"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Théodore Monod

Viajantes, aventureiros e exploradores

Théodore André Monod - (Ruão 09/04/1902 - Versalhes, 22/11/2000). Considerado o maior explorador e especialista francês do deserto sahariano do século XX, foi um naturalista, escritor, cientista, antropólogo, humanista e pacifista, que deixou um legado de mais de 1.000 publicações entre livros, artigos de imprensa, sebentas e cadernos de anotações. Apaixonado, desde miúdo, por tudo o que se relacionasse com os diversos campos da Natureza ,vem a licenciar-se em Ciências Naturais.

Em África começa a sua carreira de pesquisador naturalista na Mauritânia (1920), onde trava conhecimento com a vida no deserto, que o apaixona desde logo. Dois anos mais tarde assume funções de assistente no Museu Nacional de História Natural de Paris. 

Em 1927 integra uma expedição científica que liga Argel a Dacar, via Timbuktu, atravessando o deserto do Sahara. Pelo caminho reunirá uma impressionante colecção de pedras e plantas do deserto. Será também neste ano que Théodore Monod fará a descoberta do "Homem de Asseldar", um esqueleto do período de Neolítico, com cerca de 6.500 anos, quando percorria o maciço de Adrar Ifhogas, no nordeste maliano.

Estabelece-se em Chinguetti (1934), uma cidade localizada no planáltico deserto de Adrar, na Mauritânia, a fim de tentar localizar um meteorito que, na sua opinião, teria caído por aquelas áreas. Este meteorito, nunca encontrado, será novamente razão da sua obsessão na recta final da sua vida de aventureiro. 

Em 1938, muda-se para a colónia francesa do Senegal, onde  funda, em Dacar, o Instituto Francês da África Negra, com o objectivo de efectuar estudos sobre todas as vertentes dos povos africanos existentes na zona sub-sahariana. O eclodir da II Guerra Mundial atrasou estes seus objectivos e, aderindo à facção do General Charles de Gaulle que resistia aos nazis,  acaba por criar um núcleo de apoio à resistência francesa das Forças Francesas Livres nesta colónia.

Opositor do Governo de Vichy, governo este que era um fantoche dos nazis, Théodore Monod, que estava casado com uma judia, emite semanalmente as suas crónicas radiofónicas de apelo à resistência, em Dacar, crónicas essas que, posteriormente serão compiladas num livro. Em 1944, quando o General Charles de Gaule visita Dacar, Théodore Monod será o seu anfitrião. Após o findar do conflito mundial, Théodore Monod retoma a liderança do Instituto, que é composto por três departamentos: Geografia, Ciências Humanas e Ciências Naturais. Desencadeia uma actividade científica notável, lançando um Boletim, apoiando outras publicações de carácter científico, realizando conferências e criando dois museus na ilha de Gorée (localizada na baía de Dacar): o Museu do Mar e o Museu Histórico. Deixou as funções deste Instituto em 1963, altura em que foi eleito para a Academia de Ciências, em Paris.

Em 26 de Outubro de 1948 realiza, juntamente com August Picard, o lendário oceanógrafo e balonista, o primeiro mergulho de batiscafo (FNRS II), ao largo da ilha Boavista, em Cabo Verde, tendo mergulhado a 25 metros.

Dotado de uma resistência física espantosa, levou as décadas de 50, 60 e 70 a percorrer, em diversas direcções, todo deserto do Sahara, sempre a pé ou de camelo. Em 1954 atravessou a Mauritânia para o Mali, sem ter levado uma gota de água consigo, num percurso de  900 quilómetros (600 milhas). Esta lendária travessia do deserto do Majâbat al-Koubrâ, que tem uma extensão de 1.000 quilómetros de comprimento por 500 de largura, e é considerado o deserto dos desertos do Sahara e comparável ao Rub al-Khali da Arábia Saudita, dará mais tarde origem a um livro (ver item "leituras").

Foi um notável explorador sahariano recolhendo, ao longo das suas peregrinações, inúmeros fósseis, plantas, animais que catalogava e remetia para os institutos científicos, para posteriores estudos. Dominando os dialectos locais, travou amizade com as populações saharianas, convivendo com as mesmas como se fosse um deles. Serviu de apoio a muita expedições arqueológicas daquele deserto, que mapeou exaustivamente.

Outra característica fundamental do seu perfil foi o seu pacifismo militante. A sua ligação de amizade a intelectuais e religiosos, quer cristãos quer islamizados, levou-o a opôr-se, por exemplo, à guerra da Argélia, o que o levou a assinar o "Manifesto dos 121", que apoiava a FLN revolucionária. Jejuava todos os dias 06 e 09 de Agosto (dia de aniversário dos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaky, na II Guerra Mundial) num movimento de protesto contra as armas nucleares. Aderiu a manifestações que denunciavam o racismo, o apartheid, as armas nucleares e a exclusão social. Era um inconformado e como ele próprio afirmou: "A tecnologia esteve de tal modo presente na guerra do Golfo que se falou em "guerra limpa". Tais teorias conduzem-nos ao abismo e à autodestruição. Os jovens devem rapidamente tomar a dianteira. Infelizmente verifico que, por vontade própria, se deixam intoxicar pela propaganda do Estado. Em todo o caso, espero deles uma revolta interior".

Vegetariano e ambientalista convicto subscreveu todas as formas de lutas que pusessem em causa o equilíbrio entre a Natureza e o Homem. Respeitador da vida em todas as suas maneiras, condenava as touradas e a caça, esta enquanto desporto. Presidiu à Comissão Científica ProAnima, uma organização que se opunha à experimentação animal e à vivissecação e exigia ciência com consciência. Em sua honra a ciência atribuiu o seu nome a vários géneros e espécies de flora e fauna.

Tardiamente descoberto para o grande público, só na década de 90 é que uma reportagem televisiva o alcandora ao conhecimento de todos.

Entre 1993/94 volta a cruzar o Majâbat al-Koubrâ, o violento deserto que atravessara 40 anos atrás sem levar uma gota de água, como forma de despedida de toda uma vida de aventura. Em meados dessa década (1995) ainda se desloca ao Iémen e, no ano seguinte, faz a sua última viagem ao seu amado Sahara no deserto do Tibesti (Chade), antes da cegueira o atingir plenamente.

Relembro aqui um soneto da sua autoria, escrito em Dar-es-Salam em 1963:

"O inexorável Tempo ao vento da tarde leva,
Em furacão soprando já por montes e vales
Os nossos velhos amores e as nossas novas concepções
Com a jovem flor a folha já morta.

O sangue demasiado generoso e a seiva demasiado forte
A trouxe-mouxe prometidos aos gelos das cavernas,
Com tanto labor, esperanças e trabalhos!
Vamos... basta de demoras... Para fora! É preciso
Irmos lá para fora.

Já que é preciso que em breve e sem demora morramos,
Já que a noite desce e já que o sono
Sobre nossos cânticos se fecha, e já que a morada

Dos nossos terrestres corpos em pó se vai tornar,
Saberemos desaparecer, pelo menos, frente ao Sol?
Irá, este olho sangrando, responder às nossas tumbas?"

Teve uma morte estúpida, em Versailhes, resultado duma queda. Estúpida porque longe do seu amado Sahara. Lamentavelmente, não morreu num dos quaisquer desertos do Sahara. Seria um túmulo mais que justo.

Historiando Moçambique Colonial

Moçambique, origem do nome - Segundo recolha popular, feita por missionários, a palavra "Moçambique" é a forma aportuguesada de Mussa-ibn-M´Biki (M´Biki, filho de Mussa), pescador nativo que tomou posse da ilha que hoje é conhecida por esse nome, muito antes da chegada dos portugueses. Antes dele a ilha fora pertença dum outro pescador, de nome Muhípiti. Como esta ilha foi das primeiras localidades onde os portugueses se instalaram, estes acabaram por alargar este nome para definir todo o território da costa oriental africana, a Sul de Zanzibar. 

Moçambique, Ilha de - Situada no Oceano Índico, no cruzamento das coordenadas 15º02´ de Longitude Sul e 40º44´ de Latitude Este e a cerca de cinco quilómetros do continente, na actual Província de Nampula, contando com cerca de três quilómetros quadrados de superfície, esta pequena ilhota do Índico viu, pela primeira vez, uma armada europeia no dia 03 de Março de 1498, quando Vasco da Gama por lá passou, na sua primeira viagem marítima para a Índia sendo, nessa altura, governada pelo Xeque Zacoeja, avassalado a Quíloa. No entanto, não foi através dos portugueses que esta ilha entrou nos anais da História, mas sim através dos árabes, que ali se encontravam instalados quando criaram o seu império talassocrássico no Oceano Índico. Saídos da Pérsia e da Arábia instalaram-se, inicialmente, junto ao Mar Vermelho. Descendo pela costa oriental africana, os árabes foram criando uma miríade de feitorias, sultanatos, xecados e estados independentes, ao longo dos séculos (Mombaça, Quíloa, Zanzibar, ilha de Moçambique, Angoche, Quelimane, Sofala, entre outros), criando uma teia de circuitos comerciais marítimos pujantes, originária duma burguesia aristocrática baseada nas alianças inter-árabes. No entanto, durante o domínio árabe, a ilha de Moçambique não atingiu o apogeu doutras feitorias irmãs, fruto da sua diminuta extensão geográfica e falta de água potável servindo, essencialmente, apenas de escala de apoio aos navio árabes. Em 1506 os portugueses ocupam-na "para as naus que ali fossem acharem mantimentos" (Fernão Lopes Castanheda / "História do descobrimento e conquista da Índia pelos portugueses") e, fruto da sua localização geográfica, transformam a ilha em base de apoio às naus que demandavam a Índia, tal como os árabes o tinham feito e também para fazer frente à actividade mercantil de Zanzibar. Assim, no ano seguinte, dão início à construção dum hospital e da pequena torre de São Gabriel, exactamente no mesmo sítio onde se situa a capela do Palácio de São Paulo, instalando aí 15 homens para a defesa da feitoria. Apesar dos incidentes iniciais, decorrentes da instalação dos portugueses que originou, da parte destes, no bombardeamento do Mossuril e das Cabaceiras por causa da água que lhes foi negada, conseguiram utilizar a feitoria como armazém de géneros alimentícios e água para apoio às naus que demandavam a Índia, entreposto de correio e recolha de informações sobre o interior do continente. " A qual povoação de Moçambique tomou tanta posse de nós que é hoje a mais nomeada escala de todo o mundo e...... poucas cidades há no reino que de cinquenta anos a esta parte enterrassem em si tantos defuntos como ela tem dos nossos." (João de Barros / Décadas). Posteriormente as naus começaram ali a invernar, quando perdiam as monções tendo, inclusivamente, sido montada uma caravela que viera do Reino aquartelada, para além da reparação e calafetagem das naus danificadas nas viagens, o que acabou por originar a criação duma estação naval com o respectivo arsenal, que se manteve até ao século XX. Em 1558 iniciaram-se os trabalhos para a construção da fortaleza de São Sebastião, pensada 20 anos antes, uma das mais importantes obras da engenharia portuguesa no Oriente. Existia, nessa altura, como defesa do porto, apenas um pequeno baluarte artilhado, situado ao lado da capela da Nossa Senhora do Baluarte, único exemplar da arquitectura manuelina, construída entre 1521 e 1522. Lentamente começa a ascensão comercial da ilha de Moçambique, servindo de entreposto para troca de panos e missangas da Índia, por escravos, ouro, marfim e madeiras (essencialmente pau-preto). Em Junho de 1604 a ilha é atacada por uma armada holandesa comandada por Steven van der Hagen, mas os portugueses conseguem resistir com êxito, obrigando aqueles a levantarem o cerco e acabando por seguirem para a Índia. Por mais duas vezes os holandeses tentaram tomar de assalto a ilha de Moçambique, durante o governo de Dom Estevão de Athaíde, com o fito de expulsarem os portugueses e aí criarem uma feitoria própria para servir de entreposto comercial à sua Companhia Concessionária das Índias Orientais, ataques esses que mediaram entre Março e Maio de 1607, sendo a armada holandesa comandada por Paul van Caerden e entre Julho e Agosto de 1608, mas acabaram sempre derrotados, o que levou os holandeses a rumarem para o Sul do continente e a fixarem-se numa zona onde hoje se situa a Cidade do Cabo (Cape Town). A reconstrução da ilha, totalmente arrasada pela intervenção militar holandesa, leva os portugueses a construírem, entre outras obras, a Santa Casa da Misericórdia, que exerce a função paralela de Câmara Municipal, até 1763. No início do século XVIII a ilha de Moçambique encontra-se totalmente decadente e em quase estado de abandono, com uma economia estagnada e uma governação corrupta e decrépita, o que obriga o governo de Lisboa a repensar a sua política ultramarina, descentralizando Moçambique do governo da Índia, à qual desde sempre esteve sujeita. Goa protestou, pois via nessa autonomização uma perca de mercado, para além duma zona privilegiada de colocação de empregos e tráfico de influências. Após 1752, com a reforma do Marquês de Pombal, sustentada pela promulgação do decreto-régio de 19 de Abril desse mesmo ano, o território de Moçambique autonomiza-se da Índia, de quem dependia política, administrativa, financeira e militarmente, tendo sido nomeado, como primeiro Governador desta nova situação política, Francisco de Melo e Castro. O referido decreto, assinado pelo Rei Dom José I, determinava ao Vice-Rei da Índia: "Dom José, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d´Aquém e d´Além Mar em África, Senhor da Guiné, etc.. Faço saber a vós, Marquês de Távora. Vice-Rei e Capitão-General do Estado da Índia, que por me ser presente a decadência do governo de Moçambique, e que será mais conveniente separá-lo do de Goa para o seu restabelecimento: fui servido, por decreto de 19 de Abril próximo nomear para governador e capitão-general de Moçambique, Rios de Sena e Sofala, Francisco de Mello e Castro, que está governando aquela Praça por nomeação vossa para que sirva o dito governo pelo tempo de três anos e mais, enquanto não lhe mandar sucessor com o soldo em cada um deles de oito mil cruzados, não ficando por ora sujeito às vossas ordens, como lhe mandei declarar na sua patente e ao dito governador e capitão-general obedecerão todos os demais governadores, capitães-mor, ministros e outros quaisquer oficiais que houver nos referidos distritos de Moçambique, Rios de Sena e Sofala e suas dependências. De que vos aviso para que tenhais entendido a resolução a que fui servido tomar nesta matéria. El-Rei, nosso senhor, o mandou pelos conselheiros do seu Conselho Ultramarino abaixo assinados e se passaram duas vias. Caetano Ricardo Silva a fez em Lisboa, 09 de Maio de 1752. - O Secretário, Joaquim Miguel Lopes do Lavre, o fez escrever.  - António Francisco de Andrade - Fernando José Marques Bacalhau." A 23 de Abril do mesmo ano, novo decreto-régio limitava a independência de Moçambique ao sector administrativo, mantendo-se subordinado no restante ao Governo da Índia, por o Rei de Portugal informar Francisco de Mello e Castro de que: "Fui servido nomear-vos governador e capitão-general de toda a costa desde a baía de Lourenço Marques até cabo Delgado e de todo o interior do País, não só da minha dominação, mas também do mais que conquistardes, ficando por ora independente do governo de Goa e jurisdição do Vice-Rei, excepto na administração do comércio, de que estais encarregado...". No entanto este decreto apenas contemplava a autonomia administrativa e defesa territorial. Só em 1756 é que foi concedido ao Governo de Moçambique a autonomia financeira em relação ao Governo de Goa. Face à sua pequena extensão territorial e crónica falta de água doce, os habitantes da ilha dependiam do continente para buscarem géneros alimentícios, pelo que existiam alguns povoados, habitados por mestiços e indianos nas Cabaceiras, no Mossuril e no Lumbo, ficando os portugueses acantonados na ilha, apesar de terem, naquelas localidades, palmares. O Governador-Geral Melo e Castro ordenou a construção, em 1753, do forte de São José, no Mossuril, a fim de proteger as povoações continentais. Após a expulsão dos jesuítas, os governadores instalaram, a partir de 1765, a sua residência e serviços administrativos no colégio de São Paulo, que aqueles religiosos tinham na ilha. Em 1761, por carta-régia, a ilha foi elevada à categoria de vila, que assume no pleno dois anos depois, ascendendo a cidade em 1818. Dois anos mais tarde, por impulso de João da Costa Brito Sanches, reconstruiu-se o fortim de Santo António, onde foi erigida uma minúscula capela àquele santo (daí o nome do fortim), aproveitando uma bateria já aí existente desde 1758, mandada construir pelo Capitão-General Pedro de Saldanha de Albuquerque na contra-costa da ilha, de formato quadrangular e só com artilharia na muralha virada para o mar o que ampliou, de sobremaneira, as capacidades de defesa da ilha pois, o cruzamento do fogo conjunto das peças dos três fortes - São Sebastião, São Lourenço e Santo António - tornava muito difícil a aproximação de barcos inimigos. No decurso do século XIX a ilha torna-se num importante entreposto negreiro, sendo os principais mercados terminais as colónias insulares francesas no Índico e o Brasil. Com o advento do liberalismo, em 1834, a ilha de Moçambique abre-se, muito lentamente aos africanos, permitindo aí a sua instalação, bem como aos árabes e goeses, marginalizados para o continente. Com efeito, sendo a ilha considerada, toda ela, uma praça militar, era interdita a não brancos a sua vivência aí, onde ninguém entrava nem saía sem autorização governamental, incluindo os brancos. Até finais deste século XIX foi, para além de entreposto negreiro, capital da colónia, altura em que perdeu este último estatuto para Lourenço Marques. Em 1948 a ilha saiu do seu torpor quando, a pedido da comunidade indiana aqui residente, o paquete "Tairea", da Companhia British India, aportou ali. O navio transportava cinzas de Mahatma Gandhi, com destino à África do Sul, a fim das mesmas serem lançadas ao mar, como homenagem ao facto deste ilustre personagem ali ter vivido vários anos. A ideia desta paragem excepcional do navio na ilha, partiu de Mangi Parsotam, gerente da firma H. Damodar Anandji, que dirigiu um convite às entidades oficiais e ao comércio local, que se fizeram representar no cortejo, bem como autoridades eclesiásticas. A urna foi levada de bordo ao templo indiano, tendo-se realizado uma cerimónia fúnebre, conforme os preceitos hindus. Com o desenvolvimento do porto de Nacala e a linha férrea a ligar o litoral ao interior, a ilha de Moçambique perdeu toda a sua importância, restando-lhe o turismo e a pesca como fonte de subsistência. Em 1967 a ilha volta a acordar da sua letargia crónica, com a inauguração da ponte que a ligava ao continente. O Almirante Sarmento Rodrigues, que fora Governador-Geral de Moçambique, era um apaixonado pela ilha e foi o grande impulsionador para a construção desta ponte. Após a independência, com o eclodir da guerra civil que assolou todo o território, a ilha tornou-se ponto de refúgio a muitos fugitivos, o que veio aumentar, pela negativa e de forma drástica, a sua componente demográfica, para dezenas de milhares um exíguo território calculado para não mais de três a cinco mil almas. O rompimento de todas as infra-estruturas, desde a canalização de água, saneamento, electricidade, rede telefónica, a manutenção da própria ponte que a liga ao continente, foram as conclusões mais que óbvias. Em 1993, apesar de estar totalmente degradada e apenas ser uma pálida ideia do pujante caldo de culturas que, apesar de tudo, fora antes da independência, a UNESCO declarou-a Património da Humanidade.

Moçambique, Brasão de armas da ilha/cidade de - Fundo vermelho com castelo de ouro aberto e iluminado de vermelho. Em chefe dois escudetes de prata carregados de um feixe de sete flechas de verde atadas a vermelho. A coroa mural de prata apresenta cinco torres e o listel branco tem gravado a negro e em reprodução de um verso dos Lusíadas, de Luís de Camões: "Esta Ilha Pequena Que Habitamos".

Moçambique, Brasão de armas da Colónia/Província de - O brasão que define as armas de Moçambique foi criado em 1935 e é composto, no seu núcleo, por um escudo dividido em três campos tendo, no primeiro campo, as cinco quinas de Portugal em azul contendo, cada uma delas, cinco moedas em prata e simboliza a soberania portuguesa no território; no segundo campo surge o símbolo de Moçambique, composto por sete flechas em verde e atadas com uma fita em vermelho, em homenagem à ilha de Moçambique, por ter sido onde se instalou o primeiro governo do território. O terceiro campo simboliza o mar, representado por cinco faixas onduladas em verde assentes em campo de prata. Este escudo central, que é arredondado em semi-círculo na base, assenta sobre uma esfera armilar (que representa a universalidade portuguesa) e, sobre esta, na sua parte superior, encontra-se uma coroa de ouro composta por cinco torres ligadas por quatro muralhas de negro existindo, em cada torre, uma pequena esfera armilar e, nas muralhas, a cruz de Cristo. Por baixo da esfera armilar existe uma faixa branca com a gravação de "Colónia de Moçambique", na altura da sua criação e, mais tarde, alterada para "Província de Moçambique".

(Continua)

Leituras

Théodore Monod (acima referido) deixou-nos cerca de uma vintena de livros. Destes possuo quatro, todos em versão portuguesa e editados pelas Publicações Europa-América, que são: A) "Os navegantes do deserto" que reporta a sua vida entre os anos de 1922 e 1936 e o seu constante caravenar cameleiro pelo Sahara. (1999; 218 págs.); B) "Majâbat al- Koubrâ - o fascínio do deserto" que relata a expedição que efectuou neste deserto no biénio de 1954/55, deserto este que liga o Sahara da Mauritânia com o Sahara do Mali. (1998; 216 págs.); C) "O explorador do absoluto" onde o Autor nos presenteia com a sua forma de pensar filosófica enquanto Homem de deserto (1998; 133 págs.); D) "A esmeralda dos garamantes - recordações de um sariano" (2001; 324 págs.) que é um percorrer memorialista de toda a sua vida desde a sua juventude até à década de 80. 


Poemas escolhidos


Grito Negro

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
E fazes-me tua mina
Patrão.

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão
Para te servir eternamente como força motriz
Mas eternamente não
Patrão

Eu sou carvão!
E tenho que arder, sim
E queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão!
Tenho que arder na exploração
Arder até às cinzas da maldição
Arder vivo como alcatrão, meu Irmão
Atém não mais ser a tua mina
Patrão!

Eu sou carvão!
Tenho que arder
E queimar tudo com o fogo da minha combustão.

Sim!
Eu serei o teu carvão
Patrão!

Fonte: Extraído do livro "Xigubo" de José Craveirinha.

Documentário

Sobre Théodore Monod há o registo de quatro documentários televisivos. Dois deles são da autoria de Karel Prokop, subordinados aos títulos "O velho e o deserto" (1988; 54 minutos) e "O velho e o meteorito do deserto" (1989; 56 minutos); outro é da autoria de Jacques Oger titulado de "Théodore Monod, um nómada entre o Céu e a Terra" (1995; 60 minutos) e o último, da autoria de Maximilien Dauber, é "Theodore Monod, senhor do deserto"  (2007; 52 minutos) que se reporta à última viagem deste grande explorador ao deserto do Tibesti, no Chade, em 1996.  

Imbecilidades

Esta história da CGTP-IN ir apresentar uma queixa crime contra João Proença, Secretário-Geral da UGT, é duma imbecilidade de todo o tamanho. Depois dos insultos que a Intersindical anteriormente tinha chamado ao João Proença, só faltava esta. Para além de dar uma triste imagem do movimento sindical, quem deve ficar contente é o sector patronal. Nada como dividir para reinar, ainda por cima numa guerra que não compraram. Será que a CGTP agora, deixou de ser uma correia de transmissão do Partido Comunista e tornou-se numa correia de transmissão dos patrões? Com tanta teoria da conspiração que há por aí não me admirava nada.

Eduardo Catroga, o "Pintelho Eléctrico"´, devia ter mais cuidado com a língua, quando a usa para falar. Esta de vir dizer que "Eu nem sou do PSD" (para justificar as polémicas nomeações para a EDP, após a privatização da mesma) (Sábado nº 403) é duma imbecilidade total. Se ele não é do PSD o que anda a fazer no mundo laranja? Será que o "Avô Cantigas Remix" deixou de ser adepto da laranjada e passou-se para o vodka dos comunistas? Com tanta teoria da conspiração que há por aí não me admirava nada.

Torres Couto criticou ásperamente João Proença por este ter assinado o Acordo de Concertação Social. Mas este tipo é imbecil ou é amnésico? O que é que ele fez quando era Secretário-Geral da UGT e Cavaco Silva era Primeiro-Ministro? Que acordo é que ele assinou? Até brindou com vinho do Porto. Não sabe estar calado? Há pessoas que, por vezes ou quase sempre, quando abrem a boca ou entra mosca ou... sai asneira.

"Se for condenado, peço aos que me apoiam, que me matem", disse Paco Bandeira sobre o facto de estar a ser julgado por crimes de violência doméstica e posse de arma proibida, à revista "Caras" (Visão, nº 985). Que forma mais imbecil de clamar a sua inocência. Como é que uma imbecilidade destas pôde sair da cabeça dum homem em que algumas das suas músicas temperaram tempos tórridos da minha vida? 

Positivo

Cinco portugueses foram premiados pelo Instituto Médico Howard Hugues, dos Estados Unidos, sendo reconhecidos como "futuros líderes científicos". Quatro deles trabalham em Portugal, Rui Costa (Fundação Champalimaud); Karina Xavier e Manuel Godinho Ferreira (Instituto Gulbenkien da Ciência) e Luísa Figueiredo (Instituto de Medicina Molecular) e, no estrangeiro, mais concretamente em Barcelona encontra-se o quinto português premiado, Pedro Carvalho (Centro de Regulação Genómica). De notar que a Fundação Champalimaud viu uma outra sua investigadora ser premiada, a norte-americana Megan Carey. Num universo de 760 candidatos provenientes de 18 países, termos cinco portugueses galardoados é obra. (Público, 24/01). Façamos votos para que nenhum dos cá estão emigrem. Cérebros é o que nos falta. Trocamos por políticos.

Hélder Rodrigues, que voltou a participar no Rali Dakar tendo obtido, de novo, o terceiro lugar.

Negativo


O ex-Secretário de Estado da Justiça José Magalhães dispendeu 60.000 euros na remodelação do seu gabinete de trabalho, que mandou decorar com símbolos maçónicos, quando exercia as suas funções políticas (Visão nº 985). Claro que os 60.000 euros não foram pagos do bolso dele, mas do erário público. Ou seja do meu bolso, por exemplo. E é de lamentar que um homem, prestigiado na luta pela democracia no tempo da ditadura (acho que bateu o recorde de suportar a tortura da estátua, na PIDE) agora, em final de carreira, este que foi apelidado de "ciber-deputado" no Parlamento, veja o seu nome como tendo contribuído, com a sua quota parte, para o quase afundamento do nosso Titanic lusitano. Já não lhe bastava o anátema de ter sido um governante socrete.

Lamentar

O encerramento da revista "Focus" (Visão nº 985). Sempre que um orgão de comunicação social desaparece o País fica mais pobre. Para além das lamentáveis situações de desemprego que gera. Quem foi o iluminado que disse uma vez: "não leio jornais"? Se calhar foi para fazer as poupanças que agora ajudam a reforçar o orçamento familiar  de 10.000 euros que não chegam para as despesas actuais.

As famosas afirmações que o nosso Venerando Chefe de Estado disse sobre as suas reformas e que, transversalmente, causaram repulsa. Pois eu cá, que sou daqueles que "teria que nascer duas vezes" (espero que o Venerando Chefe de Estado não me leve a mal por o plagiar) para atingir, pelo menos, o patamar de metade do que ele ganha, posso dar-lhe um conselho: porque é que V.Exa. não se aconselha (de novo) com o seu amigo Oliveira e Costa? Talvez este lhe dê umas dicas de como rentabilizar as suas economias numa "off-shore". Por curiosidade: não foi este seu amigo que aconsellhou V.Exa. sobre o vender as acções do BPN que detinha, a preço valorizado e antes de  ter estoirado a bernarda? Não estou a afirmar, estou a perguntar. Ou então Vossa Senhoria podia-se aconselhar com o seu outro amigo, um de tal Dias Loureiro. O euro em Cabo Verde é forte (acho eu, que nestas coisas de finanças nada percebo). Ou então, em alternativa, também podia trocar umas palavras com o Duarte Lima. O Brasil é o nosso El Dorado (a par com Angola) e talvez ele lhe desse uns contactos lá por aquelas bandas. Enfim... anda muito bem relacionado este nosso Venerando Chefe de Estado.

Exposição

"O Homem e o seu Olhar: a Magia do Instante" é uma exposição fotográfica que absorve seis décadas de trabalho do fotojornalista João Ribeiro, do qual foi pioneiro e cujos trabalhos foram sendo publicados em diversos jornais da nossa praça ao longo destes 60 anos. Repositório memorial de grandes eventos no nosso País é um verdadeiro legado histórico, todo este manancial fotográfico. Na Galeria Carlos Paredes da Sociedade Portuguesa de Autores (Rua Gonçalves Crespo, Lisboa), das 09 às 19H00 e de Segunda a Sexta.

Está a acontecer

Irom Sharmila, activista indiana dos Direitos Humanos, está em greve de fome há onze anos (repito: onze anos), no Estado de Manipur - Índia, sem ingerir uma gota de líquido ou de alimento sólido. Acusada de atentado contra a própria vida, que naquele Estado é crime, encontra-se internada no hospital Jawarhal Nheru, sendo alimentada à força, através duma sonda nasal. A razão da sua greve prende-se com o facto de pretender ver revogada uma lei que confere imunidade a excessos policiais ou militares, e teve início em Novembro de 2000, quando contava 28 anos de idade e quando dez jovens foram mortos por uma força paramilitar e os autores não foram investigados. Quinzenalmente é presente a um Juiz e, face à sua continuada recusa em suspender a greve de fome, volta a ficar detida hospitalarmente, sob custódia judicial. E isto é um calvário que se repete há onze anos. E em nome duma lei promulgada em 1958, que dá poderes especiais às Forças Armadas e Polícia para combaterem facções rebeldes, poderes especiais esses que se estendem a prender pessoas sem julgamento e inunidade em caso de assassinatos. (Fonte: Revista Tabu/Sol nº 273 /// htpp//:mesadoeditor.wordpress.com)


Navegar, navegar


http://www.youtube.com/movies - Trata-se de um canal de filmes que o Youtube exibe por completo. O visionamento dos filmes é gratuito não sendo necessário registarmo-nos para ver os mesmos, funcionando como um vídeo comum. 
Partiram

Manuel Fraga Iribarne, político e escritor espanhol.
Miljan Miljanic, jogador e treinador de futebol jugoslavo.
Rauf Denktash, político turco-cipriota.

Foi dito
"A História é património comum. Por isso não devemos deixá-la cair em mãos erradas." - George Duby (1919-1996), historiador fracês especialista em Idade Média, numa entrevista ao jornal L´Express (1974). 

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