"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Historiando Moçambique Colonial

 
Moedas em Moçambique - Em Moçambique existiram uma grande variedade de moedas, quer portuguesas quer estrangeiras, com valores variáveis de terra para terra, dentro do próprio território, numa autêntica anarquia financeira que só no século XIX é que se começou a pôr cobro através de promulgação de diversa legislação. Sintetizando este assunto, pode-se referir que, para além da permuta directa de objectos para se concretizarem negócios e utilização de cauril e missangas, as moedas mais antigas terão sido as contas de barro e de vidro, enfiadas num fio com um palmo de comprimento denominadas de mites. Um conjunto de 10 mites chamava-se liponte e 20 lipontes correspondiam a uma motava, que equivalia a um cruzado. A moeda de ouro vem a seguir, sendo a mais pequena a tanga que valia 3 vinténs, correspondente a 60 réis e a maior era o metical, que equivalia a 480 réis. Utilizava-se, também, a moeda de estanho em pães, chamada calaim e cada pão pesava meio arrátel (1 pondo), valendo o pondo 120 réis ou 2 tangas. Para compras de menor vulto utilizavam-se as maçoutas, que eram barras de cobre de meio palmo de comprimento e que correspondiam a 3 vinténs. Com o incremento da fixação europeia em Moçambique e a entrada de aventureiros e comerciantes estrangeiros, assiste-se ao aparecimento de diversas moedas de vários países a circularem livremente no território, cambiadas livremente ao sabor dos intervenientes nos negócios. A juntar a estas existiam moedas do território, tais como a barrinha e a meia-barrinha, ambas de ouro, bem como moedas de cobre de 40, 20 e 10 réis, o que aumentava a confusão. A partir de 1852 começou-se a fixar o valor cambial das moedas, em corpo legislativo, numa tentativa de moralizar o sistema financeiro do território. Em 26 de Maio de 1854 uma Portaria Provincial fixava o valor das moedas estrangeiras em curso no território e determinava a retirada de todas as moedas provinciais, bem como também impunha que as moedas teriam que ser cunhadas na Casa da Moeda,em Lisboa, e teriam o valor determinado pela metrópole. Posteriormente diversa legislação foi sendo promulgada retirando de circulação as moedas estrangeiras e autorizando a entrada de outras até que, em 1897, é unificada a circulação monetária com a metrópole. A libra inglesa, fruto da forte influência britânica no território, circulou livremente até meados do século XX. 

Antigas moedas, pesos, medidas e tributos que circularam em Moçambique

Almude - Medida de capacidade, equivalente a 12 canadas ou 48 quartilhos para líquidos; 16 a 25 litros para medição de cereais e, reportando-se ao sistema métrico, correspondia a 25 metros.

Alqueire - Medida de capacidade para produtos secos e líquidos, correspondente a 13,8 litros.

Alquime - Liga de metais que imita o ouro; ouro falso.

Arrátel - 1) Medida de peso correspondente a 459 gramas; 2) libra.

Arroba - Medida de peso correspondente a 14,688 quilos ou um quarto de quintal ou a 32 arráteis.

Avelório - O mesmo que missanga.

Bar - 1) Jazida aurífera, área de exploração de minérios; 2) Peso indiano, variante de 141 a 330 quilos, correspondente ,nos tecidos, a 20 corjas e, no marfim, era uma medida variável entre 540 a 640 arráteis, consoante fosse a sua qualidade. 

Bar de fato - Medida equivalente a 400 panos.

Barganim - Moeda que valia 24 bazarucos.

Bazaruco - Moeda de pequeno valor e de fabrico grosseiro. Originária da Índia Portuguesa, podia ser cunhada em cobre, estanho ou chumbo.

Binzo - Nome do tributo anual que os portugueses pagavam aos makombes (reis do Barué).

Boca - Oferenda com que se presenteava um chefe local para se poder contactá-lo.

Braça - Medida de comprimento de 10 palmos (2,20 metros). Entree os marinheiros equivalia a 1,83 metros se bem que, no século XIX, correspondesse a 1,76 metros.

Calaim - Moeda de estanho, que pesava meio arrátel.

Canada - Medida de capacidade correspondente a 2,622 litros.

Candim (ou Candil) - Medida asiática que correspondia a 460 quilos no peso e, na capacidade, a 20 alqueires.

Caracos - Contas de adorno.

Cauril - Pequena concha marinha que era utilizada como moeda de troca.

Ceitil - Moeda portuguesa que valia um sexto do real.

Chupata - Tributo alfandegário que os potentados locais cobravam aos mercadores sertanejos, para deixarem transitar as mercadorias nos seus domínios, tributo este que também se aplicava às pessoas.

Conta - 1) Esfera muito pequena, perfurada no centro, que podia ser de metal, vidro, osso, madeira ou de qualquer outro material; 2) Missanga.

Contaria - Conjunto de contas.

Corja - Medida igual a 20 panos.

Côvado - Medida que correspondia a 66 centímetros.

Cruzado - Moeda portuguesa, de ouro, equivalente a 400 réis.

Curva - Corrupção fonética da palavra chona "kuruva", tributo trienal de vassalagem prestada ao Monomotapa ou a qualquer outra entidade poderosa (como o Rei do Quiteve), pelo Capitão de Moçambique, para que os caminhos do interior desses mesmos reinos ficassem livres para os comerciantes portugueses poderem mercadejar as suas fazendas. Este tributo já se encontrava estabelecido antes da chegada dos portugueses.

Dente da terra - Dente do elefante mais próximo do chão depois de abatido e que, por isso, se considerava mais pesado e, assim, mais valioso, sendo a oferta do mesmo um tributo precioso. Por outro lado também era acto de submissão oferecer um dente de elefante cheio de terra no seu interior, que significava que todas as terras e riquezas da mesma passavam para a posse da entidade ou pessoa que recebia a oferta.  

Empata - Corrupção fonética da palavra chona "mupeto", que se reportava ao acto de se confiscar mercadoria a algum comerciante que não tivesse pago a curva, apreensão essa determinada pelo Capitão de Portas.

Faraçola - Peso que correspondia a 12,393 quilos ou 332 arráteis.

Grão - Medida farmacêutica que equivalia a 0,0648 gramas.

Kharag - Imposto fundiário árabe, colectado sobre a posse das terras.

Kuluva - Multa aplicada a qualquer súbdito que desobecesse ao seu chefe tribal.

Larim - 1) Moeda de prata ou de ouro, equivalente a 60 réis; 2) Tanga. 

Légua terrestre - Medida de comprimento de cinco quilómetros e que também corresponde à distância que uma pessoa cobre numa hora, andando a passo.

Légua marítima - Medida de comprimento correspondente a 3,2 milhas terrestres ou 5,9 quilómetros.

Libra - 1) Arrátel; 2) Moeda de prata portuguesa; 3) Peso, na indústria farmacêutica, de 12 onças.

Liponte - Conjunto de 10 mites.

Lirale - Barras de cobre que eram utilizadass como unidades monetárias nas transacções entre os povos do interior e do litoral, na zona a Sul do save, antes da chegada dos portugueses.

Mão - Medida de comprimento de dois palmos, correspondente a 44 centímetros. Na Índia correspondia, como medida de peso, a 24 arráteis e como medida de capacidade, a 12 canadas.

Mão travessa - Medida de comprimento correspondente a 10 centímetros.

Maçouta - Moeda de cobre, composta por uma barra de palmo e meio de comprimento e dois dedos de largura, que valia 3 vinténs.

Maina - Medida de peso, de 1,03275 quilos ou 1/12 de faraçola.

Marfim - Era um produto avidamente procurado pelos portugueses (paralelamente ao ouro e escravos) para efeitos de fabrico de objectos de obras de arte, sendo referido como ouro branco. O marfim, para ser comercializado, era dividido em quatro categorias, conforme o seu peso: A) marfim Grosso:18 arráteis ou mais; B) Marfim Meão: entre 13 e 18 arráteis; C) Marfim Miúdo: entre 3 e 13 arráteis; D) Marfim Seira: até 3 arráteis de peso. Os dentes de marfim, que são os dentes incisivos dos elefantes, classificavam-se em duas qualidades: o branco e o verde, sendo esta última a preferida por ser mais compacta e perder o verde facilmente, tornando-se num branco alvar que nunca amarelecia com o tempo. Um dente de elefante podia atingir cerca de 2 a 3 metros de comprimento e pesar até 80 quilos pretendenso-se que o mesmo, na perfeição, fosse opaco, macio, branco, ausente e falhas ou gretas e de ponta arredondada.   

Matamingo / Matamugo - O mesmo que missanga.
 
Maz - Unidade de peso asiática correspondente a 1,16 gramas.

Metical - 1) Moeda, de ouro, cujo valor podia variar entre os 400 e os 500 réis; 2) Peso para metais nobres, equivalente a 24 quilates ou 96 grãos (4,479 gramas); 3) Actual moeda unitária moçambicana, cunhada após a independência. 

Milha marítima - Medida de comprimento correspondente a 1852 metros.

Missanga - Pequena conta de vidro, colorida e perfurada, com que se fazem objectos de adorno, tais como colares, gargantilhas, pulseiras, bandoletes e anéis, entre outros.

Mite - Fio de contas com cerca de 25 centímetros.

Motava - Conjunto de 20 lipontes.

Mudende - Imposto de capitação colonial, que recaía sobre as mulheres com mais de 18 anos.

Mugumas - Contas de metal.

Mujena - Adorno composto por conchas brancas rodeladas, alternando as mesmas com peças de madeira avermelhada e com o comprimento aproximasdo de uma braço de pessoa adulta. No século XIX chegou a servir de moeda na zona do Bazaruto, equivalendo a 200 réis.

Mulomo - Oferenda que se efectua em sinal de paz ou de vassalagem.

Mungaz - Missanga de grande tamanho e de cores vermelha ou azul. 

Mussoco - Vulgarmente conhecido por "imposto de palhota", era um imposto de capitação anual que poderia ser pago em géneros, serviçosd ou dinheiro.

Mutore - Unidade de pagamento de um tributo pago aos dignitários do Reino do Barué, que correspondia, sensivelmente, a 152 panos.

Oitava - Medida de peso, correspondente a 1/8 de onça ou 0,0036quilos.

Onça - Peso que corresponde à décima sexta parte do arrátel, ou 0,0287 quilos.

Pagode - Nome do pardau de ouro.

Palhota (Imposto de) - O mesmo que mussoco.

Palmo - 1) Medida de 0,22 metros ou 8 polegadas; 2) Medida correspondente a uma mão aberta.

Panja - Medida que correspondia a 26,25 litros de cereais.

Pano - Medida de bergantil (que é um tecido de algodão), com 8 mãos de comprido e um côvado de largura, sendo o mesmo considerado unidade de medida e de conta em Moçambique, para os tecidos de origem indiana.

Pardau - Moeda da Índia Portuguesa, que valia 360 ou 300 réis, consoante fosse de ouro ou de prata.

Páreas - Tributo de vassalagem pago a um chefe tribal.

Pasta - Pedaço de ouro bruto, com o peso de 100 meticais ou 425 gramas.

Pataca - Moeda de prata, que valia cerca de 6 cruzados, no século XVIII (2.400 réis).

Pequenino - O mesmo que sapeca.

Perna da terra - Tal como o "dente da terra" era um tributo que se oferecia a uma dignidade, constando a mesma da perna do animal abatido que tocava no chão.

Pipa - Vasilha de madeira com capacidade de 21 a 25 almudes.

Polegada - Medida correspondente a 2,54 centímetros.

Pondo - Moeda de estanho equivalente a 120 réis, correspondendo a 2 tangas.

Ponta da terra - Porção de terra que se oferecia a um dignitário como sunal de submissão ou de vassalagem. Tinha o mesmo significado que o "dente da terra".

Quartilho - Medida correspondente a um quarto de canada.

Quilate - Peso correspondente à vigésima quarta parte da onça.

Quinhenta - Nome que se dava à moeda portuguesa de cinquenta centavos.

Quintal - Peso correspondente a quatro arrobas ou 58,725 quilos.

Real - Moeda unitária portuguesa, de valor variável consoante as épocas.

Rubo - Medida de peso correspondente a 1/4 de maina ou 0,25819 quilos.

Saguate - Gratificação, presente, oferta.

Sangue, Tributo de - Tributo que o Sachiteve (título dinástico do Reino do Quiteve) cobrava à parte queixosa, quando ordenava a aplicação da pena de morte.

Sapeca - O mesmo que pequenino, valia meio bazaruco.

Tael - Unidade de peso asiática correspondente a 16 mazas.

Tanga - O mesmo que larim.

Tonel - Vasilha para armazenar líquidos, com capacidade para 2 pipas tendo, por medidas, cerca de 1,5 metros de altura por um metro de diâmetro.

Tonelada - Medida de peso correspondente a cerca de 790 quilos (13,5 quintais). Presentemente corresponde a 1000 quilos.

Vara - Medida de comprimento, correspondente a 1,10 metros.

Velório - O mesmo que missanga.

Vintém - Moeda de cobre, de 20 réis.

Xerafim - Moeda de prata, que equivalia a 300 réis.

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