AVENTUREIROS, EXPLORADORES E VIAJANTES
Isabelle Eberhardt - (Genebra, 17/02/1877 - Ain Seffra, 21/10/1904) - Aventureira e escritora. Apesar do seu nascimento não ter tido reconhecimento oficial, por a sua mãe não se encontrar casada com o seu progenitor, Isabelle Eberhardt teve uma infância e adolescência cuidada.
Em 1888 o seu meio-irmão Augustin (tinham a mesma mãe mas pais diferentes) incorporou-se na Legião Estrangeira Francesa, acabando por ser colocado na Argélia, em Sidi-Bel-Abbés. Isso veio abrir ainda mais o apetite de Isabelle Eberhardt por viajar para o Norte de África pelo que, desde logo, começou a estudar a língua árabe acabando por a dominar correctamente. Paralelamente ao domínio do falar estudou, também, afincadamente a civilização árabe e a religião islâmica vindo a tornar-se, mais tarde, numa seguidora da mesma.
Em Maio de 1897 acompanha a sua mãe à Argélia, fixando-se em Bône. Depois duma curta estadia na zona europeia, mudam-se para um sector residencial árabe, onde ambas acabam, não só por abraçarem publicamente o islamismo, como também tomam partido aberto pela causa árabe contra o colonialismo francês. Mas, em Novembro desse mesmo ano, a sua mãe falece em Annaba, cidade mediterrânica do leste argelino, e Isabelle Eberhardt abandona a ideia de se casar com Rachid Almed, um diplomata turco. Solitária vê, serenamente, os dias correrem calmamente mas, caída a noite, passa a envergar-se masculinamente de turco e, nocturnamente, mergulha nos bares do kasbash, onde se embriaga com licores, inalando kifes e tertuliando com os restantes frequentadores. Desses tempos dirá: "A embriaguez terrível e violenta dos sentidos, intensa, delirante, contrasta singularmente com a minha existência de todos os dias, calma e reflexiva".
Em 1898 retorna a Genebra, onde vem viver os últimos dias de vida do seu pai. Correu a tese que ela e o seu meio-irmão Augustin abreviaram-lhe a vida ao darem-lhe uma dose letal de medicamentos para lhe cercearem o suplício da agonia. E, quando este morre, dois anos mais tarde, já nenhum laço familiar a prendia na Suíça, pois outros membros do agregado ou tinham falecido ou tinham relações muitos tensas consigo, fruto do seu espírito rebelde e assumpção aberta pela cultura muçulmana.
Abandona a Europa e fixa-se na Argélia, assumindo no pleno a sua arabização expontânea. Apenas vai ao Velho Continente em viagens rápidas e fugazes. Adopta o nome de Si Mahamoud Essadi, enverga trajes masculinos que lhe permitem uma maior capacidade de movimentos e parte à descoberta da Argelia, sua Pátria adoptada. Para além da Argélia, percorre todo o Norte de África, até Marrocos e interioriza-se pelo deserto do Sahara montada no "Souf", o seu puro sangue árabe. É uma fase de escrita intensa, que se desdobra em cartas, contos e reportagens.
Confronta abertamente o poder colonial francês, e adere a uma corrente sufista, o Qadirya. Honrando a sua nova apologia místico-religiosa envolve-se com os mais pobres dos pobres, levando-lhes alimento material e espiritual, o que ainda agudiza mais a sua revolta contra as injustiças coloniais. Em 1901 é vítima duma tentativa de assassinato, quase ficando decepada dum braço, por uma nunca devidamente elucidada questão religiosa. No entanto, ao agressor, entretanto capturado, perdoa-lhe e pugna para que o mesmo não seja condenado à morte, por fidelidade aos seus princípios religiosos. Acaba expulsa de Argel pelas autoridades coloniais, fruto das suas actividades de militância pró-árabe, indo para Marselha, para junto do seu meio-irmão Augustin, ali colocado.
Nesta cidade casa-se (1901) com Slimane Ehnni, um militar franco-argelino, o que lhe permite obter a nacionalidade francesa e, assim, poder regressar à Argélia. Começa a ver romances seus a serem publicados e, em 1902, torna-se jornalista do "Akhbar". No ano seguinte vêmo-la como repórter de guerra nos conflitos fronteiriços entre Marrocos e Argélia, entrevistando quer legionários quer guerreiros de tribos locais.
Sem se tornar adepta do colonialismo francês, no entanto prefere este ao domínio turco pelo que, em 1904, aceita um pedido do general Lyautey para se deslocar para o Sul argelino, em Kenadsa, a fim de tentar negociar um pacto de paz com as tribos sul-oranesas. Aqui acabará por cair à cama com malária, paludismo e sífilis.
Vai para Ain Saffra, uma localidade no interior argelino, para tentar restabelecer-se. Uma violenta e repentina inundação derruba a pobre casa de adobe onde estava alojada, acabando Isabelle Eberhardt/Si Mahamoud Essadi por morrer fruto da derrocada do tecto da sua casa. O seu marido sobreviveu-lhe mas, três anos mais tarde, fez-lhe companhia.
Quem foi realmente Isabelle Eberhardt? Ainda hoje há quem faça essa pergunta. Estranha mulher que, desde cedo, se travestia de homem, assumindo-se ora dum ora doutro sexo. A sua androginidade nunca a impediu de ser livre até à exaustão. Espia francesa que inteligentemente soube penetrar no mundo árabe? Transgressora de todos os tabus vigentes, foi drogada, alcoólica, amante libertina de homens e mulheres, escritora, jornalista. Conseguiu penetrar no mundo fechado das irmandades religiosas muçulmanas tornando-se num(a) da(o)s suas/seus confrades.
A sua morte violenta e ainda na flor da vida, elevou-a ainda mais aos píncaros da fama. Se bem que já estivesse sentenciada por doenças que, mais cedo ou mais tarde, a minariam, a sua morte violenta, ainda por cima na flor da idade, elevou-se ainda mais aos píncaros da fama.
Sem se tornar adepta do colonialismo francês, no entanto prefere este ao domínio turco pelo que, em 1904, aceita um pedido do general Lyautey para se deslocar para o Sul argelino, em Kenadsa, a fim de tentar negociar um pacto de paz com as tribos sul-oranesas. Aqui acabará por cair à cama com malária, paludismo e sífilis.
Vai para Ain Saffra, uma localidade no interior argelino, para tentar restabelecer-se. Uma violenta e repentina inundação derruba a pobre casa de adobe onde estava alojada, acabando Isabelle Eberhardt/Si Mahamoud Essadi por morrer fruto da derrocada do tecto da sua casa. O seu marido sobreviveu-lhe mas, três anos mais tarde, fez-lhe companhia.
Quem foi realmente Isabelle Eberhardt? Ainda hoje há quem faça essa pergunta. Estranha mulher que, desde cedo, se travestia de homem, assumindo-se ora dum ora doutro sexo. A sua androginidade nunca a impediu de ser livre até à exaustão. Espia francesa que inteligentemente soube penetrar no mundo árabe? Transgressora de todos os tabus vigentes, foi drogada, alcoólica, amante libertina de homens e mulheres, escritora, jornalista. Conseguiu penetrar no mundo fechado das irmandades religiosas muçulmanas tornando-se num(a) da(o)s suas/seus confrades.
A sua morte violenta e ainda na flor da vida, elevou-a ainda mais aos píncaros da fama. Se bem que já estivesse sentenciada por doenças que, mais cedo ou mais tarde, a minariam, a sua morte violenta, ainda por cima na flor da idade, elevou-se ainda mais aos píncaros da fama.
////////////////////////////////////////////////////////////
Isabelle Eberhardt escreveu vários livros e deixou diversas reportagens em periódicos tendo feito, também, trabalhos de reportagem de guerra na rebelião que eclodiu na região de Oran, um ano antes da sua morte. Parte dos seus escritos foram recuperados na lama que inundava a sua casa de abobe onde morreu.
Existe, editado em Portugal pela Relógio d´Água Editores Lda., um livro da sua autoria, com o título de "Escritos no deserto" (1990, 308 pags.), onde a mesma narra as suas viagens por todo Norte de África.
////////////////////////////////////////////////////
O canal francês Arte dedicou-lhe uma pequena reportagem sobre a sua vida.
Existe ainda um filme feito sobre a sua vida, denominado "Isabelle Eberhardt" e que foi rodado em 1992, com um dos papeis a ser interpretado por Peter O´Toole (como Major Liautey) e Ian Prangley, mas não consegui adquirir o mesmo nem obter mais dados.
****************************************
HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL
Continuação do "Diário da Campanha do Mataca", de George Stucky.
9 de Setembro:
Deixámos no acampamento o pobre do capitão Brack-Lamy, bastante adoentado (era
velho demais para uma campanha tão dura) e 77 praças doentes, considerados
incapazes de continuar a campanha. Dois oficias encarregados de comprar víveres
em Zomba, acompanharão os doentes, com um doutor. Soubemos mais tarde com muito
pesar nosso que o Brack-Lamy morreu logo após a sua chegada ao hospital.
Pequena marcha de 17 quilómetros. 10 de Setembro: Chegámos pelas 10
horas a Napulu, que servirá de base de operações para a futura expedição contra
o Mataca. Com grande surpresa nossa e nossa maior satisfação encontramos em
Napulu um magnífico acampamento já completamente instalado: um enorme sanzoro
de mais de 600 metros de comprimento, palhotas para os oficiais, para a messe,
para os diferentes serviços, construções servindo de casernas para os soldados,
de enfermaria para os doentes, um armazém, um paiol, uma cavalariça, etc.,
enfim, tudo o necessário para que toda a gentes esteja à vontade. E o bom do
tenente de artilharia Ferreira, que com os sipaios da C.Z. edificou, durante a
nossa viagem aos Kouemba, este esplêndido acampamento apoiado a oeste ao lago
Amaramba e protegido por 600 metros de paliçada. Para fazer este grandioso
trabalho em menos dum mês, muita energia havia sido necessária, como muito
jeito, pois devia-se tomar em consideração os indígenas da região,
inspirar-lhes confiança, reclamar-lhes a comida para os sipaios, para os
carregadores da coluna – proteger ao mesmo tempo estes indígenas contra a zanga
dos rebeldes que viam dum olho pouco satisfatória uma tal empresa e vinham
fazer razias na povoações do Napulu. Não sei se o major soube reconhecer os
esforços do Ferreira, pois nada se ouviu e nada apareceu no diário da
expedição. E portanto, quantos esforços, quanta perseverança deve ter mostrado
o Ferreira para conseguir um tal trabalho, pois a madeira é rara em Napulu. Foi
então preciso ir buscá-la longe, como também todo o caniço necessário e havia
um certo risco, pois às vezes travaram-se combates contra os rebeldes de fora.
Encontro aqui o meu prezado amigo, o Terry, que o Major, nunca o soube porquê,
havia enviado a Milange buscar um comboio. Apesar de suas maneiras um pouco
caprichosas (bizarras) era o mais amável dos camaradas, um coração de ouro, tão
sábio quanto modesto, e pronto a todas as dedicações, e cuja competência e
inteligência creio que não soube sempre utilizar como devia ser. 11 a 16 de
Setembro: Descanso. Os víveres baixam de mais a mais e estamos sempre sem
notícias de Zomba. No dia 16 o Comandante decide enviar alguém à B.C.A. – Fort
Johnston – com alguns milhares de carregadores para ir buscar o indispensável –
investigar do arroz que se deve ter recebido para a coluna e trazer o mais
depressa possível. O Terry é designado para esta missão. Telegrafa-se no mesmo
tempo aos oficiais enviados a Zomba, a fim de saber o que eles conseguiram
fazer e a data da sua volta. Logo que tive conhecimento da designação do Terry
para o Niassa, pedi licença ao Major para acompanhá-lo. Os meus serviços
podiam-lhe ser úteis, pois ele não falava o dialecto de Quelimane, nem o
chupanga (língua de Sena) e outrossim entendia eu que um oficial sozinho por
mais esperto que fosse dificilmente podia governar-se com tanta gente sem
nenhuma formação militar em terra incógnita; tanto mais que um perigo qualquer
podia ser sempre possível. A presença, pois, dum amigo dedicado ao lado do
Terry só podia reforçar a sua situação e diminuir as suas preocupações.
Consegui mesmo levar connosco o tenente Ferreira, o qual ameaçado de biliosa,
devia consultar um perito com urgência para fazer um exame rápido do sangue.
Oficial de valor, camarada de armas do Terry, podia também em caso de perigo,
apesar da sua fraqueza, ser-nos de grande recurso, pois ele havia feito as suas
provas. Estava encantado por fugir, durante alguns dias, a esta vida horrível
do acampamento, a este foco de intrigas, de ociosidade, mal empregada em
discussões fastidiosas, causadas por uma moral deprimida por tantas privações,
pelo clima, pelas fadigas suportadas até aqui. 17 de Setembro: Boa
marcha de 35 quilómetros. Nada de interessante. A região é sempre a mesma:
planície sobre planície, capim queimado, florestas queimadas, uma verdadeira
desolação, não se vê verdura nenhuma. Atmosfera cheia de fumo, ar pesado,
opressivo, percurso duma monotonia desesperada. Acampamos perto de ? 19 de
Setembro: Estamos ao pé da serra de Mangoche, em cujo cume se encontra o
forte inglês, a 1.250 metros de altura. Passamos a fronteira pelas 10 horas e
estamos agora debaixo da protecção de Sua Majestade Britânica, o que nos livra
dum certo pesadelo. Chegando ao forte de tarde, queremos (o que é natural)
cumprimentar o comandante, mas ele faz-nos responder que não pode (ou não
quer?) receber-nos e faz barrar o caminho por um soldado!... Todavia, o Terry,
teimoso, consegue forçar a ordem por questões de serviço… e entreter-se com um
hóspede tão amável e hospitaleiro. Nada vi, pois, do forte inglês. Soube pelo
Terry, que é um grande quadrilátero, com altas paredes de alvenaria, um fosso à
roda, 3 portas de entrada. No interior: belas acomodações, luxuoso bungalow,
com janelas, quartos bem mobilados, uma sala de bilhar, até. Um jardim e uma
horta. A guarnição é composta de angonis e de sicks. Um branco: o comandante.
Os angonis são altos, robustos, soldados perfeitos, ensinados pelos sicks – é o
tipo ideal de tropas coloniais. O comportamento deste extraordinário inglês é
verdadeiramente inexplicável e inadmissível. Inútil fazer comentários, mas é a
primeira vez que eu vejo tanta grosseria em terra africana. 20 de Setembro:
Deixamos o forte com muito prazer, de manhã cedo, e depois de ter descido tudo
o que tínhamos subido na véspera, inutilmente, entrámos na planície do Niassa,
logo depois de termos atravessado uma serra chamada Ururu ou Ususu. Do alto da
tal Ususu, pudemos entrever o lago, mas a atmosfera estava tão fumosa, tão
perturbada, que não pudemos gozar do magnífico espectáculo que teríamos visto
se o tempo o permitisse. Mas pudemos distinguir uma espécie de lençol branco-azulado:
uma coisa imensa, sem fim, estendendo-se até se perder a vista do lado NO –
orlado a oeste por uma linha um pouco mais sombria (as serras da margem) quase
indistinta, que se perdia nos céus. Foi pena; pouca sorte tivemos, pois é a
época dos incêndios: todo o horizonte está carregado com densas nuvens, que o
vento do lago não consegue espalhar. A descida, tanto da serra de Mangoche como
a do Ususu era de tal forma íngreme (chefa até 45º) que fomos obrigados algumas
vezes a recorrer aos auxílio das mãos e… dos pretos. O Terry teve que deixar o
seu cavalo no forte inglês. Chegámos a Fort Jonhston pelas 3 horas. Empregámos
só três dias para fazer o trajecto de machila sempre acompanhados dos nossos
carregadores. 21 de Setembro: Descendo na margem esquerda do rio Chire. 22
de Setembro: Visita da vila. Situada na margem direita do Chire, que
desemboca no lago a uns quilómetros ao norte, foi fundada em 1897: tem dois
anos apenas. É o porto do Niassa, não tem comércio por si mesmo, mas é um porto
de trânsito bastante importante para a colónia alemã do lago, para o lago
Tanganica e sobretudo o lago Méroué. Forte Jonhston conta actualmente com umas
20 casas, feitas com tijolos e cobertas de zinco, entre as quais destacam-se as
de duas companhias de navegação, a do colector, do correio, do médico, de
alguns negociantes, etc. Há já um pequeno hospital, com duas irmãs da caridade,
bem necessárias, pois o clima desta região –pantanosa – é muito mau.
Asseveram-me que, durante a estação quente – Outubro/Fevereiro – a mortandade
chega a atingir 48%... para os europeus. Durante três meses reina um calor
tórrido conjugado com chuvas muito fortes, o que produz febres terríveis:
biliosas perniciosas e malária constante. Uma igreja está em construção, desde
alguns meses e será terminada brevemente; uma missão anglicana, que presta bons
serviços, está estabelecida a uns quilómetros ao norte da cidade. Fort Johnston
tem um pequeno defeito: tudo é excessivamente caro; certas coisas estão fora de
preço. Um saco de sal, por exemplo, de 30 quilos não custa menos de uma libra.
Uma garrafa de conhaque vulgar ou de whisky: 15 a 18 francos e não é conhaque
Martel, pode-se crer-me. Os pretos do Niassa são de raça jaua, geralmente bem
feitos, de estatura mais alta e mais robustos do que os de Quelimane ou da
Zambézia – lomués. Nestas regiões, o tipo parece ter-se conservado mais puro e
isento de cruzamentos com outras raças mais fracas, que podem enfraquecê-los ou
causar-lhes uma certa degenerescência. A língua parece-se com o chinioungué e o
lomué mas, coisa curiosa, todos os indígenas percebem e fala a língua de Sena
(que é de todo o vale do Zambeze) e o swahilí (Zanzibar). Deve pois crer-se que
os chupangas da Zambézia têm tido desde tempos remotos fortes relações com o
Niassa? Enquanto ao Swahilí, toda a gente sabe que a tal língua é falada em
toda a costa desde a Somália até ao Chinde e que relações comerciais (de qual
forma) infelizmente tiveram lugar em todos os tempos entre Zanzibar e o
interior: a carne humana formava, com o marfim, a maior parte deste especial
negócio e não é certo que esteja completamente acabado. O sistema de
colonização inglês difere completamente do sistema português em Moçambique.
Todo o território inglês (B.C.A.) é dividido em distritos. Cada distrito é
administrado por um “Colector” cujo poder é formidável, e que depende
unicamente do Comissário Régio, residente em Zomba. O “Colector” é recebedor de
Alfândega, recebedor de contribuições, juiz, director dos correios e
telégrafos, etc. Em uma palavra: centraliza tudo. Tem ele o direito de
infligir-vos, sem recurso, até 100 libras de multa e pode até condenar à morte,
sob reserva do Comissário Régio e em último caso do Tribunal Supremo do Cabo. O
imposto indígena é de 23 libras por palhota e é somente cobrável nos arredores
imediatos da cidade. Os pretos no interior não pagam nada ainda e não estão
submetidos a qualquer pressão. Foi-me asseverado que todo o imposto cobrado em
B.C.A. não chegava para pagar os vencimentos do Comissário Régio! Os ingleses,
sendo ricos, não se preocupam com isto e preferem, antes de tudo, terem braços
para o trabalho e o desenvolvimento da colónia. Os indígenas têm uma liberdade
completa; o trabalho não é obrigatório e, justamente, por esta razão, a colónia
tem mais gente do que precisaria. Pretos de muito longe vêm para buscar
trabalho e procurar o que lhes falta para assegurar as suas poucas
necessidades. 23 de Setembro: Despedimo-nos dos nossos amigos e partimos
para voltar a Napulu, às 8 horas da manhã. O comboio nos seguirá, brevemente,
quando se puderem comprar as coisas que ainda faltam, esta tarde ou amanhã pela
manhã. Chegamos pelas duas horas ao pé dos montes Mangoche, que contornamos
para evitar o grosso cansaço da subida e da descida e acampamos perto dum
mucurro esplêndido. 24 de Setembro: Continuamos a contornar a tal serra
e fazemos alto às 10 horas à margem do rio Mandimba para almoçar. O sítio é
verdadeiramente lindo e como tenho jamais visto em África, digo em Moçambique,
are agora… O rio, donde corre uma água pura como o cristal, é, por assim dizer,
escondido debaixo dum vulto de verdura; árvores gigantescas, felizmente
poupadas pelos incêndios do mato, enfeitam ambas as margens e formam uma sombra
impenetrável aos raios solares; repousamos com delícia sobre um banco de areia
– areia tão suave aos nossos corpos doridos – à espera do almoço que “mestre
Meolá”, o meu habitual companheiro de viagens se apressa em preparar. O almoço
é muito alegre… e acompanhado duma água tão fresca que não a trocaríamos por
champanhe. Saída pelas duas horas; recomeçamos a percorrer a planície, que nos
levará ao lago Amaramba – planície imensa que recomeça do outro lado do lago,
para acabar nos primeiros contrafortes do Nhamouélo, lado Este, ao lago Chirua
ao Sul, e parece não haver fim do lado Norte. Acampamos na tarde às 5 horas
perto de…? Tornamos a encontrar aqui água empoçada, pois o tal riacho é
completamente seco. Restam só aqui e acolá algumas poças, onde os animais
selvagens vêm dessedentar-se. Devemos mesmo cavar uns poços pequenos, da areia
dos quais retiramos só um líquido que se aparentaria mais a tudo que a gente
quiser, excepto água… Devemos fazer ferver esta porcaria cuidadosamente e
desinfectá-la para poder empregá-la. 25 de Setembro: Partida às 6 horas.
Chegámos já ao lago para a hora do almoço. Encontramos no caminho muitas
pegadas de antílopes, de gazelas, de rinocerontes – de elefantes até. Desço da
machila algumas vezes para perseguir alguma caça. As orlas do lago estão
guarnecidas duma quantidade de pássaros aquáticos, de todas as espécies: do
pato ordinário, selvagem, até ao grande pato com esporas, da Zambézia, passando
pelo pato branco, preto, amarelo-avermelhado (mais pequeno) depois a grous –
aos íbis e gansos dos pântanos e tantos outros cujos nomes não saberia
qualificar, por falta de competência. Toda esta família aquática é muito
selvagem e muito difícil de aproximar. Posso, todavia, atirando bastante longe,
com a minha Mannlicher, apanhar dois patos que constituirão o nosso regalo para
o jantar. Entramos no sanzoro de Napulu de tarde, pelas 6 horas com que pesar…
pode-se imaginá-lo… Logo após a nossa chegada, sou informado que os víveres se
foram acabando… que estamos numa situação próxima da miséria, não temos sequer
o indispensável … nem mesmo sal de há três dias… Durante a nossa ausência a
comida consistiu em arroz-bacalhau e bacalhau-arroz. Todos os oficiais estão
doentes, com disenteria; a maior parte estão deitados, até o Bívar que sofre de
enterite aguda – e que me faz pena pois está muito emagrecido… com cara
inquietante, olhos torvos-congestos, pele amarelenta… pulso fraco… tendo
perdido a vivacidade nervosa que o manteve até aqui em boa condição. O Bastos
também se levanta apenas e pode só com dificuldade estar de pé… a sua barba imponente
lhe faz uma cara ainda mais grave, mais dolorosa na palidez acentuada do rosto…
mas nem uma queixa sairá dos seus lábios, nem uma palavra… forte contra os
acontecimentos que atormentam todos… Coitado… Mas o “sursum corda” é a sua
característica. Que Deus seja abençoado por ter um companheiro assim, pronto
até ao sacrifício supremo… sem se lamentar sequer. Com grande surpresa minha,
venho a saber que os oficias enviados a Zomba, para a compra de víveres, não
chegaram ainda e não chegarão tão depressa. Sou apertado com perguntas a
respeito do comboio que temos precedido e posso anunciar a sua chegada provável
para depois de amanhã, sem dúvida. Serão pois mais dois dias de privações para
todos. 26 de Setembro: Nada de novo de Zomba. Os pobres dos soldados
estão reduzidos desde há três dias à carne crua, com uma bolacha e uma porção
de arroz. Têm de se governar para preparar estes alimentos. Seria mesmo assaz
pitoresco vê-los cozinhar, se não fosse tão triste. É certo que os negros devem
– comparativamente – comer melhor se tiverem ainda qualquer coisa, pois eles
não têm as mesmas necessidades que os europeus. Muitos doentes. O Doutor
atribui isto às más condições alimentares, ao ar viciado provocado por uma
demora em acampamento cujos arredores estão cheios de porcarias, à má qualidade
da água, que não é filtrada – nem às vezes fervida – enfim aos efeitos da
grande fadiga suportada e mau clima… E em todos os doentes o estado de fraqueza
piora logo por falta de cuidados convenientes e dos remédios precisos: leite,
chá, café, biscoitos e outros doces, que faltam completamente desde há muitos
dias. Bravos soldados, bravos companheiros de glória e de infortúnio – pobres
de saúde, mas ricos de patriotismo… Que bela lição nos dão nestes momentos tão
difíceis! Pois, nem um murmúrio, nem uma censura lhes saem dos lábios
esfomeados, nem uma recriminação – que poderia ser nesta horas tão angustiosas
tão perdoável, vem ensombrar o seu campo, ou ensombrar as suas conversas. Fazem
prova duma “endurance” e dum estoicismo digno de todos os louvores; a sua
resistência física é verdadeiramente extraordinária. 27 de Setembro: Há
tarde, recebemos, com que alegria… um saco de sal com um pouco de café e
açúcar: Deus queira que isto seja reservado aos doentes! Enfim, o comboio não deve
estar longe e acabadas as nossas privações. Vamos poder reparar as nossas
forças e seguir para diante. Já não era sem tempo. 28 de Setembro: Os
víveres chegaram pelas 10 horas. Com que olhos ávidos, glutões, os europeus
reunidos não contemplam os volumes chegados a pouco e pouco… Todos os tesouros
de Golconda os perturbariam menos que estas caixas que lhes trazem um pouco de
conforto, de alívio, e talvez o salvamento. É preciso ver com que alegria o
cozinheiro se apossa imediatamente dalgumas latas de conservas, a fim de…
encorpar o “menu” do dia. Tanto mais que hoje é o aniversário do nascimento de
S.M. o Rei de Portugal e que o Major quereria festejar a inauguração do pequeno
forte que se acaba de edificar a uns 200 metros a Sul do campo. Esta inauguração
é feita com toda a solenidade compatível com a nossa triste situação. Toda a
tropa válida a ela assiste, circundada pelos sipaios e carregadores; o chefe da
região (Napulu) acompanhado pelos chefes e povoações vizinhas, também toma
parte nesta cerimónia. O Major pronuncia um breve “speech” e proclama que o tal
forte se chamará de hoje em diante “Dom Carlos”, em homenagem ao Rei. A
bandeira nacional é em seguida içada no mastro do forte com todas as honras do
estilo. Vivas são lançados em honra da família real e do exército e a cerimónia
termina por uma salve de 21 tiros. A acta da inauguração é assinada por todos
os oficiais e um grande número de praças; de tarde, os sipaios e carregadores
regalam-nos com um grande batuque e danças guerreiras, magnificamente
conduzidas. Uma força de trinta angolas, com um Alferes, guardará o tal forte,
com uns cem sipaios, durante a nossa ida ao Mataca. Duas peças de artilharia –
cujos serventes não temos – serão afectas à defesa, com uma metralhadora. 29/30
de Setembro: O estado sanitário torna-se cada dia pior. Uma revista é
passada pelo médico antes de partir para o Norte, com o resultado seguinte: 32
praças e 4 oficiais estão designados para serem repatriados de urgência.
Tristes jornadas para a expedição: os carregadores da Companhia da Zambézia
fugiram em número considerável. Pretendem eles que haviam sido recrutados para
serem sipaios e não para fazer o ofício de carregadores: o que no espírito
deles deve ser uma singular desconsideração. Se não conseguirmos para estas
fugas será muito difícil de sairmos daqui, pois toda a expedição assenta-se
sobre os portadores e sem eles estamos reduzidos à completa impotência. 1 de
Outubro: Os doentes que devem ser repatriados deixam-nos esta manhã.
Durante a noite uma quantidade de carregadores fugiram de novo, outros
safaram-se com o comboio de repatriados. Perante o grave perigo que nos ameaça,
o Major decide-se a agir vigorosamente. Patrulhas de soldados de infantaria (os
pouco válidos que podem marchar) são enviados por toda a parte para tentar
apanhar os fugidos, que são reconduzidos pelas 11 horas, mas que encontram
ainda meio de se safarem pela tarde. São perseguidos sem piedade, desta vez.
Parece uma guerrilha à roda do bivaque. Atira-se sem mais nem menos sobre os
que fogem a nado no lago, para tentar atingir a margem oposta. A maior parte
dos golpes não os atingem, mas dá que pensar aos outros que estariam tentados
de os seguir. Calor – temos 41º à sombra à 1,30 da tarde! 2 de Outubro:
As fugas cessaram como que por encanto; a energia desenvolvida serviu de lição…
era tempo. Começamos estar inquietos a respeito dos oficiais de Zomba. Já lá
vão 24 dias que foram enviados ali para comprar víveres e nada se sabe.
Mandaram-se-lhes telegramas para voltar o mais depressa possível, pois
precisamos das suas remessas para poder continuar a campanha. Esta ausência de
notícias é lamentável e o comportamento deste cavalheiros inexplicável, pois
eles sabem muito bem em que sérios embaraços estamos, para não dizer pior, mas
parece que pouco se importam. Nesta estação, cada dia de demora pode causar-nos
um prejuízo considerável. Eis aqui a época quente que vai principiar brevemente
e com ela todo o cortejo habitual de padecimentos: trovoadas, chuvas
diluvianas, calor tremendo que aumentam as dificuldades de transportes, as
doenças do peito (bronquites, pneumonias, congestões, etc.). Os soldados, já
tão enfraquecidos, poderão resistir? Mais atrasamos a nossa partida, mais
teremos de sofrer mais tarde. A enfermaria está constantemente cheia desde há
uma semana. E se eu comparo o comportamento do Terry, enviado a Fort Johnston,
com 3.000 carregadores para transportar arroz e víveres, e que levou só oito
dias ao todo, para cumprir a sua missão (22º quilómetros em ida e volta), com
um zelo, uma dedicação e actividade notáveis – se eu comparo, digo com o modo
de proceder dos camaradas dele enviados a Zomba, já lá vai um mês, não posso
impedir-me de estabelecer sertãs comparações pouco lisonjeiras. É graças a
Terry que temos que comer actualmente e que os indígenas têm a sua ração
assegurada por algum tempo. Não tenho ouvido dizer que o Terry fosse elogiado
pelo “record” executado, mas parece que só há todas as desculpas possíveis para
quem se demora à nossa custa, em B.C.A. Compreenda quem puder. 3 de Outubro:
Nada que notar. 4 de Outubro: Não podemos esperar mais o comboio de
Zomba e pensamos deixar Napulu depois de amanhã com os únicos víveres de que
dispomos. O tal comboio fantasma seguirá logo que chegar, como também o que
esperamos de Malange. 5 de Outubro: Preparativos de marcha. A coluna é
reduzida a: 70 soldados de infantaria, 22 de artilharia e uns 10 diversos
(enfermeiros, administração?) mais 80 landins ou angolas, 1800 sipaios – de que
2/3 têm Snyder, 1/3 espoletas – e cerca de 800 portadores (Nota do Autor:
Carregadores). A artilharia compõe-se de 2 peças de 7 cms. e 2 de tiro rápido e
uma metralhadora. Poço (Nota do Autor: alimento) para 5 dias só aos indígenas;
isto lhes promete muita fome em perspectiva, coitados. O Terry está designado
como chefe da exploração. Grande sorte e como tudo será fácil. 6 de Outubro:
Levantamos o campo às 7 horas, mas partimos dificilmente às 8. Chegada ao
Lugenda às 11 horas, paro lá e espero ordens do Major para saber se acampamos
ou se vamos adiante. Pequena marcha de 12 quilómetros. 7 de Outubro:
Partida às 6 horas. Pelas 8 encontro uma manada de búfalos, que persigo durante
algum tempo e estou bastante feliz para matar um deles. É a primeira vez, desde
que estou em Moçambique, que eu vejo estes animais. Pode-se julgar, pois, da
minha alegria e do meu orgulho por uma tão grande sorte, sem grande risco. Fui
só obrigado a correr como um preto, durante mais de um quarto de hora antes de
poder abatê-lo. Julgava havê-lo errado e foi só quando o vi retardar de repente
o seu galope, depois separa-se da manada, que compreendi que estava ferido.
Tive, para aproximar-me dele, que arrastar-me no capim altíssimo e esperar um
momento antes de lhe enviar o golpe final – tanto eu tremia de cansaço e…
porque não dizê-lo de emoção. Não caiu logo; olhou de onde vinha o tiro, mugiu
surdamente raspou o chão com o casco do pé –furiosamente – e pareceu querer
retomar forças para precipitar-se, mas não pode: abateu-se dum golpe, morto.
Deve dizer-se que as balas da Mannlicher são tão pequenas – 6,5mm – que não
fazem senão feridas muito ligeiras, a não que atinja os lugares vitais… e,
ainda, uma Martini produz efeitos diversamente sérios… o calibre sendo de 12mm,
isto é, quase o dobro da Mannlicher. Mas não tinha a escolha das armas. Meia
hora depois deste episódio, um outro búfalo, provavelmente desviado da manada
já encontrada achou-se, não sei como, e de repente no meio da vanguarda, à
minha direita. Bívar, manda-lhe um tiro que o parou a alguns metros apenas da
primeira secção de infantaria. Como estava apenas ferido ligeiramente, buscava,
naturalmente, escapar-se dum lado ou do outro, espavorido, surpreso de ver-se
rodeado por tanta gente, investiu, ao acaso, adiante – de olhos fechados… Um
movimento de pânico, bem compreensível, produziu-se então na coluna, depressa
acalmado. O búfalo não teve tempo de fazer mal algum… apenas ele tinha
empurrado alguns pretos, que fugiam espavoridos por toda a parte, recebia, a
alguns metros, um tiro que atrasou o seu impulso e acabava-o um tiro à
queima-roupa, no momento em que se precipitava sobre a minha machila. Mal tive
tempo de saltar “en vitesse” da machila, de largar bússola, relógio, caderneta
que tinha nas mãos, e, arrancando a minha arma do moleque que estava a mau
lado, e fazer fogo, Deus sabe como… Um décimo de segundo a mais e era
bamboleado nos ares pelo bicho, apertado de todos os lados e espantado – ele
mesmo – pelos gritos da multidão. Entrevi, alguns minutos depois, uma zebra
correndo na floresta. Não me foi possível atirar-lhe. Marcha de 18 quilómetros.
Acampamos junto ao Lugenda. 8 de Outubro: Marcha de 15 a 16 quilómetros.
9 de Outubro: Continuamos a seguir a margem direita do Lugenda. Devemos
fazer um sanzoro, pois temos observado rastos humanos no caminho: espias, sem
dúvida do Mataca para espreitar a coluna. O rio tem uns 25 a 30 metros de
largura, mas pouco fundo, pois estamos na estação seca. 10 de Outubro:
Boa marcha de 23 quilómetros. 11 de Outubro: Boa marcha de 23
quilómetros. Os sipaios acabam o seu poço hoje, que comerão eles amanhã? Quando
foi da nossa saída de Napulu, tinha pedido ao Major para distribuir aos sipaios
uns 7 dias de poço (arroz), pois sabia de fonte segura que não encontraríamos
nenhuma povoação: isto é, nenhum mantimento – durante os 8 primeiros dias de
marcha, pois a região ficava completamente deserta até ao rio Luambala. O
Major, por razões que não posso apreciar – concedeu só 5 dias – apesar de
termos deixado uns 3.000 volumes de arroz. Sem dúvida, seriam precisos para a
volta e devia guardar-se uma quantidade por medida de simples prudência, mas
não se corria um risco ainda maior reduzir-nos a este ponto? Que tremenda
responsabilidade, em caso de revés? Que Deus nos ajude. 11 de Outubro:
Grande sorte. Na tarde, seguindo o rio, à procura de caça, consigo matar, numas
poças de água, um cavalo-marinho, que me apresso a repartir com a gente do
Bívar, pois é preciso ajudar-se… Que linda festa no nosso acampamento esta
noite; que grande regozijo para muitos; estamos salvos por dois dias, pois
vigiarei o consumo com cuidado. 12 de Outubro: Embocamos no Lugenda às 7
horas. O emboque deu lugar a um incidente entre o Comandante e os oficiais.
Segundo o seu hábito, o Major não deu ordens nenhumas, deixando cada um
governar-se no emboque como pudesse. Como o lugar era muito mal escolhido, a
passagem foi muito movimentada: alguns cavalos escorregaram, outros caíram nuns
buracos do rio, arriscando-se a afogarem-se; as peças de artilharia ficaram “en
panne” durante algum tempo… Enfim, levou-se um tempo infinito para transportá-las
duma margem à outra; o leito do rio estava atravancado com blocos enormes ou
cheio de pedregulhos… Daí, zanga do Major e repreensões injustas, quanto
penosas, para quem culpa alguma tinha. Os sipaios estão reduzidos (parte deles)
a comer pele de cavalo-marinho! Deve ser um “petisco” que nunca teriam ainda
provado e que deve ser pouco apetitoso – tanto mais que só dentes de lobo
seriam capazes de mastigar isto. 13 de Outubro: Marcha de 20
quilómetros. Acampamos perto do rio Salala. Chegamos a saber que existe não
muito longe, uma aldeia abandonada, onde talvez… os nossos sipaios encontrarão
alguma coisa para raziar… o que precisam para não morrerem de fome? Parece,
realmente, que a Providência nos protege, pois mal chegámos ao acampamento, corremos
ao sítio indicado pelo guia e lá encontramos uma pequena provisão de mandioca:
o suficiente para dois dias! Louvado seja Deus! Com que alegria voltaram ao
acampamento estes pobres diabos, já muito emagrecidos, os olhos fundos, as
feições como chupadas, a pele não brilhante como dantes, mas já dessecada…
branqueada, como mal lavada… coberta de pústulas. 14 de Outubro: Boas
notícias. Vamos passar o rio Luambala, à entrada das terras do Mataca.
Estaremos, pois assegurados de encontrar víveres que nos permitirão continuar a
nossa marcha até ao fim. Pelas 9 horas atravessamos povoações abandonadas; as
culturas foram desleixadas e não encontramos ninguém. Pelo meio-dia estamos no
rio Luambala – muito largo – aqui. Os guias estão inquietos, pois viram do outro
lado alguns indígenas, que vão tentar impedir-nos a passagem. Fazemos alguns
fogos de salva e passamos sem incidente. O inimigo não atirou um único tiro.
Teria ele já fugido? Entramos numa aldeia de criação recente, pois a palha é
nova e descobrimos – valha-nos Deus! – quantidades de milho, sorgo (mapira) até
mesmo galinhas, pombos e alguns cabritos. Uma verdadeira fortuna para a nossa
pobreza. É de crer que os indígenas na nossa chagada tão rápida, pois teriam
tido o cuidado de levar tudo. 15 de Outubro: Descanso. Novidade pela
manhã: pois pelas 8 horas como alguns soldados, montados sobre um muro de
muchém, observavam a metralhadora, alguns tiros lhes foram enviados, atirados
apenas de uns 100 metros do campo. Mas felizmente nenhum ferido… Logo grande barulhada
no acampamento. Grande “branle-bas” de combate, todos os sipaios precipitam-se
fora do recinto e livram-se de uma “debauche” de tiros que deve fazer rir às
gargalhadas o inimigo, já longe… Igualmente alguns soldados de infantaria
saíram, para fazer como os sipaios… Ordem de quem? Não se sabe. 16 de
Outubro: Saída às 5,30 horas. Como passávamos, pelas 7 horas, um pequeno
montículo, algum tiroteio se faz ouvir na retaguarda (isto é fantástico?) –
pouco depois no meu flanco esquerdo, em seguida na minha frente – e enfim à
minha direita. O que quer isto dizer? Estaremos completamente rodeados pelo
inimigo? Paragem de uma hora. Escaramuças. Momento de pânico nos sipaios da
Maganja e da Companhia da Zambézia… à minha esquerda, que recuaram um momento,
não sei bem porquê… Por pouco, também os meus estiveram em ponto de recuar, pois, não vendo nada, não
sabendo nada, imaginaram qualquer incidente grave. A gente tem muitas vezes
mais medo do que se não vê – do perigo imaginário – do que do perigo real. E
sempre a mesma táctica por parte do adversário. Bem abrigado na floresta ou no
capim altíssimo, faz fogo, apenas a uns metros dos sipaios e safa-se
rapidamente sem ser visto e fora de vista… Foi a terceira vez, hoje, que ouvi
as balas sibilar com tanta nitidez: fazem um “zim zim”, bem particular, como o
sussurro duma abelha, ou dum mosquito que seria enorme – mas sobre um diapasão
um pouco mais elevado. A gente tem ainda o hábito de “cumprimentar” as balas
quando passam perto demais dos ouvidos… depois acostuma-se. Às 9 horas nova
escaramuça, â minha esquerda e em frente. Mas depois de nos ter dado a palavra,
tanto o Bívar, como o comandante da Maganja, corremos todos sobre o inimigo
para persegui-lo e impedi-lo de ter tempo para carregar novamente as suas armas
numa curva próxima do caminho. Corrida muito fatigante de dez minutos, pois o
terreno é difícil. O adversário, cheio de medo perante este assalto, fugiu a
valer e a coluna pode pôr-se em marcha sossegadamente. Acampamos perto do
Namatamba às 9,30. Resultado do encontro: 3 sipaios, 1 carregador mortos, e 4
feridos: o inimigo deixou 4 cadáveres; numerosas manchas de sangue junto às
margens do Namatamba. 2 outros cadáveres encontrados à tarde. Felicitações do
Major, citações na ordem do dia: eis que nos encoraja e nos recompensa dos
nossos esforços e perigos. O que não se faria com algumas palavras de
reconhecimento e… de louvor? Já noite, pelas 9 horas, tendo visto o Terry e eu
algumas luzes a alguma distância do campo, e julgando que pudessem ser sinais
ou fogueiras do inimigo, saímos do sanzoro, depois de termos avisado o Major –
acompanhados de alguns sipaios – para ver o que isto significava… Mas não era
nada: só algumas fogueiras deixadas pelos incêndios. Mas no regresso tivemos
muito medo que as sentinelas rompessem fogo à queima-roupa, pois não se via a
dois passos. Há leopardos e outra bicharia. Houve carregadores feridos e só nos
lembrámos disto quando voltámos do nosso passeio nocturno. Fora, a noite era
fresca e clara, cheia de rumores; nas trevas, os fogos do acampamento estendiam
rentes ao solo os seus clarões vermelhos e palpitantes: uma sinfonia de gritos,
de ruídos – de murmúrios que enchiam o silêncio do acampamento. 17 de
Outubro: Novo combate às 7 horas; no carga, feita por todos os sipaios, com
“fúria francesa”, que impele definitivamente o inimigo, pois que não somos mais
incomodados durante o resto do dia. Novas felicitações, nova ordem do dia.
Encontrámos no terreno 4 mortos, tivemos só um sipaios ferido; o inimigo atira
sempre muito alto. 18 de Outubro: Entrámos esta manhã nos arredores de
Mataca; às 9 horas passámos na aldeia da Matola: um dos chefes grandes do
régulo. Nenhuma resistência – não há ninguém; a povoação é incendiada; alto em
Assonga, outro chefe, situado ao pé do monte Lisali. O adversário fugiu desde
de alguns dias, se pudermos julgar segundo os indícios que deixou. 19 de
Outubro: Dia histórico para as nossas armas. Às 9 horas, do alto duma
colina descobrimos enfim a povoação do régulo: Mataca, a uns quilómetros de
distância. Tais os hebreus descobrindo a “Terre Promise”, ficámos comovidos e
cheio de assombro perante a vista deslumbrante duma tal quantidade de palhotas,
que raras vezes um ser humano pode contemplar. Eis, pois, a capital do tal
régulo que assassinou, em 1899 – há pois exactamente 10 anos –uma expedição
portuguesa chefiada pelo Tenente Valadim. Eis a capital do maior potentado
negreiro do Niassa e do Norte da Província: objecto da expedição e alvo final a
atingir… e que atingimos. Ninguém pensa agora nos seus males, nas suas fadigas;
tudo está esquecido na alegria do sucesso. Parada a coluna para permitir a
todos gozar o lindo e curioso ponto de vista. O panorama vale a pena.
Aproximando-nos, Bívar e eu, que estamos sempre na vanguarda - ficamos não
pouco admirados de não encontrar resistência alguma, de não ver alma viva nos
arredores desta imensa aglomeração. Então o Mataca não tentaria os mínimos
esforços? Nenhuma resistência? Teria ele fugido? Custa-me a crê-lo, pois este
régulo deu já que fazer aos ingleses e com a gente que submeteu debaixo do seu
domínio deve ser-lhe muito fácil reunir alguns milhares de espingardas.
Marchamos com redobro de vigilância e de precauções, pois esta tranquilidade
não nos diz nada… A nossa aproximação é lenta; bombardeamos as primeiras
povoações rodeando a capital. Às 10 horas passamos estas povoações depois de
tê-las queimado. A marcha torna-se muito pesada, pois encontramos barrancos,
riachos sobre riachos, com leitos muito fundos que a artilharia e as bagagens
têm dificuldades em passar. Em três horas avançamos só alguns quilómetros e a
marcha é tanto mais dura que já se aproxima o meio-dia. Calor tórrido,
aumentado por fumo intenso provocado por centenas de palhotas queimadas. Pouco
tempo depois do meio-dia chegamos a uns dois quilómetros de Mataca, que
dominamos agora inteiramente. Enviámos alguns obuses sobre a vila, de onde nada
parece mover-se; nenhum movimento neste formigueiro gigante; tudo parece
abandonado e poderemos entrar sem recear qualquer armadilha imprevista. Graças
à rapidez dos meus machileiros, chego primeiro à cidade; já, de longe, pude
distinguir, dominando todas as outras pelas suas dimensões enormes, colossais,
a sua forma, a sua posição central, uma palhota que julgo logo como devendo ser
a da residência do régulo. Não foi sem custo, e depois de me ter perdido
algumas vezes nos dédalos das ruas, que eu pude enfim lá chegar. Ficámos lá
mudos de admiração, os meus sipaios e eu em presença desta monumental
construção. Orientada leste/oeste, ela não tem menos de 7 metros de altura;
rectangular, com varanda muito larga; um peristilo imenso, servindo de sala de
audiência, precede a entrada dos quartos. Um trono decora este peristilo – de
terra amassada – e pintado de cor cinzento, assaz original; alguns assentos, em
planos inferiores, o rodeavam, que deviam servir de cadeiras para os grandes da
sua corte. No meio do tal peristilo, a que se sobe por dois degraus elevados,
destaca-se a porta maciça de entrada: enorme, com dois “battants”, com umas
ombreiras, ornadas de incrustações de marfim e de pau-preto, alternado (vide
croquis). O interior da palhota é imenso e compreende: Uma sala rectangular e
dois quartos grandes, separados por um corredor grande conduzindo à porta de
entrada da fachada posterior. A sala é forrada, com excepção dum quarto que
parece não terminado (vide croquis). A casa tinha um vasto sótão a que servia
de sobrado o vigamento do tecto, feito de varas de bambus – rebocadas com uma
espécie de argamassa especial. Algumas frestas davam iluminação interior,
conjuntamente com as portas. A escuridão que lá reinava era a mesma que nas
casas dos súbdito do régulo. Percorro todos os cantos, remexendo tudo para
descobrir alguma coisa, uma curiosidade, um “souvenir” qualquer – mas debalde;
apenas, lá num canto afastado, acho um barril de pólvora, vazio, algumas
panelas quebradas e uma espécie de cama de madeira, grosseiramente lavrada…
(será a cama do Mataca?). Esta mobília é um embaraço muito grande e será apenas
boa para acender o fogo da cozinha. Vou desforrando-me em destacar com uma faca
as pequenas incrustações que guarnecem as ombreiras da porta; assim terei ao
menos uma lembrança da casa. A morada do régulo, como a de muitas outras
palhotas dos chefes, é contígua a uma pequena construção muito bem feita: uma
verdadeira miniatura circundada por uma paliçada. Seria o Trianon da capital?
Não, são (quem o teria acreditado?) os W.C. do Sr. Régulo… Confesso que é a
coisa que mais me surpreendeu, pois isto revela um certo grau de civilização.
Um buraco na depressão circular constituía a fossa fixa do lugar. Cerrados
diversos, que se ligavam à residência, constituíam as dependências da casa:
cozinhas, celeiros, pombais, etc., mais longe, elevavam-se uns currais que
indicavam que o régulo possuía algumas manadas de gado. A cidade (não posso
dar-lhe este nome) estende-se – imensa – entre duas colinas, sobre uma espécie
de “plateau”, situado a 750 quilómetros de altitude, ligeiramente inclinado do
Norte ao Sul, de 42 quilómetros pouco mais ou menos (refiro-me só à vila, pois
a capital do Mataca poderia – se quisermos – principiar já desde o Lisali – o
casario não cessando com as culturas a perderem-se de vista. Estimei o número
total de palhotas em 1.800 – as dos arredores não compreendidas. Houve alguns
que asseveram ter a cidade, calculando 45 pessoas em cada cubata chega-se a
3.000 cubatas. Pensar que o núcleo do Mataca só, chegava a 10.000 pessoas!
Quase todas as habitações são rectangulares e não diferem das em uso nos outros
povos: algumas são de tecto cónico e mais singelas de construção. As moradas
dos chefes reconhecem-se pela grandeza e seu sítio. Tenho enviado sipaios a
remexer toda a vila e nada têm encontrado que possa satisfazer a minha
curiosidade. Tudo foi levado desde há muito tempo. Trouxeram-se só um arco com
flechas, esquecidos num canto, por acaso, e algumas “tablettes” com inscrições
corânicas: Árabe… ou em Swahilí. Os pretos desta região assemelham-se um pouco
ao árabe de Zanzibar (mouro) e do monhé da Índia, cujo vestuário têm adoptado,
com também certos costumes. O nível intelectual é mais elevado que o dos seus
vizinhos os lomués, matupuiris, etc.: o islamismo reina nas classes altas. E o
culto dos mortos assemelha-se ao dos muçulmanos; as tumbas, são, é facto,
sobrepujadas por um túmulo, sorte de sarcófago em terra ceirada; junto se viam
os vasos, panelas, etc. destinados piedosamente às oferendas; os túmulos são
cobertos dum telheiro de colmo, coberto de panos e vestidos dos defuntos. O do
Mataca pai, que se erguia a uns 3 quilómetros é realmente notável (Vide croquis
nºs 4 e 5). Os nossos sipaios consideravam com um certo respeito este túmulo
dos reis dos jáuas, e, quando se lançou fogo à vasta cidade, foi o Dr. Martins
que deitou o archote – (pois um sentimento de grande temos supersticioso paralisavam
os braços dos sipaios) ao túmulo do Mataca – em vingança póstuma do sacrifício
do heróico tenente Valadim. Todos os pretos, sem excepção, dormem sobre uma
espécie de quadro em madeira suportado por 4 pés. Uma rede de corda serve de
leito. A língua da terra é o jaua, mas toda a gente fala o swahilí e alguns
indígenas mesmo o escrevem. A região é muito rica. Nunca tinha visto por toda a
parte onde tenho viajado tanto terreno cultivado. Desde o mucurro Liciolo até
muito além do Mataca, os campos de savila, mandioca, feijões, ervilhas, seroco,
arroz, amendoim, bambaias, etc., não têm fim. Há bananeiras em toda a parte. Vi
mesmo cana de açúcar e tabaco. Sipaios e carregadores comem de manhã até à
tarde; bem mereciam eles tais ágapes depois de tantas privações sofridas.
Numerosos foram os que ficaram doentes por excesso de comida, pois as refeições
eram ininterruptas não só durante o dia, mas mesmo de noite. Tanto pode o cafre
estar sóbrio, segundo as circunstâncias, como pode vir a ser glutão e
desperdiçar loucamente, quando tudo tem à discrição. Ao pé da serra Lizali, a
uns 6 a 7 quilómetros do Mataca, ao Sul, acha-se o antigo sítio do Mataca pai,
onde foi assassinada a expedição do tenente Valadim em 1899 – 2 europeus e uma
centena de angolas. Só dois angolas escaparam à morte e puderam trazer a
notícia a Milange… Poucos vestígios restam da antiga vila de Mataca: algumas
palhotas muito velhas – a maior parte escangalhadas – e um cajueiro magnífico
(raridade na região); uma fonte notável pela frescura da sua água, jorra ao pé
do tal cajueiro. Um preto meu descobriu, nos arredores, uma antiga bainha de
baioneta. 20 e 21 de Outubro: Descanso. Bem necessário este repouso; os
soldados, sobretudo, estavam estafados com duas semanas de marchas
consecutivas. Todos os sipaios estão ocupados a por fogo na cidade. A questão
dos víveres (europeus) recomeça a ser o tema do dia. Ficam só 7 cabeças de gado
– e quão magros!... E as más línguas pretendem que as praças não querem beber
mais café por falta de açúcar! Os oficiais não estão tão difíceis… É um hábito
a tomar… Sempre sem notícias do tal comboio fantasma… O Major enviou há 3 dias
recados urgentes ao comandante do comboio para lhe dar ordem de parar em um
lugar designado, a fim de não se expor a correr indefinidamente atrás da
coluna, e com os riscos possíveis que isto pode trazer. De noite, grande
batuque e ouvir, na calma da noite, mais de mil bocas entoar o hino famoso
“Sinamama” da Zambézia – com um ritmo, uma união de vozes impecáveis – era
pungente. Nunca canto cafreal tanto me deleitou. 22 de Outubro: Largamos
Mataca às 6 horas queimando as últimas palhotas que haviam sido reservadas.
Destino: SSE. Falta-nos, para completar a campanha, visitar o irmão do Mataca –
régulo dos arredores e um outro grande chefe de nome Zarafi, a alguns dias de
marcha ao Sul-Este. O nosso caminho passa ao pé do Lizali, um pouco mais baixo
do antigo Mataca… No momento de contornar o Lizali, lançamos um último olhar
sobre as ruínas fumegantes do que foi o potente Mataca: Babilónia ajaua moderna,
que jamais renascerá das suas cinzas… A vista seria deslumbrante, se o céu não
fosse escurecido pelo fumo, que a brisa não chega a dispersar. Acampamento pelo
meio-dia, ao lado dum riacho bonito. 23 de Outubro: Marcha fraca de 16
quilómetros. 24 de Outubro: Chegámos às 8 horas ao rio Luângua, que
seguimos durante um momento e entrámos às 11 horas na povoação do irmão do
Mataca: um tal Chechuma. Palhotas abundantes – víveres à farta, numerosos
escravos. Na morada do chefe achou-se uma espécie de bandeira de seda,
realmente original – dum colorido indefinível, tal é a sua velhice e a sua
negridão… causada pelo fumo – mas suponho que devia ser carmesim. Parece igual
à bandeira de que usam os árabes nas suas festas religiosas. Achou-se também
uma “Muchira à Condo” ou rabo de guerra, que deve ter pertencido a uma chefe de
guerra da localidade. É um dos maiores feitiços dos pretos, este rabo de guerra
– e objecto de maior veneração; é simplesmente a cauda dum rinoceronte (às
vezes dum gnu ou dum mudoda) enfaixada num pedaço de pano adornado com
missangas, anéis e outras futilidades. O cabo de guerra leva ostensivamente
esta cauda, quer no pescoço, quer à cinta ou ainda no cano da espingarda. Este
“Muchira à Condo” é o emblema da vitória. Quem o traz não pode ser vencido,
pois é assegurado da imunidade em combate, da coragem e da força dos grandes
guerreiros seus avós, mas é necessário ainda que as cerimónias tenham sido
propiciatórias. Um chefe de guerra que partisse sem a sua Muchira seria vencido
de antemão; os seus súbditos não o seguiriam muito longe por falta de confiança
e da mais simples consideração. Toda a gente sabe que os cafres, como todos os
povos supersticiosos, têm feitiços para tudo e para todos os actos da sua vida:
para a guerra, para o amor, para as doenças, para as viagens, sem esquecer a
caça. Têm feiticeiros habituais, que têm nomes diferentes, segundo a
importância do feiticeiro e da cerimónia. Seria sair do quadro destas simples
notas descrevê-los aqui. Às 6 horas da tarde o Major recebe uma carta do
comandante do comboio fantasma, avisando S. Exa. Da sua chegada a … Mataca
(!!!) e rogando a S. Exa. De lhe designar o lugar onde poderá encontrar-nos.
Para uma “chance”, eis uma “chance” insensata. O Major decide, pois, ficarmos
aqui amanhã para esperar o tal comboio, que era com evidência o mais certo.
Pequena chuva pelas 7 horas, a primeira de toda a estação e da campanha. Grande
sorte tivemos sob este ponto de vista, pois não vejo bem onde estaríamos se
tivéssemos tido mau tempo, pois as doenças não nos teriam poupado e não ficaria
talvez um único soldado capaz. 25 de Outubro: Descanso. Este
bem-aventurado comboio – tornado tristemente célebre pela sua demora, chega
enfim à tarde. Mas com grande assombro de todos só traz 4 caixas de massa, alguns
barris de vinho, pequenas e diversas caixas sem grande importância. Como num
desprezível chumbo, este ouro havia sido mudado! E nós que tanto nos
regozijámos! Mas como é isto possível? E por qual subterfúgio todos estes
sonhos de mil e uma noites foram brutalmente mudados em tão pobre
acontecimento? Valia a pena fazer-nos secar a língua tanto tempo. Que pungente
desilusão! Mas para acalmar-nos e apaziguar a nossa indignação conta-se que a
maior parte do comboio ficou… em Napulu, como reserva. É simplesmente por
sentimento de previdência bem entendido, meus senhores! Faz-me lembrar a
política do Gribouille que se deitava à água para não se molhar. Teimou-se que,
chegando a Napulu, nada nos ficaria. O seguro morreu de velho, diz um ditado
português, e aplicou-se à risca a sabedoria lusitana. Somente receio muito que
uma tal previdência se torne contra nós. Era bom ver a cara do Bívar… em tal
momento, a do Bívar… e dos outros. Valha-nos Deus que à gente esteja assegurada
esta tal reserva, que se quis guardar em Napulu… existe realmente, pois as
más-línguas desesperam um tanto. Com o comboio chegam também 40 praças
(angolas) e dois alferes e mais o Doutor que acompanhou os doentes a Zomba. O
oficial da administração, encarregado em Setembro de comprar os víveres, ficou
sabiamente em Napulu. Tem que se notar – “en passant” – a “chance” inaudita
desse comboio que pode atravessar uns 200 quilómetros de país inimigo sem
jamais ter tido o menor embaraço, nem uma aparência de hostilidade! É de
pasmar! Com o tal comboio veio também o Sr. Sideram (holandês) muito conhecido
na região, como no B.C.A. Foi o tal senhor que foi vítima dos lomués há tempos;
a sua caravana foi aniquilada perto de Kouemba e ele conseguiu salvar-se por
verdadeiro milagre. O Sinderam leva com ele dois ministros plenipotenciários:
um é do Mataca e o outro do Zarafi. Estes dois delegados querem-nos fazer saber
que reconhecem a soberania de Portugal e que estão prontos a submeterem-se a
todas as nossas condições. O Major fez responder ao Mataca de vir
apresentar-se, ele mesmo para o “pegar-pé” (submissão). Enquanto ao Zarafi, que
havia já enviado uma ponta de marfim, o encontraremos daqui a pouco. Vamos
esperar durante dois ou três dias para receber a resposta do Mataca, mas duvido
fortemente que ele venha em pessoa fazer a sua submissão. Deve ter boas razões
– as do seu feiticeiro – para julgar que uma vez em nossas mãos, a sua vida
poderia correr algum perigo, e que, estaria privado da sua liberdade. Estando a
campanha por assim dizer terminada, peço ao Major licença de voltar a Milange,
com o Bastos e os sipaios. Explico-lhe que com as dificuldades sofridas pela
Companhia e a ausência do meu irmão, saído para Lisboa, era da maior
importância para mim tentar ganhar alguns dias. Esta licença é-me negada e é
difícil adivinhar porquê. Estou, pois, condenado a perder ainda um mês – e
talvez mais – isto é, o tempo que levará a coluna a regressar a Milange… se
tudo correr bem. Resta-me só um recurso: telegrafar a S. Exa. o Governador. De
tarde chegam as bagagens do Sr. Sinderam e com elas algumas cartas para mim, a
qual a mais recente é de 15 de Agosto, de Quelimane. Outras são de minha mãe,
de Junho e Julho. Grande alegria, pois já lá vão 4 meses que não tinha notícias
de casa. Há também outra carta do nosso Director que me reclama com urgência em
Namacurra e que acompanha uma outra do mano, confirmando essa ordem. Posso só
responder à pressa, pelo intermediário de Sinderam, ao Director da C. B. (nota
do Autor: Companhia do Boror) que não me foi possível voltar quando foi da
recepção do telegrama do Sr. Machado (Dr. da C.Z.) (nota do Autor: C.Z. –
Companhia da Zambézia) do 8/9 passado pelas razões que indiquei no meu
telegrama via Zomba do dia 12 de Setembro. 26 de Outubro: Descanso. 27
de Outubro: Incidente com o Major, por uma futilidade. Um nada, mas que se
pode explicar pelo estado de fadiga e do enervamento de S. Exa., a respeito do
itinerário da coluna – que tenho levantado desde Milange. No nosso regresso de
Kouemba, havia eu traçado sobre o mapa oficial do Major, o percurso da coluna.
Não podia está claro negar esta comunicação pois era o único que tinha feito
este trabalho. Ora, na tarde, o Major enviou-me o seu ajudante: o C. – para
pedir-me que lhe traçasse agora a marcha da coluna desde Napulu até aqui. Fiz
gentilmente observar ao C. que o Tenente Terry, na sua qualidade de chefe de
exploração, tinha também levantado o itinerário – e como ele era o meu chefe
directo – não julgava dever dar comunicação do meu trabalho sem prevenir o
Terry. De que maneira o bom do C. deu parte ao Major da minha resposta? Não o
pude saber, mas o facto é que S. Exa. veio, furioso, à minha presença, fazer-me
uns “reproches” violentos. Por pouco, teria eu ofendido S. Exa. Muito calmo,
fiz observar a S. Exa. que o pedido feito parecia-me a mim uma falta de atenção
para quem estivesse oficialmente encarregado deste serviço, tanto mais que o
trabalho do Terry valia tanto como o meu, senão mais e que o Terry poderia
ficar magoado da preferência que S. Exa. me quis mostrar. Esta resposta teve o
ensejo, infelizmente, de exasperar o Major, que perdendo toda a calma, chegou a
dizer-me: que não me reconhecia mais por oficial, que me proibia a mesa comum,
etc. Por pouco, fazia-me passar em conselho de guerra. Grande agitação no meio de
todos, em consequência destas medidas. A simpatia que me testemunharam todos,
consolou-me do rigor com que tinha sido injustamente tratado, por querer poupar
o amor-próprio dum amigo meu. Terry foi sobretudo tão sinceramente afectado,
que veio, sem tardar, assentar-se à minha mesa, o que me comoveu imenso. Deus
queira que este gesto não torne maior a ira do Major. 28 e 29 de Outubro:
Esperamos sempre a vinda do Mataca. Creio que podemos esperar muito tempo. Na
tarde do dia, o Zarafi mandou uma ponta de marfim e uma escrava, como prova de
submissão. No dia 29, recebeu-se alguns cabritos e uma segunda escrava – não
sei de qual chefe vizinho. Decide-se que partiremos amanhã, sem mais espera. 30
de Outubro: Saída às 5,30 horas. Chegamos ao Zarafi às 11 horas, última
etapa da expedição. Pelas 3 horas, Zarafi em pessoa apresenta-se. De tarde
grande trovoada e primeira chuva forte da estação. O tempo parece bem pegado.
Chove grande parte da noite, uma miséria para os soldados. 31 de Outubro:
Descanso. Mataca manda igualmente uma ponta de marfim em sinal de vassalagem.
Forte chuva às 6,30 horas que dura até à W.H. (?). Os soldados recebem só uma
refeição fria, pois é impossível fazer a cozinha. O “mestre” não me parece
muito “debrouillard” (desembaraçado).
.............................................................................
*************************************************
RECORDANDO LENDAS E HISTÓRIAS DE ÁFRICA
Nehanda - (Dande, 1863 - Harare, 27/04/1898) - Feiticeira e líder espiritual do povo shona. Rezam as lendas e as tradições orais que, tendo registado a existência duma primeira Nehanda (ou Nyanda) no século XV esta, sendo descendente dum líder shona houve que se submeter à prática do incesto com um seu irmão, após a morte do pai, como era costume naquela época, a fim de se manter a autoridade política nas mãos da mesma família. Mas, continua a lenda sem especificar pormenores, esta Nyanda acabou por desaparecer na fenda duma colina mas o seu espírito continuou a pairar protectoramente sobre o seu povo.
Para os shonas, Nehanda tornou-se um espírito protector muito forte e a sua descendência fica assegurada quando, após a morte física duma, o seu espírito vagueia por entre as florestas até encontrar uma outra mulher que reconhece que está apta a acolher o seu espírito. Quando tal sucede o espírito deixa de vagabundear e incorpora-se no novo corpo femenino que encontra, assumindo esta todas as funções mágico-religiosas da falecida acabando, depois, por ser reconhecida pelas outras médiuns do Reino shona como encarnadora do espírito do Leão da Montanha.
Na última década do século XIX, assistimos ao avanço das forças britânicas da British South Africa Company (BSAC), de Cecil Rhodes, a instalarem-se no que é hoje o Zimbabwé. O seu avanço, precedido inicialmente por missionários e meia dúzia de brancos, é lento mas gradual e firme. Jogando entre as rivalidades nbedeles (instalados mais a Sul) e os shonas (instalados mais a Norte), o colonialismo britânico vai-se internando e vencendo resistências mais ou menos armadas que serão melhor analisadas quando abordar a História do Zimbabwé.
A Nehanda a que se prende este texto terá nascido cerca de 1863 tendo, inicialmente, o nome de Chargwé. Tornando-se Nehanda em data desconhecida, após ter sido capturada pelo espírito duma outra, conforme a lenda e a tradição shona, fixou-se no vale do Mazoe onde montou o seu santuário. Quando a BSAC se instala em Harare, os missionários e os mercadores avançam mais para Norte em direcção a Mazoe. O Rei Lobengula, dos nebedeles já fora derrotado pela BSAC, e os shonas, sem o poder centralizado também não seriam grande ameaça, face ao poder de fogo e disciplina das forças para-militares britânicas.
Mas a prepotência dos brancos, considerando-se senhores absolutos das terras e dos povos acabou por levar à sublevação shona sendo, um dos rastilhos da eclosão desta revolta, o comportamento tirânico de Pollard, Comissário para os Assuntos Indígenas da zona de Mazoe. A revolta shona eclode, abençoada e incitada por Nehanda que cauciona a prisão do Comissário Pollard a quem o obriga a trabalhar como seu escravo e, depois manda matá-lo (1896). Foi um erro crasso pois os britânicos, já senhores do terreno, detentores do poder das armas de fogo e já caldeados em campanhas de subjugação de povos, não iriam deixar passar em branco a morte dum comissário branco às mãos de negros.
A repressão abate-se sobre os revoltosos e nem os esconderijos destes nas grutas e fendas montanhosas os salvam de morte, pois os britânicos dinamitam tudo. Reforços militares vindo da África do Sul desembarcam no porto moçambicano da Beira, seguem directos para Untáli e foi uma questão de tempo que, mesmo assim, durou cerca de um ano, mais ou menos. Em Setembro de 1897 os britânicos obtêm a rendição dum dos líderes da revolta, o Chefe Makoni e depois capturam outro líder rebelde, Kagubi. Praticamente apenas Nehanda agora liderava a rebelião mas, perseguida, retira-se para a sua Dande natal, onde acaba por se render. Claudicava assim a rebelião shona e era o triunfo do colonialismo britânico em toda a linha.
Prisão de Nehande (ao centro)
Nehanda foi levada presa para Harare, juntamente com Kagubi. Em 02 de Abril de 1898 inicia-se o julgamento de ambos, que culmina com a sentença da condenação à morte por enforcamento, facto que se vem a consumar a 27 de Abril seguinte. Reza a História que até o alçapão se abrir e provocar a queda do seu corpo no vazio, Nehande não parou de dançar e clamar contra os seus opressores. Morreu abraçada às suas convicções.
...................................................................................
Em homenagem a esta mulher, o agrupamento zimbabuano "Harare Mambos "lançou uma música de tributo a ela com o nome de Mbuya Nehanda (Avó Nehanda) que se reproduz de seguida.
**************************************************
LIVROS
Título: Recriar África (cultura, parentesco e religião no mundo afro-português 1441/1770)
Autor: James H. Sweet
Editora: Edições 70 - Lisboa Ano: 2007 Género: ensaio histórico-sociológico Páginas: 350
Trata-se dum ensaio onde o Autor analisa a saga dos escravos africanos que, sobreviventes da forçada travessia atlântica para o Brasil, mantiveram os seus comportamentos africanos nas paragens sul-americanas, levando com eles muitas das suas tradições e práticas místico-religiosas, para além doutras tais como as danças, os comeres, as estruturas de parentesco e de hierarquização social, rituais fúnebres e sociedades secretas, mantendo essas práticas nos primeiros anos de vida no Brasil até que, com o rolar dos anos e das sequências geracionais, esses rituais foram-se transformando de molde a adaptarem-se à nova realidade da sociedade brasileira. Trata-se dum olhar sobre o incremento da cultura africana na emergente sociedade brasileira, que veio a originar a expansão da mestiçagem naquela colónia, como forma de sobrevivência cultural.
/////////////////////////////////////////////////////////////////////
Título: O legado de Nhô Filili
Autor: Luís Urgais (pseudónimo de Luís Manuel de Sousa Teixeira)
Editora: Oficina do Livro - Alfragide Ano: 2012 Género: Romance Páginas: 223
Romance centrado em Cabo Verde, que aborda a relação amorosa entre um europeu, Nhô Filili (José Bento Rodrigues) e a cativa Maguika, capturada nas matas da Guiné e levada para o arquipélago, tornando-se propriedade daquele. Tomando-a de amores ardentes, casa-se com a mesma, desafiando os cânones da época e escandalizando a sociedade colonial de então. E este assumir de cruzamento de raça e cultura acaba por se tornar no legado que Nhô Filili transmite aos seus. Temporizado entre os meados dos séculos XIX (1869, ano de nascimento de José Bento Rodrigues em simultâneo com o decreto real que aboliu a escravatura) e meados do século XX, o romance atravessa o fim da monarquia, a ascensão e queda da Primeira República e os primórdios da Ditadura, retratando uma Cabo Verde bela e generosa mas também pobre e miserável, demonstrando o Autor um bom conhecimento da sociedade e da História de Cabo Verde.
***************************************************
EFEMÉRIDE HISTÓRICA
Batalha de Alcácer-Quibir - 04 de Agosto de 1578
Considerado o maior desastre político-militar da História de Portugal, esta contenda, também conhecida popularmente pela "Batalha dos Três Reis"(1), ao findar deu início à contagem decrescente para a perca da nossa independência nacional, facto este que viria a ocorrer dois anos mais tarde.
Em 1576 Mulay Mohamed, Xerife de Marrocos, pede a Dom Sebastião que o ajude a recuperar o trono, donde fora corrido pelo seu tio Mulei Moluco, que fora auxiliado nos seus intentos pelos otomanos. Estava arranjado o pretexto que o jovem e imaturo Monarca português carecia para legitimar e justificar uma expedição à África nortenha, naquilo que era um dos seus sonhos constantes como forma de o mitificar como um grande Rei guerreiro.
Caldear o fio da sua espada no sal sanguíneo da moirama infiel (mesmo que fosse para ajudar outro infiel) era um desejo ardente que acalentava há muito. Para tal se preparara em torneios e justas, caçadas e duelos de espadas, reunindo à sua volta uma corte de aduladores que a ele, Rei, a tudo o mimavam e aos interesses do Reino, a tudo minavam. Se às espadas e lanças dizia sim, às mulheres dizia não, contrariando cuidados conselhos que lhe recomendavam casamento frutificado com varão vivo, para garantir a continuidade da Coroa em caso de, no arriscado desaire africano, por lá se ficar. Não fosse o Demo tecê-las. E o Demo teceu mesmo.
Na ânsia de perseguir o mouro, louco que já era fez ouvidos de mercador mouco a estes conselhos e a outros que tais, como os custos ruinosos da expedição que, de concreto, nada traria de bens e benesses para o Reino, salvo uma efémera e vã glória das armas, que a brisa do tempo logo removeria da memória dos homens como se de areia do deserto se tratasse. Impondo a sua determinação, coadjudado por uma cáfila de conselheiros capados, incapazes de lhe dizerem não, porque ávidos eram do saque dos corpos mortos e de escravas vivas de pele tisnada.
El-Rei Sebastião arregimentou, para este evento, cerca duma vintena de milhar de homens, maioritariamente forçados, dos quais uns cinco mil desgarrados de várias nações mas com garra para o mercenarismo e, reza a lenda ou a História (nunca o apurei), vaidade das vaidades, mandou vir de Coimbra o pesado espadeirame do "Conquistador", o fundador da nacionalidade que ele acabaria por destruir. "Gloria sic transit mundi".
Embarcaram os cerca de vinte mil homens, mais as armas, ligeiras e de artilharia e as montadas, mais os animais alimentares e de tracção e, muito importante para esta expedição, dez mil guitarras, tal era a sobranceria com que os faunos encaravam, soberbamente, as suas sortes. Aportaram a Tânger a 07 de Julho 1578 e alcançaram Arzila quatro dias mais tarde, acabando aqui o cruzeiro mediterrânico. Depois... o pó do deserto e a incerteza do apoio popular a caminho de Larache.
Mas, a 01 de Agosto e na beiramas marginais do rio Mocazim, a vintena e meia de quilómetros do povoado de Alcácer-Quibir as forças lusas avistam cavalaria moirama. Entre conselhos de evitar o confronto naquele momento ou de ir à liça e mostrar quem realmente impunha o andar dos acontecimentos, El Rei Sebastião, arrebatado e desavisado como sempre, optou pelo combate não considerando os conselhos mais cuidados.
E no raiar do dia 04 de Agosto, entre os toques das trompas lusas e dos atabales mouriscos os exércitos antagónicos puseram-se em posição de combate. Apanhados de surpresa, por as força de Mulei Moluco disporem de artilharia da qual davam bom uso, as forças portuguesas lá foram pelejando, por Cristo, por El-Rei, por São Jorge e por Portugal na versão oficial. Na prática quase todos combatiam era pela vida e pelo saque, se tivessem a sorte de serem sobrevivos após a peleja.
Rapidamente a infantaria, cavalaria e a artilharia mouras, num proporção numérica superior de quatro para um, segundo alguns, desmoronaram as pretensões portuguesas. E, no meio da refrega, a explosão acidental de grande parte do poderio de pólvora que presumia estar ponderadamente posta nas carroças portuguesas, ainda mais veio a debilitar e desmoralizar as nossas forças. Em fuga acobertada e acobardada, o pretendente à recuperação do trono, Mulay Mohamed, acabaria por morrer afogado no rio Mocazim.
Sorte semelhante no finamento (mas não em fuga ) terá tido o seu tio, o titular reinante Mulei Moluco. Já bastante doente e febril, podendo apenas deslocar-se em liteira, resolveu-se a montar num cavalo para animar as suas tropas, mas tal esforço acabou de vez com o seu coração, tendo a sua morte sido ocultada, inteligentemente, até ao fim da batalha para não desmoralizar as suas forças.
El Rei Sebastião combatia furiosamente desnorteado. Mudava de montada e, à sua volta, os seus fiéis companheiros já só se preocupavam em resguardar-lhe a vida e, em vão, tentavam convecê-lo a baixar a espada e a render-se. "Senhores, a liberdade real só se há-de perder com a vida", poderão ter sido muito provavelmente as suas últimas palavras quando, a cavalo, se lançou doidamente para o turbilhão nuclear do combate. Outros dirão que foi: "Morrer sim, mas devagar". Mais palavra menos discurso a verdade é que ninguém o viu a ser morto, segundo uns. Segundo outros foi cercado por um grupo de combatentes inimigos que o despojaram e cutilaram-lhe a cabeça. Irrelevante. Para a História, nua e crua, fica apenas o registo de desaparecido em combate. Morrendo o Rei na loucura do seu "quero, posso e mando", nascia a louca lenda do seu regresso, algures numa mui madruga manhã nevoenta. À conta da posterior governança castelhana de "Detestado" passou a "Desejado".
Em 1576 Mulay Mohamed, Xerife de Marrocos, pede a Dom Sebastião que o ajude a recuperar o trono, donde fora corrido pelo seu tio Mulei Moluco, que fora auxiliado nos seus intentos pelos otomanos. Estava arranjado o pretexto que o jovem e imaturo Monarca português carecia para legitimar e justificar uma expedição à África nortenha, naquilo que era um dos seus sonhos constantes como forma de o mitificar como um grande Rei guerreiro.
Caldear o fio da sua espada no sal sanguíneo da moirama infiel (mesmo que fosse para ajudar outro infiel) era um desejo ardente que acalentava há muito. Para tal se preparara em torneios e justas, caçadas e duelos de espadas, reunindo à sua volta uma corte de aduladores que a ele, Rei, a tudo o mimavam e aos interesses do Reino, a tudo minavam. Se às espadas e lanças dizia sim, às mulheres dizia não, contrariando cuidados conselhos que lhe recomendavam casamento frutificado com varão vivo, para garantir a continuidade da Coroa em caso de, no arriscado desaire africano, por lá se ficar. Não fosse o Demo tecê-las. E o Demo teceu mesmo.
Na ânsia de perseguir o mouro, louco que já era fez ouvidos de mercador mouco a estes conselhos e a outros que tais, como os custos ruinosos da expedição que, de concreto, nada traria de bens e benesses para o Reino, salvo uma efémera e vã glória das armas, que a brisa do tempo logo removeria da memória dos homens como se de areia do deserto se tratasse. Impondo a sua determinação, coadjudado por uma cáfila de conselheiros capados, incapazes de lhe dizerem não, porque ávidos eram do saque dos corpos mortos e de escravas vivas de pele tisnada.
El-Rei Sebastião arregimentou, para este evento, cerca duma vintena de milhar de homens, maioritariamente forçados, dos quais uns cinco mil desgarrados de várias nações mas com garra para o mercenarismo e, reza a lenda ou a História (nunca o apurei), vaidade das vaidades, mandou vir de Coimbra o pesado espadeirame do "Conquistador", o fundador da nacionalidade que ele acabaria por destruir. "Gloria sic transit mundi".
Embarcaram os cerca de vinte mil homens, mais as armas, ligeiras e de artilharia e as montadas, mais os animais alimentares e de tracção e, muito importante para esta expedição, dez mil guitarras, tal era a sobranceria com que os faunos encaravam, soberbamente, as suas sortes. Aportaram a Tânger a 07 de Julho 1578 e alcançaram Arzila quatro dias mais tarde, acabando aqui o cruzeiro mediterrânico. Depois... o pó do deserto e a incerteza do apoio popular a caminho de Larache.
Mas, a 01 de Agosto e na beiramas marginais do rio Mocazim, a vintena e meia de quilómetros do povoado de Alcácer-Quibir as forças lusas avistam cavalaria moirama. Entre conselhos de evitar o confronto naquele momento ou de ir à liça e mostrar quem realmente impunha o andar dos acontecimentos, El Rei Sebastião, arrebatado e desavisado como sempre, optou pelo combate não considerando os conselhos mais cuidados.
(Nota: imagem retirada do blogue www.areamilitar.net)
E no raiar do dia 04 de Agosto, entre os toques das trompas lusas e dos atabales mouriscos os exércitos antagónicos puseram-se em posição de combate. Apanhados de surpresa, por as força de Mulei Moluco disporem de artilharia da qual davam bom uso, as forças portuguesas lá foram pelejando, por Cristo, por El-Rei, por São Jorge e por Portugal na versão oficial. Na prática quase todos combatiam era pela vida e pelo saque, se tivessem a sorte de serem sobrevivos após a peleja.
Rapidamente a infantaria, cavalaria e a artilharia mouras, num proporção numérica superior de quatro para um, segundo alguns, desmoronaram as pretensões portuguesas. E, no meio da refrega, a explosão acidental de grande parte do poderio de pólvora que presumia estar ponderadamente posta nas carroças portuguesas, ainda mais veio a debilitar e desmoralizar as nossas forças. Em fuga acobertada e acobardada, o pretendente à recuperação do trono, Mulay Mohamed, acabaria por morrer afogado no rio Mocazim.
Sorte semelhante no finamento (mas não em fuga ) terá tido o seu tio, o titular reinante Mulei Moluco. Já bastante doente e febril, podendo apenas deslocar-se em liteira, resolveu-se a montar num cavalo para animar as suas tropas, mas tal esforço acabou de vez com o seu coração, tendo a sua morte sido ocultada, inteligentemente, até ao fim da batalha para não desmoralizar as suas forças.
El Rei Sebastião combatia furiosamente desnorteado. Mudava de montada e, à sua volta, os seus fiéis companheiros já só se preocupavam em resguardar-lhe a vida e, em vão, tentavam convecê-lo a baixar a espada e a render-se. "Senhores, a liberdade real só se há-de perder com a vida", poderão ter sido muito provavelmente as suas últimas palavras quando, a cavalo, se lançou doidamente para o turbilhão nuclear do combate. Outros dirão que foi: "Morrer sim, mas devagar". Mais palavra menos discurso a verdade é que ninguém o viu a ser morto, segundo uns. Segundo outros foi cercado por um grupo de combatentes inimigos que o despojaram e cutilaram-lhe a cabeça. Irrelevante. Para a História, nua e crua, fica apenas o registo de desaparecido em combate. Morrendo o Rei na loucura do seu "quero, posso e mando", nascia a louca lenda do seu regresso, algures numa mui madruga manhã nevoenta. À conta da posterior governança castelhana de "Detestado" passou a "Desejado".
No saldo sanguinolento desta batalha, umas sete a dez mil lusalmas das que aí pelejaram partiriam, embaladas na balada burilada da cantiga glorificante da morte purificadora, para as profundezas redentoras do Reino de Hades. Aos outros, desgraçadamente ainda a respirarem, coube-lhes a humilhação total das prisões totalitárias com todas as subsequentes sujeições sabujas, até que algum resgate pago a peso de ouro ou, no concreto duma fuga assaz feliz, tivessem permitido o regresso a um resignado Reino resilente. Alguns voltariam anos mais tarde, tristes para contar a triste História que todos já sabiam ter tido um triste final. Éramos espanhóis forçados (ou talvez nem tanto) depois de termos sido portugueses libertados. Demoraríamos sessenta anos a reiniciarmos a recuperação do retorno da redenção do Reino.
Jeronymo de Mendonça, que combateu em Alcácer-Quibir e que a ela foi sobrevivo acabou cativo e, mais tarde, comprou o resgate da sua liberdade, o que lhe permitiu recuperar os anos perdidos e regressar ao Reino, anos volvidos. Escreveu as suas memórias desta penosa purga, no seu histórico-memorial "Jornada de África" (2) dizendo, sobre o destino de El Rei Sebastião: "El-Rei neste tempo bem certificado de tanta desventura, depois de lhe matarem outro cavalo, fazendo as maravilhas que todo o mundo viu, andava acompanhado de alguns fidalgos que pretendiam salvá-lo a troco de suas vidas, quando se viu cercado de uma multidão de Alarves, donde não sentindo os que o acompanhavam algum remédio a sua salvação, se apartou um deles por conselho dos mais com um lenço posto na ponta da espada, e dando conta aos mouros como ali estava El-Rei, no melhor modo que lhe foi possível lhe responderam que largassem as armas primeiro e então poderiam tratar do que lhe convinha. A qual resposta El-Rei sentiu de maneira, que sem escutar mais acordo se lançou a eles furiosamente, acompanhados dos que o seguiam, pelejando todos com desesperada ousadia por sua salvação, onde dizem que caiu depois de morto o cavalo. Até esse passo houve algumas pessoas dignas de fé que ousaram revelar o acontecido, porém se viram mais, não se sabe, o que se viu sempre claramente é que nunca alguém disse que vira matar a El-Rei e não é muito realmente, pois nenhum homem que ficasse vivo é razão que tal confesse." (Volume I - pág. 83/84). Sebastião morreu como um Soldado valoroso, porque não soube nem comandar como General nem viver como um Rei.
Monumento evocativo da batalha de Alcácer-Quibir
Jovem imberbe, caprichoso, imprudente, surdo aos sábios conselhos, rodeado de bajuladores, habituado a ver todas as suas vontades satisfeitas, impreparado para exercer o real cargo, dotado de um ego maior que o seu físico, sonhador de grandes feitos militares que o alcandorariam aos pináculos da Ibéria e, depois, da Europa, El Rei Sebastião e a sua corte de aduladores planearam mal a expedição, arrastaram uns vinte mil homens para a morte ou cativeiro e, pior que tudo, arruinaram todo um património político de independência nacional e imperial que levaria seis décadas até se começar a reconstruir de novo. Tudo claudicado por um miúdo de vinte e quatro anos que, numa breve centelha do Tempo, julgou-se ser a desaparecida cabeça da helénica Samortácia. Se a conhecesse, pelo menos pedantismo para propôr isso pediria.
.......................................................
(1) - Batalha dos Três Reis" porque nela pereceram os três reis em contenda: Molei Moluco, Mulay Mahomed e Dom Sebastião.
(2) - Jeronymo de Mendonça - Jornada de África - Escriptório, Lisboa, 1904 - 3ª edição - Dois volumes. /// Sobre este livro registe-se que a primeira ediçãofoi em 1607, a segunda foi em 1785 e só em 1904 é que saiu a terceira edição.
(2) - Jeronymo de Mendonça - Jornada de África - Escriptório, Lisboa, 1904 - 3ª edição - Dois volumes. /// Sobre este livro registe-se que a primeira ediçãofoi em 1607, a segunda foi em 1785 e só em 1904 é que saiu a terceira edição.
//////////////////////////////////////////////////////////////////////
Leitura
Sobre este tema, tão cáustico do nosso passado histórico, a escritora Deana Barroqueiro brindou-nos brilhantemente com um romance histório, saído à estampa em 2006 e sob a égide da Porto Editora, que titulou de "Dom Sebastião e o vidente" (629 págs.).
Ao longo do livro vamo-nos entranhando no cruzamento das vidas de Sebastião, que viria a ser Rei suicidário e de Miguel Leitão de Andrada, seu escudeiro e seu vidente e que o acompanharia, desde jovem até à hecatombe marroquina ao que, sobrevivo à mesma, seria um dos mensageiros documentados da má-nova que todos já sabiam, no seu retorno ao Reino.
Como sempre Deana Barroqueiro conduz-nos, na máquina do tempo que é este seu livro, com a mestria duma guia-mor, pelos nublosos corredores palacianos da corte na capital lusa, pejadas de ilusões, alegrias, intrigas, dislates e também pelo País profundo de então, com as suas romarias, surpestições e crendices.
Desde o relato do real nascimento da criança em dia de São Sebastião que lhe originaria a causa do seu nome, passando pelo seu crescimento afastado de carinhos e amores familiares até ao desenlace alquibiriano onde Sebastião, qual émulo dum belicoso espartano, fez a sua catarse pessoal e arrastou todo um viveiro parasitário de nobres e um conjunto valoroso de guerreiros para a honraria da morte estupidamente heróica ou para a humilhação duma prisão dos descendentes almorávidas onde, escravizados e andrajosos, muitos buscarão a sua liberdade com o passaporte da morte humilhante ou pela permuta de posses que ainda possuíam no País partido.
Se se pede que, num romance histórico, qual balança de dois pratos, haja um equilíbro calibrado entre a voluptuosidade de um romance e a aridez dum compêndio de História, Deana Barroqueiro diverte-se a baralhar-nos as contas pois, ao imergirmos na leitura deste romance que versa um facto histórico, depois de o lermos, emergimos dele com conhecimentos da História, porque o houvemos lido prazenteiramente como se de um romance se tratasse (e que na realidade o é).
Suportado (como sempre é de seu timbre) numa extensa rede de apoio bibliográfica, a Autora desta excelente obra ainda cuidou, em final de livro, de nos bandejar umas mui pequenas súmulas biográficas dos intervenientes directos e indirectos desta tragédia ajudando, destarte, a enquadrar o leitor menos conhecedor destes factos. Se fosse um soneto... chamaria a isto a sua "chave d´ouro".
///////////////////////////////////////////////////////////////////////
Manuel Alegre, vate de eleição e que já por mim foi abordado anteriormente tem, dentre a sua poesia, temas onde aborda o sebastianismo. Um exemplo é o que se reporduz de seguida.
"Abaixo El Rei Sebastião", autoria de Manuel Alegre, que
o declama acompanhado por Carlos Paredes à guitarra.
o declama acompanhado por Carlos Paredes à guitarra.
/////////////////////////////////////////////////////////////////////////
Lembro-me que um dos grandes êxitos do "Quarteto 1111", conjunto da década de 60 e liderado por José Cid, foi precisamente o tema das lendas que se criaram sobre o destino de Dom Sebastião, após a batalha. Quem de nós é que não trauteou esta canção ou não conhece a sua letra?
"A lenda del-Rei Dom Sebstião",
interpretada por José Cid e seus amigos
interpretada por José Cid e seus amigos
***********************************************
DOCUMENTÁRIO
"A história do racismo" é um excelente documentário assinado pela BBC, com uma duração de cerca de duas horas e meia. Legendado em português transporta-nos, por este Mundo fora, a ver os actos rácicos e genocidas perpretados em nome de ideologias, religiões, governos ou interesses económicos.
******************************************************
MÚSICA
Estava a trabalhar no computador com o rádio sintonizado na "Smooth" quando me apercebi que esta estação de rádio estava a efectuar um excelente programa dedicado ao género musical Bossa Nova e tendo, como pano de fundo, a música "Garota de Ipanema", que faz hoje (02/08/2012) precisamente 50 anos que foi lançada para o estrelato mundial.
"A garota de Ipanema", com Tom Jobim (teclas)
e Vinícius de Morais (voz)
Da autoria de Tom Jobim e de Vinicius de Morais, a referida música reportava-se a uma garota de 15 anos de idade que todos os dias ia para a praia de Ipanema e, a caminho da mesma, passava frente à esplanada da Bar Veloso, onde os músicos se juntavam sempre para tomarem uma bebida. Foi a beleza do seu andar voluptuoso que acabou por inspirar a criação desta música que se tornou numa das mais famosas e mais reproduzidas a nível mundial.
"A garota de Ipanema" na altura,
como musa inspiradora
A garota em causa veio a ser identificada posteriormente, por Vinícius de Morais, como sendo Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto que, mais tarde, catapultada para a fama adoptaria o nome artístico de Helô Pinheiro, que mantém até aos dias de hoje.
"A garota de Ipanema",
hoje em dia.
A música em causa veio a estar na génese do relançamento do estilo musical Bossa Nova, como uma das referências de marca daquele País, ombreando com o samba.
***********************************************
PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA
Como cuidarmos das nossas florestas
..................................................................................
Um documentário que aborda a pujante beleza das florestas tropicais
**********************************************
NESTA QUINZENA ACONTECEU...
Mali - Um casal foi morto por apedrejamento pelos tuaregues islâmicos, em Aguelhik (cidade do Norte do Mali) que fizeram cumprir a lei da sharia, ao acusá-los de adultério, atendendo a que viviam juntos mas não estavam formalmente casados. Para cumprimento da sentença enterraram o casal, deixando ambos com a cabeça de fora e, perante a assistência de 200 pessoas, apedrejaram-nos até à morte, tendo a senhora sido a primeira a falecer. Ficaram orfãs duas crianças, uma delas com seis meses. (Público, 30/07/2012)
Tudo em nome de Allah, o Misericordioso.
////////////////////////////////////////////////////////////////
Papua Nova Guiné - Vinte pessoas relataram à Polícia terem participado um festim canibal ao terem morto sete feiticeiros e comido os seus miolos crus acompanhado duma sopa feita com os pénis ficando, assim, na posse dos seus poderes mágicos. Calcula a Polícia que, nas regiões mais remotas do País, ainda subsistem cerca de um milhar de canibais. (Visão, 26/07/2012).
***********************
************************************************
***********************
DECLARAÇÕES DE INTERESSE
Os textos são escritos com desrespeito pelas novas normas do Acordo Ortográfico. O Autor recusa-se a colaborar com o aumento do PIB nacional à custa da mercantilização da nossa Língua.
...........................................................................
Todas as referências da presente mensagem referentes a produtos tais como livros, filmes, músicas, fotografias, etc., e também a Autores, são incompatíveis com intuitos publicitários de carácter comercial. Reflectem, apenas, a opinião do Autor.
...........................................................................
As fotografias e os vídeos constantes na presente mensagem foram colhidos, respectivamente, do Google Imagens e do Youtube. Assim, a sua utilização não implica a concordância dos Autores dos mesmos com as opiniões constantes no texto onde estão inseridos.
........................................................................
E agora... hambanine. Até daqui a quinze dias.
Sem comentários:
Enviar um comentário