceu


Passaram-se 25 anos sobre o falecimento de José Afonso. Uma voz que nunca se calou. Mesmo depois deste tempo passado, a sua voz ainda se ouve e, sem querer ser profeta ou futurista, daqui a 50 anos ainda se ouvirá.

Assisti ao programa "Maior que o pensamento" que a RTP 1 lhe dedicou, e que transmitiu no vigésimo quinto aniversário do seu passamento. Apreciei o gesto. Já vai sendo tempo de determinadas pessoas exorcizarem os seus fantasmas e, em relação a este Homem, por exemplo, verem-no como o compositor e cantor excepcional que foi e deixarem-se benzeduras e abrenúncios porque "ele é comuna"  e outras bacoquices quejandas.

Zeca Afonso conquistou o seu espaço e, agora, demonstrou que também conquistou o seu tempo. Viveu com dificuldades, morreu com dificuldades. Os amigos acudiram-lhe nas horas mais amargas, mas tudo o que lhe arranjavam era pouco para a doença que o atormentava. O Estado, tão mãos largas nas benesses que dá aos seus cães de fila políticos, parece que se esqueceu deste Homem. Mas o legado que,  felizmente, nos deixou já faz parte do património lusíada.  E este legado é uma excelsa bofetada de luva branca na classe política que mandava na altura no País. Pena é que em vez de luva branca não tenha sido uma marreta.

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E por falar em políticos que na altura mandavam neste País, quem era o Primeiro-Ministro, quem era? Não era um tal de Cavaco Silva que agora é Presidente da República. Pois. Enquanto Zeca Afonso, em plena ditadura e sem protecção nenhuma não calava a sua voz, tendo inclusivamente sido preso pela polícia política, o nosso Venerando Chefe de Estado, Grande Timoneiro da Nação e Suprema Honestidade em Pessoa não quiz aparecer na Escola António Arroios, porque na mesma estava a decorrer uma manifestação de adolescentes. Em plena democracia e com a protecção policial que é garantida a uma pessoa que desempenha aquele cargo... acho isto uma pura cobardia.

E é esta pobre figura o Comandante Supremo das Forças Armadas. Mas ele não tem culpa, coitadito. A culpa é de quem lá o pôs. É de todos aqueles que votaram neste singelo homenzinho que tem (ou teve) como amigos pessoas que andam a contas com a Justiça, pessoas que me estão a ir ao bolso, via impostos, para pagar os seus desfalques. Porque eu nunca tive dinheiro em off-shores, nunca comprei e vendi acções de empresas ligadas a falcatruas, nem nunca troquei de casa por outra de condomínio fechado num negócio que foram levantadas objecções por alguns políticos na última campanha presidencial, nem nunca pus um ar de fastio e dizer ao meu interlocutor que teria que nascer duas vezes para ser tão honesto quanto eu. Não, Cavaco Silva é que terá que nascer várias vezes para ser tão honesto quanto eu. 


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E já agora essa teoria do "tiro ao Cavaco", desenvolvida e condenada por Marcelo Rebelo de Sousa no seu comentário dominical na TVI, não tem pés nem cabeça. Cavaco Silva não durava um dia numa campanha presidencial norte-americana, onde a vida das pessoas é descascada até ao osso, como soe dizer-se.

Uma pessoa que queira ser Presidente da República, ou de Junta de Freguesia ou de qualquer outro cargo político, tem que se sujeitar a ser escrutinado diariamente e tem que ouvir a críticas políticas que lhe dirigirem, sem perder a cabeça ou refugiar-se em choradinhos da treta. Marcelo Rebelo de Sousa, na defesa do seu amigo Cavaco Silva, foi demagógico ao misturar Presidência da República com Presidente da República.

Uma coisa é o orgão institucional que eu, por exemplo, como republicano dos quatro costados que sou, defendo com unhas e dentes. Outra coisa é a pessoa que, transitoriamente, desempenha a função. Cavaco Silva não é a Presidência da República mas sim o Presidente da República. Tal como os seus antecessores e os que vierem a seguir. Por isso, independentemente do respeito que se é devido a uma pessoa que desempenha esse cargo (igual para todos os outros cargos políticos), esse respeito não o isenta de críticas políticas, bem como não o isenta de processos judiciais.

Só que Marcelo Rebelo de Sousa, na destreza da sua oratória, lança a confusão para a frente e faz-nos criar complexos de culpa. Mas não a mim. Por isso, sempre que tal se justificar na minha opinião, farei sempre "tiro ao Cavaco". Ou a qualquer outro político.   


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Carlos Cruz e os restantes arguidos do caso "Casa Pia" acabaram de novo condenados, agora no Tribunal da Relação, que confirmou as mesmas penas, mais ou menos, que já tinham sido atribuídas pelo Tribunal de 1ª Instância. Bom, lá veio a lenga-lenga do costume, que estão inocentes, patati e patátá. Agora vai mais um recurso para o Tribunal Constitucional, o que lhes evitou irem direitinhos para a pildra.

A Polícia investigou... e eu não lhes pude chamar pedófilos. A Polícia só investiga, não condena. O Ministério Público acusou... e eu não lhes pude chamar pedófilos. O Ministério Público só acusa, não condena. Foram para o contraditório e um Juiz confirmou as acusações... e eu não pude chamar-lhes pedófilos. A decisão do Juíz não era condenatória. Três juízes de 1ª instância condenaram todos eles a prisão por pedofilia... e eu não pude chamar-lhes pedófilos. É que havia recursos. Agora três juízes da Relação confirmam as penas prisionais...e eu continuo a não lhes poder chamar pedófilos. É que há um recurso para o Constitucional... e eu ainda me arriscava a levar com um processo de difamação, por atentar ao bom nome destes ilustres senhores. 

Só que eu posso ser peidófilo mas não sou pedófilo. Acho que cu de rapaz não me satisfaz.


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A Divisão de Trânsito da PSP de Lisboa resolveu efectuar um auto-stop numa rua que marginaliza o bairro da Madre Deus, em Lisboa e onde se encontram instaladas duas escolas, uma primária e outra secundária. À hora que estavam a efectuar a operação de controle das viaturas que circulavam e dos seus condutores, estavam também diversos pais a levarem os seus filhos para a escola primária. Com um aparato policial enorme tinha, como cereja no topo do bolo um PSP armado de "shot-gun" como que a dar cobertura aos seus colegas, caso algum condutor tentasse a fuga.

Mas, pergunto eu: estes polícias são parvos ou tiraram o curso de burrice por correspondência? Será que os responsáveis por esta operação não podiam escolher outra hora ou mesmo outro local naquele bairro para desencadearem a operação?

E é fácil de explicar estas minhas perguntas: imaginem que eu sou "marado dos pirulitos" e que, apanhado pelo auto-stop, acelero a viatura e saio dali desabrido. Não era a primeira vez que tal acontecia numa operação destas, diga-se de passagem. Lembro-me duma no Algarve em que em fuga atropelaram um polícia que veio a morrer (era um Sub-Chefe se não me falha a memória).  Não só punha as vidas das crianças em risco como arranjava ali uma confusão tremenda, com os pais aos  berros a gritarem pelos seus miúdos. E o PSP da "shot-gun" o que é que fazia? Disparava? Com a dispersão dos chumbos arriscava-se a atingir um inocente. Ou então não fazia nada para evitar acidentes. Então para quê aquele exibicionismo, feito Rambo de pacotilha?

Quando é que estas iluminárias brilhantes têm mais cuidado em escolher locais para fazerem as operações de auto-stop?

Mas será que no meio daquele conjunto de miolos policiais nenhum se apercebeu disto? Não haverá um alguma inteligência?

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