"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Wilfred Thesiger

Aventureiros, viajantes e exploradores

Wilfred Thesiger - (Adis-Abeba, 03/06/1910 - Londres, 24/08/2003) - Aventureiro, explorador, fotógrafo e escritor. Tendo nascido em Adis-Abeba, onde o seu o pai era o representante diplomático da Coroa Britânica, fez os seus estudos em Inglaterra, em Sussex (1919/1923) finalizando-os em Oxford (1929/1933) onde, paralelamente, se dedicava ao boxe escolar como desporto. Aproveita as férias escolares universitárias para viajar e, assim, no primeiro ano embarca para Istambul, regressando de comboio. No regresso tem um convite para voltar à Etiópia em 1930, numa breve viagem de cortesia para assistir à coroação do Négus Hailé Selassié.

Apaixona-se pela Adis-Abeba e por tudo o que ela representa nesta viagem. Na sua autobiografia escreverá, mais tarde, que se divertia com o tom e a "entoação de vozes falando aramaico, o cheiro de animais queimados que pontilhavam a cidade, as matilhas de cães selvagens que vagueavam pelas ruas, um ocasional cadáver que fora enforcado numa árvore, mendigos que haviam perdido o pé ou a mão por crimes de roubo"**. É recebido em audiência privada pelo Negus Hailé Selassié, que recebera bastante apoio do seu pai quando este ali exercera o mandato diplomático e o incentiva a vir para a Etiópia. "É o seu País. Nasceu aqui ... Espero que venha passar muitos mais anos connosco." Ter-lhe-á dito o Imperador nessa audiência**.

Nas férias do ano seguinte embarca como pescador numa traineira para a Islândia onde aprende, no meios dos frios e dos nevoeiros, a combater o sono. É uma aprendizagem dura a que se impõe de livre vontade.

Três anos mais tarde encontra-se de novo em terras etíopes para explorar todo o curso fluvial do rio Awash, exploração esta financiada pela Real Sociedade Geográfica de Londres. No decurso desta expedição entra no Sultanato Affar (ou Haussa), na fronteira entre a Etiópia e a Eritreia, tendo sido dos primeiros europeus a consegui-lo bem como também explora o lago Abhe Bad, que é um depósito lacustre de sal que se localiza na zona fronteiriça etíope-djibutiana.

Em meados da década de 30 encontra-se no Sudão, como Comissário Distrital e colocado em Kutum, uma remota localidade do Darfur. Percorre toda a zona do Darfur e os campos pantanosos do Sudd e navega pelo Nilo Superior. É no Darfur que Wilfred Thesiger faz a sua apaixonada aprendizagem de nómada do deserto, aprendendo a cavalgar camelos, a comer do que apenas encontrava ou caçava e a suportar a sede e a fadiga, aprendizagem esta que tão útil lhe seria para a vida aventurosa que já estava a desenvolver. Recusa qualquer tipo de tecnologia que lhe facilitasse  a vida, salvo uma espingarda, uma lanterna, uma bússola e uma máquina fotográfica. Durante uma licença, aquando de serviço no Darfur, interna-se do deserto do Sahara e vai até às montanhas do Tibesti, um desafio que lhe causa uma tal sensação de euforia, como confessou mais tarde, que jamais o fará abandonar a paixão pelos desertos.

No eclodir da II Guerra Mundial combate as forças italianas nas campanhas etíopes e celebriza-se ao liderar uma força que captura uns 3.000 soldados italianos em Mekane Selam (1941), depois duma marcha forçada de 80 quilómetros em menos de 24 horas. Combate, ainda, integrado na Coluna Gideão, uma força de comandos que era liderada pelo Major Charles Wingate. Vai para a Síria combater as forças francesas fiéis a Vichy, o que lhe permite visitar a lendária cidade de Petra, localizada na actual Jordânia. Em 1943, com a  derrota do germânico Afrika Korps, no Norte de África, Wilfred Thesinger retorna a Adis-Abeba, onde exerce funções de conselheiro junto de Hailé Selassié.

Após o findar do conflito vai trabalhar para a recém-criada FAO, o departamento de alimentação e agricultura da ONU, e é colocado nas unidades de observação e combate a pragas, tal como a do gafanhoto, sendo-lhe determinado percorrer os desertos arábicos. Percorre, por duas vezes, o Rub´al Khali, considerado o deserto dos desertos e que se situa na parte Sul da Arábia Saudita e abrangendo áreas de Omã, Iémen e Emiratos Árabes Unidos. Foram duas violentas viagens exploratórias que só a sua excepcional robustez física e mental lhe permitiram levar a bom termo. Não tendo o primeiro europeu a atravessar este lendário deserto (já Richard Burton* o fizera) foi, no entanto, a fazê-lo na totalidade, tendo ainda mapeado o oásis de Liwa e as areias movediças de Umm-As-Sammim. Sofreu perseguições de assaltantes, esteve envolvido em conflitos inter-tribais e também foi detido pelas autoridades sauditas. Viajou sozinho ou acompanhados por beduínos, povo que ele passou a admirar e a  querer viver como eles. Respeitava o estilo de vida frugal dos mesmos, recusando ser dependente da tecnologia.

Peregrina pelo Iraque, pelo Deserto da Areia Grande na Pérsia (actual Irão), Curdistão, nordeste do Paquistão, Afeganistão, as cordilheiras centro-asiáticas do Hindukush e do Caracórum. Percorre a África nortenha até Marrocos e, depois, abandonando a vida de nómada do deserto, desce pela África Oriental e vai até ao Tanganica (actual Tanzânia), com longas estadias no Quénia e no Uganda. Combate no decurso da guerra civil do Iémen (1966/67) pelo lado monárquico. A pé, em transporte animal ou de canoa, contabilizam-se por dezenas de milhares os quilómetros que Wilfred Thesiger palmilhou à sua conta.

Estabeleceu-se finalmente no Norte do Quénia, onde planeava findar o seus dias, fruto das fortes ligações afectivas que estabelecera com as tribos samburu, mas a morte de amigos seus destas tribos, a instabilidade política que o País começou a sofrer e a cegueira que começou a sofrer lenta e gradualmente, levaram-no a regressar em 1994, de vez, para a Grã-Bretanha, acabando os seus dias num lar de idosos. 

Apesar de não renegar as suas origens e o legado cultural que herdara, a verdade é que este homem rejeitava grande parte do bem estar que a tecnologia lhe proporcionava. Preferia andar a pé ou a cavalo do que de carro. Acusava a civilização de cilindrar as ancestrais culturas humanas, destruindo povos e costumes bem como de coarctar a liberdade individual de cada um poder dispor de si para onde quisesse ir. Era o preço do avanço da civilização que ele não estava disposto a pagar. Preferiu ser um cavaleiro andante do deserto e andar a combater guerreiros de tribos ferozes ou a fugir de  tempestades do deserto nadas de causas naturais e não criadas por interesses de um qualquer político de gabinete; preferiu dormir no frio nocturno enrolado numa manta e a ouvir o estalar das montanhas quais gritos do deserto; preferiu a honradez do aperto de mão e da palavra dada dum gentio ao acordo notarial da civilização. Como a historiadora Sara Weelher o definiu: "Thesiger vive numa idade homérica de exploração e escrita de viagens, uma idade antes do patrocínio da televisão. Ele destaca-se como um  monólito contra o lixo consumista e a cultura da celebridade trash."  Mas para o fim da sua vida tinha a consciência de que as suas opções estavam ultrapassadas e esse mundo nostálgico com que sempre sonhava era apenas uma reminiscência do passado, uma simples página dum pequeno de livro de História. Mas, a verdade, é que ele viveu esse mundo. E viveu para contá-lo.

Fotógrafo inveterado, legou ao Museu Pitt Rivers, da Universidade de Oxford, um espólio memorialista de mais de 20.000 negativos e aos apaixonados pelos cálidos ventos meharistas dos planaltos desérticos e pelas frias fragas das cordilheiras centro-asiáticas vários livros, entre os quais "Pelos desertos das Arábias"; "Os árabes Marsh"; "O diário Danaki - jornada através da Abissínia"; "Entre as montanhas - viagens pela Ásia", a sua autobiografia "A vida que escolhi" (1987) não estando esgotada, nesta pequena súmula, toda a sua bibliografia.

Nem toda a sua vida.  

* - Já biografado anteriormente.
** - Fonte recolhida junto dum testemunho de Jonathan Glancey, jornalista do "The Guardian", que conviveu com Wilfred Thesiger nos seus últimos tempos.

Historiando Moçambique Colonial

Parte IV - A paz lusitana
Com o findar da segunda década do século XX  os portugueses encontram-se, finalmente, instalados em Moçambique e, coisa rara, em paz. São, verdadeiramente, os donos e senhores daquele imenso território.

Resolvidos os conflitos internos com a derrota do Reino do Barué e a retirada das tropas alemãs, no rescaldo da I Guerra Mundial e encerrado o contencioso com a Grã-Bretanha no tocante à delimitação das fronteiras terrestres, os portugueses voltam ao seu habitual estado de sonolência tropical.

A envolver totalmente Moçambique encontrava-se a Grã-Bretanha com as suas colónias, desde a África do Sul à Rodésia do Sul (actual Zimbabwé); Rodésia do Norte (actual Zâmbia); Niassalândia (actual Malawi) e Tanganica (actual placa continental da Tanzânia) e, fruto disso, o desenvolvimento de Moçambique era em função dos interesses económicos britânicos e não dos interesses moçambicanos.

Assim, Lourenço Marques e o seu porto serviam para escoar e deixar entrar os produtos produzidos e necessários ao interior transvaliano e, para facilitar o tráfego comercial, construiu-se a linha de caminho-de-ferro que ligava, à capital moçambicana, as províncias interiores sul-africanas. No centro, o porto da Beira servia de porta de entrada e de saída para os produtos da Rodésia do Sul. No Norte, como não havia interesses britânicos na periferia, estava ao semi-abandono.

Com a queda da monarquia portuguesa, em 1910, e a consequente implantação do regime republicano, a situação na colónia de Moçambique pouco ou nada melhorou para os naturais. O poder colonial branco instalara-se, lenta e paulatinamente. Na Metrópole os republicanos não se entendiam e os governos em Lisboa sucediam-se, vertiginosamente, uns atrás dos outros com reflexos negativos na condução da política colonial.

A 28 de Maio de 1926 os militares promovem um golpe de estado e instalam a ditadura, apelidada de Ditadura Nacional. Pouco anos depois, António de Oliveira Salazar, que já soçobrara a pasta das Finanças é nomeado Presidente do Conselho de Ministros e instaura um novo ciclo político, também ditatorial e que se chamou de Estado Novo. O novo governante, receoso do aparecimento de novos "Brasis" nas colónias, que originariam um desenvolvimento económico e social nas populações e consequentes aumentos de autonomias políticas, irá encetar uma política de estrangulamento total do desenvolvimento das colónias.

Elevando ao mais alto grau o cunho nacionalista da grandeza da História de Portugal e da sua missão divina de salvador dos povos da barbárie, endeusando Afonsos de Albuquerques, Vascos da Gama e Infantes D. Henrique e outros tantos e passando um apagador na história dos povos africanos, Oliveira Salazar fará tábua rasa de todas as aspirações emancipalistas das populações africanas, provocando um retrocesso na lenta evolução das colónias.

Após o findar da II Guerra Mundial (1939/1945) começa a despertar em África, de novo, a consciência autonomista dos povos, liderados por toda uma geração de políticos africanos que, independentemente do seu radicalismo ou contradições, podem-se considerar, com toda a justeza, os pais da África independentista: Kwame N´Krumah; Eduardo Mondlane; Patrice Lumumba; Amílcar Cabral; Mobido Keita; Jomo Kenyatta; Agostinho Neto; Houphoet Boigny; Omar Bongo; Sekou Touré; Hastings Banda; Seretse Khama; Julius Nyerere e Kenneth Kaunda; não sendo esta uma lista exaustiva.

Os portugueses, aferrados a princípios políticos ancilosados, não acompanham o evoluir dos tempos e, contrariando teimosamente os ventos da História, marcam passo no marasmo colonial, jamais se preocupando em criarem os caboucos do futuro edifício moçambicano. Na década de 50 e princípios de 60 sopram, vindos do Norte, os ventos independentistas africanos e as grandes potências coloniais europeias, com mais ou menos percalços, outorgam e reconhecem a emancipação, autonomia e independência das suas colónias. Assiste-se então, na ONU, ao aparecimento de nóveis países africanos que iam engrossar a voz dos que clamavam contra o colonialismo caduco de Portugal. Mas Oliveira Salazar e o seu regime ditatorial estavam politicamente surdos e historicamente cegos. 

Na África Austral, enquanto os britânicos preparavam a sua retirada, negociando ou sendo obrigados a ceder a independência de vários territórios, os portugueses mantinham a sua cadência ritmada pelo andar do caracol, crentes na imobilidade da História e na fidelidade dos povos africanos à bandeira das quinas bem como da sua docilidade.

E nem a queda do diminuto Estado da Índia, invadido pelas forças armadas da República Indiana; nem a perca do forte de S.João Bapista de Ajudá, tomado pelo Exército do Benim após abandono do mesmo pelo representante português ou o eclodir da guerra nacionalista, em Angola - todos estes factos ocorridos em 1961 - levaram Oliveira Salazar e os seus seguidores a abandonarem a política do "orgulhosamente sós".

Os portugueses tinham criado a sua paz, crentes na eterna durabilidade da mesma e assente no paternalismo europeu e na docilidade africana. Mas a foice da História ceifou rente os sonhos do imutável Império Colonial Português. A sua paz só duraria quarenta anos.

No início dos anos 60 Moçambique encontrava-se englobado no contexto político duma "África Branca", na qual a África do Sul, com o seu regime de apartheid pontificava como potência regional incontestável.

Em meados desta década Ian Smith declara, unilateralmente, a independência da Rodésia, sem a concordância da potência colonizadora, a Grã-Bretanha e este facto veio reforçar mais o conceito da "África Branca", ou seja, uma área onde os brancos dominassem política, económica e militarmente. No entanto, a vaga de fundo independentista assolava o continente africano pelo que, como já anteriormente foi referido, vemos nas décadas de 50 e 60 múltiplas colónias africanas ascenderem ao concerto das nações libertando-se, teoricamente, do jugo colonial.

Os territórios africanos que ascenderam à independência eram todos da área inglesa, francesa e belga. Os territórios que estavam sob a tutela portuguesa mantiveram-se sob administração deste País, já que Governo ditatorial de Oliveira Salazar jamais pretendeu discutir o que quer que fosse sobre o futuro das chamadas Províncias Ultramarinas, como ele frisou por diversas vezes.

Mas a França, a Grã-Bretanha e a Bélgica ao cederem aos ventos independentistas das suas colónias estavam longe de revelarem preocupações com a identidade e emancipação dos povos africanos. Inteligentemente o colonialismo transformou-se em neo-colonialismo, ou seja, entregou a independência política mantendo o domínio económico dos novos países.

Herdando, os independentistas, uma população analfabeta, numa mistura de múltiplos povos e línguas e costumes diferentes, sem formação de quadros superiores e médios, fazendo ascender uma burguesia nacional corruptora e uma classe política corrupta e decrépita, o neo-colonialismo triunfa nos novos países, suas ex-colónias.

Kwame N´Krumah, um dos Pais da África moderna, independentista e revolucionário político ganês, cuja actuação ultrapassou as fronteiras do seu País e se situa à escala continental definiu, em 1965, no seu livro "Neocolonialism - the last stage of imperialism" o neo-colonalismo do seguinte modo: "Em lugar do colonialismo, como principal instrumento do capitalismo, temos hoje o Estado neo-colonial. A essência do neo-colonialismo é a de que Estado a que ele está sujeito é teoricamente independente e tem todos os adornos exteriores de soberania internacional. Mas, na realidade, o seu sistema económico e, portanto, o seu sistema político são dirigidos do exterior".

Assim, vamos encontrar formas de neo-colonialismo em África como, a título exemplificativo, na exportação de capitais, nos programas de auxílio e desenvolvimento, na instalação de bases militares, na provocação de guerras tribais e na ascenção ao poder de políticos corruptos. Será a razão da existência dos Idi Amin; Bokassa; Odjkwkw, Macias, Mobutu, Tchombé e tantos outros. Será toda uma legião de ditadores corruptos e cruéis, autênticas marionetas nas mãos dos agentes económicos dos países desenvolvidos que, a fim de manterem os seus interesses intactos, chegam a inspirar guerras civis e secessões em vários pontos de África (Katanga, no Congo e Biafra, na Nigéria, por exemplo).

Mas, enquanto todas estas convulsões se processavam nalgumas partes de África, a sua zona meridional parecia um oásis de paz, sob domínio branco. Assim, no decorrer da década de 60 vamos encontrar: uma África do Sul com um regime de apartheid; uma Rodésia a declarar, unilateralmente, a sua independência em 1965 e a instalar também o apartheid; Angola e Moçambique sob domínio português e com o estatuto de Províncias Ultramarinas. O Botswana e o Lesoto atingem as suas independências em 1966 e a Suazilândia dois anos depois mas estes países, fruto da sua localização geográfica ou pequena extensão territorial e rodeados pelos restantes territórios em mãos de poder branco, são economicamente dependentes dos restantes territórios que os circundam. A Namíbia era um território sob administração sul-africana, tendo sido o último território da África Austral a declarar a sua independência (1990).

Ou seja, a África Austral era composta por territórios governados, directa ou indirectamente, pelos interesses económicos europeus, no início dos anos 60 e o navio chamado Moçambique navegava, aparentemente calmo, integrado na armada colonial portuguesa, nos mares meridionais. O que distinguia Angola e Moçambique dos restantes territórios da África meridional é que nem eram independentes nem sequer o Governo de Portugal admitia essa hipótese.

Portugal era regido por uma ditadura que, em relação à política africana, levou o seu Presidente do Conselho de Ministros, Oliveira Salazar, a emergir de duas correntes aparentemente opostas e que se digladiavam no seio da União Nacional (a única associação política autorizada): os integralistas e os federalistas.

A corrente federalista teve um dos seus mentores iniciais em Marcelo Caetano - que vem a suceder a Oliveira Salazar - que advogava reformas nas "Províncias Ultramarinas" (nome eufemístico que ele atribuiu às colónias para tornear um obstáculo jurídico na ONU) e os integralistas contrariavam tais reformas, por temerem que as mesmas acabassem por levar à emancipação dos povos africanos e, assim, surgissem os tais "novos Brasis".

Oliveira Salazar, simpatizante da fórmula integralista, optou por atrofiar a lenta evolução colonial e, ironia da História, Marcelo Caetano, que lhe sucede na cadeira do poder, acabará por ceder à pressão dos conservadores e virá a abandonar as ideias reformistas, optando por um posicionamento híbrido. As poucas reformas que fez já vieram tarde, não passando de simples maquilhagem política.

De qualquer modo, ao atrofiar a lenta evolução das gentes africanas e recusando a visão pragmática doutros países sobre a evolução do colonialismo para o neo-colonialismo, Oliveira Salazar fechou as portas a uma via independentista sem derramamento de sangue. Tolhido pelas malhas que o império teceu, Marcelo Caetano, seguidor da política salazarista, não teve coragem para inverter a situação deixando levar a guerra nacionalista até ao fim, o que acabou por se saldar num cansaço militar, uma das principais sementes do 25 de Abril de 1974.

A semente nacionalista já tinha, no entanto, chegado a Moçambique, trazida pelos ventos revolucionários do Norte. Apesar do regime assentar num sistema monopartidário, com a censura a amordaçar uma imprensa castrada, uma polícia política mais ou menos eficiente e um aparelho militar obediente, os governantes esqueceram-se que a tradição oral em África é premente e permanente e, assim, as notícias das independências noutros países e o eclodir da guerra em Angola chegam a Moçambique. 

Pode-se considerar que o rastilho que acelerou o eclodir da guerra, em Moçambique, terá sido o massacre de Mueda, ocorrido a 16 de Junho de 1960 quando, numa manifestação de populares descontentes, forças policiais e militares portuguesas abriram fogo contra uma multidão desarmada. A 25 de Junho de 1962 é fundada a FRELIMO - Frente de Libertação de Moçambique, resultante da unificação de três pequenos partidos que eram a UDENAMO - União Democrática Nacional de Moçambique; a UNAMI - União Nacional para Moçambique Independente e a MANU - Mozambique Africa National Union e, dois anos depois, a 25 de Setembro de 1964, desencadeia-se a guerra em Moçambique, com o objectivo primordial de se atingir a independência do território.

Sediada em Dar-es-Salam, capital da Tanzânia, a FRELIMO liderada por Eduardo Chivambo Mondlane, esgotadas as tentativas de diálogo com o Governo Português, opta pelo desencadear da luta armada, não contra o povo português mas sim contra o regime que também o oprimia, conforme ficou frisado no seu Primeiro Congresso, que se realizou entre 25 e 28  de Setembro de 1962.

Assim, em 25 de Setembro de 1964, na cidade de Dar-es-Salam e num discurso aos moçambicanos via rádio, Eduardo Mondlane dirá: "Em vosso nome a FRELIMO proclama hoje, solenemente, a insurreição geral armada do povo moçambicano, contra o colonialismo português, para a conquista da independência total de Moçambique. O nosso combate não cessará senão com a liquidação total e completa do colonialismo português".

Por volta das 19H00 desse mesmo dia, uma secção de guerrilheiros da FRELIMO, comandada opor Alberto Chipande, ataca o posto do Chai, em Cabo Delgado. Começava o canto do cisne da soberania portuguesa nas terras moçambicanas, canto esse que dolorosamente se iria prolongar por uma década.

(Continua) 

Uma personalidade para a eternidade  

Albert Schweitzer - (Kaysersberg, 14/01/1874 - Lambarané, 04/09/1965) - Médico, teólogo evangélico, filósofo e músico. Nascido na Alsácia, sendo este território na altura pertença da Alemanha, formou-se em Teologia e Filosofia pela Universidade de Estrasburgo, acabando por integrar o corpo docente deste pólo de ensino superior em 1901. Quatro anos mais tarde inicia-se no curso de Medicina, doutorando-se em 17 de Dezembro de 1911. Sente o chamamento por causas humanitárias e, já casado, abandona o conforto e a segurança europeia e, acompanhado pela sua esposa, Helena Bresselau e que era enfermeira, parte para o Gabão (Fevereiro de 1913), então colónia integrada na África Equatorial Francesa, onde vai missionar e exercer medicina numa missão localizada na Estação de Lambarané, junto ao rio Ogoué, em resposta a um desafio feito por Alfred Boegner, então Presidente da Sociedade Missionária de Paris. Começa por dar consultas num galinheiro abandonado, sem intérprete e com o material clínico ainda por chegar da Europa, via marítima. Mas não desanima e, lentamente, começa a construir um pequeno hospital, junto ao rio, o que facilitava a chegada de doentes em canoas. Para além das consultas também opera e, para os gentios, faz milagres pois mata o doente, opera e depois ressuscita-o. A morte assim referida era a anestesia. Ganha respeito e admiração pois, aos próprios feiticeiros das tribos tratava-os como colegas e nunca os humilhava. Sabendo que os feiticeiros tinham bastante influência no seio das populações era um meio de os cativar e, assim, trazerem-lhe doentes que, doutro modo, nunca lhe levariam ao hospital. Acaba, fruto deste trabalho paciente, por ser cognominado de "Oganga" ("o mago dos feitiços").

Com o eclodir da I Guerra Mundial, onde França e Alemanha conflituaram, o casal alemão acaba preso pelas autoridades coloniais francesas (1917) e remetido para França, ficando confinados num campo de prisioneiros até ao findar da guerra, aproveitando este tempo morto para escrever um ensaio filosófico sobre o conflito das civilizações. Terminada a guerra, efectua um périplo europeu, durante os sete anos seguintes, onde realiza concertos musicais e conferências filosóficas e religiosas, com o fito de recolher fundos para a missão gabonesa de Lambarané, a sua grande paixão, para onde retorna em 1924. Conseguindo levar consigo pessoal médico e de enfermagem, lentamente vai erguendo um hospital maior onde atende, gratuitamente, toda a população que ali se desloca. Continua a escrever e a publicar livros, cujos direitos autorais lhe permitem sustentar e continuar a ampliar um novo hospital, que inaugura em 27 de Janeiro de 1927.

Vem à Europa em 1929, 1933 e 1935 a fim de se recuperar das doenças que o afectam, face à dureza do clima tropical e também para colectar dinheiro, quer em conferências quer em recitais de música, sendo reputado como um organista exímio e virtuoso intérprete das obras de Bach. Em 1949 vai aos Estados Unidos e três anos mais tarde atinge o seu zénite mundial ao ser laureado com o Prémio Nobel da Paz. Com o dinheiro deste prémio inicia a construção dum hospital específico para leprosos, também em Lambarané. Já com uma idade longeva, aos 90 anos parte, da sua amada Lambarané para a "Grande Grande Viagem", deixando um abundante legado, quer de actividade humanitária quer de actividade literária e musical.

Albert Schweitzer foi daqueles homens que nos fazem acreditar no Homem. A sua vida foi um constante batalhar em prol dos mais necessitados, dos mais esquecidos, dos mais violados. E também foi um exemplo do anti-ódio. Tendo a sua mãe, Adele, falecido debaixo duma carga da cavalaria francesa e, tendo ele próprio, sido prisioneiro de guerra dos franceses, apesar de ser um homem de paz, nunca nos seus escritos ou discursos levantou-se contra os seus carcereiros. À África, que adoptou como sua segunda Pátria, a ela tudo deu e nada lhe pediu em troca. Tudo o que ganhou, quer como conferencista, organista, escritor ou nobelizado, investiu em Lambarané, nada amealhando para si. Naqueles negros idos tempos de escravidão em que brilhava a escuridão do obscurantismo ele foi um gigante da preserverança e do humanismo. Foi um Homem que, podendo ter tido a Europa a seus pés, preferiu pôr-se aos pés de África.

Na realidade, repito, Albert Schweitzer foi daqueles homens que ainda nos fazem acreditar no Homem.

Leituras

I - Relativamente ao explorador Wilfred Thesiger (acima referido) logrei encontrar um dos seus livros traduzidos para português, titulado "Pelos desertos da Arábia" (Publicações Europa-América; Mem Martins; 2001; 354 págs.). Trata-se do relato das suas aventuras ocorridas no quinquénio 1945/1950, quando deambulou pelos desertos arábicos, ainda a febre do petróleo não tinha poluído a lenta e calma vida comunitária bedu (beduína). Considerado, por muitos críticos, um  dos melhores livros de todos os tempos que já foram escritos sobre viagens em desertos; trata-se dum livro memorialista dum tempo que passou à História e, como o Autor refere, uma homenagem a um povo que era herdeiro "directo de uma civilização verdadeiramente antiga que, na sua organização social, encontraram a liberdade pessoal e a autodisciplina pelas quais ansiavam".


II - Aproveitando o debate que se irá promover na Academia Portuguesa de História (referido em Vai Acontecer) sobre Cristóvão Colombo e a polémica sobre a sua nacionalidade e a quem é que ele realmente serviu (se aos portugueses ou aos espanhóis) vou reler "O Codex 632" de José Rodrigues dos Santos (Gradiva, Lisboa, 2005; 550 págs.), romance este que gostei imenso quando o li. Aliás, diga-se de passagem que gosto de ler José Rodrigues dos Santos, do qual tenho adquirido a obra literária do mesmo.

Apesar de Cristóvão Colombo e a sua história não serem assuntos que me prendam de sobremaneira o meu interesse, a leitura do "Codex 632" aguçou a minha curiosidade, face à documentação e factos históricos que o Autor apresenta no romance e que se assentam na verdade, pelo que aproveito para o reler agora e, depois, assistir  a este debate na Academia Portuguesa de História. 

As vozes da minha vida


Lembro-me de, adolescente e já com uns pelitos de barba a quererem despontar (há que séculos, meu Deus) estar, armado em adulto, a tomar uma bebida num bar frequentado por jovens e, no dito bar, haver uma aparelhagem que tocava discos. A certa altura começou a sair pelos altifalantes uma voz pura e cristalina que, logo nos primeiros acordes que ouvi, parei o que estava a fazer e centrei toda a minha atenção auricular naquela música. Pela primeira vez da minha vida estava a ouvir Joan Baez. E, pela primeira vez da minha vida, apaixonei-me por uma voz. Apenas por ouvir uma voz, apaixonei-me. Lembro-me de ter perguntado a quem estava comigo qual era o nome da cantora. Nesse dia, depois do jantar, fui à baixa laurentina e tomar um café no "Música-Bar" (já não existe) com auscultadores nos ouvidos e, depois de ter pago, se não me falha a memória, 2$50 (1,25 cêntimos), ouvir integralmente um "long-play"  (LP) desta cantora. Era, salvo erro, o "Farewell Angelina". E daí até comprar um LP dela foi um contar tostões a poupar no tabaco; a ir a pé para o liceu, ficando com o dinheiro do bilhete do machimbombo e a prescindir de comprar "nogat´s"  aos mufanas vendedores ambulantes que, com o tabuleiro das doçarias pendurado no ventre, circundavam a escola.  

Joan Baez nasceu a 09/01/1941 em Nova York e, felizmente, ainda é viva. Ainda jovem participa no Festival de Newport (1959). Cruza-se com o grande amor da sua vida, Bob Dylan, a quem lhe dará também a mão para o lançar no estrelato mundial. Entre 1963 e 1965 esta dupla fará concertos memoráveis. Politicamente activa, Joan Baez envolve-se em lutas contra a participação dos EUA na guerra do Vietnam e contra o racismo, entre outras causas nobres. Actua no lendário festival de Woodstock (1968). A sua voz pura e cristalina e a sua guitarra acústica marcaram o compasso da música folk. Compositora de melodias simples; uma fiel e generosa militante de todas as causas humanitárias, que a transformaram numa sacerdotisa que se pautou sempre pela coerência; percorrendo toda a sua vida com discrição e sem escândalos, Joan Baez é titular duma extensa discografia (32 álbuns e 15 compilações), do qual tenho alguns cd´s.

E, decorridos uns 40 anos em que ouvi pela primeira voz o trinar da sua voz, ainda me mantenho apaixonado por ela. Faz parte do meu harém musical. 

Navegar, navegar

A) -  http://www.flickr.com/photos/victor107/sets. Um notável conjunto de centenas de fotos de Portugal, por concelhos. Felizmente ainda há quem ame o nosso País.

B) - http://www.europeana.eu/portal. Portal que nos dá acesso à biblioteca multimédia online europeia. Livros, mapas, fotografias, documentos de arquivo, pinturas, filmes, tudo ao alcance dum clique. Aos milhares. Vale a pena navegar por aqui.

Imbecilidades

Parte I - A escritora Romana Petri encontra-se de passagem por Lisboa, cidade onde decorre o seu último romance "Esteja eu onde estiver". Num comentário efectuado à Visão refere que lamenta que o Facebook esteja aberto a todo o tipo de comentários, exemplificando o de um professor que, em Itália, escreveu que se deviam matar os judeus, incendiar a sinagoga de Roma e que os negros eram todos traficantes de droga. Opina a dita escritora Romana Petri que, para evitar estes atentados, devia de existir um mecanismo no Facebook que impedisse a divulgação de tais obscenidades. Tudo isto li na Visão nº 984, na secção "Radar Flashback, pág. 16, onde a dita senhora comenta três boas e outras três más notícias, segundo a sua opinião.

Mas pergunto eu: censurar o Facebook? Uma escritora defender a censura, mesmo que esteja carregada de boas intenções? E já agora vamos censurar os blogues? E o Twitter? E tudo o mais que contenha a palavra escrita? Podia-se começar a censurar os livros dela, por exemplo. De certeza que algures no mundo, há-de haver alguém que não concorde com algo que ela tenha escrito. 

Nas estradas da liberdade podemos, quando muito (e não sei como), limitar a velocidade de circulação nas mesmas, mas jamais impedir que, seja quem for, circule nelas. Até porque isso seria espantar os inimigos que queremos conhecer para melhor os combater. Tudo o mais que tentemos fazer, mesmo em nome de boas intenções (das quais está o Inferno cheio), é pura imbecilidade. Aliás, relembro o filósofo Karl Popper (1902/1994) que disse: "A tentativa de construir o céu na terra produziu sempre o inferno" .


Parte II - O número de petições a correrem na "rede" a convidar os consumidores a boicotarem os produtos vendido da cadeia "Pingo Doce" é duma imbecilidade gritante. Não só na "rede" como também em vozes de quadrantes políticos. E vamos comprar onde? Nas cadeias de hipermercados da concorrência, certo? E onde é que estas outras cadeias de hipermercados têm as suas sedes de comando e centros de decisões? Em Portugal é que não. Vamos lá a deixarmo-nos de patriotismos bacocos. Já temos imbecis que cheguem neste País, não são necessários mais candidatos.


Vai acontecer

Lançamento do livro "Enquanto se esperam as naus do Reino" de João Aranha Meneses, com apresentação de Ana Vieira Castro. Na Livraria-Galeria Municipal Verney (Rua Cândido dos Reis, 90) em Oeiras (centro histórico). No próximo dia 17 de Janeiro, pelas 15H00.


Lançamento do livro "Lourenço Marques - acerto de contas com o passado 1951/1965" de Nuno Roque Silveira. Editado pela Colibri, será apresentado por Abdool Karim Vakil e Maria Graça Patrício. Com intervenção do grupo de jograis "U....Tópico"  haverá lugar, também, a um Porto de Honra. No Café Império (Avª Almirante Reis, 205) em Lisboa. No próximo dia 17 de Janeiro, pelas 18H00.


Debate promovido pela Associação Cristóvão Colon, subordinado ao tema "Colombo ou Colon? Factos, circunstâncias e conjunturas". A sessão será presididida por Manuela Mendonça, Presidente da Academia Portuguesa de História e terá, como oradores, Carlos Calado; João Brandão Ferreira e Carlos Neves. Baseado na temática sobre a eventual "falsidade do Colombo genovês e a mais que provável portugalidade do Grande Almirante" (conforme se lê no convite). Na Academia Portuguesa de História (Palácio dos Lilases, Alameda das Linhas de Torres - 198/200) em Lisboa. No próximo dia 18 de Janeiro, pelas 15H00.

Partiram

José Cândido - Artista plástico.
Pedro Osório - Pianista e compositor musical.
Malam Bacai Sanhá - Presidente da Guiné-Bissau.
Eve Arnold - Fotógrafa norte-americana.

Memória da semana

12/01/1923 - Sai a público o primeiro número da revista norte-americana "Time".
12/01/1946 - É criado o Conselho de Segurança da ONU.
12/01/1960 - Falecimento, em Londres, de Ágata Christie, a mais famosa escritora de romances policiais do mundo.
12/01/1998 - Assinado, por 19 países, o protocolo do  Conselho da Europa, que proíbe a clonagem de seres humanos.

13/01/1759 - A culminar o "processo dos Távoras", toda a família Távora é condenada e alguns deles mortos em Belém (Lisboa), bem como o Duque de Aveiro, por ordem judicial mas com influência directa do Marquês de Pombal. As múltiplas execuções sucederam-se durante todo o dia. No local onde os factos ocorreram existe um pequeno monumento de pedra a lembrar tal facto, no Páteo do Chão Salgado. O nome deste páteo ficou a dever-se ao facto do Marquês de Pombal ter mandado salgar o chão onde ocorreram os suplícios, para que do sangue ali derramado não nascesse mais nenhum membro daquelas famílias. Os Távoras e o Duque de Aveiro tinham sido acusados de atentarem contra a vida do Rei D.José I.

14/01/1875 - Nasce, em Kaysersberg, Albert Schweitzer. 

Foi dito

"O mundo tornou-se perigoso porque os homens aprenderam a dominar a Natureza, antes de se dominarem a si mesmos". - Albert Schweitzer (Fonte: pensamentos.com.sapo.pt)

Foi escrito

"...  Até o homicida em massa Anders Breivik era maçon, o que estragou a digestão a muitas famílias. Como é que este alucinado pôde conspirar em segredo, anos a fio, acolhido na respeitável Loja Joanina de St. Olau, tendo beneficiado de padrinhos tão importantes e sido admitido com base no seu bom carácter e posição social? ..." - excerto dum artigo de Nuno Rogeiro, titulado "Maçons em massa", na sua habitual coluna semanal "Relatório  Minoritário". (Sábado nº 402, págs. 44/45).

Foi humorizado

"O meu sonho era ser um cavaleiro da Távora Redonda" - Marquês de Pombal (Fonte:Morrer a rir - epitáfios apócrifos/ Hilário Antas / Ulmeiro)

"O biquini é como o arame farpado. Protege a propriedade sem restringir a vista" - Anónimo.

"Não bebas enquanto conduzes... porque podes entornar a cerveja" - Anónimo.


Nota: Todas as referências a instituições, marcas, firmas, livros, discos, filmes, ou quaisquer outras são incompatíveis com intuitos publicitários. A sua menção reflecte, tão-somente, a minha opinião.  

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Gago Coutinho

Aventureiros, viajantes e exploradores


Gago Coutinho - (Lisboa, 17/02/1869 - Lisboa, 18/02/1959 - Carlos Viegas Gago Coutinho) - Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa, tendo atingido a patente de Almirante a título honorífico e geógrafo. Homem multifacetado, foi um dos mais insignes do seu tempo, tendo sido não só historiador, como também navegador aéreo e, principalmente, geógrafo, onde atingiu reputação internacional. Natural de Lisboa, após ter completado os estudos liceais, ingressa na Escola Naval, saindo de lá como Guarda-Marinha, em 1888.

No ano seguinte vai para Moçambique, comandando a lancha-canhoeira "Pungoé", no litoral Norte. Combateu em Tungue (Moçambique), em 1891 e em Timor em 1912. A partir de 1898 inicia a sua actividade de geógrafo e cartografa as fronteiras ultramarinas de Timor (1898) onde efectua levantamentos topográficos de cerca de 3.000 quilómetros quadrados, para além de efectuar reconhecimentos na costa. Em 1900 regressa a Moçambique e demarca 300 quilómetros de fronteira entre Vila Coutinho e o rio Chire, juntamente com elementos da companhia majestática britância British Central Africa, bem como procede a reconhecimentos topográficos na Zambézia. De regresso a Lisboa, em 1901, vai a Angola delimitar a fronteira do Congo. No ano seguinte, em Lisboa, elabora a carta topográfica dos trabalhos que efectuara em Moçambique. Em 1904 volta a esta colónia, delimitando a fronteira do Distrito de Tete, entre o rio Luía e o Zumbo, numa extensão de 420 quilómetros. No ano seguinte demarca mais 340 quilómetros entre o Zumbo e Mazoé tornando-se, nesta última demarcação, pioneiro na determinação de longitudes no mato, através da recepção de sinais horários que recebia, via telégrafo, do Observatório da cidade do Cabo. Cumprida a missão explora o rio Zambeze, de Tete até Chicova, numa arriscada viagem em que terá sido, até à data, um dos raros europeus que atravessou Cabora-Bassa, vindo posteriormente a escrever um trabalho sobre tal odisseia.

Em 1907 é criada a Missão Geodésica da África Oriental, entregando-se a chefia da mesma a Gago Coutinho que trava conhecimento com Sacadura Cabral, seu grande companheiro de ciência e de aventura, na que virá a tornar-se na dupla de aventureiros mais famosas de Portugal. Juntos, no triénio seguinte, reconhecem, estudam e cartografam a costa moçambicana desde a Ponta do Ouro até ao Bazaruto, cobrindo uma área total de mais de 30.000 quilómetros quadrados. Em 1911 Gago Coutinho está em Lisboa, a elaborar os mapas dos estudos feitos quando lhe é ordenado efectuar o reconhecimento da fronteira entre Angola e a Rodésia (fronteira do Barotze) passando antes por Timor onde efectua reconhecimentos hidrográficos. Reunindo-se a Sacadura Cabral em Angola, e depois de terem efectuado o levantamento topográfico da fronteira acabam por atravessar a Rodésia até Victória Falls e daí flectem para Bulavaio, Joanesburgo chegando, finalmente, a Lourenço Marques. Depois dum ligeiro descanso na capital moçambicana, Gago Coutinho e Sacadura Cabral seguem para a Beira, onde efectuam novos trabalhos cartográficos e, daqui, atravessam o centro de Moçambique onde implantam novos marcos geodésicos (Gorongosa e Vila Paiva de Andrada) e daí seguem para Elisabeteville, no Congo, onde terminam o trabalho de demarcação da fronteira do Barotze, juntamente com as delegações belga e britânica.

No biénio 1916/18 encontra-se em São Tomé e Príncipe e, em 1921, já com a patente de Capitão de Mar e Guerra, efectua a travessia aérea Lisboa-Funchal, na companhia de Sacadura Cabral e, no ano seguinte, de novo esta dupla realiza a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, num voo entre Portugal e Brasil. Publicou diversos trabalhos de índole científica e histórica relacionados com os descobrimentos portugueses. Como Presidente da Comissão Cartográfica de Portugal percorreu grande parte de África, devendo-se-lhe a ele a introdução do curso de engenheiro geógrafo em Portugal, bem como a invenção do sextante.

Condecorado por diversos países, membro das mais diversas instituições científicas, era possuidor da Torre e Espada. Peregrino incansável do sertão africano, no particular e das sete partidas do Mundo, no geral, senhor da aventura e da cultura, puro Príncipe da Renascença, preparou o seu encontro com a História, lembrando que: "O caixão de pinho será pobre, para caber no jazigo onde está o meu nome. Vestir-me-ão os calções e o casaco de caqui, como atravessei África. Tudo pobre como nasci. Aliás nunca fui Almirante a valer, mas autêntico geógrafo do campo." 



Sacadura Cabral - (Celorico da Beira, 23/05/1881 - Mar do Norte, 15/11/1924 - Artur Sacadura Freire Cabral) - Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa e geógrafo. Ingressa, aos dezasseis anos, na Escola Naval, concluindo os seus estudos em 1900, sendo promovido a Guarda-Marinha. Neste mesmo ano é colocado em Moçambique, na Divisão Naval do Índico e três anos depois é promovido a Segundo-Tenente. Efectua trabalhos de sonda nas baías de Angoche e de Lourenço Marques e de rectificação geográfica nas fronteiras do Transval.

Em 1907, com a criação da Missão Geodésica da África Oriental, trava conhecimento com Gago Coutinho, seu companheiro profissional com quem irá partilhar inúmeras aventuras nos sertões africanos nos diversos trabalhos de delimitações fronteiriços e de reconhecimentos topográficos do interior moçambicano. Em 1911 encontra-se em Angola, como Sub-Director dos Serviços de Agrimensura e efectua o reconhecimento cartográfico da fronteira da Lunda, quando se reúne de novo a Gago Coutinho, para estudarem e delimitarem a fronteira do Barotze, juntamente com as missões britânica e belga. Entre o início e o findar deste trabalho, esta dupla longitudina África até Lourenço Marques e, flectindo depois para a Beira, retornam a Elisabeteville. no Congo, onde se reúnem com as outra delegações estrangeiras e concluem os trabalhos.

Tira o brevet de piloto de avião (1915) e, de novo com Gago Coutinho, efectuam a ligação aérea Lisboa - Funchal (1921), como balão de ensaio da próxima viagem, que foi a ligação Portugal - Brasil, na primeira viagem aérea que se realizou no Atlântico Sul (1922).

Em 1924, Sacadura Cabral, aos comandos dum avião é  apanhado por um denso nevoeiro, quando sobrevoava o Mar do Norte, cruzando-se de vez com a morte desaparecendo, deste modo, um brilhante explorador e geógrafo do sertão africano. O seu corpo nunca foi encontrado.



Historiando Moçambique Colonial

Parte III - O conturbado século XIX

O século XIX irá fazer rebentar, pelas costuras, a fraca administração colonial portuguesa, em Moçambique. Dominando apenas alguns pontos do litoral e com uma faixa de penetração para o interior, de Quelimane a Tete, os portugueses irão sofrer, amargamente, a partir de meados do século XIX, a turbulência do "scramble for Africa"*, que a gula europeia irá fazer incidir nesse continente. Será, assim, neste século, que os portugueses serão obrigados a virarem-se para o seu Terceiro Império. O Primeiro Império fora a Índia e, após a queda económica desta que ficou reduzida a um pequeno espaço geográfico na planície industânica, os portugueses volveram as atenções para o Brasil, o seu Segundo Império, até à data da independência deste, ocorrida em 1822.


Os descobrimentos marítimos colocaram Portugal como primeira potência mundial, no século XV e mesmo parte do século XVI, ao comerciar especiarias com a Índia, através da exploração da rota marítima da costa africana. No entanto, a dinâmica da História arrastou outros países europeus para a corrida planetária e, do século XVI em diante, já Portugal - que entretanto tinha perdido e recuperado a sua independência (1580/1640) e perdido e jamais recuperado a sua marinha de guerra que, integrada na Armada Invencível espanhola que procurava invadir a Inglaterra, foi varrida das águas em 1588 - estava a ser ultrapassado pelos espanhóis, franceses, ingleses e holandeses, cujas marinhas, quer de guerra quer mercantes peregrinavam, incansavelmente, o planeta criando colónias, avassalando estados e monopolizando, leoninamente, as mais variadas riquezas do globo. Portugal, sempre com falta de dinheiro e de homens, após a recuperação da sua independência (1640) teve que consolidá-la, envolvendo-se em guerra com Espanha (Guerra da Restauração, 1640/1668).


Ou seja, entre 1580 e 1688 - perca de independência e reconsolidação definitiva da mesma - os portugueses são obrigados a canalizarem energias humanas e financeiras para os seus problemas internos, com reflexos directos, no campo negativo, na consolidação definitiva das suas posições no Oriente.


Com a perca dos territórios no Oriente (século XVI) os portugueses exploram, desenfreadamente, o Brasil e, em 1808, a corte portuguesa, englobando a própria família real, muda-se para lá, a fim de evitar cair prisioneira dos franceses que, entretanto, invadiram Portugal - invasões napoleónicas - só regressando a Lisboa em 1820. Dois anos mais tarde o Brasil soltava o grito do Ipiranga com o seu "Independência ou Morte", cortando as amarras políticas com Portugal, que acaba por aceitar a consumação do facto em 1825. Morria, aí, o Segundo Império português e só lhes restava África.


Por sua vez outros países europeus também viravam as suas atenções para o continente africano. A temática do combate à escravatura, tão acarinhada pela Inglaterra que, em nome duma preocupação humanitária nascida dos ideais da Revolução Francesa, mais não fazia do que justificar a sua intervenção em zonas dominadas por outros países; o acordar do espírito aventureiro; a independência de diversos territórios do continente americano com a consequente castração de extensíssimas áreas de grandes riquezas exploratórias; a procura de novas matérias-primas para produtos que as novas manufacturas e indústrias europeias começavam a exigir; entre outras causas, foram as molas que fizeram saltar a expansão colonial europeia pelo sertão africano.


Nos mapas europeus do século XIX, o interior de África era um enorme vazio. Com  efeito, contrastando com a sua costa, que começou a ser cartografada desde o início da epopeia marítima portuguesa, os espaços interiores estavam entregues aos seus ancestrais proprietários, os gentios, sendo também palmilhados por toda uma casta de aventureiros e mercadores, mas sem obedecer a nenhum plano sistémico governamental.


A sistematização da penetração, conquista e consolidação da presença europeia em África desponta, assim, no século XIX com a criação, em diversos países, de Sociedades de Geografia, instituições de carácter científico, que seriam as pontas de lança da colonização europeia.


É neste século XIX que, financiados pelas diversas Sociedades de Geografia - que, por sua vez, eram acarinhadas pelos governos dos seus países por os interesses políticos, económicos e científicos convergirem - irá aparecer toda uma plêiade de exploradores - Richard Francis Burton**, John Hanning Specke**, James August Grant**, Samuel White Baker, Henry Morton Stanley**, Verney Lovett Cameron**, Cecil Rhodes**, David Livingstone**, entre tantos outros - que escreverão, para a posteridade, todas as páginas, ainda em branco, do livro da descoberta do interior africano.


Os portugueses, na sua sonolência habitual, apanhados por todo este turbilhão europeu, sonhadores do século XV, pensavam que a simples descoberta lhes dava o direito de posse. Mas os tempos eram outros. Tinha chegado o tempo da penetração, conquista e fixação ao solo, tal como os espanhóis tinham feito no continente americano, logo no decurso da primeira viagem de Cristóvão Colombo.
No xadrez moçambicano, os portugueses jogam uma partida simultânea com as apetências inglesas e com a resistência dos povos locais.


A par da penetração portuguesa, que vê surgir todo um escol de exploradores sertanejos - Serpa Pinto, Brito Capelo, Roberto Ivens, Augusto Cardoso, António Maria Cardoso, Paiva de Andrada, Diocleciano Fernandes das Neves, João Albasini, Eduardo Valadim, entre outros - os ingleses, sonhando com a ligação "do Cabo ao Cairo"; consubstanciada na ideia de que um súbdito de Sua Majestade (britânica) poderia atravessar todo o continente africano de Sul a Norte sempre em território sob administração britânica; começam a sua ascenção para o Norte vindos da Colónia do Cabo e envolvem Moçambique que tentam, através do seu homem de mão - Cecil Rhodes - conquistar os acessos ao mar. Cecil Rhodes, um dos maiores predadores de terras africanas, ao criar a British South Africa Company (BSAC) e o seu antecessor, o missionário David Livingstone, da Sociedade de Missões de Londres, grande predador das almas africanas, serão os britânicos que mais espinhos atravessarão na garganta dos portugueses, mostrando por estes tão pouca complacência e tão grande desprezo que não olharão a meios para varrerem, dos sertões, a sua presença. 


Após a realização da Conferência de Bruxelas (1876) e na qual Portugal nem foi convidado a participar e da Conferência de Berlim(1885), já com a presença portuguesa, internacionalizam-se e partilham-se áreas de influência europeia em África, ganhando foros de Direito Internacional a titularidade de terras desde que a potência colonizadora a conquistasse, a submetesse e a administrasse, ou seja, teria que haver ocupação efectiva das terras. É a partir daí que o mapa político de África começa a ganhar contornos, iniciando-se jogos de guerra, quer no terreno quer nas mesas de negociações.


Na corrida contra-relógio que Portugal teve que se sujeitar para não ser definitivamente ultrapassado, vai encontrar feroz resistência nos povos gentios do actual território moçambicano. Em Moçambique existiam dois grandes reinos: o do Monomotapa e o de Gaza.


O do Monomotapa, com o centro geográfico no actual Zimbabwé e estendendo-se, em Moçambique, até ao Zambeze e território de Manica, foi o que levou os portugueses a criarem a feitoria de Sofala, no início do século XVI e a penetrarem, no interior, até Tete, para o envolverem, na busca das minas de ouro e prata. Este Reino, gangrenado por lutas intestinas vem a morrer, praticamente caduco, por volta de 1700, com os monomotapas (título real) a serem autênticos fantoches no jogo interesseiro dos portugueses. 


O de Gaza é criado no princípio do século XIX, por Sochangane (também referido por Manicusse), um chefe militar fugido de Shaka Zulu, o lendário "Napoleão Negro", que acaba por se fixar na actual Província de Gaza e estendendo a sua soberania desde o Limpopo até Manica. Este Reino vem a claudicar em 1895, por inoperância do seu neto Gungunhana que se rendeu à investida portuguesa, deixando-se prender por Mouzinho de Albuquerque. Só no reinado de Sochangane e do seu sucessor. Maueva, é que os portugueses foram incomodados. Após a queda de Maueva, fomentada pelo portugueses que auxiliaram a entronização do seu meio-irmão Muzila, a morte deste Reino consumou-se num conjunto de três combates - Marracuene, Coolela e Magul, no tempo de Gungunhana, filho de Muzila, em 1895. Neste último reinado há a registar o nome de Maguiguana, induna (chefe militar) que se recusou sempre a pactuar com os portugueses. Macontene foi o seu dobre de finados.


Se o Reino de gaza impedia a consolidação portuguesa a Sul de Moçambique, no centro perfilavam-se, na linha de combate permanente, uma legião de opositores extremamente violentos, autênticos senhores da guerra indomáveis - os reinos secundários (de Kanyemba, Massangano, Macanja, Massingire, Carazimanba, entre tantos outros) - de vários prazeiros que se opunham à lenta instalação do capitalismo das grandes companhias majestáticas e, também, o Reino do Barué, e que só foi definitivamente batido na segunda década do século XX.


Fruto da política da instalação de prazos, na Zambézia e em Tete, iniciada no princípio do século XVII, como forma de expansão da Coroa Portuguesa, no envolvimento do Reino do Monomotapa, a africanização geracional dos senhores dos prazos levou estes a afastarem-se dos interesses dos portugueses gerando, no decorrer do século XIX e princípios do século XX, violentos conflitos que pariram, de parte a parte, lendas humanas que ainda hoje são escalpelizadas pelos historiadores e fazem a delícia dos amantes de histórias aventureiras, pois as biografias de homens como Hanga, Bonga, Manuel António de Sousa, Mataquenha, entre tantos outros, com todo o seu estilo de vida despótico e cruel, são autênticas referências dos actos de heroísmo e também de desprezo pela vida e pelos valores humanos.


A Norte os portugueses tiveram que se defrontar com a feroz resistência suaíli, macua, maconde e jaua. Até o próprio Mouzinho de Albuquerque, figura mítica da historiografia portuguesa, redentor da Nação que, com a prisão de Gungunhana, salvou a  honra nacional que tinha sido humilhada pelo Ultimato e que se julgava imbatível pelos negros, não conseguiu levar de vencida a resistência dos mesmos na Campanha dos Namarrais.


Até conseguirem chegar ao lago Niassa, os portugueses tiveram que levar de vencida, por via das armas ou do dinheiro, sultanatos e regulados aguerridos, onde pontificavam guerreiros como Mussa-Quanto, Farelay, Ibrahimo, Guarnea, Cobula e Bonomali, entre tantos outros.


A escravatura e o sub-sequente tráfico, que tanto aproveitou quer aos portugueses como aos senhores dos potentados locais, só virá a morrer no princípio do século XX, apesar de Portugal ter legislado a abolição do mesmo umas décadas antes - 1869, em definitivo - pela pena do Marquês Sá da Bandeira; iniciada, primariamente, por outro político, também de craveira excepcional, o Marquês de Pombal, na segunda metade do século XVIII.


"Comprando brancos e vendendo negros", como soía dizer-se na época, os senhores negreiros locais não tiveram relutância em interligarem-se aos seus sócios brancos e guerrearem a administração portuguesa quando, por imposição do advento do capitalismo - e não por acção humanitária, salvo honrosas excepções - esta entrou pelas matas adentro a hastear a bandeira real.


A própria administração pública - na qual a maioria dos funcionários também mergulhavam as mãos no caldeirão do ouro que o comércio negreiro rendia - ao abolir a escravatura criou a figura do "libre engagé", que não passou de um eufemismo travestido da escravatura, para lhe dar uma roupagem humanitária.


No início do século XX as fronteiras terrestres moçambicanas ainda não estão totalmente definidas e  Portugal ainda vai, durante a Primeira Guerra Mundial, combater em Moçambique contra as forças alemãs lideradas pelo General Paul von Lettow-Worbeck, tendo este invadido o território moçambicano, entrando pelo Norte e ido até à Zambézia, rasiando tudo à sua passagem e  nunca tendo sido derrotado. O findar da Primeira Guerra Mundial (1918), com a consequente saída das tropas alemãs, vai deixar os portugueses respirarem aliviados e sentarem-se à mesa dos vencedores, permitindo-lhes manterem os seus territórios ultramarinos.


Com a sentença arbitral do Presidente francês Mac-Mahon, em 24 de Julho de 1875, a reconhecer a soberania portuguesa na região de Lourenço Marques - contra os interesses britânicos - o acerto das fronteiras a Oeste, também com os britânicos (após a crise do Ultimato) e delimitado o território, a Norte, pelo rio Rovuma, após resolvido o conflito de Zanzibar sobre a posse da baía de Tungue e tendo-se perfilado no lado dos vencedores, após a Primeira Guerra Mundial, Portugal, em relação a Moçambique, fixou, fisicamente o território nos limites actuais, no findar da segunda década do século XX.


Deixou-se para o fim, propositadamente, a questão do Ultimato britânico, documento maldito que amputou, no imaginário popular e fantasioso português, as terras interiores de África, que ligavam Angola a Moçambique e a que se achavam com direito. Tal como é a partir da chegada dos portugueses à Guiné, na época dos Descobrimentos, que estes começam a pensar em atingirem a Índia, via marítima, é também a partir da instalação em Tete que, esporadicamente, se começa a pensar em unir Angola a Moçambique, via terrestre.


No século XIX decorre a primeira travessia terrestre que liga Angola a Moçambique, tendo sido levada a cabo não por portugueses mas por dois pombeiros - Amaro José e Pedro João Baptista - viagem esta que gastaram nove anos a concretizarem (1802/1811). Posteriormente Serpa Pinto e depois a dupla Brito Capelo com Roberto Ivens, também realizou esta travessia, rasgando novos caminhos que ligavam as duas colónias portuguesas.


Com a chegada do colonialismo a África pela mão doutras potências europeias, os portugueses, através da Sociedade de Geografia de Lisboa, elaboraram um mapa pintado de cor-de-rosa (daí o seu nome), no qual apresentavam, como área de influência portuguesa, os territórios que ligavam Angola a Moçambique, correspondendo actualmente ao Malawi, Zâmbia e Zimbabwé, apelidando toda esta faixa territorial de costa a costa de Província Angolo-Moçambicana.


Aceite este mapa pela França e pela Alemanha, pois eram áreas que não colidiam com os interesses económicos  destes países, nem com a sua expansão territorial, tal mapa cortava, cerce, os interesses britânicos naquela parte da África Central.


Cecil Rhodes, autêntico potentado colonial, através da sua BSAC*, lança-se à conquista de terras que ligam o actual Zimbabwé até às margens do lago Niassa e os portugueses, apressadamente, criam o Distrito do Zumbo, englobando territórios da esfera britânica.


Estava lançada a pólvora do conflito e o rastilho da mesma foi aceso pelo explorador Serpa Pinto que, a pretexto de mandar arrear a bandeira britânica que viu hasteada no vale do Chire e de ser atacado pelos macololos, povo daquela zona, combate e vence as forças africanas.


A 11 de Janeiro de 1890 o Governo Britânico apresentou um Ultimato ao Governo Português, exigindo a sua retirada daquele território, sob pena de sofrer sanções diplomáticas. Portugal acabaria por ceder em toda a linha.


O Ultimato, explorado pelos políticos portugueses até às últimas consequências, traumatizou a Nação e esteve na génese da criação do Partido Republicano que viria, duas décadas depois, a derrubar a quase milenária monarquia lusitana.


Mas, após toda esta agitação, que durou até final da segunda década do século XX, a bonança assentou arraiais em Moçambique, o que permitiu aos portugueses instalar a sua paz lusitana.


Que, no entanto, só durou quatro décadas.      


* - Já explicitado em mensagem anterior.
** - Já biografados em mensagens anteriores.
(Continua)
Uma personalidade para a eternidade
Giordano Bruno - (Nola (Nápoles), 1548 - Roma, 17/02/1600). Filósofo, teólogo, frade dominicano e humanista. Estudioso de Aristóteles e de São Tomás de Aquino, findou os seus estudos superiores em teologia. Em 1576 abandona a ordem religiosa onde militava e, acusado de ser herético, abandona Roma e peregrina pela Europa, que o levará a Génova, onde fará uma incursão pelo calvinismo que depois renunciará, acabando excomungado por estes (1579). Percorre a França, a Suíça e a Inglaterra e, em 1585, percorre de novo a Europa Central. Em 1590 é convidado a leccionar em Veneza, por intermédio de Giovani Mocenigo, membro duma poderosa família daquela cidade-estado, o que  aceita. Entrando em ruptura com o seu protector acaba denunciado à Inquisição, que o prende. Acusado de heresia, recusou abjurar, pelo que acabou por ser condenado à morte na fogueira, o que veio a suceder no Campo de Fiori, em Roma. Nem aí se calou, pelo que tiveram que lhe pôr uma tala na boca e morrendo assado vivo.


Giordano Bruno era um filósofo humanista, muito avançado para a época. Extremamente culto e viajado, convivera com grandes pensadores europeus e as suas ideias assentavam na interligação do Homem com o meio que o rodeava (panteísmo) bem como no heliocentrismo copérnico, o que contrariava as teses da Igreja Católica que colocava a Terra como centro do Universo. Discutivelmente há quem o coloque como inspirador das bases da tese do relativismo, que mais tarde Albert Einstein desenvolveria e do evolucionismo, teoria esta defendida por Charles Darwin. Giordano Bruno escreveu e publicou bastantes obras onde combateu as ideias retrógradas da Igreja, sendo aberto a inovações filosóficas, que bastas vezes escrevia em forma de diálogos,  como Platão, onde expunha a tese e a antítese. Crente nas suas convicções, não temeu a sentença de morte horrível que lhe destinaram, desafiando mesmos os juízes com a famosa frase: "Talvez tenhais vós mais receio a lerem essa sentença do que eu a ouvi-la."


Foi e é, sem dúvida, uma fonte de inspiração para todos aqueles que ousaram rasgar novos horizontes do pensamento, pagando com o bem supremo da sua vida a verticalidade de nunca se ter hipotecado. Nem a nada nem a ninguém. Só à sua consciência. 
Leituras
Um dos meus heróis da saga dos Descobrimentos Portugueses, a par de Pêro da Covilhã é, sem sombra de dúvidas, Pêro Escobar. O gigante que o primeiro foi em terra, o segundo agigantou-se no mar. Piloto de naus, serviu em três reinados consecutivos: D.Afonso V; D.João II e D.Manuel I. Terá estado no descobrimento das ilhas de São Tomé, Príncipe e Pó (1470/72), acompanhou Diogo Cão nas duas viagens que este fez até à costa angolana (1482/84 e 1485/86) tendo, nesta última viagem, o seu nome ficado gravado nas Pedras de Ielala do rio Congo; integrou a Armada de Vasco da Gama na famosa primeira viagem marítima à Índia (1497/99), como piloto da nau "Bérrio" e, finalmente integrou, como piloto da nau-capitã, a Armada de Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil e, depois, rumou para a Índia. Ou seja, Pêro Escobar esteve, desde o Golfo da Guiné até ao descobrimento do Brasil, no epicentro dos marcos das grandes descobertas portuguesas: o arquipélago de São Tomé e Príncipe; o rio Congo/Angola; Índia e Brasil. Escapou-lhe um: a dobragem do cabo da Boa Esperança com Bartolomeu Dias. No resto, ele lá esteve, sempre ao leme duma nau. É sobre esta lendária personagem, da qual existem muito poucos registos e, valha a verdade,  também é pouco lembrado na historiografia oficial portuguesa (talvez por nunca ter estado na primeira linha de decisória de comando) que encontrei há tempos (e adquiri) um pequeno livro biográfico deste meu herói com o título "Pêro Escobar", de Frazão Vasconcelos (Centro de Estudos Históricos Ultramarinos - Portugal / Agência Geral do Ultramar, Lisboa, 1957, 30 págs.) livro este que só se encontrará em alfarrabistas ou em bibliotecas. Mas que vale a pena ler e imaginar que, se este homem tivesse escrito as suas memórias, que livro portentoso não teria sido. Pena foi que tal obra nunca tivesse nascido.



Numa mensagem anterior falei sobre o meu gosto em ver programas televisivos do Professor José Hermano Saraiva, que retratava o nosso País com pinceladas muito positivas e relatando, no seu modo muito peculiar, as histórias da nossa História. Há uns dias atrás encontrei, num alfarrabista, uma obra da sua autoria que é um retrato do nosso Portugal, do Minho aos Açores. Com  fotografias de Jorge Barros, a obra chama-se "O tempo e a alma - itinerário português", (Círculo de Leitores; Lisboa; 1986: repartido em dois volumes), onde ele peregrina todo o seu saber e amor por esta terra. Sabemos que o País mudou desde a data da publicação desta obra e, assim, alguns aspectos retratados poderão estar ultrapassados mas, no geral, muita coisa ainda se mantém actual. E, nos tempos que correm, sabe bem ler algo que puxe positivo pelo nosso ego colectivo. Porque, se a Holanda agora está na moda e é atractiva (e quem sou eu para o negar) a verdade é que, em muitos aspectos...  Portugal também apetece, sem cairmos em nacionalismos exacerbados e patriotismos bacocos.

Filme
O filme "Giordano Bruno" é uma co-produção franco-italiana, realizada em 1973, produzido por Carlo Ponti e sob a direcção de Guiliano Montaldo, tendo 115 minutos de metragem. Musicado por Ennio Morricone, tem em Gian Maria Volonté o actor que desempenha o papel da personagem central. Um excelente filme que retrata o processo inquisitorial que Giordano Bruno sofreu em Roma e o seu suplício.

Imbecilidade

Há uns dias atrás acompanhei um familiar ao Hospital de Santa Maria - Lisboa e reparei que, transposto o murete separador da rua fica o heliporto. Frente ao heliporto está um pequeno pedestal de pedra, sem nada a encimá-lo e alusivo à inauguração do dito hospital, constando na sua fronte a seguinte frase: "Este edifício destinado à Faculdade de Medicina e ao Hospital Escolar foi solenemente inaugurado .................... em 27 de Abril de 1953 .....................". Foi retirado do centro da frase o nome (ou nomes) da pessoa que inaugurou o dito edifício. Como o mesmo se passou no tempo da ditadura do Estado Novo, e fruto da grandiosidade da obra, presumo que a inauguração do mesmo tivesse sido presidida por Oliveira Salazar, como Presidente do Conselho de Ministros ou por Craveiro Lopes, Presidente da República à data.
Agora o facto de terem sido figuras da ditadura a inaugurarem o edifício não dá o direito a ninguém de, posteriormente e se calhar cheio de testosterona revolucionária, ter mandado retirar o nome do dito "corta-fitas". Porque é estupidez querer apagar-se a História. Não se consegue, felizmente. No bom e no mau que fizemos, enquanto povo, devemos assumir tudo, sem complexos. O importante é não repetirmos os erros. Este acto fez-me lembrar, salvaguardando as devidas proporções, o "tio" Estaline, que mandava apagar das fotos colectivas os rostos dos camaradas que mandava eliminar.
Ainda por cima o imbecil que mandou retirar o nome do pedestal, e o que quer que fosse que encimava o mesmo, foi mesmo "loirito coitadito". Tinha mandado retirar tudo duma vez, pedestal incluído e acabava-se a história. Mas não a História.

Exposição

Movido pela publicidade que lateraliza a entrada principal do edifício sede da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, em Lisboa, fui ver uma exposição que ali decorre subordinada ao tema "Cartas Reais". Foi uma desilusão. Apenas uns cinco expositores, colocados num dos lados do salão de entrada do edifício contendo, no essencial, cartas de jogar que foram impressas por aqueles serviços, ao longo dos tempos, uma meia dúzia de documentos antigos sobre a autorização real do jogo e pouco mais. E foi para ver aquela miséria que deixei no parquímetro municipal dois euros, convencido que iria demorar mais tempo na exposição. Demorei dez minutos.


Como se não bastasse fui informado, na recepção, que o Museu Numismático, que existia naquele edifício, estava definitivamente encerrado.


Uma tristeza.
Uma pergunta
Acerca do problema que surgiu agora nas próteses mamárias da marca Poly Implant Prothèse (PIP) li, na imprensa, que o nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) iria tratar e acompanhar, com  remoção de prótese, as senhoras que fizeram esses implantes desde que fossem apurados sinais de complicações para a saúde. Bom, muito bem, bato palmas, fico contente por o nosso SNS estar muito preocupado com quem se preocupou em ter mamas de plástico. Mas... uma pergunta: essas senhoras quando andaram a falsificar os peitos, suportaram a despesa do seu bolso não foi? Excluindo as senhoras que careceram de prótese por situações derivadas de saúde como o cancro da mama, por exemplo, onde tiveram que efectuar a ablação mamária, no que é extremamente compreensível, as que o fizeram por questões de estética ou para fingirem que são mais novas, porque é que não tratam elas mesmo disso e suportam do seu bolso a remoção dos implantes? É que cada operação de remoção dos implantes custa, ao SNS, 1.300 euros. Porque que é que os parcos recursos que o SNS tem (e suportados pelo nossos impostos) têm que estar ao serviço da cirurgia estética a efectuarem a senhoras que teimam em ser meninas?
Memória da semana
07/01/1355 - Morre, em Coimbra, Inês de Castro. Casada com o herdeiro da Coroa Portuguesa, o Infante D. Pedro, poderia pôr em perigo a independência de Portugal, atendendo ao facto de ser oriunda de famílias espanholas. A sua morte foi decidida no reinado de D.Afonso IV (pai de D.Pedro) pelo que acabou degolada, por interesses de Estado. D.Pedro, assim que subiu ao trono, perseguiu todos os conselheiros reais que tinham votado na morte da sua amada, dando morte cruel a dois deles. Reza a História que terá trincado o coração dos mesmos, após os algozes os terem retirado dos troncos dos supliciados, ainda estes vivos. Os amores de Pedro e Inês deram origem a um vasto manancial literário, quer em romance quer em poesia.


08/01/1454 - Publicação da bula papal "Romanus Pontifex", emitida pelo Papa Nicolau V, que concede ao monarca português e seus descendentes direitos de posse eterna por todas as descobertas terrestres na costa ocidental africana, bem como legitima a escravatura pois seria de "...esperar, da continuação daquele tráfico à conversão de todos aqueles povos à fé cristã".
08/01/1856 - Publicado o primeiro número do jornal holandês "Haarlems Daglabd", considerado o mais antigo jornal ainda hoje em circulação.
08/01/1976 - Falecimento, em Pequim, de Chou-En-Lai. Um dos fundadores da República Popular da China, companheiro de luta de Mao-Tsé-Tung, com quem participou na famosa "Longa marcha". Liderou a abertura da China ao mundo, abrindo as portas ao diálogo com os Estados Unidos.
08/01/1823 - Nasce, no País de Gales, Alfred Russel Wallace. Naturalista, geógrafo e biólogo, foi um dos pais da "Teoria da evolução" a par de Charles Darwin, estudos estes que apresentou em 1858 e que tanto abalou a sociedade científica e religiosa da época.
08/01/1935 - Nasce, em Tupelo, Elvis Presley.


09/01/1579 - Ocorre o massacre de Novgorod (Rússia), ordenado pelo Czar Ivan, o Terrível. Considerado um dos mais violentos de toda a história russa, durou vários dias e calcula-se terem sido chacinados, das mais diversas maneiras, cerca de 3.000 pessoas. As razões do massacre prendem-se com a falta de lucidez que o Czar sofria e do seu convencimento de que, naquela cidade, centrava-se o principal foco conspirador contra si, pelo que resolveu punir indiscriminadamente toda a população.
09/01/1833 - Nasce, em Setúbal, Luísa Todi. Cantora lírica, meia-soprano, teve uma carreira internacional que a levou aos principais palcos de toda a Europa.
09/01/1902 - Nasce, em Aragão, Josemaria Escrivá Balaguer. Fundador da "Opus Dei".
09/01/1941 - Nasce, em State Island, Joan Baez. Cantora folk.

10/01/1911 - O Governo Português decreta, como obrigatório, o descanso semanal ao Domingo.
10/01/1926 - Nasce, em Lisboa, Júlio Pomar. Pintor e escultor.


11/01/1890 - A Grã-Bretanha apresenta ao Governo de Portugal o Ultimato (ver Historiando Moçambique Colonial).
11/01/1903 - Nasce, em Pietermaritzburg, Allan Paton. Escritor sul-africano e político que lutou contra o apartheid.



Foi dito

"Nascer entre brutos, viver entre brutos e morrer entre brutos é triste." - Rodrigo da Fonseca Magalhães (1787/1858), no leito da morte - Deputado, Ministro, Chefe de Governo, Par do Reino e Conselheiro de Estado, foi uma das grandes figuras do liberalismo português do século XIX. (Fonte: O processo 95385 / Rui Verde /Publicações Dom Quixote / 2011 / Pág.42).

"De punhos cerrados não se pode apertar a mão a ninguém" - Indira Gandhi  (1917/1984) Política indiana (Fonte: www.padrejulio.net)

"Sê como a árvore de sândalo que até perfuma o machado que a corta" - Rabindranath Tagore (1861/1941) - Escritor indiano laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 1913. (Fonte: www.padrejulio.net)

Foi escrito

"Dente lupus, cornu taurus petit" ("O lobo ataca com os dentes, o touro com as hastes") - Quinto Horatio Flaco (65 AC - 08 AC), em  Sátiras, II,1.53. Poeta, filósofo e satírico romano. (Fonte: Locuções latinas e estrangeiras - Novo Dicionário Enciclopédico Luso-Brasileiro / Lello & Irmão Editores / Porto / 1995 / Pág.1300)


Foi humorizado
"Se eu fui um Presidente-Rei, o assassino podia ter acertado no hífen" - Sidónio Pais. (Fonte: Morrer a rir - Epitáfios apócrifos / Hilário Antas / Ulmeiro / 2009 / Pág.8)
"Na aula de educação sexual tive falta de material." - Anónimo / Anarcas - Grafiti pintado junto ao Hospital de Sta. Maria / Lisboa, no PREC. 





Nota: todas as referências a instituições, marcas, firmas, livros, discos, filmes ou quaisquer outras são incompatíveis com intuitos publicitários. A sua menção reflecte apenas a minha opinião. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pêro da Covilhã

Aventureiros, viajantes e exploradores

Pêro da Covilhã - (Covilhã, 1450?- Etiópia, 1530?) - Aventureiro e explorador de craveira excepcional. Terá sido o primeiro europeu a chegar às terras de Sofala (Moçambique), em missão de espionagem para o Rei D.João II, em busca de informações sobre a rota do ouro monomotapiano e, também, sobre a rota marítima que ligaria a África Meridional à Índia. Nasceu entre 1450 e 1455, provavelmente na Covilhã (donde o seu nome) e, por dominar a língua árabe, o Rei D.João II encarrega-o, juntamente com Afonso de Paiva, de partir para o Oriente, para recolher informações que melhor orientassem os portugueses nas viagens marítimas para a Índia, cujo caminho marítimo ainda estavam a tentar descobrir. Antes disso, ambos já tinham desempenhado missões de espionagem no Norte de África, com êxito, a mercadejarem e onde tinham aprendido a dominarem a língua árabe, tendo sido essa a razão porque o monarca os escolheu para tão delicada missão, para além de serem homens da sua confiança pessoal. A Afonso de Paiva, D.João II encarregou-o de descobrir e contactar o Reino do Prestes João e a Pêro da Covilhã encarregou-o de ir até à Índia e recolher todos os dados possíveis deste território. Assim, em Maio de 1487, depois de se terem reunido uma última vez com D.João II, em Santarém, vêem para Lisboa e rumam para Valência e, depois, para Barcelona. Aqui embarcam para Nápoles, seguem para a ilha de Rodes e continuam para Alexandria, no Egipto, onde terão chegado em princípios de Julho desse mesmo ano, disfarçados de mercadores. Depois duma estadia atribulada nesta última cidade vão para o Cairo e juntam-se a uns mercadores árabes e embarcam para Adem, navegando pelo Mar Vermelho, na altura referido por Mar Roxo. Aqui chegados os dois aventureiros separam-se. Afonso de Paiva interna-se em África, na busca da localização do Reino do Prestes João (actual Etiópia) e Pêro da Covilhã segue para Cananor e, depois, para Calecute, seu objectivo final. Afonso de Paiva não conseguirá cumprir a sua missão, por ter falecido, desconhecendo-se as causas de tal, presumivelmente de doença. Pêro da Covilhã, em finais de 1488 ou princípios de 1489, sai de Calecute e, em Fevereiro desse mesmo ano, encontra-se em Goa. Após ter recolhido todas as informações sobre a Índia, segue para Ormuz onde fica algum tempo sempre a colher elementos e, depois, vai cumprir a segunda parte da sua missão, que versa sobre a costa litoral africana. Desce o continente africano, integrando-se em tripulações de veleiros mercantis e, em 1489, terá estado em Sofala (Moçambique), espionando rotas marítimas e tráfico do ouro vindo do interior do sertão, do Reino do Monomotapa. Retorna Índico acima e regressa ao Cairo, onde acordara encontrar-se com Afonso de Paiva mas, através de dois enviados especiais do Rei D.João II, os judeus Josef, sapateiro de Lamego e o Rabi Abraham, de Beja, vem a tomar conhecimento da morte do seu companheiro. Entrega aos dois enviados reais o relatório das observações que fizera quer na viagem da Índia quer na do Oceano Índico e Sofala e onde se poderiam constar informações sobre as ilhas Comores e Madagáscar (então ilha da Lua), mas a existência deste relatório é um facto controverso no seio dos historiadores, não havendo consenso sobre este tema. Há quem defenda que o mesmo poder-se-á ter perdido ou sido destruído a mando de D.João II, fruto da sua política de secretismo, a fim de que segredos de Estado importantes não caíssem em mãos inimigas, nomeadamente espanholas. Regressa a Ormuz, desta vez acompanhado pelo Rabi Abraham, a fim de lhe confirmar parte das suas observações. Depois, quando o Rabi retorna ao Reino de Portugal (o sapateiro Josef já tinha regressado ao Reino, a fim de viajarem separados e não correrem o risco de perecerem juntos e perderem-se as informações), Pêro da Covilhã ruma para o continente africano a fim de completar a missão do seu malogrado companheiro. Em 1492, desembarcando em Jidah (actual Arábia Saudita), resolve ir em peregrinação a Meca, decisão ousada pois, sendo tal interdito a infiéis, caso fosse descoberto seria, inapelavelmente, condenado à morte. Integrando uma caravana, disfarçado de peregrino iemenita, atravessa o deserto arábico e mistura-se na multidão tornando-se, muito certamente, no primeiro europeu a ter aí chegado. De Meca segue para Medina, cumprindo a rota religiosa muçulmana e daqui, englobado numa caravana que seguia para Damasco, abandona esta no Monte Sinai e acolhe-se no Mosteiro bizantino de Santa Catarina. Depois ruma para África e, finalmente, em 1493, atinge o almejado Reino do Prestes João, tendo sido o primeiro europeu a conseguir tal facto. Conseguindo chegar ao arraial do monarca abexim, o Négus Eskender, entrega-lhe as credenciais a as cartas do Rei D.João II. Serve o Rei etíope com lealdade, com conselheiro, bem como os seus sucessores, sendo cumulado de riquezas e honrarias, mas nunca lhe tendo sido concedido sair do Reino, apesar dalgumas vezes ter solicitado tal autorização. O Négus (título real abexim) Eskender morreu  no ano seguinte, em combate, mas honrou-o sempre, tal como os seus sucessores, mas nunca nenhum deles o deixou regressar a Portugal. Pêro da Covilhã acabou por se integrar na sociedade abissínia, ficou rico e deixou descendência. Já na recta final da sua vida teve a felicidade de ver portugueses a chegarem à Abissínia e contacta com os mesmos, servindo de elo de ligação entre as duas culturas. A história da sua vida não se perde porque ele relata-a ao Padre Francisco Álvares que depois a reproduz numa obra que escreveu, a "Verdadeira informação do Reino do Prestes João". É com a chegada desta leva de portugueses que Pêro da Covilhã toma conhecimento de novas do Reino português, entre as quais a morte do soberano D.João II. Morre entre 1525/30 com uma idade avançada, quer não só para a época em que viveu quer para o tipo de vida desgastante que levou. Pêro da Covilhã foi um fabuloso rasgador de caminhos, deixando um legado vivencial espantoso, pura encarnação viva do espírito aventureiro sem fronteiras que norteava na época.


Uma personalidade para a eternidade


Steve Jobs. Não vale a pena estar aqui a debitar dados biográficos deste cometa cerebral criativo. A sua morte, ainda recente, foi sentida em todo o mundo e a sua vida foi mais do que dissecada até à exaustão. Seria apenas chover no molhado. Apenas pretendo, como simples utilizador dum computador, basista informático que sou, não querer iniciar este novo ano, que será o primeiro do resto das nossas vidas, sem prestar a minha homenagem a este Leonardo da Vinci contemporâneo. Poucas, mas mesmo de muito poucas pessoas, se poderá dizer que elas mudaram, irreversivelmente, o futuro da Humanidade. Steve Jobs pertence ao núcleo duro deste restrito clube de deuses.

Historiando Moçambique Colonial

Parte II - A instalação dos portugueses em Moçambique

Os portugueses nunca seguiram uma política de descoberta, conquista, colonização e fixação territorial. Poucas vezes isso esteve nos seus planos, o que diferencia de sobremaneira da colonização espanhola a qual, no Novo Mundo (América do Sul), começou logo por fixar colonos e a explorar os gentios locais.
Os portugueses quase sempre optaram por uma visão mercantilístico-marítima, pelo que nunca lhes interessou, salvo casos pontuais, a penetração territorial. O mar era o seu domínio e, através da sua marinha, estabeleciam feitorias ao longo das costas afro-asiáticas, desempenhando o duplo papel de polícias do mar e intermediários do comércio local. Ou seja, as populações do interior traziam os seus produtos para a costa onde, estabelecidas as feitorias lusitanas, estas intercambiavam os produtos trazidos doutras áreas, tentando suplantar a actividade asiática, esta já implementada no terreno há séculos.
Assim, e porque as nossas atenções centram-se no actual território moçambicano afloraremos, muito ao de leve, a história do império marítimo português na Índia e isto porque, até à reforma administrativa de 1752, levada a cabo pelo Marquês de Pombal, Moçambique ficou totalmente subordinado à tutela do governo do Vice-Rei da Índia portuguesa.
Como já ses sabe, os portugueses apenas se interessaram, primordialmente, pela Índia e resto do Oriente, de cujas rotas marítimas foram pioneiros europeus e, secundariamente, pela costa oriental africana. Esta servia para os navegantes portugueses abastecerem os navios nalguns portos até chegarem à Índia e, também, para comerciarem e permutarem produtos, bem como servia para quebrarem a hegemonia secular do comércio árabe e swahili.
É nesta política de lucros rápidos e sem grandes fixações de colonos, que só absorviam gentes e finanças necessárias para a manutenção dos barcos, que os portugueses escolheram pontos estratégicos ao longo da costa oriental africana. E, mesmo nesta costa, só de Sofala para Norte tendo, durante alguns séculos, o actual Sul de Moçambique, estado em quase completo abandono.
Tendo atingido e fixado-se em alguns portos indianos, os portugueses criaram o cargo de Vice-Rei, Governador-Geral ou Governador (consoante a amplitude de competências) à entidade suprema que governava toda aquela área que abrangia, inicialmente, toda a costa oriental africana até ao estremo Oriente asiático. O poder ficava centralizado em Goa, obedecendo as feitorias moçambicanas, integralmente, ao governo da Índia, o qual criava feitorias ou capitanias (consoante a actividade fosse comercial ou militar) em toda a costa.
Inicialmente, no território moçambicano, os portugueses centraram as suas atenções em duas feitorias: Sofala e ilha de Moçambique. Em Sofala, o primeiro europeu a lá ter estado terá sido o português Pêro da Covilhã, notável explorador e espião solitário ao serviço do rei D.João II, em 1489, nove anos antes dos navios de Vasco da Gama terem chegado à ilha de Moçambique. Em missão de recolha e transmissão de informações para o Reino, Pêro da Covilhã ter-se-á desempenhado bem nas suas funções de espionagem e, daí, o admitir-se ser já do conhecimento dos portugueses, aquando das suas viagens marítimas, da existência do Reino do Monomotapa, sobre o qual circulavam mirabolantes histórias de fabulosas minas de ouro e prata, com as quais os portugueses sonhavam avidamente.
Terá sido essa a razão da criação da feitoria de Sofala: arranjar um ponto de apoio, na costa, que permitisse aos portugueses penetrarem, posteriormente, no interior africano em busca e conquista do ouro e do Reino do Monomotapa, ou então negociarem com os gentios esse mesmo ouro. A feitoria da ilha de Moçambique terá sido criada atendendo à sua posição estratégica no Oceano Índico, tornando-a escala indispensável dos barcos que demandavam e vinham da Índia, jogando com os ventos das monções e, por ser ilha, facilmente defensável. Aliás, é nesta ilha que os portugueses, posteriormente, virão a construir a imponente fortaleza de São Sebastião, uma das principais construções militares portuguesas de toda a costa oriental do continente africano.
Em 1505 o Estado português decreta o monopólio da comercialização do ouro em Sofala, o que veio ferir os interesses dos árabes, ali estabelecidos e que serviam de intermediários entre os portugueses e os gentios do interior. Neste mesmo ano determinou-se a construção da fortaleza de Sofala, iniciada pelo seu Capitão Pêro de Anaia e, no ano seguinte, os asiáticos, descontentes pela perca e quebra do negócio do ouro, activam revoltas contra os portugueses, acabando aqueles por serem derrotados e estes por adquirirem o direito de monopólio de exploração da feitoria, não só por terem autorização da concessão do terreno, feita pelos chefes locais. como também o reforçaram pelas armas.
Em 1506 é ordenada a construção da feitoria da ilha de Moçambique, subordinada a Sofala, pelo que a ligação marítima entre as duas localidades passa-se a fazer com regularidade.
O Régulo de Sofala, Maulide, em 1511, descontente com a actuação dos portugueses e, em somatório, acicatado pelos asiáticos, desencadeia hostilidades contra os lusitanos, obrigando estes a uma intervenção militar, que culmina coma morte do Régulo.
A ligação entre Portugal e a Índia era feita pela chamada Carreira das Índias. Como já vimos, os navios desta carreira abasteciam-se, ao longo da viagem, em postos costeiros e a ilha de Moçambique funcionava, primordialmente, como fonte de abastecimento dos barcos e, secundariamente, como porto comercial, contrariamente a Sofala, cuja função principal era o comércio do ouro e a recolha de dados do Reino do Monomotapa.
No então, o diminuto espaço físico da ilha de Moçambique, estava pendente dos abastecimentos continentais, o que era o seu "calcanhar de Aquiles". abastecimentos estes que eram manuseados pelos gentios avassalados ao Sultanato de Angoche, uma feitoria islamizada. Estes, descontentes com a intromissão dos portugueses na sua secular esfera de negócios, desencadearam guerras, o que obrigou os lusos a atacarem Angoche, em 1510, como retaliação.
Fruto disso, os portugueses resolveram criar mais uma feitoria e, em 1544, montam a de Quelimane, que arranca com uma tripla função: 1) interligar Sofala à ilha de Moçambique e explorar o interior; 2) aumentar a presença portuguesa na costa oriental; 3) abrir mais uma frente comercial.
Por esta altura Sofala e o seu interior já eram terras razoavelmente conhecidas por portugueses aventureiros destacando-se, entre eles, António Fernandes, que chegou à corte do Monomotapa e o trato do marfim começou a suplantar o do ouro.
Devido à péssima administração colonial portuguesa (um mal crónico), Sofala dava mais prejuízos que lucros, fruto também da burocracia, avidez dos colonos e a sempre minagem dos asiáticos, provocando acumulação de produtos na feitoria sem serem devidamente escoados.
Não se afastando da área da feitoria, eram poucos os portugueses que se metiam para o interior, o qual ficava entregue não só aos naturais, como o comércio voltava a cair nas mãos dos arabizados, estes sim, secularmente lá instalados e, no fim, contando com o apoio da população quer por simpatias religiosas, quer por laços familiares estabelecidos por meio de casamentos.
A partir dos anos 30 do século XVI os franceses começaram a navegar na costa oriental africana e a enfrentarem os portugueses, roubando-lhes espaço de manobra, pelo que estes, concluindo que só o mar e o suborno das chefaturas gentias - primeiro por saguates e depois por tenças - já não lhes bastavam para segurarem o comércio do ouro, marfim e escravos, começaram por criar feitorias no interior do sertão africano, até porque esse mesmo interior já começava a ser palmilhado por todo um grupo heterogéneo de aventureiros de todas as estirpes e nacionalidades. É nesta época que o Capitão de Sofala, Vicente Pegado, cria as feitorias interiores de Sena e Tete, fixando alguns portugueses com o propósito de, para além de melhorarem o conhecimento do terreno, rodearem o Monomotapa e combaterem a actividade mercantil árabe.
No princípio da segunda metade deste século XVI os portugueses apontam para Sul e enviam o explorador Lourenço Marques a sondar a baía da Boa Morte (também depois renomeada de Delagoa; Espírito Santo e actual Maputo), sendo depois secundado por António Caldeira, em 1552. Desde esta data até ao início do século XIX, os portugueses nunca se conseguiram fixar no Sul tendo, durante largas dezenas de anos, aquelas paragens estado em completo abandono.
A queda comercial de Sofala começa a acelerar-se, com uma manutenção cronicamente deficitária, contribuindo para tal a corrupção da administração colonial, o contrabando, falta de policiamento do interior e a actividade opositora dos árabes, entre outros factores.
Em 1560 expediciona-se ao Reino do Monomotapa, entregando-se o comando da expedição aos Jesuítas. Liderado por D.Gonçalo da Silveira, a expedição conseguiu chegar à corte africana mas redundou num fracasso total, culminando com a morte deste religioso que, assim, ganhou o trágico direito de se transformar no primeiro mártir jesuíta daquele Reino.
Ao interior de Moçambique começaram a chegar gentes da Índia, reflexo directo da chegada e estabelecimento dos portugueses naquelas paragens, beneficiando os interesses lusitanos já que, sendo alguns deles seguidores da mesma religião dos árabes (muçulmanos), serviam de melhor elo de ligação entre os povos locais e os europeus. Vindos da áreas administrativas portuguesas na Índia e iniciando a sua actividade comercial em Moçambique, revelando um forte espírito de adaptação ao terreno e seguidores, também alguns deles, da religião muçulmana, os indianos cedo começaram a ocupar o lugar dos árabes.
É deste modo que vamos encontrar os caminhos interiores do centro de Moçambique palmilhados por reinóis (portugueses oriundos do Reino), canarins (indianos oriundos de Cananor e outras partes da Índia), árabes, franceses; enfim, toda uma vasta gama de aventureiros que, pela força, pela persuasão, pelo casamento ou por concluios com chefaturas gentias, foram ampliando as suas propriedades, com a consequência directa da criação de exércitos privados e leis próprias furtando-se, assim, aos interesses da Coroa Portuguesa que tinha, no início da segunda metade do século XVI as feitorias de Sena, Tete, Massapa (porta de entrada do Reino do Monomotapa), Sofala e ilha de Moçambique.
O Norte (Cabo Delgado) e o Sul (Lourenço Marques) encontravam-se ao abandono, em autêntico estado letárgico e a ilha de Moçambique começava a subir de importância, passando a ser esta feitoria quem alfandegava os artigos que circulavam de e para Sofala.
Dez anos depois da malograda expedição de D.Gonçalo da Silveira ao Monomotapa, os portugueses, invocando a morte deste religioso como justificação, promovem nova expedição militar a este Reino, cujo fim era o de atingirem as minas auríferas e descobrirem as terras do interior que permitissem a ligação para Angola mas, tal como a anterior, esta expedição também se saldou numa derrota para as hostes invasoras.
Assim, no solo moçambicano, apenas no eixo Quelimane/Tete é que os portugueses conseguiram penetração para o interior, fruto do sonho do ouro do Reino do Monomotapa e, em todo o resto do actual território, apenas se fixaram nalguns portos marítimos, situação que se manteve até meados do século XIX. 
No eixo Quelimane/Tete as terras que caem nas mãos dos portugueses são-no por actos bélicos (direito de conquista), por compra ou doação. Após este período aventureiro de livre circulação individual, a Coroa Portuguesa resolve intervir, a fim de não só disciplinar administrativamente o território como também de colher dividendos financeiros (aforando terras) e impedir a criação de estados rebeldes.
No início de 1600 o Reino do Monomotapa é sacudido por guerras intestinas e, com o fim de resolver os seus problemas internos, o Monomotapa Gatze Lutzere (ou Gusse Lucere) pede auxílio aos portugueses, a troco de lhes doar todas as suas minas o que, face ao auxílio que lhe é prestado, permite-lhe vencer os opositores.
É por esta altura que aparecem os Prazos da Coroa Portuguesa, sistema económico feudal, único na história colonial portuguesa em Moçambique. Com a criação de potentados particulares, que se auto-geriam à revelia das autoridades portuguesas e a seu bel-prazer, a Coroa Portuguesa, receosa da africanização dos portugueses lá instalados e consequente perca de soberania, aprazou estes terrenos os quais, mediante um pagamento à Coroa, esta transferia para os potentados as suas diversas funções (administração da justiça, lançamento e cobrança de impostos, policiamento das áreas, etc.).
Deste modo, na primeira metade do século XVII a situação geográfica de Portugal em Moçambique pouco se altera em relação ao século anterior; excluindo o eixo Quelimane/Tete que, fruto da política do estabelecimento dos prazos, eram os senhores dos mesmos - os prazeiros - que campeavam a seu bel-prazer, mantendo a presença da Coroa Portuguesa, a qual se limitava a sancionar os seus actos de comércio, guerra e justiça.
A actividade portuguesa foi sempre comercial, sustentada na exploração do ouro, marfim e escravos, principalmente, nunca se interessando pelo campo agrícola, limitando-se à agricultura de subsistência. Os colonos eram compostos por aventureiros analfabetos e degredados e o próprio clero católico dedicava-se a todo o tipo de comércio, incluindo o da escravatura.
A dependência administrativa do território ao governo do Vice-Rei da Índia manteve-se até à reforma do Marquês de Pombal, em 1752, altura em que se separou administrativamente, ficando ligada e dependente directamente à Metrópole (Lisboa) em definitivo, a partir de 1756.
Os holandeses, ao criarem  a Companhia Holandesa das Índias Orientais, tentaram ferir os interesses portugueses naquelas áreas, pelo que atacaram a ilha de Moçambique entre 1604 e 1608, mas foram sempre repelidos, acabando-se por se instalarem no cabo da Boa Esperança.
O Sul de Moçambique continuava ao abandono, no que se aproveitavam navios doutras nacionalidades que lá  iam comprar, aos gentios, marfim, âmbar, escravos, mel, abadas (cornos de rinoceronte) e cera, por troca de álcool, panos indianos e missangas. Os portugueses iam iam lá,algumas vezes regularmente, outras depois de grandes lapsos de tempo, acabando por encontrarem já instaladas feitoria de diversas nacionalidades (inglesa, austríaca, holandesa e francesa).
Só em 1781 é que foram lançadas, em definitivo, as bases da criação do presídio de Lourenço Marques e, em 1782, saiu da ilha de Moçambique o navio "Santíssima Trindade", com sessenta expedicionários, comandados por Joaquim de Araújo, nomeado Capitão-Mor e Governador para a "baía de Lourenço Marques e suas adjacentes" tendo, por missão, estabelecerem-se parte na ilha da Inhaca e o restante no território continental fronteiro, onde seria hasteada a Bandeira Real, para que os navios estrangeiros vissem o símbolo da soberania nacional, facto esse que vem a suceder-se em 19 de Abril de 1782.
No entanto, novas atribulações esperavam os portugueses no Sul, voltando o presídio de Lourenço marques a ser abandonado e reconquistado, em definitivo, em 1799, através duma expedição comandada pelo Tenente Luís José. Assim, só a partir de 1800 é que os portugueses se instalam, de vez, em Lourenço Marques.
Relativamente ao Norte é criada, em 1742, a Capitania-Mor de Cabo Delgado a qual, à semelhança doutras, não passavam de intenções escritas em papel com timbre real pois, como de costume, nunca havia homens e material para apetrechar as capitanias. A circulação de comerciantes doutras nacionalidades, nos portos moçambicanos, principalmente a Sul e com maior poder de compra, provoca uma inflação nos preços, o que irrita o poder em Lisboa, voltando sempre com as constantes determinações para expulsarem, dos portos, as embarcações estrangeiras.
Mas as feitorias, mal equipadas, com péssimos administradores e gestores, onde a corrupção era permanente e o distanciamento geográfico do poder em Lisboa ajudava, faziam dessas determinações letra morta, por natureza.
A escravatura e o seu tráfico tinham aumentado substancialmente e a procura de negros, para abastecerem as plantações brasileiras (na América do Sul) e francesas (nos arquipélagos índicos), tornaram-se num negócio altamente rentável.
A partir de 1730 os portugueses perdem as praças a Norte de Cabo Delgado até à zona da Índia (de quem Moçambique era, ainda na altura, dependente) e, fruto disso, é ordenado pelo Vice-rei da Índia um levantamento das feitorias estrangeiras em toda a costa moçambicana, bem como o incremento do bom relacionamento comercial com os gentios da zona de Inhambane.
O século XVIII é convulsionado por várias guerras, notando-se uma forte penetração francesa em Cabo Delgado que, conluiada com as autoridades portuguesas da área, comerciavam âmbar, tartaruga, cauril e escravos. Em 1750 o território fronteiro à ilha de Moçambique revolta-se, novamente, e uma expedição punitiva, levada a cabo pelos portugueses em 1753, é totalmente derrotada.
Motivado por correntes migratórias internas, estalam conflitos tribais em Inhambane e, em 1754, na área da Zambézia, os portugueses guerreiam o regulado do Boror e o do Marave. Nesta área zambeziana os portugueses continuam ligados ao comércio do ouro, escravos e marfim.
Depois da autonomia de 1752, é concedida a Moçambique a autonomia financeira, em 1756 e, trinta anos depois, liberalizam-se os circuitos comerciais marítimos, acabando-se com o monopólio do porto da ilha de Moçambique, como paragem única e obrigatória da navegação de longo curso, abrindo-se os outros portos a esses mesmos navios e criando-se, assim, novas alfândegas.
Em território zambeziano campeavam os senhores dos prazos, predadores de gentes e de terras que, feudalmente, mantinham uma ténue ligação à Coroa Portuguesa conseguindo, à custa de rios de sangue, suor e lágrimas, cada vez mais penetrarem para o interior e gerando autênticos estados dentro do Estado, sempre conflituosos com o poder central.
Ao entrar no século XIX Moçambique deixara, há muito, de ser um simples ponto de passagem para as naus que demandavam a Índia. Bem ou mal, os portugueses tinham assentado arraiais em terras moçambicanas. De Cabo Delgado a Lourenço Marques, ponteavam algumas capitanias marítimas - Quirimbas, ilha de Moçambique, Quelimane, Sofala, Inhambane e Lourenço Marques - e, na zona da Zambézia, graças à política dos prazos, aguçadas pelas lendárias minas do Reino do Monomotapa, os portugueses tinham conseguido penetrar até Tete.
Muito pouco para a extensão territorial do que é hoje Moçambique. Mas também é verdade que os portugueses nunca estiveram interessados em fixarem-se no interior, bem como nunca apresentaram um plano de penetração e consolidação do mesmo. Nunca estiveram interessados em desenvolver a agricultura, a pecuária, a indústria ou as minas. Tudo girava à volta do lucro fácil e, esse, provinha do negócio esclavagista - que sempre esteve na sua mira, se bem que incipiente, no início - do marfim e do ouro, principalmente, para além das colheitas das pilhagens.
É no decorrer do século XVIII que a escravatura é incrementada em toda a sua plenitude, com os mercados brasileiros e franceses a absorverem todo o tráfico possível. Foi um negócio em que comparticiparam as autoridades políticas, administrativas, militares, religiosas, prazeiros, árabes, indianos e os gentios locais, gerando fortunas incalculáveis, tendo-se mantido tal negócio até ao século XX, já muito depois de decretada a abolição do mesmo, pelo Marquês Sá da Bandeira.

(Continua).

Uma personalidade para a eternidade


Damião de Góis - (Alenquer, 02/02/1501 - Alenquer, 30/01/1574) - Historiador, filósofo, compositor musical e humanista. Oriundo da baixa nobreza, cresceu na corte de D.Manuel I como moço de câmara. Em 1523 é colocado em Antuérpia como Secretário da Feitoria Portuguesa  e percorre a Europa em diversas missões diplomáticas. Dedicando-se ao estudo das Humanidades, abandona a carreira diplomática e trava amizade com um dos grandes pensadores europeus, Desiderius Erasmus (de Roterdão), de quem sofrerá forte influência, tal como dos italianos Pietro Bembo e Lazaro Buonamico. Em 1534 estuda na Universiade de Pádua, onde se trava de amizades com o Padre Simão Rodrigues de Azevedo que, mais tarde, será o seu principal delator (1545) no processo que sofreu na Inquisição. Entre 1534 e 1538 percorre, de novo, a Europa acabando por se fixar em Lovaina (1539), durante seis anos e onde se casa. Convive com outros grandes vultos do pensamento liberal europeu, tais como Martinho Lutero e Melancheton, que paternizaram a reforma protestante que veio abanar os alicerces da Igreja Católica Romana. Distingue-se na defesa da cidade (1542), perante a invasão francesa, acabando prisioneiro destes mas depois, por intervenção directa do Rei português D. João III e do Imperador Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico, acaba solto e de regresso ao Reino, onde assume funções superiores na Torre do Tombo e atinge estabilidade financeira e prestígio social. É nesta altura que se desencadeia um processo inquisitorial às sua actividades, sendo acusado de práticas hereges e de ser amigo de heréticos (1545), processo desencadeado pelo Padre Simão Rodrigues Azevedo, com quem convivera em Pádua, anos antes. O processo não teve andamento e, mais tarde, o Cardeal D. Henrique, então já Rei de Portugal, manda-o escrever a crónica do Rei D.Manuel I (na corte do qual Damião de Góis passara uma década  da sua infância), obra que completa em 1565. Titulada de "Crónica do Felicissimo Rei Dom Manuel", foi publicada no ano seguinte e esteve na génese da sua desgraça, por ter caído no desagrado de muitos membros da nobreza de então pois, tratando-se dum livro de História onde o rigor devia imperar, Damião de Góis, não ampliou fantasiosamente os feitos de diversas famílias nobres, como era comum na época. Não só não escrevinhou laudas a muitos nobres, incluindo ao próprio Cardeal D.Henrique (que também era o Inquisidor-Mor do Santo Ofício) como também teve a ousadia de relatar o massacre dos judeus ocorrido em 1506, precisamente no reinado de D.Manuel I, massacre esse que teve lugar no actual Largo de S.Domingos, em  Lisboa. Acaba preso às ordens do Tribunal do Santo Ofício, que retomou as antigas acusações de heresia que estavam arquivadas, bem como acrescentou outras, acusando-o de  práticas heréticas e de ser amigo de hereges e de difundir as suas ideias, bem como de praticar actos ofensivos aos rituais e símbolos sagrados da Igreja Católica Romana. Ouvidas diversas testemunhas acusatórias, entre as quais constavam familiares seus, Damião de Góis, dobrados os 70 anos, acaba condenado à morte na fogueira, mas vê a pena comutada em prisão perpétua  e a ser cumprida no Mosteiro da Batalha. Volvidos seis meses autorizam-no a cumprir a pena em casa, onde virá a ser encontrado morto, caído sobre a lareira e com fractura craniana, o que se leva a admitir que tenha sido assassinado. Deixou várias obras publicadas, entre as quais a acima referida, bem como a "Crónica do Príncipe Dom João" (o que viria a ser D.João III e seu grande amigo) e "Urbis olisiponis descriptio", entre outras. Damião de Góis foi um dos principais príncipes do pensamento renascentista, humanista europeu, amante estrénuo da liberdade do pensamento e da tolerância na convivência entre povos e pessoas e que, por isso mesmo, acabou vítima desses seus ideais. Foi, nos tristes tempos em que se caminhava para o claudicar da independência de Portugal (ocorrida em 1580) que quiseram acabar com a independência do seu espírito. 


Leituras

"Viagens de Pêro da Covilhã" do Conde de Ficalho (Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1988, 368 págs.) é o livro que descreve a vida deste excepcional aventureiro português.

"O espião de D.João II" de Deana Barroqueiro (Ésquilo, Lisboa, 2009, 527 págs.) é o melhor romance histórico que já li sobre a vida de Pêro da Covilhã. Assente numa abundante bibliografia, utilizando vocábulos da época em que os factos ocorreram, ricamente descritivo dos vários aspectos vivenciais da altura, com uma narrativa bem sequenciada e empolgante é, para mim, um dos livros da minha vida. Do melhor que já se escreveu sobre esta personagem lendária.

Filme

"La vie en rose", realizado por Olivier Dahan (134 minutos, 2007) é um filme que retrata a vida conturbada de Edith Piaff. Uma bela reconstituição do que foi desde criança e no que se tornou em adulta, com uma representação notável de Marion Cotillard, no papel principal.

Música

Indubitavelmente as melodias cantadas por Edith Piaff (1915-1963) são minha companhia obrigatória. Este metro e meio de corpo frágil era uma ciclope vocal. Nascida num meio miserável, crescendo entre prostitutas, proxenetas e bêbados, artista circense acompanhando o pai, cantando precocemente em cabarets e com uma maternidade prematura, vem a ser protegida por Louis Leplée, dono dum cabaret nos Campos Elíseos (Paris) que lhe ensina a mudar o seu comportamento e o estilo de cantar em palco e a forma de se vestir (de preto, que passaria a ser a sua imagem de marca). Logo no ano seguinte lança o seu primeiro trabalho discográfico "Les mômes de la cloche" (1936) e, daí em diante, foi toda uma escalada musical que a levou ao estrelato europeu e norte-americano. Não cessou a sua actividade musical durante a ocupação nazi em França, o que levou muitos patriotas franceses a considerarem-na uma traidora. Dois anos após o findar da guerra efectua os seus primeiros espectáculos nos Estados Unidos. Mulher de muitos amores, todos voláteis, todos os grandes nomes da canção francesa passaram pela sua casa e muitos deles pela sua cama, mas houve um que a marcou fundo, a paixão pelo pugilista Marcel Cerdan, falecido num acidente de aviação quando se dirigia ao seu encontro. A morfina e o álcool deram o seu contributo  decisivo para findar toda uma curta vida de 47 anos, que lhe arrasaram a saúde e as finanças. Mas a sua voz tornou-se eterna.

In memoriam


A partir do princípio desta semana, mais concretamente de 01 de Janeiro, entra em vigor o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Sou abertamente contra o mesmo mas tenho a noção e a perfeita consciência de que a nova ortografia brasileira, perdão, portuguesa, irá ser implementada rapidamente, restando a uns tantos "idioteadilistas" (como eu) a birra de quererem continuar a escrever como deve ser, sem transigir com facilitismos. Mas, com o correr do Tempo, face à lei natural da vida, iremos desaparecer e seremos apenas partículas residuais na poeira da História. Aceito. Vencido... mas não convencido. Mas deixo aqui a minha homenagem a todos os intelectualóides, políticos de pacotilha, e safardanas do lucro fácil, que não tiveram pejo em subjugar um dos símbolos identitários do nosso património cultural  aos seus instintos do "lambecuzismo" aos novos patrões da língua. Porque, como cantou Camões: "... entre os portugueses alguns traidores também houve...". E a todos esses "lambecuzistas" deixo o seguinte texto (de autoria anónima) que mão amiga me enviou há algum tempo. Trata-se duma história da nossa infância, do "Capuchinho Vermelho e do Lobo Mau", em versão de escrita e oralizada após o novo Acordo Ortográfico: 

Tás a ver uma dama com um gorro vermelho? Yah, essa cena. A pita foi obrigada pela kota dela a ir à toca da velha levar umas cenas, pq a velha tava a bater mal, tázaver? E então disse-lhe:
- "Ouve, nem te passes! Népia dessa cena de ires pelo refundido das árvores, que salta-te um meco marado dos cornos para a frente e depois tenho a bófia à cola."
Pá, a pita enfia a carapuça e vai na descontra pela estrada, mas a toca da velha era bem longe e a pita cagou na cena da kota dela e enfiou-se pelo bosque. Népia de mitra, na boca e tal, curtindo o som do iPod. É então que, ouve lá, salta um baita dog amarelo, todo chinado e bué ugly mêmo, que vira-se pa ela e grita:
- "Yoo, tás td? Dd td?"
- "Tásse... do gueto! E tu... tásse?" - disse a pita.
- "Yeah! E atão, que se faz?"
- "Seca man! Vou levar o pacote à velha que mora ao fundo da track, que tá kuma moca do camano."
- "Marado, marado! Bute ripar uma até lá?"
- "Epá, má onda, tázaver? A minha kota não curte dessas cenas e põe-me na pildra se me cata."
- " Dasse. A kota não tá qui, dama. Bute ripar até à casa da tua velha, até te dou avanço, só naquela da curtição. Sem guita ao barulho nem nada."
- "Yeah, prontes. Na boa. Vais levar um baile katé te passas."
E lá riparam. Só que o dog enfiou-se por um short no meio do mato e chegou à toca da velha na maior, com bué davanço, tázaver? Manda um toque na porta, a velha "quem é e o camano" ele "ah e tal e não sei o quê, que eu sou a pita do gorro vermelho, e nanana...". A velha abre a porta e ... pimba, o dog papa-a toda... mas mêmo toda, abre a bocarra e o camano e até chuchou os dedos.
O mano chega, vai ao móvel da velha, isca uma shirt assim mêmo à velha, que a meca tinha lá, mete uns glasses na tromba e enfia-se no VL... o gajo tava bué abichanado mêmo, mas a larica era muita e a pita era à maneira, tázaver? A pita chega, e tal e malha na porta da velha.
- "Basa aí cá pa dentro!" - grita o dog.
- "Yop, velhita, tásse?"
- "Tásse e tal, cuma moca do camano... mas na boa."
- "Toma esta cena para mamares-te toda aí..."
- "Bacano pa ver se trato esta cena toda e tal."
- "Pá, mica uma cena: pa ké esses baita olhos, man?"
- "Pá, pa micar melhor a cena, tázaver?"
- "Yeah, yeah. E os abanos, bué da bigs, pa ké?"
- "Pá, pa poder controlar melhor a cena, tázaver, né?"
- "Yesah, bacano... e essa cremalheira toda janada e bué da big? Pa qué aq cena?"
- "É pa chinar esse corpo todo. Grrrrrrr..."
E o dog amanda-se à pita, naquela mêmo dengolir, né? Só que a pita dá-lhe à brava na capoeira e saca um back-kik mesmo directo aos tomates do man e basa porta fora. Vai pela rua aos berros e tal, o dog vem atrás e dá-lhe um ganda baile, pimba, mêmo nas nalgas e quando vai pa engolir a gaja aparece um meco daqueles que corta as cenas cum serrote, saca do machado e afinfa-lhe mêmo nos cornos. O dog kinou, o mano china a belly do dog e saca de lá a velha toda cheia de nhanha.
Ina man, e a malta toda a gregoriar-se!!! E prontes, já tá.

  
Memória da semana

01/01/1788 - Sai a público o primeiro número do jornal londrino "The Times".
01/01/1804 - Independência do Haiti.
01/01/1859 - Nasce, em Vila Viçosa, Henrique Pousão. Pintor da primeira geração da corrente naturalista.
01/01/1901 - Forma-se a Comunidade Australiana, independente do Reino Unido, mas continuando membro da Commonwealth.
01/01/1914 - Os Protectorados britânicos da Nigéria do  Norte e do  Sul são unificados, dando origem à Colónia da Nigéria.
01/01/1922 - Criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, resultante da federação de várias repúblicas autónomas (Russa, Transcaucasiana, Ucrânia e Bielorússia).
01/01/1942 - Nascem as Nações Unidas, em substituição da anterior Liga das Nações quando, neste dia, os Estados Unido, a Grã-Bretanha e mais 26 países subscrevem uma carta de intenções, em Washington. Formalmente seria fundada em 24/10/1945, após o findar da II Guerra Mundial.
01/01/1949 - O porto da Beira (Moçambique) é resgatado pelo Estado Português à Companhia de Moçambique.
01/01/1956 - Independência do Sudão.
01/01/1958 - Entra em vigor o Tratado que institui a Comunidade Económica Europeia (CEE), antecessora da actual União Europeia (UE).
01/01/1960 - Independência dos Camarões.
01/01/1980 - Ocorre um violento sismo na cidade de Angra do Heroísmo, nos Açores.
01/01/1986 - Portugal e a Espanha ingressam na Comunidade Económica Europeia.
01/01/1993 - Na passagem da meia-noite de 31/12/1992 para este dia finda a República da Checoslováquia, dando origem a dua novas repúblicas: Checa e Eslovaca.

02/01/1492 - As forças dos Reis Católicos de Espanha (Isabel e Fernando) conquistam, aos árabes, o Reino de Granada desaparecendo, assim, o último Reino não cristão da Península Ibérica.
02/01/1920 - Nasce, em Petrovich (Rússia), Isaac Asimov. Escritor de ficção científica e professor de bioquímica.

03/01/1690 - Criação da Companhia de Cabo Verde e Cacheu, com a finalidade de desenvolver o comércio do marfim, panos e escravos entre os portos de Cabo Verde e Guiné Bissau e os portos brasileiros.
03/01/1960 - Dez dirigentes do Partido Comunista Português evadem-se do Forte de Peniche, que funcionava como prisão política. Entre os fugitivos encontrava-se Álvaro Cunhal.
03/01/1967 - Morre, em Dallas, Jack Ruby. Fora o assassino de Lee Harvey Oswald, sendo este, por sua vez, o alegado assassino do Presidente norte-americano John F. Kennedy.

04/01/1643 - Nasce, em Woolsthorp (Inglaterra), Isaac Newton. Físico, matemático, astrónomo, filósofo, foi uma dos mais brilhantes cérebros da Humanidade, de todos os tempos.
04/01/1809 - Nasce, em Coupvray (França), Louis Braille. Criou um sistema de leitura para invisuais, conhecido pelo "alfabeto Braille", ainda hoje em uso.
04/01/1899 - Nasce, em Lisboa, Maria Archer. Escritora, publicou vários livros sobre temática colonial luso-africana.
04/01/1948 - Independência da Birmânia (actual Myanmar).
04/01/1960 - Morre, em Villeblevin (França), Albert Camus. Escritor, ensaísta, dramaturgo e filósofo, fora laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 1957.

05/01/1876 - Nasce, em Colónia, Konrad Adenauer. Advogado e político, viria a exercer o cargo de Chanceler da República Federal Alemã.  
05/01/1919 - Criação do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores, na Alemanha. Dos fundadores iniciais viria a emergir Adolfo Hitler.
05/01/1950 - Morre, em Berlim, Jonh Rabe (Juliuus Raab). Nazi convicto, opôs-se o mais tenezmente possível contra as tropas invasoras japonesas, salvando dezenas de milhares de civis chineses, no massacre de Nanquim.

06/01/1822 - Nasce, em Neubukaow (Alemanha). Heinrich Schillmann. Linguísta, empresário, especulador financeiro e arqueólogo amador, revelou ao mundo as riquezas da civilização micénica e das ruínas de Tróia.
06/01/1876 - Morre, em Lisboa, Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo (Marquês de Sá da Bandeira). Militar e político abolicionista, foi o grande impulsionador do fim da escravatura em todo o território português de então.
06/01/1960 - O Primeiro-Ministro britânico Harold Macmillan inicia um périplo africano, que o levará aos territórios coloniais do Gana, Nigéria, Rodésia e África do Sul.
06/01/1994 - Morre, em Paris, Rudolf Nureyev. Bailarino e coreógrafo.
06/01/1995 - Angel Pui Peng, uma mulher chinesa com passaporte português, é executada em Singapura, sentenciada judicialmente por tráfico de estupefacientes.

Foi dito

"Mereceis a morte por me pordes os cornos dormindo com outrém". Infante D.João (filho de D.Pedro I e de Inês de Castro), justificando à sua mulher D.Maria Teles de Meneses porque a ia matar, o que fez de seguida (1378/9?). (Fonte: Frases que fizeram a História de Portugal/Ferreira Fernandes - João Ferreira/Esfera dos Livros/Pág.50)
"Oh senhor, eu entendo bem que vos vindes mal aconselhado, e perdoe Deus a quem vos tal conselho deu". D.Maria Teles de Meneses, reagindo à acusação que seu marido, o Infante D.João lhe fizera. Pouco momentos seria assassinada por este. (Fonte: Vidas surpreendentes Mortes insólitas da História de Portugal/Ricardo Raimundo/Esfera dos Livros/Pág.34).
Nota: ambas as frases terão sido retiradas da "Crónica do Senhor Rei Dom Fernando, nono Rei destes reinos", de Fernão Lopes.

Foi escrito

"Cuiusvis homini est erare nisi insipientis in errore perseverare" (tradução: "Errar  é próprio dos humanos e permanecer no erro é próprio dos imbecis") - "Filipicas" de Marco Túlio Cícero (106-43 AC). (Fonte: A História do Mundo em 50 frases/Helge Hesse/Casa das Letras/Pág.59).
Foi humorizado

"Um adulto é aquele que deixou de crescer na direcção vertical, mas não na direcção horizontal." - Anónimo. (Fonte: Citações para humoristas/José Manuel Veiga/Editorial Lio/Pág.11)

Curiosidades (in)úteis


Os censos da população portuguesa de 1900 contabilizaram 5.423.132 habitantes. (Fonte: Cronologia do século XX/Neville Williams-Philip Wallwe-John Rowett/Círculo dos Leitores/Pág.7)



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