AVENTUREIROS, EXPLORADORES E VIAJANTES
Mungo Park - (Selkirk (Escócia), 10/09/1771- Rio Níger, 1805) - Médico cirurgião e explorador. Em finais do século XVIII nasciam e desenvolviam-se várias incógnitas geográficas no continente africano que desafiavam os mais audazes. A nível fluvial, para além da nascente e total percurso do Nilo, este lendário rio que durante centenas e centenas de anos desafiou o imaginário europeu, outros também haviam, tais como o Congo e o Níger, duas outras gigantes estradas aquáticas que serpenteavam o continente.
Histórias fantasiosas pululavam nas mentes europeias, fruto da ignorância da ciência de então, pelo que havia que ir ao terreno topografar as margens e os envolventes, sondar as águas, etnografar os povos aí viventes, enfim, todo um cotejo de afazeres característicos de quem ia partir para o desconhecido. Porque a História do desbravamento geográfico de África, nas suas quatro vertentes (físico, económico, humano e político), ir-se-ia acelerar face às autonomias independentistas do territórios sul-americanos, que estavam a ocorrer em ritmo acelerado nesse mesmo século.
Um dos primeiros exploradores a surgir neste panorama africano foi Mungo Park.
Depois de se ter formado em medicina, pela Universidade de Edimburgo, embarca no navio "Worcester", em 1992, ao serviço da Companhia das Índias Orientais, como cirurgião de bordo, viajando até Sumatra e regressando no ano seguinte a Londres.
Apaixonado pela aventura e por viagens ao desconhecido, sob a égide da Real Sociedade Africana de Londres, parte para a Gâmbia, não imaginando a louca e dura viagem a que ia ser posto à prova, a fim de dar continuidade às explorações do malogrado Daniel Hougton (1). A 21 de Junho de 1795 atinge a foz do rio Gâmbia e, partindo de Bathrust atinge Karantaba, onde fica até finais desse ano, a aprender dialectos locais. Em finais de 1795, acompanhado dum criado, começa a sua caminhada para o interior africano e descida aos infernos. À medida que atravessa territórios desconhecidos é espoliado pelas chefaturas locais e outros gentios, que lhe exigem taxas de passagem.
Como ele dirá nas suas memórias, a título exemplificativo: "Partimos de Burgil e viajámos por um monte seco e pedregoso, .............. chegámos a uma grande aldeia, onde pretendíamos alojar-nos. Encontrámos uma grande parte dos nativos vestidos com uma fina gaze francesa a que chamam de "byqui"; como é um vestido fresco e arejado e bem calculado para revelar as formas do corpo, é muito apreciado pelas senhoras. Todavia os modos destas fêmeas não correspondiam aos seus vestidos, pois eram rudes e quezilentas ao mais alto nível. Rodearam-me em grandes quantidades a pedinchar âmbar, contas, etc. e foram tão veementes nas suas solicitações que achei impossível resistir-lhes. Rasgaram a minha capa, cortaram os botões das roupas do meu criado e preparavam-se para outros ultrajes quando montei o meu cavalo e me afastei, seguindo durante um quilómetro por um grupo destas harpias." No entanto persiste e atinge o rio Senegal, atravessando diversas aldeias até que acaba aprisionado pelos tuaregues, cujo líder o escraviza ao seu serviço. Ao fim de quatro meses de escravidão consegue uma fuga espectacular, com um cavalo e uma bússula como companhias, internando-se no deserto. A sede e a fome associam-se a si nesta estranha fuga, na busca desesperada da liberdade.
Atinge Segu, onde repousa e avista, finalmente, o rio Níger. Torna-se no primeiro europeu a obter tal feito, fora da foz do mesmo. Corria o dia 21 de Julho de 1796, e sobre esse acontecimento dirá: "Quando nos aproximámos da cidade tive a sorte de alcançar os kaartans fugitivos que tinham sido tão bondosos comigo na minha viagem por Bambarra. Concordaram em apresentar-me ao rei; e cavalgámos juntos pelo mesmo solo pantanoso onde, quando eu olhava ansiosamente de um lado para o outro à procura do rio, um deles gritou "geo affilli"("veja água") e, ao olhar para a frente, vi com infinito prazer o grande objecto da minha missão, o tão desejado majestoso Níger, a brilhar ao sol da manhã, tão largo como o Tamisa em Westminster e a correr lentamente para Oriente. Aproximei-me rapidamente da margem e, depois de ter bebido água, ergui os meus agradecimentos fervorosos numa prece ao Grande Soberano de todas as coisas, por ter desta forma coroado os meus esforços de sucesso." Sobe o rio uma centena de quilómetros mas a falta de meios para prosseguir a jornada levam-no a regressar a Segu. Eram passados nove dias e estava "...esgotado pela doença, exausto de fome e fadiga, semi-nu e sem qualquer artigo de valor com o qual pudesse arranjar provisões, roupas ou alojamento."
Tendo tomado conhecimento que a cidade acabara de cair em mãos tuaregues, que o tinham escravizado antes, evita-a e caminha para Kamalia. Da sede que passara na aridez do deserto que sofrera, agora apanhava a época das chuvas torrenciais que quase o atiraram, de novo, de encontro à morte. Finalmente tropeça numa caravana de escravos que o abrigam e com eles atinge a costa atlântica. Era dado como morto na Grã-Bretanha, quando ali retorna em 1797. E de morto a herói foi um passo.
Publica a sua aventura e, em 1803, aceita liderar uma nova incursão ao rio Níger, para o estudar.
Liderando uma expedição de cerca de trinta soldados e dez outros europeus (entre os quais um seu cunhado), para além dos escravos e com um barco construído de propósito para este evento, em finais de Janeiro de 1805 parte de Gorée para Bamako e vai subindo o rio Níger, combatendo a malária, as populações ribeirinhas inimigas, e o desânimo da sua equipa. Teimosamente persiste na sua navegação por aquele rio acima, o que lhe virá a ser fatal. A moral não podia ser elevada quando se contabilizavam mais de trinta dos seus homens mortos nesta expedição, em combates infelizes contra gentios hostis e doenças mal tratadas.
A 19 de Novembro desse mesmo ano (1805) escreverá a que será, sem saber, a sua última carta para a sua esposa: "....O seu irmão Alexander, meu querido amigo, já não existe! Morreu de febre em Sansanding, na manhã de 28 de Outubro............ Receio.... que possa ser levada a considerar que a minha situação é muito pior. É verdade que os meus queridos amigos, o sr.Anderson e George Scott disseram ambos adeus às coisas deste mundo e a maior parte dos soldados morreu na marcha durante a estação das chuvas; mas pode acreditar em mim, estou de boa saúde." O irrealismo da situação atinge os paradoxos quando continua a escrever: "A chuvas pararam completamente e a estação saudável já começou, por isso não há perigo de doença, e ainda tenho força suficiente para me proteger de qualquer ataque ao viajar pelo rio, em direcção ao mar..."
Percorridos mais de mil e quinhentos quilómetros fluviais a extenuada expedição é atacada por haussas, em Bussa (Nigéria) e, ante a derrota iminente e prespectivas duras de aprisionamento, Mungo Park afoga-se no rio que tanto lutara para descobrir. O mesmo destino teve a restante expedição, reduzida a quatro europeus (estando um louco), três escravos carregadores e um guia, tendo sobrevivido dois nativos (o guia e um carregador) para contar a história.
Senão, nem esta saberíamos.
Mungo Park
Histórias fantasiosas pululavam nas mentes europeias, fruto da ignorância da ciência de então, pelo que havia que ir ao terreno topografar as margens e os envolventes, sondar as águas, etnografar os povos aí viventes, enfim, todo um cotejo de afazeres característicos de quem ia partir para o desconhecido. Porque a História do desbravamento geográfico de África, nas suas quatro vertentes (físico, económico, humano e político), ir-se-ia acelerar face às autonomias independentistas do territórios sul-americanos, que estavam a ocorrer em ritmo acelerado nesse mesmo século.
Um dos primeiros exploradores a surgir neste panorama africano foi Mungo Park.
Depois de se ter formado em medicina, pela Universidade de Edimburgo, embarca no navio "Worcester", em 1992, ao serviço da Companhia das Índias Orientais, como cirurgião de bordo, viajando até Sumatra e regressando no ano seguinte a Londres.
Apaixonado pela aventura e por viagens ao desconhecido, sob a égide da Real Sociedade Africana de Londres, parte para a Gâmbia, não imaginando a louca e dura viagem a que ia ser posto à prova, a fim de dar continuidade às explorações do malogrado Daniel Hougton (1). A 21 de Junho de 1795 atinge a foz do rio Gâmbia e, partindo de Bathrust atinge Karantaba, onde fica até finais desse ano, a aprender dialectos locais. Em finais de 1795, acompanhado dum criado, começa a sua caminhada para o interior africano e descida aos infernos. À medida que atravessa territórios desconhecidos é espoliado pelas chefaturas locais e outros gentios, que lhe exigem taxas de passagem.
Como ele dirá nas suas memórias, a título exemplificativo: "Partimos de Burgil e viajámos por um monte seco e pedregoso, .............. chegámos a uma grande aldeia, onde pretendíamos alojar-nos. Encontrámos uma grande parte dos nativos vestidos com uma fina gaze francesa a que chamam de "byqui"; como é um vestido fresco e arejado e bem calculado para revelar as formas do corpo, é muito apreciado pelas senhoras. Todavia os modos destas fêmeas não correspondiam aos seus vestidos, pois eram rudes e quezilentas ao mais alto nível. Rodearam-me em grandes quantidades a pedinchar âmbar, contas, etc. e foram tão veementes nas suas solicitações que achei impossível resistir-lhes. Rasgaram a minha capa, cortaram os botões das roupas do meu criado e preparavam-se para outros ultrajes quando montei o meu cavalo e me afastei, seguindo durante um quilómetro por um grupo destas harpias." No entanto persiste e atinge o rio Senegal, atravessando diversas aldeias até que acaba aprisionado pelos tuaregues, cujo líder o escraviza ao seu serviço. Ao fim de quatro meses de escravidão consegue uma fuga espectacular, com um cavalo e uma bússula como companhias, internando-se no deserto. A sede e a fome associam-se a si nesta estranha fuga, na busca desesperada da liberdade.
Atinge Segu, onde repousa e avista, finalmente, o rio Níger. Torna-se no primeiro europeu a obter tal feito, fora da foz do mesmo. Corria o dia 21 de Julho de 1796, e sobre esse acontecimento dirá: "Quando nos aproximámos da cidade tive a sorte de alcançar os kaartans fugitivos que tinham sido tão bondosos comigo na minha viagem por Bambarra. Concordaram em apresentar-me ao rei; e cavalgámos juntos pelo mesmo solo pantanoso onde, quando eu olhava ansiosamente de um lado para o outro à procura do rio, um deles gritou "geo affilli"("veja água") e, ao olhar para a frente, vi com infinito prazer o grande objecto da minha missão, o tão desejado majestoso Níger, a brilhar ao sol da manhã, tão largo como o Tamisa em Westminster e a correr lentamente para Oriente. Aproximei-me rapidamente da margem e, depois de ter bebido água, ergui os meus agradecimentos fervorosos numa prece ao Grande Soberano de todas as coisas, por ter desta forma coroado os meus esforços de sucesso." Sobe o rio uma centena de quilómetros mas a falta de meios para prosseguir a jornada levam-no a regressar a Segu. Eram passados nove dias e estava "...esgotado pela doença, exausto de fome e fadiga, semi-nu e sem qualquer artigo de valor com o qual pudesse arranjar provisões, roupas ou alojamento."
Curso do rio Níger
Tendo tomado conhecimento que a cidade acabara de cair em mãos tuaregues, que o tinham escravizado antes, evita-a e caminha para Kamalia. Da sede que passara na aridez do deserto que sofrera, agora apanhava a época das chuvas torrenciais que quase o atiraram, de novo, de encontro à morte. Finalmente tropeça numa caravana de escravos que o abrigam e com eles atinge a costa atlântica. Era dado como morto na Grã-Bretanha, quando ali retorna em 1797. E de morto a herói foi um passo.
Publica a sua aventura e, em 1803, aceita liderar uma nova incursão ao rio Níger, para o estudar.
Uma das edições do livro de Mungo Park
(não conheço nenhuma versão portuguesa)
Liderando uma expedição de cerca de trinta soldados e dez outros europeus (entre os quais um seu cunhado), para além dos escravos e com um barco construído de propósito para este evento, em finais de Janeiro de 1805 parte de Gorée para Bamako e vai subindo o rio Níger, combatendo a malária, as populações ribeirinhas inimigas, e o desânimo da sua equipa. Teimosamente persiste na sua navegação por aquele rio acima, o que lhe virá a ser fatal. A moral não podia ser elevada quando se contabilizavam mais de trinta dos seus homens mortos nesta expedição, em combates infelizes contra gentios hostis e doenças mal tratadas.
A 19 de Novembro desse mesmo ano (1805) escreverá a que será, sem saber, a sua última carta para a sua esposa: "....O seu irmão Alexander, meu querido amigo, já não existe! Morreu de febre em Sansanding, na manhã de 28 de Outubro............ Receio.... que possa ser levada a considerar que a minha situação é muito pior. É verdade que os meus queridos amigos, o sr.Anderson e George Scott disseram ambos adeus às coisas deste mundo e a maior parte dos soldados morreu na marcha durante a estação das chuvas; mas pode acreditar em mim, estou de boa saúde." O irrealismo da situação atinge os paradoxos quando continua a escrever: "A chuvas pararam completamente e a estação saudável já começou, por isso não há perigo de doença, e ainda tenho força suficiente para me proteger de qualquer ataque ao viajar pelo rio, em direcção ao mar..."
Percorridos mais de mil e quinhentos quilómetros fluviais a extenuada expedição é atacada por haussas, em Bussa (Nigéria) e, ante a derrota iminente e prespectivas duras de aprisionamento, Mungo Park afoga-se no rio que tanto lutara para descobrir. O mesmo destino teve a restante expedição, reduzida a quatro europeus (estando um louco), três escravos carregadores e um guia, tendo sobrevivido dois nativos (o guia e um carregador) para contar a história.
Senão, nem esta saberíamos.
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(1) Daniel Hougton - (1740-1791) - Explorador irlandês que tentou descobrir o rio Níger e estudá-lo. Tendo-se desligado da Armada britânica, em 1778, no ano seguinte encontra-se na ilha de Gorea, a comandar o forte da mesma. No ano seguinte a Real Associação Africana de Londres encarrega-o de determinar o curso do rio Níger, bem como de atingir e visitar Tombuctu, recolher informações sobre o território dos haussas e depois regressar pelo deserto. Uma tarefa ciclópica para um homem só, mas que a megalomania daqueles tempos e a avidez da aventura levavam ao exagero.
A 16 de Novembro de 1790 atinge a embocadura do rio Gâmbia e sobe o mesmo durante cerca de novecentas milhas, após o que prossegue a jornada por terra. Em Setembro de 1791 atinge Simbik, na fronteira com o país Bambouk (zona fronteiriça entre o actual Mali e Senegal). É abandonado pelo seu criado, que se recusa a acompanhá-lo por territórios dominados por árabes (por causa da escravidão) e ele próprio receia por si, através duma carta que escreve desta localidade.
Arrisca-se e atinge Djarra onde se cruza com uma caravana árabe que se deslocava a Tischit para comprar sal. Oferece-lhes uma espingarda e pede que o deixem integrar a caravana. Aceitam-no mas ao fim dalgumas horas de caminhada espancam-no, roubam-lhe tudo e abandonam-no, no deserto. Retorna a pé para Djarra ao fim dalguns dias, onde não comera nem bebera.
Outros relatórios (feitos mais tarde) apontam que Daniel Houghton, já integrado na caravana que se deslocava para Tischit, resolveu abandonar esta ao fim de dois dias de viagem, receoso pela sua vida pelo que, sózinho, retornou a Djarra. Aqui chegado os locais recusaram a dar-lhe qualquer tipo de alimento pelo que ele acabou por morrer à fome.
Desconhecem-se, ao certo, as causas da sua morte. Se assassinado ou se falecido por desinteria ou por inanição. A sua documentação nunca foi encontrada, apesar de buscada posteriormente. A Mungo Park foi-lhe mostrado, de longe, onde o corpo dele terá sido arrastado, num bosque, não tendo sido sepulto, com o fito de ser canibalizado por necrófagos de dois pés ou de quatro patas.
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Nota: As citações atribuídas a Mungo Park foram retiradas do livro de Eric Newbay "O livro dos viajantes" (Publicações Europa-América, 1999, 627 págs.)
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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL
Nota: Os direitos de Autor e de propriedade intelectual dos textos do "Historiando Moçambique Colonial" encontram-se registados e protegidos internacionalmente. Os mesmos serão cedidos gratuitamente, desde que previamente solicitados e esclarecidos para que fim.
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Diogo Simões Madeira - (?/?) - Comerciante e Capitão-Mor de Tete. Uma das figuras zambezianas mais emblemáticas do século XVII, senhor do Reino da Chicova*, onde possuía uma fortaleza. Em 1607/08 chefiou uma expedição de auxílio ao Monomotapa Gatsi Rusere, a pedido deste, pois estava a braços com revoltas internas, tal como a secessão do Reino do Barué* e prometera, pelo auxílio, a cedência de todas as suas minas de ouro. Cumprida a missão, com êxito, o Monomotapa viola o prometido em momento de aflição, pelo que a expedição salda-se num fracasso financeiro.
Em 1613 derrota os tongas, chefiados por Chombe, descendente directo do que havia auxiliado Francisco Barreto*, em 1572, o que permitiu a reabertura do tráfego no rio Zambeze, o reabastecimento de Tete e o reinício com o comércio do Monomotapa. Em 1614 tenta descobrir as minas de prata de Chicova, também pertença do Monomotapa, mas não consegue ter êxito pois, segundo alguns, as gentes do Imperador criaram minas fictícias onde colocavam alguma prata para despiste. No entanto, reza a história que foi o próprio quem criou tal embuste, a fim de ludibriar o Governo de Lisboa, que acabou por o agraciar como Cavaleiro de Cristo. Da prata enviada foi feita uma peça para a custódia da igreja católica de Sena. Posteriormente, depois de descoberta a fraude, Diogo Simões Madeira acabou demitido e preso.
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Madzi-manga - Água sagrada para as gentes do Reino do Barué*, pois a mesma provinha de Sena, local onde se encontrava sepultado o seu primeiro Makombe*. Era com esta água que se ungia o novo Makombe, sendo o ritual celebrado em Missongue, capital do Reino. A primeira referência dos portugueses a este ritual data dos finais do século XVIII.
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Mansanza - Jazigo real do Reino do Monomotapa* ou dos seus grandes chefes e onde também eram sepultados os seus familiares.
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Marondo - Poço, com o diâmetro da estatura de um homem, onde se pesquisava ouro. Os marondos ligavam-se, entre si, por galerias subterrâneas.
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Messirre - Creme natural que se obtém a partir da maceração dos ramos da árvore conhecida por "mussilo", em pedras de moer juntando-se, aos poucos, água. Obtém-se, deste modo, uma pasta que as mulheres aplicam no rosto mas que também podem usar no resto do corpo. Típico creme de beleza feminino do litoral Norte de Moçambique este creme, para além dos fins de embelezamento possui também características terapêuticas e higiénicas.
Para além destes benefícios físicos, a sua utilização trazia para a mulher que o usava, um símbolo social de virgindade ou marido ausente, factores estes que acabaram, com o correr dos tempos, por serem ultrapassados pelos factores de beleza e terapia acima referidos.
Para além destes benefícios físicos, a sua utilização trazia para a mulher que o usava, um símbolo social de virgindade ou marido ausente, factores estes que acabaram, com o correr dos tempos, por serem ultrapassados pelos factores de beleza e terapia acima referidos.
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Castigo das varadas - Pena de suplício acessória, que consistia em chicotear os condenados, por diversos tipos de crime, dependendo o número de chibatadas da decisão arbitrária da autoridade administrativa ou militar. Era um espectáculo degradante, sendo o castigo aplicado com as forças policiais ou militares a quadrangular a área do suplício e, bastas vezes, a fanfarra a tocar para abafar os gritos do condenado, enquanto este sofria a pena, que era aplicada com juncos molhados, para se tornarem mais flexíveis.
Em Dezembro de 1879 realizou-se, oficialmente e pela última vez, na ilha de Moçambique* a aplicação deste castigo, ao degredado José da Cal, que cometera um crime de homicídio, sendo a pena decretada pelo Governador-Geral Francisco Maria da Cunha, em mais de duzentas vergastadas. A violência da aplicação deste castigo, em concreto, levantou um coro de protestos junto de oposicionistas de tal ordem que chegou ao Governo de Lisboa, o qual ordenou a exoneração do Governador-Geral Francisco Cunha, degredou José da Cal perpetuamente para Timor e proibiu, de vez e em todo o território nacional, este castigo desumano.
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Zanzibar - Palavra que significa "terra de negros", derivada de "zanj" (negro) e "bar" (terra, local, área), expressão esta com que os mercadores árabes ou arabizados se referiam à costa oriental africana, onde vinham a negociar, acabando depois por se instalarem e criarem um sultanato.
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Rabo de guerra - Nome dado a uma cauda de leão molhada em sangue humano, a fim de fornecer poderes mágicos às hostes de achikundas*, antes do início duma batalha.
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Rota - Ceptro, bastão real, símbolo do poder dos reis do Monomotapa*. Este bastão também podia ser usado pelos seus súbditos mais poderosos, tais como os reis do Quiteve* e de Sedanda*, bem como Capitão de Portas* de Massapa, como símbolo da sua delegação de poderes e representatividade pessoal sobre todas as pessoas do Reino.
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Feiticeiros das chuvas - Sendo as chuvas um poderoso agente regulador das actividades humanas e animais em qualquer parte do mundo, tal regra também se aplicava em África. As longas estiagens provocavam fomes, pelo desaparecimento da caça bem como pela morte das colheitas. Era uma maldição a que nenhum povo escapava e o aparecimento natural das chuvas era tida como uma benção dos deuses, prenúncio de fartura alimentar e colheitas abundantes.
Por isso os feiticeiros que "fabricavam" chuva eram muito poderosos e reverenciados, sendo pagos principescamente pela sua actividade e, muitas vezes, eram os próprios reis que detinham o "monopólio dos poderes pluviais". O chamamento da chuva, pelo feiticeiro, era feita por rezas e artes adivinhatórias onde, por vezes, descobriam culpados no seio da população os quais, por actos que tivessem praticado, tinham afastados as chuvas das suas regiões.
No século XIX a Rainha Mojaju, estabelecida na zona do Transval, foi uma das mais célebres e poderosas feiticeiras das chuvas. Criara-se o mito que a mesma não se podia casar, concebendo em estado virgem a sua descendência, sempre feminina que adoptava o mesmo nome, símbolo da sua imortalidade para os povos, já que era sempre a mesma que governava secularmente.
Segundo Diocleciano Fernandes Neves** relatou, uma das embaixadas que Mojaju recebeu para tratar do problema da falta de chuva, foi enviada por Maueva**, a quem a dita Rainha acabou por lho resolver, depois de ter aconselhado o mesmo a excomungar os espíritos dos irmãos que mandara matar e que ainda vagueavam nas suas aldeias.
Muitas vezes este charlatanismo do chamamento das chuvas resultava mesmo em chuvadas, mas prendia-se com o facto dos feiticeiros arrastarem por meses as suas exéquias, até que algum dia acaba mesmo por chover, fruto da actividade regular da Mãe-Natureza. No entanto, para os povos crentes da feitiçaria, as quedas pluviométricas tinham acontecido sempre graças à intervenção dos feiticeiros especializados em tal arte.
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Quizumba - Terminologia popular que se referia à hiena, animal tido em baixa consideração quer pelos povos nativos quer pelos europeus, por se ter criado a fama de que só atacava de noite, comia restos pútridos doutros animais, exalava cheiros nauseabundos mas, principalmente, porque era um dos animais favoritos dos feiticeiros.
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* - Já efectuada ficha.
** - A abrir ficha.
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RECORDANDO HISTÓRIAS E LENDAS DE ÁFRICA
Khaina, a Rainha magrebina - (actual Tunísia, 600 (?) a 700 DC) - Após o falecimento do Profeta Maomé, ocorrida em 632 DC, os seus seguidores deram continuidade à expansão imperial do Islão, avançando da Arábia pelo Norte de África, e não tendo encontrado grandes focos de resistência por parte dos povos que iam englobando na sua esfera de influência. Ao Egipto impuseram-se facilmente(cerca de 640 DC) e, a seguir, o mesmo aconteceu na Cirenaica e na Tripolitânia (correspondente ao actual território líbio).
Mas em Ifryqua (correspondente ao actual território tunisino) os árabes encontraram a resistência do governador Gregório, de Bizâncio, que lhes opôs tenaz resistência, liderando um exército bizantino apoiado por combatentes berberes. Mas Gregório morre em combate (647 DC), a opor-se à intrusão árabe e, reza a lenda (por isso não será facto histórico) que é a sua filha, Yasmina, quem lidera a oposição armada mas esta virá também a morrer em combate pois, ao ver-se cercada e derrotada pelos árabes, deixou-se tombar da sua montada forçando a quebra do pescoço (quem disse que não há belas lendas trágicas?)
Nesta fase inicial de conquista os árabes, estrategicamente, retiram-se depois de terem observado e estudado os focos de resistência que tinham encontrado pelo caminho. A resistência bizantina pusera-os de sobreaviso no que poderiam encontrar daí para a frente. Havia que cuidar de reforços e planificar novas campanhas, para além de consolidar o já conquistado. Daí o recuo, apenas temporário.
Novos combates travam-se ante nova investida árabe. Desta vez são os berberes a oporem-se, liderados por Kosaila, e vingam-se, liquidando a chefatura invasora na pessoa de Oqbah Ibn Nafi (683 DC). Mas, três anos mais tarde, é a vez de Kosaila morrer a batalhar. E é então que salta das brumas da História a berbere Khaina, do povo Jerawa que, liderando a resistência, leva esta das planícies litorais tunisinas para as montanhas de Aurés no interior do País, onde já reinara durante um trinténio.
Quem era Khaina? Num misto de História e lenda, seria já de idade avançada (centenária dizem mesmo os mais crédulos) quando assumiu a liderança da resistência. Uns dão-na como berbere, outros como mestiça de berbere e bizantina. Mesmo o seu nome é discutível, bem como a sua data de nascimento e local. Minudências estas que, na altura, não faziam grande sentido. Teria sido Rainha de (ou em) Aurés durante mais de trinta anos e, agora, viúva (facto histórico) e centenária (lenda), era sobre ela que os guerreiros mais novos queriam que os liderasse. Sim, porque guerreiros mais velhos que ela seriam difíceis de encontrar. Talvez fosse profetisa e isso ter-lhe-ia dado poder e ascendência sobre os berberes, já que às profetisas era-lhes concedido estatuto elevado. O dicionarar sonhos e dialogar com mortos davam prebendas materiais e honrarias sociais.
De qualquer modo, ante nova invasão árabe, desta vez liderados por Hassan Ibn Al-Ghassani, a velha Kahina irá encontrar algumas dificuldades. Inteligentemente os árabes começaram por derrotar as forças bizantinas em Cartago (695 DC) e, depois, viraram as suas atenções para os montes de Aurés. Mas, nesta região, Khaina mandou destruir a sua cidade (Baghaya). Nada de útil ficaria nas mãos do inimigo. Depois, as suas forças derrotam, dupla e estrondosamente o garboso exército árabe em Meskiana e Gabés, obrigando este a recuar para a segurança da Tripolitânia.
Três anos demorou Hassan Ibn Al-Ghassani a digerir a sua derrota e a consumar a sua vingança. Resolvido a quebrar este espinho na expansão imperial árabe, Hassan Ibn Al-Ghassani conquista, de novo, Cartago e, para quebrar a sua citadina hegemonia política, funda Túnis, a bela Túnis de hoje. Depois, qual raposa do deserto, astutamente aguarda a queda de Khaina. Deixaria que fosse ela a destruir-se a si mesma. Apenas lhe daria motivos para isso.
Na realidade é Khaina quem se derrota e arrasta o seu povo na queda. Ante as guerrilhentas surtidas árabes, opta pela política da terra queimada e ordena a destruição de todas as aldeias e dos campos de cultivo, para não deixar nada ao inimigo, à medida que se retrai e busca refúgio no montes Aurés. Aldeia a aldeia, casa a casa, poço de água a poço de água, cultivos a cultivos, tudo é morto em nome da sobrevivência. O espectro da fome começa a imperar no povo. Khaina não se apercebeu que resistir aos árabes não era o mesmo que governar os berberes. O divisionismo começou a disseminar-se no seio do povo esfomeado e as deserções e as passagens para o campo árabe disparam, na razão directa dos estômagos colados às costas.
E, nos idos de 700 DC (ou 701 DC), morrem em Gabés os sonhos de Khaina, a rainha profetiza. Antevendo a sua inevitável derrota, face à persistência árabe, incita os seus próprios filhos a passarem-se para o lado do vencedor antecipado; para uns, uma forma hedionda e senil de acabar o seu reinado; para outros, uma forma inteligente de deixar sobrevivos descendência que pudesse, um dia liderar, de novo, ou o movimento árabe ou a revolta contra estes.
Derrotada pesadamente em Gabés, como previra em sonhos, refugia-se em Aurés e, daqui tenta levar a luta até Tabarka, quem sabe ainda admitindo uma aliança com os bizantinos. Mas em Tabarka é-lhe desferida a cimitarra decapitadora e a sua cabeça acaba enviada ao califa árabe. Findara a resistência berbere.
Da saga de Khaina restaram lendas mescladas com factos históricos, mas que foram, ao longo dos tempos, mantendo a unidade duma tomada de consciência berbere, tando que muitos deles, ainda hoje, não se consideram árabes.
À conquista árabe, cruel e sanguinolenta como todas as conquistas são, sobreveio a paz e o estabelecimento do seu império por todo o Norte de África e Península Ibérica, dando origem a uma notável civilização tolerante que, principalmente, nos domínios da medicina, astronomia, arquitectura, matemática e filosofia, iluminaram os múltiplos povos peninsulares.
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LEITURAS
João Pedro Marques - "Uma história de amor e aventura nos primórdios da colonização de Moçâmedes" é o sub-título do romance "Uma fazenda em África" da autoria de João Pedro Marques (Porto Editora, 2012, 432 págs.), é um romance que, ao lê-lo, me atirou para meados do século XIX e me pôs a falar com os fundadores duma colónia agrícola no litoral sul angolano, colónia essa que iria dinamizar a incipiente Moçâmedes (actual Namibe).
Fruto da má convivência entre brasileiros e a comunidade portuguesa, que descambava sempre em violência, sexo e sangue, um grupo de uma centena de portugueses desiludidos com o tipo de vida que tinham naquele País que já fora seu, resolvem abandonar Pernambuco e rumar para Angola, com apoio do Governo de Lisboa. E é a chegada e instalação desses colonos em Moçâmedes, com todas as suas vitórias e derrotas, adaptação aos novos climas, imperando a ausência de tudo e abundância do nada, que nos retrata este romance, baseado em factos históricos (mas não considero romance histórico), tornando-se num livro de leitura leve, agradável, nada cansativo e que nos elucida como era viver naqueles duros tempos, num povoado cujas fronteiras eram o mar e o deserto.
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Breve resenha histórica: O fundador de Moçâmedes foi Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro (Nogueira do Cravo (Beira), ?/12/1809 - Moçâmedes, 14/11/1871). Efectua estudos universitários em Coimbra, onde se matricula em 1829, para cursar Direito. A guerra civil que se instala em Portugal, que opõe miguelista a liberais, leva-o a optar pela causa absolutista em 1830, levando-o a "alistar-se nos voluntários realistas, seguindo o partido de D. Miguel e fazendo toda a campanha às ordens dum seu próximo parente, general das armas da província.". Com o findar da guerra civil, em 1834, resultante da derrota das forças miguelistas e a assinatura da Convenção de Évora-Monte, Bernardino Castro fica por Lisboa mas, não concordando com o rumo político que o País atravessava, acaba por emigrar para o Brasil em 1839, fixando-se em Pernambuco, onde exerce a actividade de docente para além de também de se dedicar à escrita histórica.
Bernardino Castro
Face aos portugueses serem sistematicamente espancados, espoliados e perseguidos em Pernambuco, Bernardino Castro resolve abandonar o País. Já em 1844 a Assembleia Provincial de Pernambuco propusera que se expulsassem daquele território todos os portugueses solteiros. Três anos mais tarde (1847) abate-se sobre a comunidade portuguesa, em Pernambuco, uma onda de violência inaudita levada a cabo por cidadãos brasileiros. A xenofobia atingira o seu auge e o ódio levava a grupo armados entrarem em tudo o que fosse loja ou casa de português, arrombando à machadada, destruíam os recheios e retiravam os locatários, violando-os e matando-os, arrastando depois os cadáveres pelas ruas, exuberantes de alegria e perante a passividade das autoridades.
A 13 de Julho de 1848 Bernardino Castro escreve, de Pernambuco, uma carta ao Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar de Portugal, onde requer apoio governamental para que ele e mais portugueses residentes no Brasil, fossem para Angola, lançar as fundações duma colónia. A 26 de Outubro desse mesmo ano, é publicada a Portaria nº 2063 do Ministério da Marinha e Ultramar a dar o aval a esse pedido.
Carro bóer atravessando o rio Caculovar, finais do século XIX
Para melhor concretizar esse projecto e arranjar as verbas necessárias o Ministro do Ultramar apresentou no Parlamento um projecto lei, que foi aprovado (08 de Maio de 1849) e rezava:"Artigo I - É o Governo autorizado a despender até à quantia de dezoito contos de réis metálicos com a fundação da colónia agrícola que vai estabelecer-se no distrito de Moçâmedes, na província de Angola.....".
Assim, a 23 de Maio de 1849, Bernardino Castro e mais cento e oitenta colonos portugueses deixam Pernambuco, a expensas do Governo Português, embarcando em dois navios (o "Tentativa Feliz" e o "Douro"), rumo a Angola, chegando a Moçâmedes nos primeiros dias de Agosto desse mesmo ano. Ia arrancar a colónia agrícola de Moçâmedes.
Bernardino Castro, eleito para presidir o Conselho Colonial de Moçâmedes torna-se, assim, no grande impulsionador do nascimento daquela colónia agrícola, que viria a gerar a cidade de Moçâmedes, hoje renomeada de Namibe. De notar que, no entanto, o povoado de Moçâmedes já existia e, em 1840, criara-se ali um Presídio bem como duas feitorias que, no entanto, nunca vingaram. Estas foram criadas por António Guimarães Júnior e depois, ainda no mesmo ano (1840), outra por Jácome Filipe Torres, mas ambas acabaram saqueadas e destruídas por gentios locais.
Embarque de gado, em finais do século XIX
A 26 de Novembro de 1850 a colónia agrícola sofre um novo impulso dinamizador com a chegada de uma nova leva de cento e vinte e cinco portugueses vindos também de Pernambuco, estes agora dirigidos por José Joaquim da Costa.
A 14 de Novembro de 1871 Bernardino Castro morre, de pneumonia dupla, quando regressava de Luanda, onde fora tratar de assuntos da colónia. E morreu pobre. De tal modo que nem se sabe o local exacto da sua sepultura, no cemitério que mandara construir na colónia que fundara. Ironias da História.
E, para a História, sintetizou-se o seu pensamento de grandeza colonial e do patriota que sempre fora: "Portugal tornaria a florescer tanto ou mais do que quando possuía o Brasil, se soubesse aproveitar-se da utilidade que lhe podia resultar de ser senhor do centro de África."
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Neill Lochery - A Segunda Guerra Mundial devastou a Europa pois a mesma combateu-se em todo o Velho Continente, exceptuando algumas poucas bolsas de paz, que foram os casos da Península Ibérica e da Suíça, por exemplo, por uma razão ou por outra. Os países peninsulares, então em regime de ditadura, simpatizavam com as forças do Eixo; a Espanha mais com a Alemanha nazi e Portugal mais com a Itália fascista. No nosso País Oliveira Salazar, inclusive, tinha uma fotografia do "Duce" na sua secretária de trabalho.
Centrando-nos em Portugal, na década de 40 o regime vivia os seus últimos tempos de paz social. Podia-se dar a determinados luxos impensáveis na Europa belicosa. Até realizou, em 1941, a Exposição Colonial do Mundo Português, na zona do Restelo - Lisboa, mandando vir de todas as colónias gentios, artefactos, casarios e tudo o mais que fosse necessário para mostrar ao Mundo a nossa grandeza. Era a triste tentativa de pormos pretos a dançarem o Vira do Minho. Enfim, misérias de antanho.
Vem isto a propósito dum livro que li há pouco e que me levou a esse tempo. Da autoria de Neill Lochery, tem por título "Lisboa, a guerra nas sombras da Cidade da Luz, 1939-1945" (Editorial Presença, 2012, 264 págs.) e debruça-se sobre o fascínio que Lisboa foi, pela sua falsa neutralidade, tornando-a numa das capitais mundiais da espionagem, dos negócios e ponto de passagem de refugiados. Por isso, durante algum tempo Lisboa foi a Cidade da Luz, porque as luzes à noite não se apagavam contrariamente a muitas capitais europeias (não confundir com Cidade Luz, o eterno título da eterna Paris).
Mas às luzes da cidade seguiam-se as penumbras da mesma e é neste jogo de luzes e sombras que, no eixo Lisboa-Cascais, se jogaram muitos destinos da Europa e de europeus, tornando-a um palco privilegiado de passagem de muitos actores do mítico mundo da espionagem e restrito mundo dos negócios. A título de curiosidade, foi nas memórias dos tempos que passou entre Lisboa e o Casino Estoril que um espião do MI5 virá, mais tarde, a criar um personagem literário famoso. O espião era Ian Fleming e o personagem por si parido foi "Bond, James Bond".
Neill Lochery, com formação de historiador, neste seu livro leva-nos, com mestria, a percorrer os corredores penúmbreos desses tempos, analisando o instável equilíbrio de Oliveira Salazar, com o coração na Itália, mas a algibeira na Alemanha e na Grã-Bretanha, os refugiados judeus, o ouro nazi que entrou nos nossos cofres, entre muitos outros aspectos, tudo bem fundamentado em vasta documentação consultada e referida no final.
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POESIA
Noémia de Sousa - (Catembe, 20/09/1926 - Lisboa, 04/12/2002 - Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares) - Filha de um português (miscenizado de goês e macua) e e de uma ronga (tendo esta ascendência alemã, via paterna), efectua os seus estudos em Lourenço Marques, onde completa o ensino secundário, na Escola Comercial, após o que exerce funções de secretariado e, posteriormente, integra-se nos quadros da Associação Africana.
Noémia de Sousa
Com trabalhos espalhados por diversos órgãos de imprensa tais como no "Itinerário", "O Brado Africano", "Vértice" e outros, é considerada, por muitos, uma das mais importantes poetisas de Moçambique, percursora duma tomada de consciência africana e da revolta da sua posição subalterna perante o colono. É a teoria da negritude em fermentação, tornando-a uma percursora. Numa entrevista a Patrik Chabal(1) dirá: "Eu acho que quando comecei a escrever isso foi uma opção, no fundo para dar voz àqueles que não tinham voz." No "Brado Africano", conforme relatará em entrevista a Michael Laban (2): "No jornal criei uma página feminina - não sou muito a favor do tipo de página feminina - mas já havia uma e eu resolvi transformar essa página feminina numa página para toda a gente..." . Convive com toda uma nova geração literária que despontava em Moçambique, abarcando José Craveirinha, Rui Knopfli, Ricardo Rangel, Cassiano Caldas, Rui de Noronha, Rui Guerra e tantos outros.
É, no campo intelectual, a sua época de ouro, podendo-se datar o nascimento e morte da sua veia poética entre 1948 e 1951. Como dirá a Michel Laban: "...é a "Canção Fraterna", é o primeiro. (poema). Eu esse sei que foi o primeiro que escrevi (em 1948). Interrompeu, voluntária e prematuramente, a sua carreira de vate em 1951: "Escrevi toda a minha poesia antes de 1951", (entrevista a Patrick Chabal) só tendo voltado a poemar após a morte de Samora Machel, uma única composição para ser declamada por vozes femininas. Das razões da sua interrupção como poetisa dirá: "Não sei porque é que acabei de escrever em 1951 poesia....as pessoas perguntavam-me porquê não escrevia poesia, mas como é que eu hei-de explicar? Não foi uma coisa voluntária, não foi uma opção que eu tivesse tomado. Não foi. Aconteceu! De facto não tinha essa vocação..." (entrevista a Patrick Chabal)
Vem para Lisboa, para conhecer irmãos e outros familiares que viviam em Portugal e para tentar prosseguir alguns estudos. O seu convívio com intelectuais moçambicanos, na capital laurentina, fizeram-na pensar ter os seus passos a serem seguidos pela polícia política da ditadura. Mas nunca foi incomodada. Em Lisboa casa-se com Gualter Soares, um moçambicano oposicionista à ditadura que, posteriormente adquire a cidadania francesa. Quando este está em Paris, a trabalhar, Noémia de Sousa, com a filha de colo, pretende ir ter com ele (1964), mas as autoridades portuguesas tiram-lhe o seu passaporte, o que a obriga a ir para França clandestinamente. "Sabe que era uma altura em que geralmente os africanos que saíam das fronteiras de Portugal não voltavam, iam juntar-se aos movimentos. Já havia FRELIMO, já havia MPLA, já havia PAIGC, de maneira que eles punham muitos entraves à saída das pessoas. De maneira que fui para França a salto, e fiquei lá uns tempos.", conforme relatará a Michel Laban.
Na "Cidade Luz" envolve-se muito ligeiramente na política como simpatizante da FRELIMO, mas a opção pela educação da filha leva-a a não trilhar o percurso revolucionário. Assiste ao Maio de 68 e em 1973, depois de se ter divorciado, regressa a Portugal, onde se fixa de vez, face às dificuldades financeiras que atravessa em Paris.
Vive o 25 de Abril em Lisboa, lembrando-se: "Eu fui para França, vivi o Maio de 68, venho para Portugal, é o 25 de Abril! O Rui Guerra dizia assim: "Então vem ali até ao Brasil a ver se acontece alguma coisa..." (entrevista a Michel Laban)
Assume-se como voz importante: "Eu acho que o meu papel dentro da literatura moçambicana foi importante, mesmo sendo uma obra deficiente... Vendo as coisas à distância dá-me a impressão que de facto influenciei pessoas. O Rui Knopfli pode dizer que não, mas eu acho que influenciei..." (entrevista a Patrick Chabal).
E influenciou. A sua poesia é socialmente impactante e nela sente-se o Moçambique colonialmente ferido mas, acima de tudo, o assumir de tal facto, desafiando o poder de então. E é aqui que reside a sua força poética. Noémia de Sousa, que após 1951 claudicou com o seu silêncio deixou, no triénio antecedente, um legado de 43 poemas que, ao tempo e à época fez dela, em teoria, mulher coragem.
O próprio Rodrigues Júnior, acérrimo defensor da portugalidade em Moçambique e com quem ela não revelava simpatias (e com razão), analisa-a no seu "Poetas de Moçambique" e dela (dando uma no cravo e outra na ferradura) reconhece-lhe "magnificiência na sua criação artística, poderosa no seu lirismo e no seu ritmo, de uma musicalidade estranha...", na dissecação do poema "Eu quero conhecer-te África".
Noémia de Sousa podia ter ido mais longe... mas claudicou. A sua grandeza poética, enquanto percursora (in)voluntária da negritude, rasgadora de novos horizontes na plástica literária e inspiradora de uma geração de magníficos poetas combativos e combatentes, foi incompatível com a opção que depois tomou, ao refugiar-se não só no silêncio (parte mental) como em Lisboa (parte física). Foi, para todos os efeitos, um abandono. Que nunca explicou convenientemente.
E em Paris voltou a claudicar, ao virar as costas aos revolucionários que lá conheceu e, de novo, a regressar a Lisboa. Mais uma vez abandonou o campo de batalha.
A par de Rui de Noronha e de mais meia dúzia foi a primeira mulher que deu início à marcação da fronteira do nascimento da literatura de raiz moçambicana (liberta dos espartilhos portugueses). Como fundadora do que se pode considerar o nascimento da verdadeira literatura de raiz moçambicana/africana tem todos os créditos. No resto, são débitos.
Conhecem-se três publicações com a sua poesia (mas não publicadas por si): "Sangue Negro" (Lourenço Marques, 1961), "Poemas inéditos" (Lisboa, 1964) e "Poesia" (Maputo, ?).
SANGUE NEGRO
Ó minha África misteriosa e natural,
minha virgem violentada,
minha Mãe!
Como eu andava há tanto desterrada,
de ti alheada, distante e egocêntrica,
por estas ruas da cidade,
engravidadas de estrangeiros!
Minha mãe, perdoa!
Como se eu pudesse viver assim,
desta maneira, eternamente,
ignorando a carícia fraternamente
morna do teu luar
(meu princípio e meu fim)...
Como se não existisse para além
dos cinemas e dos cafés, a ansiedade
dos teus horizontes estranhos, por desvendar...
Como se nos teus matos cacimbados
não cantassem em surdina a sua liberdade
as aves mais belas, cujos nomes são mistérios ainda fechados!
Como se teus filhos - régias estátuas sem par -,
altivos, em bronze talhados,
endurecidos no lume infernal
do teu Sol causticante, tropical,
como se teus filhos intemeratos, sofrendo, lutando,
à terra amarrados,
como escravos, trabalhando,
amando, cantando
- meus irmãos não fossem!
Ó minha mãe África, ngoma pagã,
escrava sensual,
mística, sortílega, - perdoa
À tua filha tresvairada
- abre-te e perdoa!
Que a força da sua seiva vence tudo!
E nada mais foi preciso, que o feitiço ímpar
dos teus tantãs de guerra chamando,
dundundundun-tã-tã-dundundundundun-tã-tã,
nada mais que a loucura elementar
dos teus batuques bárbaros, terrivelmente belos...
- para que eu vibrasse,
- para que eu gritasse,
- para que eu sentisse, funda, no sangue, a tua voz, Mãe!
E, vencida, reconhecesse os nossos elos...
E regressasse à minha origem milenar.
Mãe, minha mãe África
das canções escravas ao luar.
não posso, não posso repudiar
o sangue bárbaro que me legaste...
Porque em mim, em minha alma, em meus nervos,
ele é mais forte que tudo,
eu vivo, eu sofro, eu rio através dele, Mãe!
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SE ME QUISERES CONHECER
Se me quiseres conhecer,
estuda com olhos de bem ver
esse pedaço de pau preto
que um desconhecido irmão maconde
demãos inspiradas
Talhou e trabalhou
em terras distantes lá do Norte.
Ah, essa sou eu:
órbitas vazias no desespero de possuir a vida
boca rasgada em feridas de angústia,
mãos enormes, espalmadas,
erguendo-se em jeito de quem implora e ameaça,
corpo tatuado de feridas visíveis e invisíveis
pelos chicotes da escravatura...
Torturada e magnífica,
altiva e mística,
África da cabeça aos pés
- Ah, essa sou eu!
Se quiseres compreender-me
vem debruçar-te sobre a minha alma de África,
nos gemidos dos negros no cais
nos batuques frenéticos dos muchopes
na rebeldia dos machanganas
na estranha melancolia se evolando
duma canção nativa, noite dentro...
E nada mais me perguntes
se é que me queres conhecer...
Que eu não sou mais que um búzio de carne
onde a revolta de África se congelou
seu grito inchado de esperança.
..........................................................................
EU QUERO CONHECER-TE, ÁFRICA
Eu quero conhecer-te melhor,
Minha África profunda e imortal!...
Quero descobrir-te para além
do mero e estafado azul,
do teu céu transparente e tropical,
para além dos lugares comuns
com que te disfarçam aqueles que não te amam
E em ti vêem apenas um degrau a mais para escalar!
De norte a sul,
de oriente a ocidente,
- quero conhecer-te bem,
sem nada de insincero, de superficial,
e velar-te o corpo possante de virgem negra.
Quero conhecer-te melhor que ninguém,
minha África silhuetada contra a noite enfeitiçada
de lua e espíritos vingadores...
E quero mais!
Quero que os meus terríveis gritos de dor
sejam os gritos repetidos dos meus irmãos...
Que eu quero dar-te e dar-lhes todo o meu amor,
toda a minha vida, o meu sangue, a minha alma,
os versos que escrevo a sofrer e a cantar...
Só contigo e com os meus irmãos quero lutar
por uma vida livre, digna, alevantada!
Sim, quero lutar em ti integrada,
confundindo as almas lado a lado,
ritmando nossos esforços e suores,
sentindo o eco de cada brado
das nossas bocas, reboar por esse sertão fora
longamente, dolorosamente...
E que alguém, perdido lá longe, o recolha e diga:
- Mas é minha esta voz, esta dor,
é meu este brado!
Quero compreender-te minha África,
quero penetrar-te, sonhar contigo,
descobrir-te nua e verdadeira,
sofrer os teus desalentos, esperar contigo,
sempre contigo!
porque só assim merecerei viver...
E que todos digam, quando eu cantar,
ou quando me revoltar, ou quando chorar
-É a África que canta, e grita e chora!
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nos batuques frenéticos dos muchopes
na rebeldia dos machanganas
na estranha melancolia se evolando
duma canção nativa, noite dentro...
E nada mais me perguntes
se é que me queres conhecer...
Que eu não sou mais que um búzio de carne
onde a revolta de África se congelou
seu grito inchado de esperança.
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EU QUERO CONHECER-TE, ÁFRICA
Eu quero conhecer-te melhor,
Minha África profunda e imortal!...
Quero descobrir-te para além
do mero e estafado azul,
do teu céu transparente e tropical,
para além dos lugares comuns
com que te disfarçam aqueles que não te amam
E em ti vêem apenas um degrau a mais para escalar!
De norte a sul,
de oriente a ocidente,
- quero conhecer-te bem,
sem nada de insincero, de superficial,
e velar-te o corpo possante de virgem negra.
Quero conhecer-te melhor que ninguém,
minha África silhuetada contra a noite enfeitiçada
de lua e espíritos vingadores...
E quero mais!
Quero que os meus terríveis gritos de dor
sejam os gritos repetidos dos meus irmãos...
Que eu quero dar-te e dar-lhes todo o meu amor,
toda a minha vida, o meu sangue, a minha alma,
os versos que escrevo a sofrer e a cantar...
Só contigo e com os meus irmãos quero lutar
por uma vida livre, digna, alevantada!
Sim, quero lutar em ti integrada,
confundindo as almas lado a lado,
ritmando nossos esforços e suores,
sentindo o eco de cada brado
das nossas bocas, reboar por esse sertão fora
longamente, dolorosamente...
E que alguém, perdido lá longe, o recolha e diga:
- Mas é minha esta voz, esta dor,
é meu este brado!
Quero compreender-te minha África,
quero penetrar-te, sonhar contigo,
descobrir-te nua e verdadeira,
sofrer os teus desalentos, esperar contigo,
sempre contigo!
porque só assim merecerei viver...
E que todos digam, quando eu cantar,
ou quando me revoltar, ou quando chorar
-É a África que canta, e grita e chora!
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(1) - Patrick Chabal - "Vozes moçambicanas: literatura e nacionalidade". Págs. 104/125.
(2) - Michael Laban - "Moçambique, encontro com escritores" Pág. 283.
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PINTURA
Albano Neves e Sousa - (Matosinhos, 15/01/1921 - São Salvador da Baía, 11 de Maio de 1995) - Porventura será o mais conhecido pintor de Angola. Tendo feitos os seus estudos nas Belas Artes do Porto, efectua as suas primeiras exposições em 1936.
Neves e Sousa
A partir de 1952 fixa-se em Angola e, no decurso da sangrenta descolonização, ruma para o Brasil. Premiado internacionalmente, efectua exposições em diversos países. Pintor consagrado, presentemente está representado em diversas coleções museológicas e privadas. Adoro a pintura de Neves Sousa. O vídeo seguinte é uma excelente oportunidade para se conhecer parte da obra deste pintor excepcional.
Para além das aguarelas e óleos, a sua obra espalhou-se em murais, nas paredes de diversos hoteis e aeroportos, por exemplo, bem como desenhos e ilustrações de capas de livros. Dizia-me Fernando Laidley que: "Neves e Sousa estava tão entranhado na pintura que estava casado com ela e comia, bebia e dormia a pensar só nela." A sua temática pictórica é, eminentemente, Angola, em todo o esplendor das suas gentes, florestas e animais. Em 1979 as saudades levam-no a versejar três quadras onde prepassa o assumir da sua angolanidade e a mágoa da lonjura da mesma. É esse pequeno poema, que titulou de "Angolano", que se reproduz de seguida.
ANGOLANO
Ser angolano é meu fado e castigo
Branco eu sou e pois eu já não consigo
Mudar jamais de cor e condição
Mas será que tem cor o coração?
Ser africano não é questão de cor
É sentimento, vocação, talvez amor
Não é questão nem mesmo de bandeiras
de língua, de costumes ou maneiras.
A questão é de dentro, é sentimento
E nas parecenças doutras terras,
Longe das disputas das guerras
Encontro na distância o esquecimento.
Tenho, em meu poder, um acervo fotográfico sobre a temática de penteados angolanos, alguns deles feitos por Neves de Sousa e assinados pelo mesmo, que me foram ofertados por Fernando Laidley, acervo esse que um destes dias publicarei.
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PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA
Denuncie. Intervenha. Não se cale. Auxilie associações ambientais. Seja cidadão. Não se acorbade. Quem faz isto aos animais não merece usufruir do milagre da vida e saborear o Planeta.
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ACONTECEU
Islamismo (1) - A cantora norte-americana Lady Gaga viu-se obrigada a cancelar um concerto programado para Jacarta, capital da Indonésia, em virtude da ameaça proferida por grupos extremistas islâmicos que justificavam, entre outras coisas, que as músicas dela eram invocações satânicas; o que acabou por obrigar a organização do evento a devolver o custo de dezenas de milhares de bilhetes que já tinham sido vendidos.
E o que está aqui em causa, em primeira linha, não é tanto a realização ou não do espectáculo (o que é sempre de lamentar) mas sim a razão porque o mesmo foi cancelado: por medo.
Isto passou-se num País que se diz democrático, pluripartidário e aberto ao Mundo. Simplesmente este mesmo País que se diz democrático, pluripartidário e aberto ao Mundo não conseguiu garantir a segurança da realização dum espectáculo musical. A linguagem do terror voltou a triunfar. Mais uma vez pela voz de defensores da pureza da religião muçulmana.
E aqui chamam-me a atenção que não são todos os islâmicos que actuam desta maneira, mas sim os extremistas. Tudo bem, até posso estar de acordo. Mas não vejo os responsáveis pelas correntes moderadas do Islão a criticarem os extremistas. Não ouvi nenhuma voz dos ditos moderados a insurgir-se contra esta forma de censura pelo terror.
E é aqui que me bato, lembrando sempre a frase: "Não me incomodam os gritos dos maus, o que me perturba é o silêncio dos bons." (Martin Luther King).
Defensores islâmicos da "sharia" no Reino Unido
E do terror dos extremistas à cobardia dos moderados vai o Islão, nas suas diversas vertentes, triunfando. Porque aos moderados islâmicos também acaba por lhes interessar os extremistas, pois as verdadeiras democracias, tolerantes da sua essência, acabam depois por negociar e transigir com os moderados, facultando-lhes determinadas benesses em detrimento doutras religiões. Não nos esqueçamos que a conquista da Europa é o principal objectivo dos radicais muçulmanos (a título de exemplo o quererem, subterrâneamente, reactivar o Califado de Córdova.)
Califado de Córdova (756-1031)
Daí a minha pergunta: até que ponto movimentos radicias islâmicos são financiados por correntes ditas moderadas. Até quando? Depois admirem-se do crescimento da extrema-direita na Europa. Será necessário combater numa nova Covadonga? Ou em Poitiers? Por mim, espero que não.
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Assalamu ALEIKUM wa rahmatul´lah wabarakatu. (Que a paz e a benção de Deus estejam convosco.)
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Islamismo (2) - Leio no Expresso de 26/05/2012 (Secção Breves - pág.29): "O activista mauritano Biram Ould Abeid foi detido por queimar livros de direito islâmico que legitimam a escravatura." A Mauritânea é uma República Islâmica (é assim que consta na sua Constituição, datada de 12 de Julho de 1991), onde se aplica a lei da "sharia", entre outras. Neste País, que é extremamente paupérrimo, a escravatura existe e é praticada em todo o território (bem como nos países vizinhos), com total impunidade, beneficiando da tolerância e aceitação das autoridades. Tal é a tolerância que detiveram Birame Ould Dah Abeid por este "queimar livros de direito islâmico que legitimam a escravatura".
Direito islâmico que legitima a escravatura? Mas em que século vivem estes poluidores mentais que respiram o oxigénio que tanta falta me faz para eu fumar os meus cigarros?
Birame Ould Dah Ould Abeid é um mauritano livre e corajoso. Dos que não se calam. Por isso, por várias vezes, este activista dos direitos humanos acabou preso e condenado (pelos tribunais islâmicos que administram a "diz que é uma espécie de" justiça no País). Na sua qualidade de Presidente do "IRA Mauritane" (sigla que, traduzida, significa Iniciativa para o Ressurgimento do Abolicionismo na Mauritânea) tem combatido com denodo este flagelo social. Ele e, logicamente, outros mauritanos. Recomendo que comecem a navegar pelo www.iramauritanie.org.
Direito islâmico que legitima a escravatura? Mas em que século vivem estes poluidores mentais que respiram o oxigénio que tanta falta me faz para eu fumar os meus cigarros?
Birame Ould Dah Ould Abeid é um mauritano livre e corajoso. Dos que não se calam. Por isso, por várias vezes, este activista dos direitos humanos acabou preso e condenado (pelos tribunais islâmicos que administram a "diz que é uma espécie de" justiça no País). Na sua qualidade de Presidente do "IRA Mauritane" (sigla que, traduzida, significa Iniciativa para o Ressurgimento do Abolicionismo na Mauritânea) tem combatido com denodo este flagelo social. Ele e, logicamente, outros mauritanos. Recomendo que comecem a navegar pelo www.iramauritanie.org.
Birame Ould Dah Ould Abeid
Pergunto eu: onde estão as vozes dos ditos religiosos islâmicos moderados a criticarem as autoridades mauritanas? Onde estão as vozes dos ditos religiosos islâmicos moderados a criticarem a existência de livros de direito islâmico que legitimam a escravatura?
Há quatro dias atrás (24 de Maio) o governo mauritano criou, por decreto, um Conselho Islâmico para emitir fatwas (decisões jurídicas islâmicas, de pena capital e sem recurso, dadas por especialistas na lei corânica), segundo leio na "EMM Labs News Brief ", como forma de reprimir estas manisfestações do líder da IRA Mauritane, que, assim, arrisca-se a sofrer uma fatwa que o condena à morte.
A Europa é sistematicamente fustigada e acusada (ainda hoje) de ser fomentadora da escravatura, nos tempos idos do colonialismo, nos manuais de História. É verdade. Mas não foi a Europa quem inventou a escravatura. Esta sempre existiu em todas as latitudes, civilizações e épocas. Aos europeus pode-se impugnar-lhes o terem colocado o tráfico negreiro à escala continental (de África para a América). Mas também foi a Europa a liderar o movimento abolicionista. Esta mesma Europa de matriz judaico-cristã, que a moldou. Hoje a escravatura é impensável em qualquer País europeu (1). É reprimida legalmente. Em sistemas democráticos e laicos. Contrariamente a outros países que, em sistema ditatorais e religiosos permitem, toleram e lucram sem piedade com a dor humana.
Por isso, volto a perguntar: onde estão as vozes dos ditos religiosos islâmicos moderados a criticarem as autoridades mauritanas (ou outras que se comportem como elas)? A criticarem a existência de livros de direito islâmico que legitimam a escravatura? A criticarem a excisão feminina? A criticarem o casamento com crianças? (Na Europa, de matriz judaico-cristã, isso é considerado pedofilia).
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Tive, na África índica, um Mestre suaíli que me ensinou muitas coisas daquele continente. Era detentor dum conhecimento fabuloso e posso dizer que foi um Homem que me marcou profundamente, considerando-o meu "Pai". Sei que já partiu para a Grande Grande Viagem. Baba Muquevela era meu "mwhalimu" e a ele lhe devo o ter aprendido: "Watu wote wamezaliwa huru, hadhi na haki zao ni sawa. Wote wame jaliwa akiliu na dhamiri, hivyo yap asa watendea ne kindugu" (2) (Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.)
E que tal os religiosos islâmicos moderados começarem a interiorizar estes ensinamentos?
Ah... é verdade, estava-me a esquecer de dizer: Baba Muquevela peregrinou a Meca e deu sete voltas à Kaaba. Preparava-se para ir lá a terceira vez (sonhava poder usar o cofió verde) quando Alá o chamou à Sua presença.
E que tal os religiosos islâmicos moderados começarem a interiorizar estes ensinamentos?
Ah... é verdade, estava-me a esquecer de dizer: Baba Muquevela peregrinou a Meca e deu sete voltas à Kaaba. Preparava-se para ir lá a terceira vez (sonhava poder usar o cofió verde) quando Alá o chamou à Sua presença.
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(1) - Apesar de eu me reportar apenas aos países europeus, esta intolerância ao esclavagismo também abrange todos os países do hemisfério norte e bastantes do hemisfério sul. Grosso modo pode-se considerar que o esclavagismo subsiste em diversos países (não todos, como é o caso da Turquia, por exemplo) onde a religião muçulmana tem predominância social e política. Sintomático.
(2) - Espero, devido aos anos já passados, não ter cometido nenhuma falha.
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Humor político - Ao navegar na rede, tropecei nestas duas imagens, e não resisti a colocá-la aqui. E isto foi em plena época de ouro "sarkoziana" (Setembro de 2008). Olha se fosse cá.
La première photo est une certitude...la seconde photo est ume rumeur...mais pas une certitude...
(A primeira foto é uma certeza...A segunda foto é um rumor...mas não uma certeza...)
(A primeira foto é uma certeza...A segunda foto é um rumor...mas não uma certeza...)
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Fugas prisionais - Leio no Diário de Notícias (30/05/2012) que a Polícia Judiária (PJ) capturou um indivíduo que estava evadido duma cadeia. Mais refere a notícia que o indivíduo em causa assaltou mais de cinquenta bancos (isso mesmo, cinquenta bancos) e era a quinta vez que fugia duma cadeia.
Lamento duas situações: I) A total incompetência dos nossos serviços prisionais. Uma pessoa fugir cinco vezes, não será demais? É um puro atestado de incompetência aos guardas prisionais. Mais a mais tratando-se dum assaltante de bancos. Mas será que andam todos a dormir? Até a Ministra da Justiça, anda a dormir? E que tal levantar um processo disciplinar por negligência (no mínimo) e, depois de apurados os culpados, pô-los a andar para o desemprego (já agora sem direito a subsídio)e dar lugar a outros que queiram mesmo trabalhar? É difícil, Sra. Ministra?
II) A total incompetência deste fugitivo. O indivíduo não sabe tratar convenientemente da sua vida. No seu lugar eu fugia era de Portugal, tentava chegar ao Brasil ou aos Estados Unidos, vendia a minha história, os direitos para um filme, dava umas conferências (pagas é claro) e levava uma vida de nababo. É que cinco fugas de cadeias e cinquenta bancos assaltados dá uma história fílmica de primeira. O homem tem tomates. Não deve é ter miolos. E por isso acaba sempre preso.
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Povo masoquista versus PPP / BPN / BPP / Secretas e afins - Não me quero alongar em todas estas e outras infelizes histórias que preenchem a vida do meu País. Já toda a gente sabe o que se passou e voltar a falar disto é só chover no molhado.
Detesto a grande maioria da classe política que tem dirigido os destinos desta Nação, quer sejam ministros, secretários de estado, deputados, presidentes da República. Tal como na Banca, no Sector da Construção Civil (Grande e Média) e na Judicatura, mais a nível de Relação, Supremo e Constitucional. Não ilibo ninguém. Nesta fogueira de vaidades quase todos saem queimados, uns mais que outros.
Por vezes a revolta é tanta que até tenho ataques de "PREC" e então dou-me a pensar se o Campo Pequeno seria suficientemente grande para caberem lá todos.... Infelizmente, continua tão actual a canção "Os vampiros", do imortal Zeca Afonso. Só que, agora, os novos vampiros são mais sofisticados. Europeiizaram-se. Já não rebentam com as portas. Nem arrastam os resistentes para os "curros". Nem torturam no "sono" ou na "estátua". Não que isso é atentatório dos Direitos Humanos.
"Os vampiros", interpretado por José Afonso
Agora são tão melífulos no "aldrafalar" que até nos convencem a comprarmos e pagarmos do nosso bolso a vaselina que eles utilizarão para nos sodomizarem.
Mas, no campo político, a culpa não é só destes senhores. A eles culpo-lhes mais a falta de sentido Pátrio, de verticalidade na defesa da "coisa pública" (os malditos nem devem saber o que é isto de "coisa pública"). A culpa também é do povo, burro como sempre, que vota nos mesmos. Ou nos "laranjas" ou nos "rosas", com os "beatos" na rectaguarda a ajudarem à festa. São estúpidos. Podiam votar em qualquer num dos restantes partidos que se candidatam (e são bastantes) ou mesmo em branco, mas não. Bestas quadradas votam sempre nesta ..... de classe política. Gostam de sofrer, que se há-de fazer? Até parece que gostaram de 48 anos de Ditadura.
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Seja amigo do ambiente. Utilize o diploma legislativo que regulamenta o Novo Acordo Ortográfico como papel higiénico. Depois remeta-o para os mentores dessa aberração legislativa. E não se esqueça que um deles está em Paris.
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As referências aos produtos acima referidos (livros, filmes, músicas, etc.) são incompatíveis com intuitos publicitários de carácter comercial. Reflectem apenas, e tão-somente, a opinião do Autor.
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Todas as fotografias e os vídeos constantes no presente texto foram colhidas, respectivamente, do Google Imagens e do Youtube.
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E agora... vou descansar.
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