"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

domingo, 20 de maio de 2012

George Adamson e Joy Adamsom


AVENTUREIROS, EXPLORADORES E VIAJANTES




George Alexander Graham Adamson - (Etawah (Índia), 03/02/1906 - Parque Nacional Kora (Quénia), 20/08/1989) - Conservacionista. Depois de efectuados alguns estudos em Inglaterra, chega ao Quénia pela primeira vez em 1924 onde, após ter exercido algumas profissões marginais, tornou-se caçador e, em 1936, entra para o Serviço Florestal daquele território como fiscal de caça.



George Adamson


Em 1944 casa-se com Joy Adamson, de quem se virá a divorciar em 1970. Reforma-se dos Serviços Florestais em 1961 e continua a sua actividade de recuperar leões cativos e reintegrá-los na vida selvagem.



O casal Adamson


Em 1956 ele e Joy, recolhem uma leoa pequena que ficara órfã. Depois de a terem criado conseguem, ao fim de inúmeras tentativas, reintegrá-la na vida selvagem. A recuperação para a vida selvagem desta leoa, que baptizaram de "Elsa", dar-lhes-á visibilidade mundial quando, na década seguinte foi feito um filme, titulado de "Born Free" que reproduz esta história, baseado no livro escrito por Joy Adamson. 


Na década de setenta muda-se para o Parque Nacional de Kora, no Norte do País, desenvolvendo aí a sua luta em prol da defesa dos felinos, actividade na qual virá a ser considerado uma das maiores sumidades mundiais. Adquire estatuto lendário e é conhecido como "Lion Man". Tornam-se vulgares imagens dele junto a grupos de leões, onde mais ninguém ousava aproximar-se. Na realidade , quase que se pode dizer que ele não era um ser humano que lidava com leões. Era um leão com corpo humano. Acabará assassinado por caçadores furtivos somalianos, neste Parque.


Sepultura de George Adamson, em Kora


George Adamson pertenceu àquela plêiade magnífica de homens e mulheres que, não tendo nascido em África, mas tendo ido viver para lá, apaixonaram-se pela terra e amaram-na acima de tudo, por ela lutaram, por ela morreram. Foram mais africanistas que muitos africanos lá nascidos e que nada mais fizeram (ou têm feito) do que destruir aquele belo continente.


George Adamson pertence a este fabuloso escol que, infelizmente, começam a rarear nos tempos de correm. Porque a fauna selvagem começa também a rarear e a ficar apertada em Parques Nacionais. Cálculos efectuados por organizações ambientais apontam para que, nos últimos trinta anos do século passado, a população felina africana baixou de 200.000 para 40.000 animais.



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Joy Adamson (Friederik Victoria Gessener) - (Troppau (Ducado da Silésia), 20/01/1910 - Reserva Nacional de Shaba (Quénia), 03/01/1980) - Conservacionista, escritora e pintora. Casada, inicialmente, com um austríaco separa-se deste e casa-se com um britânico de quem também se separa para se casar, pela terceira vez, com George Adamson, de quem se virá a separar em 1970. Tinha um feitio muito instável.

Enquanto casada com George Adamson, com ele vive a aventura de criar a leoa "Elsa" e, posteriormente, reintegrá-la na vida selvagem.



Joy Adamson


Escreve o livro "Born Free" onde relata esta experiência, o que a catapulta para a fama internacional.  Percorre o mundo em palestras e recolhas de fundos para a preservação da vida selvagem em África mas, por vezes, o seu feitio e falta de discernimento, tornam-na alvo de críticas por parte dos próprios conservacionistas. Foi o caso, por exemplo, quando se deslocou à Austrália para uma série de conferências e onde envergava casacos feitos com peles verdadeiras de leopardo.


Joy Adamson e a leoa "Elsa"


Outra crítica que lhe era  feita devia-se à sua preocupação no seu próprio estrelato em detrimento do de George Adamson, querendo  monopolizar só para si a história de "Elsa". Após o divórcio continuou a sua cruzada conservacionista, escrevendo livros, pintando e desenhando, podendo grande parte da sua obra ser vista no Museu Nacional de Nairóbi. Em 1980, acabou assassinada por um seu criado, aparentemente por uma discussão de vencimentos.


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Elsa - Elsa foi uma leoa bébé capturada em 01 de Fevereiro de 1956, na área de Isiolo (Norte do Quénia), quando a sua mãe foi abatida pela equipa liderada por George Adamson. Juntamente com "Elsa" foram apanhados outros dois seus irmãos, e a razão do ataque leonino da sua mãe fora pelo facto da mesma sentir-se ameaçada pela presença humana e tentar defender o seu território e a sua ninhada, que estava a amamentar. "Era uma grande leoa, na força da vida, as tetas a regurgitar de leite. Só quando a viu assim é que George compreendeu porque estava tão furiosa e os enfrentara tão corajosamente. E arrependeu-se por não ter reconhecido mais cedo que o seu comportamento indicava que ela estava defendendo os seus filhos." (Joy Adamson - Uma leoa chamada Elsa). Levados para o acampamento base dos Adamson os três leões bébés (baptizados de "Big One", "Lustica" e "Elsa") crescem no mesmo.




Joy Adamson com "Big One", "Lustica" e "Elsa"


Seis meses mais tarde torna-se insustentável aos Adamson cuidarem dos três leões, pelo que "Big One" e "Lustica" são enviados para um jardim zoológico na Europa, ficando eles com "Elsa". Criada pelos Adamson, o seu crescimento começa a dar problemas na vizinhança, quando ataca gados vizinhos, o que vai obrigar o casal a tentar integrá-la na vida selvagem. Após diversas tentativas, logram ter êxito, no que terá sido considerado a primeira vez, que se tenha conhecimento, que se conseguiu devolver ao seu lar natural um animal nascido selvagem mas criado no meio de seres humanos.



"Elsa" e George Adamson, descansando juntos



Depois de estar integrada na selva, o casal Adamson ainda regressou ao mato a visitá-la, por diversas vezes, aparecendo sempre "Elsa", reconhecendo-os e brincando com eles. Elsa foi mãe de três crias (que ficaram sempre no seu habitat natural) e a última vez que foi vista terá sido em Julho de 1959.


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Livro: O livro que catapultou o casal Adamson para a fama mundial foi escrito por Joy Adamson, que o titulou de "Born Free". Existe uma tradução portuguesa (pelo menos), com o título "Uma leoa chamada Elsa", editada pela Livros do Brasil Lisboa, 179 págs., onde se relata toda a história, desde a sua captura, criação e tentativas de a reintroduzirem na selva, até o terem conseguido.



Capa do livro


George Adamson escreveu dois livros, dos quais não conheço nenhuma edição portuguesa. São eles "A lifetime with lions" e "My pride and Joy".



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Filme: Baseado no livro de Joy Adamson, foi rodado o filme com o mesmo nome, em 1966, dirigido por James Hill e tendo como actores principais Virginia Mackenna e Bill Travers, que eram casados na vida real e que representam, na tela, o casal Adamson. Existindo versão portuguesa, o filme foi rodado no Quénia, e com a presença dos Adamson, tendo sido utilizados nas filmagens alguns leões que George Adamson cuidava para tentar reintegrá-los na Natureza.


Filme "Uma leoa chamada Elsa" (95 minutos aproximados)


O casal de actores, que se travou de amizades com os Adamson até ao fim da vida destes, tornaram-se também, eles próprios, defensores da causa ambiental. 


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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL






NOTA: Todos os textos do "Historiando Moçambique Colonial" encontram-se registados e protegidos pelos direitos de autor e propriedade intelectual em todos os países. A sua reprodução será  concedida desde que pedida e informado qual o destino a darem à mesma, carecendo da autorização do Autor.




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Nicolau Pascoal da Cruz - (1739(?) - 1808) - Prazeiro. Era um militar luso-siamês, natural do Sião (actual Tailândia). Serviu como Soldado e depois como Cabo no Estado da Índia (portuguesa). Chegou à Zambézia em 1767, como Sargento duma Companhia de sipaios* da Índia, acabando depois promovido a Alferes dessa mesma Unidade.

Casou-se com uma dona**, Luísa da Costa, que possuía alguns prazos* em Massangano e de quem teve vários filhos destacando-se, entre eles, o seu sucessor António José da Cruz.  Exerceu vários cargos públicos, tais como Feitor da Real Fazenda, Juíz e Governador interino da Capitania de Rios de Sena.


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António José da Cruz - (1777-1813) - Prazeiro. O filho mais velho de Nicolau Pascoal da Cruz é também referido pelos historiadores como "Bereco". Assenta praça muito novo, por volta de 1787 e, em 1792, tinha a patente de Alferes. Seis anos depois é promovido a Tenente e é colocado na Companhia de Infantaria de Tete sendo, em 1802, promovido a Capitão. Em 1798 acompanhou Lacerda e Almeida** na célebre viagem ao Reino do Cazembe, na África Central.


Em 1807 integra a coluna militar de Vilasboas Truão**, Governador de Rios de Sena, como guia e intérprete, na expedição punitiva ao Régulo Chimatanga, que era avassalado do Monomotapa* Chofombo, mas trai o Governador conluiando-se com as gentes do Monomotapa, sendo um dos responsáveis pelo desastre da expedição e pela morte de Vilasboas Truão, em Chicova*, como virá depois a ser acusado. Morreu enforcado e esquartejado na ilha de Moçambique*, depois de ter sido julgado e condenado por traição, num processo judicial controverso.

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Joaquim José da Cruz - (1803(?) - 1855) - Prazeiro. Filho de António José da Cruz. Era conhecido pelo cognome de "Nhaúde" e "Joaquim da Bamba", por residir numa terra denominada Bamba, perto de Tete. Em 1831 integrou a expedição do Reino do Cazembe, onde também seguia Pedroso Gamito**.  Mercador sertanejo, foi arrendatário dos prazos de Massangano e Tipue e, até cerca de 1850, nunca entrou em conflito aberto com as autoridades portuguesas, tendo instalado a sua aringa* em Massangano, composta por centenas de palhotas.

Em 1850, por um litígio menor, o Governador de Tete mandou um pequeno destacamento militar, comandado pelo Alferes Venâncio Raposo Sarmento, a Massangano a fim de trazer, sob prisão, Joaquim José da Cruz. Este, agastado com a ordem e como o modo como era tratado, não só desobedeceu como prendeu o Alferes durante dois dias, obrigando-o a trabalhar em regime de escravatura, soltando-o ao terceiro dia para este regressar a Tete e contar o que se passara. Começava aqui a rota de colisão entre Joaquim José da Cruz e as autoridades portuguesas, apesar destas terem comtenporizado e engolido o agravo sofrido. No entanto, pontualmente, Joaquim José da Cruz auxiliou as autoridades de Tete em protecção de caminhos e em pequenas guerras contra o seus fidagais inimigos, a família Caetano Pereira**.

Em Junho de 1853, forças do prazeiro Pedro Caetano Pereira**, o "Chissaca", juntamente com as do Makombe* Chipatata, do Reino do Barué*, cercaram a aringa de Massangano, cerco este que durou até Outubro desse mesmo ano, acabando com uma derrota das forças invasoras. Apesar dos insistentes pedidos de auxílio a Tete, por parte de Joaquim José da Cruz, as autoridades portuguesas  eximiram-se sempre a tomar parte no conflito, alegando ser um problema entre dois potentados. Com a  vitória sobre o "Chissaca", Joaquim José da Cruz acabou por prestar um valioso auxílio a Tete, pois a sua derrota implicaria, quase de certeza, a posterior tomada desta vila pelas forças invasoras, inimigo permanente das autoridades portuguesas.

Em 1854, após novas desinteligências entre as forças de Joaquim José da Cruz e as gentes de Tete levam as autoridades portuguesas a prepararem uma expedição punitiva a Massangano, comandada pelo Major Tito de Sicard. Dos confrontos havidos a vitória não tocou a nenhuma das partes, nomeadamente o combate ocorrido nas margens do rio Mucomadzi, em Novembro de 1854 mas, no cômputo geral, foi desprestigiante para as forças portuguesas, pois estas sublevaram-se contra o comandante Sicard, a ponto de o prenderem.

Em finais de Maio ou princípios de Junho de 1855 Joaquim José da Cruz morreu, em sua casa, sem nunca mais ter sido incomodado pelos portugueses.


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António Vicente da Cruz - (1839(?) - 1879) - Prazeiro. Filho de Joaquim José da Cruz, também passou à História com o cognome de "Bonga", que significa "gato selvagem". Após a morte do seu pai assume o prazo de Massangano e firma, com as autoridades portuguesas, um acto de submissão a estas. Passado algum tempo, em Janeiro de 1856, António Vicente da Cruz volta a mostrar a sua lealdade aos portugueses ao mandar prender, por ordem do Governador de Tete, o Tenente do Exército Alves Barbosa, que se acolhera na sua aringa e tentava aliciá-lo a guerrear Tete. Ainda nesse mesmo ano, solicita uma bandeira portuguesa para hastear nos seus domínios. A culminar toda esta submissão paga os arrendamentos dos seus prazos, que estavam em atraso, bem como as dívidas do seu pai à Fazenda Pública, caso raríssimo e nunca visto.

Em 1862 é agraciado pelo Governo-Geral de Moçambique em Sargento-Mor de Massangano, facto bastante vulgar naquela época. No entanto António Vicente da Cruz tinha um feito despótico, sendo frequentes incursões suas aos prazos vizinhos e, na sua área de influência, em Massangano, o seu modo de governar era cruel, baseado no terror e assassinato, enfeitando as paliçadas da sua aringa com caveiras.


A partir de 1867 entra em conflito aberto com as autoridades de Tete, começando por se recusar a pagar à Fazenda qualquer tipo de imposto. Após outros conflitos, Miguel Augusto Gouveia, Governador de Tete, decide-se por uma operação militar contra o prazo de Massangano, assumindo pessoalmente o seu comando. Esta primeira incursão militar salda-se num desastre total para as forças portuguesas, que foram chacinadas pelas gentes do "Bonga", em 06 de Julho de 1867, culminando com o aprisionamento e morte, sob tortura, do próprio Governador Miguel Augusto Gouveia, para além de terem sido mortos mais cinco oficiais, três sargentos, cinco cabos, dezoito soldados regulares e cerca de 300 soldados auxiliares, para além do diverso material de guerra que caiu nas mãos do "Bonga".

Para se vingar desta humilhação, o Governo de Moçambique ordenou uma segunda expedição militar contra Massangano comandada, agora, pelo Tenente-Coronel João José de Oliveira Queiroz. Em Dezembro de 1867 chegam às portas de Massangano mas também não conseguirão levar de vencida as forças do "Bonga", acabando por se retirarem, derrotados, em 01 de Janeiro e 1868, depois de travados alguns combates. 

Em Fevereiro deste mesmo ano (1868) promove-se uma terceira expedição contra Massangano, desta vez comandada pelo Tenente-Coronel Guilherme de Vasconcelos. Em finais de Julho de 1868 o corpo expedicionário acampa frente à aringa do "Bonga" e prepara-se para o assalto, contando também com o apoio de forças auxiliares do prazeiro Manuel António de Sousa*. Após se terem travado diversos combates, em 05 de Agosto de 1868, as forças do "Bonga" derrotaram em toda a linha, as forças portuguesas, matando inclusivamente o comandante da expedição, o Tenente-Coronel Guilherme de Vasconcelos, para além de mais dezoito oficiais e sargentos e duzentos e vinte e dois soldados regulares, havendo ainda a contabilizar o abundante material de guerra que ficou na posse das gentes do "Bonga", naquela que foi considerada uma das maiores derrotas militares dos portugueses em Moçambique.


Em 1869 lança-se a quarta expedição militar contra o "Bonga" reunindo, os portugueses, tropas da metrópole, da Índia e do contingente moçambicano, entregando-se o comando da mesma ao Tenente-Coronel Tavares de Almeida. Desencadeado o ataque contra Massangano, a 22 de Novembro de 1869, salda-se de novo em fracasso para as forças portuguesas que, batidas, retiram-se em desordem, quatro dias depois, deixando no terreno sessenta mortos contabilizados, entre oficiais, sargentos e soldados e, como sempre, mais material de guerra abandonado.

Acabando por se estabelecer uma paz fictícia, em Julho de 1872 uma pequena coluna militar portuguesa, comandada pelo Alferes José Rodrigues Rego, atacou aldeamentos submetidos à área do "Bonga" e, dos combates travados, acabou por sofrer sete mortos. Em acto de retaliação, Tete é atacada pelas gentes de Massangano, a 02 de Agosto de 1872, mas consegue resistir ao cerco. Seguiu-se um período de acalmia e, em Janeiro de 1875, por iniciativa do "Bonga", este acaba por firmar, mais uma vez, a paz com o Governador de Tete.


Mantendo, desde então, uma relação pacífica com os portugueses, António Vicente da Cruz viveu os último anos da sua vida em Massangano, onde vem a falecer em 08 de Setembro de 1879, sem nunca mais ter originado conflitos.



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Vila de Zumbo - A área onde se situa a vila de Zumbo foi doada aos portugueses pelo Monomotapa Panzagute, no tempo do Rei português Dom Sebastião e correspondia ao antigo Império Daúde. O primeiro colonizador foi uma natural de Goa, de nome Francisco Pereira, de alcunha "Chidalea" que construiu, em 1710, uma povoação comercial na ilha Chitakativa, na confluência dos rios Zambeze a Arângua, referida por Méroé. Estabeleceu-se aí um presídio* com um Capitão-Mor e, nos primeiros tempos, a Capitania era referida por Ilha de Méroé. Em 1720 o Zumbo foi atacado por forças do Reino de Changamire* mas, no decurso desse século, acabará por beneficiar da protecção militar deste Reino, que tinha aqui a sua principal plataforma de exportação dos seus produtos tendo-se, em 1731, construído uma escola de artes e ofícios. O Zumbo atinge o seu apogeu entre 1730 e 1760 e vivia, essencialmente, do comércio do ouro, marfim*, panos e escravos. Em 27 de Abril de 1763 a povoação foi elevada à categoria de vila.

Em Março de 1804 o Régulo Buruma III ataca e arrasa o Zumbo que, na altura, era governado por José Pedro Diniz, o qual só se salvou por ter fugido a nado e acolhido pelo Régulo Inhapende. No contra-ataque luso, o Capitão-Mor João Baptista Octaviano Reis Moreira consegue derrotar, em finais deste mesmo ano, as forças de Buruma. Em 1813 o Zumbo é  de novo destruído pelas forças do Régulo Buruma IV, o qual mantém o território a ferro e fogo até 1818, ano em que acaba derrotado pelos portugueses, refugiando-se na sua aringa. Em 1830 Buruma IV volta a atacar o Zumbo, mas acaba morto na contenda. Em 1836 o Zumbo é, de novo, atacado e destruído, por completo, pelas forças do regulado de Buruma. Os portugueses tornam a abandonar a vila, que só foi reocupada em 1862 pelo capitão-Mor de Tete, Albino Manuel Pacheco. O marfim volta a correr na vila, havendo registos que no ano de 1864 foram abatidos 2.000 elefantes, que produziram 1.700 arrobas* de marfim.

Em 1889 é criado o Distrito do Zumbo, tendo sido nomeado como primeiro Governador o Tenente Luís Inácio, bem como se concluiu a construção do forte "Dom Afonso", fim de fazer frente à influência britânica. O Distrito foi delimitado com base no desmembramento de áreas do Distrito de Tete, sendo o mesmo dividido em dois comandos militares, um sedeado em Mucheza e outro na foz do rio Cafucué. Com a revolta do Reino do Barué*, em 1917, o Zumbo foi, de novo, totalmente destruído e só com o findar daquela sublevação é que a vila se reorganizou de novo. 


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Cidade de Tete - Situando-se na margem direita do rio Zambeze e a 175 metros cima do nível do mar, o povoado de Tete já existia quando os portugueses aí chegaram, ao pretenderem atingir o Reino do Monomotapa. Em 1563 o Rei de Portugal Dom Sebastião doou a Igreja de São Tiago Maior de Tete aos jesuítas. Por volta de 1608 construiu-se o forte de "São Tiago" do Presídio de Tete.



Em meados do século XVII, devido à sua situação geográfica privilegiada, Tete era o lugar donde irradiavam os caminhos comerciais para o interior e, por isso, reunia-se neste povoado o ouro e o marfim de diversas feiras do Reino do Monomotapa. A povoação de Tete foi elevada a vila por Carta Régia de 09 de Maio de 1761. Em meados de 1860 residiam, em Tete, cento e dezasseis europeus. A vila foi elevada a cidade pela Portaria nº 13.043 de 21 de março de 1959. 



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Brasão de armas de Tete - Composta de prata, possui uma torre vermelha aberta e iluminada de ouro, ladeada por duas cruzes de São Tiago. A coroa mural é de prata com quatro torres e o listel branco tem gravado a negro "Vila de São Tiago de Tete".


Nota: aquando da elevação a "cidade" no listel passou a constar  esta palavra em vez de "vila".



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* - Já fichado.
** - A abrir ficha.


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PINTURA

Hugo Seia - Natural de Maquela do Zombo - Angola, acabou por seguir as pisadas do pai e dedicou-se à caça grossa. Aos oito anos abateu o seu primeiro golungo  (antílope) e, vinte anos mais tarde, tornou-se caçador profissional. Depois de ter deixado Angola, aquando do eclodir das guerras derivadas da descolonização, percorre outros países africanos onde vai exercendo o seu mister.


Pintura de Hugo Seia


Mas não é da sua actividade predadora (da qual sou abertamente contra) que falo dele. Hugo Seia tem uma outra faceta que me apaixona: é pintor. Para mim não é só um pintor. É um pintor fabuloso. Não conhecia a sua arte quando, ao navegar por sítios da rede relacionados com Angola (tendo como bússula o sítio da poetisa Ana Paula Lavado), tropecei na sua galeria. E fiquei seduzido. Só tenho pena de não ter dinheiro para adquirir um quadro seu. Aqui fica uma sugestão: visitem a  galeria dos seus quadros. Vale a pena. 


Pintura de Hugo Seia


E assim Hugo Seia, de quem nunca tinha ouvido falar tornou-se, para mim, no binómio Deus/Diabo, enquanto pintor e caçador.


Como réstea de consolação para um conservacionista como eu direi que, ao menos a actividade cinegética valeu-lhe para fixar, em tela, pinturas espectaculares da fauna africana. Que está a desaparecer a uma voragem incontrolavelmente estúpida. 

A fauna, não a pintura.



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POESIA



Viriato Clemente da Cruz - (Porto Amboim, 25.03.1928 - Pequim, 13.06.1973) - Político e poeta. Tendo crescido num seio familiar com enormes dificuldades financeiras, mesmo assim ainda efectua estudos liceais. No início da década de 50 estabelece contactos com personalidades que lutavam contra o sistema colonial português e, no final dessa mesma década, foge de Angola e atinge Paris, onde trava conhecimento com Mário Pinto de Andrade. Está na primeira linha da fundação exterior do MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola (1960) e assume o cargo de Secretário-Geral. Nesta qualidade desloca-se à China em busca de apoios para o Movimento e torna-se simpatizante da revolução chinesa e das teses políticas de Mao-Tsé-Tung. No regresso acaba por abandonar o secretariado do MPLA, em 1962, por divergências políticas com o Presidente do Movimento, Agostinho Neto, este defensor da linha moscovita. No ano seguinte é expulso do MPLA, e acaba por fixar residência, em Pequim, sob protecção das autoridades chinesas em plena Revolução Cultural (1966), os quais pretendiam utilizar o seu prestígio africano como uma das pontas de lança da penetração das teses maoístas neste continente. No entanto Viriato da Cruz virá a entrar em discordância com a linha política chinesa e acabará preso  em domicílio fixo e, posteriormente, remetido para um campo de trabalhos forçados, onde virá a morrer, auxiliado pela fome e maus tratos.


Como poeta deu um contributo importante para a afirmação da existência duma cultura de angolanidade. A Casa dos Estudantes do Império publicou, em 1961, num pequeno caderno denominado "Poemas", a sua obra poética, podendo a mesma ser encontra, na sua totalidade, no Volume II do "Reino de Caliban", uma monumental compilação poética feita por Manuel Ferreira.


Destaco dois poemas de Viriato da Cruz, o "Mãe Negra" e "Namoro". O "Mãe Negra" (o meu favorito de toda a sua obra) é a sua vertente poética universal, que ultrapassa as fronteiras angolanas, um cântico denunciador da globalização da escravatura mas também, em resgate final, de esperança num futuro vindouro.

Mãe Negra (Canto de esperança)


Tua presença, minha Mãe - drama vivo duma Raça
drama de carne e sangue
que a Vida escreveu com a pena de séculos.


Pela tua voz
Vozes vindas dos canaviais dos arrozais dos cafezais dos seringais dos algodoais....
Vozes das plantações da Virgínia
dos campos das Carolinas
Alabama
Cuba
Brasil...
Vozes dos engenhos dos banguês dos tongas dos eitos dos pampas das usinas
Vozes do Harlem District South
vozes das sanzalas.
Vozes gemendo blues, subindo do Mississipi, ecoando dos vagões
Vozes chorando na voz de Corrothers:
"Lord God, what will have we done"
Vozes de toda a América. Vozes de toda a África.
Voz de todas as vozes, na voz altiva de Langston
na bela voz de Guillén...



Pelo teu dorso
Rebrilhantes dorsos aos sóis mais fortes do mundo
Rebrilhantes dorsos, fecundando com sangue, com suor amaciando as mais ricas terras do mundo
Rebrilhantes dorsos (ai a cor desses dorsos...)
Rebrilhantes dorsos torcidos no tronco, pendentes da forca caídos por Lynch
Rebrilhantes dorsos (ah, como brilham esses dorsos),
ressuscitados com Zumbi, em Toussaint alevantados.
rebrilhantes dorsos...
brilhem, brilhem, batedores de jazz
rebentem, rebentem, grilhetas da Alma
evade-te, ó Alma, nas asas da Música
... do brilho do Sol, do Sol fecundo
imortal
e belo...



Pelo teu regaço, minha Mãe
Outras gentes embaladas,
à voz da ternura ninadas
do teu leite alimentadas
de bondade e poesia
de música ritmo e graça...
santos, poetas e sábios...
outras gentes...não tem filhos,
que estes nascendo alimárias
semoventes, coisas várias
mais são filhos da desgraça
a enxada é o seu brinquedo
trabalho escravo - folguedo.




Pelos teus olhos, minha Mãe,
Vejo oceanos de dor
claridades de Sol posto, paisagens
roxas paisagens
dramas de Cam e Jafé...
Mas vejo também (oh se vejo...)
mas vejo também que a luz roubada aos teus olhos ora esplende
demoniacamente tentadora - como a Certeza ...
cintilantemente firme - como a Esperança ...
em nós outros teus filhos,
gerando, formando, anunciando
o dia da humanidade,
O DIA DA HUMANIDADE.



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Namoro


Não transcrevo o poema "Namoro" pois o mesmo encontra-se legendado no vídeo seguinte, que se reporta à versão excepcionalmente musicada e interpretada por um dos meus cantautores favoritos: Fausto Bordalo Dias






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Sobre Fausto Bordalo Dias chamo a atenção para um excelente trabalho (como sempre) que ele lançou há uns anos atrás, com o título "A preto e branco", onde musicou e interpretou diversos poetas angolanos.


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LEITURAS




Não sou um especialista da obra épica "Os Lusíadas" de Luís de Camões. Nem um leitor frequente da mesma. Bem como o mesmo se passa com os seus restantes escritos, exceptuando os sonetos que, volta não volta, gosto de os ler.


Sobre os "Lusídas" conheço algumas passagens do livro, sei que o mesmo tem dez cantos - (contrariamente a uma certa personalidade da nossa praça política, que disse que tinha nove cantos - quem foi quem foi?, ofereço um doce a quem acertar na resposta e dou uma ajuda: gosta de comer bolo-rei, raramente se engana, e quase nunca tem dúvidas, não gosta de ler jornais, queixa-se que vive com dificuldades e tem um lote de conhecimentos de pessoas que venha o Diabo e escolha; quem é quem é?, branco é galinha o põe.) - num dos quais (o nono) fala da "Ilha dos Amores"  (pronto já cá faltava a pornografia; se calhar foi por isso que o outro não passou daí) e que é uma obra universal e canta a história de Portugal e a sua gesta marítima. E, praticamente, acaba-se aqui a minha cultura camoniana, salvo uma ou outra estrofe que sei de cor, para impressionar alguém.

Ora bem, ao passar num alfarrabista, tropecei num livro com um título interessante, que comprei e dei-lhe uma leitura em diagonal. Trata-se de "Camões contra a expansão e o Império: os Lusíadas como antiepopeia" da autoria de José Madeira, editado pela Fenda, em 2000 e com 261 págs., onde o autor explica que, afinal, o grande vate era contra a expansão portuguesa, indo buscar citações do mesmo nos Lusíadas para fundamentar a sua tese. Que, no entanto, não me convenceu.

Tenho para mim, do pouco que sei, que os "Lusíadas" são uma obra que canta a Lusa Gesta. No entanto e porque não sou nenhum especialista nesta matéria (serei nalguma?) chamo a atenção para este livro porque a tese que aborda raramente se encontra alguém disposta a defendê-la. Daí a sua originalidade. Pelo menos, só por isso, já vale a pena comprá-lo.



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PLANETA AZUL



A Terra não é uma herança dos nossos Pais mas um empréstimo que pedimos aos nossos Filhos
(autor desconhecido).


E já que falámos de conservação das espécies (a propósito da actividade de Hugo Seia) recordemos "As baleias", uma música fabulosa, interpretada por Roberto Carlos.




Não sou contra a caça à baleia, desde que a mesma seja feita artesanalmente e como forma de subsistência duma comunidade. Era o caso das ilhas centrais do arquipélago açoreano, por exemplo. Mas como para determinadas decisões somos mais papistas que o Papa, tratámos logo de proibir tal actividade. Em nome da preservação das espécies. E depois temos a frota pesqueira japonesa (por exemplo) que são autênticas fábricas bombardeiros, a passar e a passear-se por todas as águas do planeta e a chacinar as baleias todas que apanham. 


Os nossos lideres políticos são suficientemente cobardes e japónico-dependentes para dizerem algo que seja incómodo aos japoneses, não vão eles ficarem ofendidos. Mas para as comunidades piscatórias açoreanas, que pescavam duas ou três baleias por ano pois apenas usavam meios artesanais e não punham em causa o ecossistema... aí, já os nossos "Queridos Líderes" souberam falar grosso.
  


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ACONTECEU




Manifes - Contava o  meu pai que no "tempo da outra senhora" chegou a acontecer-lhe, uma vez, ir a passear na rua com um amigo, em Lisboa, a conversarem calmamente e terem sido abordados por dois elementos que se identificaram, como sendo da PIDE. Depois de logo separados uns metros um do outro, cada um dos esbirros perguntou do que estavam a falar e, após de terem confirmado que ambos tinham dado a mesma resposta, deixaram-nos seguir. O meu pai, que era um simpatizante do salazarismo e do Estado Novo, esclareceu que esta era uma medida de segurança estúpida, pois os verdadeiros oposicionistas ao regime, quando circulavam na rua combinavam de antemão qual era o tema da conversa para o caso de serem abordados (geralmente era futebol) e só então falavam do que os tinha levado a reunirem-se. 

Vem isto a propósito da PSP ter identificado  meia dúzia de pessoas e constituído arguido uma delas (por desobediência à autoridade), por andarem a distribuir panfletos no Centro de Emprego do Conde Redondo, em Lisboa. E, segundo a PSP, tal actuação baseou-se num parecer da Procuradoria Geral da República (de 1989) que refere: "Manifestação será o ajuntamento em lugar público de duas ou mais pessoas com consciência de explicitarem uma mensagem dirigida a terceiros". Por isso, para a PSP: "Duas pessoas já  fazem uma manifestação." (sic). (Artigo do Expresso de 12/05/2012)

Não sei porquê lembrei-me da história que o meu Pai contava dos PIDE´s. E, não sei como, em holograma, dei-me a vê-lo sentado à minha frente, a sorrir ironicamente, e a dizer-me: "Mudam-se os tempos, mantêm-se as vontades."

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Amizades - Pessoa amiga enviou-me um "mail" onde consta um despacho conjunto dos Secretários de Estado do Ensino Superior (João Rodrigues Queiró) e da Secretária de Estado da Ciência (Maria Leonor Parreira), despacho esse que tem o nº 774/2012 e datado de 11/01/2012, publicado no DR 2ª Série nº 14 de 19/01/2012, onde nomeiam Helena Isabel Roque Mendes para exercer determinadas funções na área de informática com um vencimento mensal de 1.575,00 euros.

Até aqui nada de  especial, chamando no entanto a atenção para o nº 3 do referido despacho que diz: "Nos meses de junho e novembro, para além da mensalidade referida no número anterior, será paga outra mensalidade de  E$ 1.575,00 (mil e quinhentos e setenta e cinco euros) a título de abono suplementar." (Nota: O sublinhado e em negrito é da minha lavra.)



Mas então, se àquilo se chamasse subsídio de férias e de Natal (que é do que verdadeiramente se trata), já não os podia receber, não era? Agora como é "abono suplementar" já pode pingar na conta da funcionária. E se os senhores governantes deixassem de ser a cambada de hipócritas e mentirosos que são?


Não sei porquê, deu-me para lembrar dum provérbio que diz "Amigos amigos, subsídios à parte" ou qualquer coisa parecida.



A findar duas observações: A) este apontamento não pretende visar directamente a funcionária nomeada para o cargo, mas sim o modo como os nossos políticos torneiam a Lei; B) Esta matéria não é secreta de modos fica um aviso ao nosso "James Bond de pacotilha", o inefável espião Silva Carvalho, que escusa de mandar "sms" para Miguel Relvas a par de pedidos de cunhas a informá-lo desta situação e para a Ongoing a troco duns miseráveis milhares de euros mensais.



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Ponto Contra Ponto - É um programa televisivo, concebido e apresentado por José Pacheco Pereira, de curta duração (cerca de 15/20 minutos), apresentado na SIC Notícias e transmitido aos Domingos às 21H30. Apesar de, politicamente, não concordar com diversos pontos de vista que ele defende não deixo de reconhecer, no entanto, que é um intelectual na sua plena soberania, sendo dos que pensa pela sua própria cabeça. Vejo-o como um homem livre, que não se deixa tolher pelas amarras da sua opção ideológica. Uma pessoa que se deve escutar com atenção. Mesmo que não concordemos com os seus pontos de vista. E até por isso mesmo.


Vem isto a propósito do programa "Ponto Contra Ponto" que ele apresenta. Um excelente momento de televisão, bem explicado, bem fundamentado e que eu, sempre que tenho oportunidade, vejo. Um programa que me põe a pensar, que me elucida, e que aborda assuntos interessantes. Este Domingo passado (13/05) por exemplo, o tema foi a actividade da censura no tempo do Estado Novo e de como essa mesma censura é aplicada em regimes democráticos, como nos EUA.


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Guerra na imprensa - Lembro-me, quando eu era miúdo (há mais de quinhentos anos, como o tempo voa) que uma das discussões que havia entre nós era de andarmos a discutir quem tinha o pai mais forte, ou mais rico ou "mais grande". Parvoíces mas que na altura tinha, para nós catraios de meia dúzia de anos, muita importância. Dava estatuto poder impôr que o nosso pai era mais isto ou aquilo que os pais dos nossos companheiros de brincadeiras. 


Nem de propósito: circulou há tempos na "rede" uma anedota em que aproveitando uma campanha publicitária da EDP  em que aparecem miúdos a dizerem que o pai ou a mãe são muito fortes porque constroem barragens, mais isto e aquilo, logo surgiu uma imagem dum miúdo chinês a dizer "o meu pai manda nos pais deles". Elucidativo.


Bem, toda esta lenga-lenga para dizer que cansa-me andar a ler, quer na "Visão" quer na "Sábado", anúncios auto-proclamativos a dizerem "eu vendi mais números esta semana que a outra" ou "neste mês nós batemos o recorde de vendas, segundo os dados da entidade tal", e por aí fora. Já fede. Parem de morderem-se e façam o vosso trabalho: boas reportagens, notícias isentas e bom jornalismo de investigação. É difícil? Se acham que não é... façam-no. Se acham que é... façam-no na mesma. Senão, fechem as portas, porque não servem para esta nobre profissão.


Mas parem de se armarem em campeões de vendas. Não é por uma andar a perorar que vende mais que a outra que leva uma pessoa a escolher esta ou aquela revista. O que eu quero ler são notícias, baseadas na trindade acima enumerada.


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Kalpana Saroj é uma empresária indiana, cuja empresas movimentam milhões de dólares/euros. Nada de especial até aqui. Mas esta mulher é notícia porque a sua origem social é dos  escalões mais baixo da sociedade indiana. Forçada a casar aos doze anos, com dezoito era costureira numa favela, em Bombaim. Conseguindo um pequeno empréstimo estatal, foi reinvestindo o mesmo noutras actividades, aumentando o seu cabedal financeiro até ter comprado uma empresa falida que rentabilizou. Hoje, aos 50 anos,  é multimilionária. (Revista Sábado nº 419).



Kalpana Saroj, no contexto social hindu, é uma "dalit" (intocável, impura), a classe* mais sofredora e desprezada das existentes. Existem apenas no contexto tradicional já que, legalmente, foram abolidas após a proclamação da independência. Mas, lamentavelmente, existem.


Em trinta anos esta mulher passou dum estado de pobreza total para um estado de riqueza total. Contrariamente a nós, enquanto País, que passámos dum estado aproximado da estabilidade financeira para o de indigência total. E, de repente, dei-me a fantasiar: será que não podíamos exportar para a Índia quase toda a nossa classe política, banqueira, empresarial do sector da construção civil  e judicial em troca desta mulher, que viria para nossa Primeira-Ministra? 


De certeza que perdia a Índia, mas nós... não. Infelizmente isto não passou duma fantasia momentânea.  Tinha adormecido no sofá e, quando acordei, estava o Primeiro Ministro (o nosso) a falar, patati patata etc. e tal nham nham nham. Desligei o televisor e voltei a deitar-me no sofá. Afinal, acordados, também temos pesadelos.


* - A corrente religiosa hinduista, refere que a sociedade encontra-se dividida em quatro castas principais, todas originadas de Brhama, o Deus supremo: "Bramânes" (sacerdotes) que vem da cabeça, "Kshatrias" (guerreiros) originários dos braços, "Vayshias" (comerciantes) originários das pernas e "Sudras" (operários, camponeses e artesãos) originados dos pés. Quando Brhama se deslocava levantava poeira e, desta, derivaram os "dalits", que são os impuros, intocáveis, pois não derivam directamente duma das partes do corpo de Brhama e, por isso, são desprezados por todos os outros.


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Leio (DN, 16/05/2012) que a Rainha Sofia de Espanha já não vai assistir às celebrações do sexagésimo aniversário do reinado de Isabel II do Reino Unido, porque existem tensões entre estes dois países por causa da soberania de Gibraltar. O mesmo acontecera em 1981 quando os reis espanhóis não foram ao casamento da Diana e do Carlos, porque estes disseram que iam passar a lua-de-mel em Gibraltar.


Isto realmente é um aborrecimento. Coitados dos reis não poderem andar a passear e irem a festas uns dos outros à conta do erário público, para comerem, beberem e ... sei lá o que mais. Como republicano dos quatro costados e até à medula dos ossos que sou... estou solidário com os monarcas e cheio de pena deles. Então, não?

Bom, mas voltemos à vaca fria. Gibraltar é um calhau (sem olhos), localizado no Mediterrâneo, governado pelo Reino Unido mas que Espanha reinvindica como seu território e, como tal, faz finca-pé desta sua pretensão.

Então, uma pergunta: E Ceuta, que fica no Norte de África e que é governada por Espanha, não é território marroquino?

E outra pergunta: Olivença, não é território português? Ah, mas com Olivença estão os espanhóis descansados. Os políticos portugueses jamais os irão incomodar com tal situação, porque são cobardes e espanholo-dependentes demais para ousarem a tanto. Quase que só falta pedir-lhes desculpa por seremos, na Península Ibérica, (teoricamente) independentes. Até já mexeram no feriado do 1º de Dezembro, onde se comemorava a Restauração da nossa independência contra o domínio espanhol.   

Pela norma da Constituição Olivença, sendo território português, é inalienável; no mapa de Portugal o traçado da fronteira da zona de Olivença está interrompido (deve ser caso único no mundo ocidental) mas os anos vão passando e nada se mexe. Para não incomodar os "nuestros hermanos".

Neste caso eu sou mais radical: acabe-se com esta hipocrisia política e, definitivamente, considere-se Olivença terra esponhola (nem que seja por usucapião), retire-se o artigo da Constituição na proxima revisão e desenhe-se, de vez, o traçado fronteiriço. Que hoje em dia também já não tem razão de existir.



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FOI ESCRITO



Leio, no Expresso de 12/05/2012, uma coluna de opinião demolidora assinada por Ricardo Costa, sob o título "Não há e-mails grátis" do qual transcrevo duas partes:


"...Um grupo empresarial com a mania das grandezas contratou um espião com a mania das grandezas, fechou a norma da decência num cacifo e deitou fora a chave. Juntos acharam que iam conquistar o mundo, munidos de aventais. Quebraram tantas regras em tão pouco tempo que foram apanhados..."  ////// ".... convém lembrar: no dia 23 de Julho de 2011 o Expresso escreveu que Silva Carvalho tinha passado informação à Ongoing antes de ser contratado. No dia 30 de Julho escrevemos que os serviços lhe continuavam a passar informação. O que aconteceu? Nada. Relatórios miseráveis, sindicâncias incompetentes, protecção de superiores e um ámen envergonhado do Governo. E espero que tenham corado com a  acusação." 


Como sempre, Ricardo Costa não  me desiludiu. Fazem falta mais jornalistas deste jaez. Nesta mesma edição o Expresso, mais uma vez, apresenta um excelente resumo esquemático de toda esta trama que envolveu serviços secretos, espionagem comercial/industrial, sexo, maçonaria, cunhas, favorecimentos de empregos, compadrios, incompetência dos serviços de fiscalização parlamentares, etc. e tal. 


Digno duma trama à John Le Carré. Mas para quê comprarmos livros deste autor? Basta viver em Portugal.


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Já a entrevista que Vasco Rato, administrador da Ongoing, dá à Sábado e publicada no nº 420 deste semanário, é o costume. O homem conhecia o "James Bond de pacotilha", almoçou com ele, apresentou-o ao PM, recebeu relatórios dele, patati patata etc. e tal nham nham nham, hoje não gosta dele, está arrependido de o ter apresentado ao PM, patati patata etc. e tal nahm nham nham. Enfim... o costume. São todos inocentes, puros e sãos. Mas agora, neste momento, o "Jorge Silva Carvalho não é um gajo que eu aprecie." (sic) segundo o dito cujo Vasco Rato, neste entrevista.


Comentários... para quê?




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Todas as fotos do presente texto foram colhidas do Google Imagem e os vídeos do Youtube.


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