VIAJANTES, AVENTUREIROS E
EXPLORADORES
Lawrence
Anthony – (Joanesburgo, 17/09/1950 – Thula-Thula, 02/03/2012)
– Conservacionista, escritor. Na mensagem anterior abordou-se a biografia do
casal Sheldrick, lutadores incansáveis pela conservação de diversas espécies selvagens
africanas, nomeadamente as de grande porte, tais como elefantes e rinocerontes,
no Quénia.
Agora pretendo homenagear um outro
conservacionista, o sul-africano Lawrence Anthony, que dedicou parte da sua
vida a pugnar, tal como o casal Sheldrick, pela protecção dos elefantes e
rinocerontes, em diversas partes do planeta.
Neto dum mineiro britânico que emigrou
para a África do Sul, na década de 20 do século passado, para as minas de ouro
transvalianas, e filho dum negociante de seguros, Lawrence Anthony percorreu
diversos territórios da África Austral, até se ter estabelecido na Zululândia,
em meados da década de 90, onde adquiriu a reserva Thula Thula, fruto da sua
paixão pela causa ambiental, com uma área de 5.000 acres, em KwaZulu-Natal.
A liderar a Reserva Thula Thula,
localizada em terras na nação zulu, o seu primeiro acto foi o salvamento de
nove elefantes, no que fora alertado por um grupo de ambientalistas, elefantes
estes que tinham escapado dum cativeiro. Conseguindo captar a atenção da
matriarca do grupo, atravésds da sua tonalidade vocal e linguagem corporal,
conduziu-os para a sua reserva, o que o levou a ser alcunhado de “elephant-whisperer”
(“o homem que sussurrava aos elefantes” – tradução livre).
Foi o fundador da “The Earth Orgazination” (2003), uma ONG internacional, vocacionada para a conservação do
meio-ambiente dotada duma forte componente científica, neste momento espalhada
por vários países e sedeada na África do Sul (consultar: http://www.lawrenceanthony.co.za).
Os seus esforços tiveram êxito ao criar
duas novas reservas, a “Royal Zulu
Biosphere” e a “Maybuye Game Reserve”, onde envolveu os povos locais para a
implementação do turismo de vida selvagem.
Era planetariamente famoso pelas suas iniciativas
arrojadas na luta pelas causas animais e ambientais, nomeadamente no arriscado
resgate dos animais do Jardim Zoológico de Bagdad, aquando a invasão
internacional ao Iraque em 2003, invasão esta liderada pelos EUA. Sendo um dos
maiores jardins zoológicos do Médio Oriente, com cerca de 700 animais, uma
semana após a invasão, a maioria deles estava morta, fruto dos bombardeamentos
a que foram sujeitos e à fome que grassava e falta de abastecimento de água.
Numa louca corrida contra-relógio, naquela loucura animalesca que se apropriou
dos humanos, Lawrence Anthony logrou resgatar os animais ainda vivos onde se
contavam leões, hienas, elefantes, ursos e tigres, usando mercenários, membros
da Guarda Republicana iraquiana, alguns soldados invasores, tratando da
logística do transporte, da burocracia e do fornecimento de alimentos básicos
para os bichos. Foi uma epopeia fabulosa, no meio do turbilhão bélico que se
instalou. Porque os animais cativos não tinham culpa da bestialidade humana que
se desencadeara. Desta saga escreveu o seu primeiro livro: “Babilon´s Ark”.
Posteriormente escreveu o seu segundo
livro: “The elephant wigsperer”, onde relata a sua actividade no resgate
de elefantes.
Também lhe coube o reconhecimento
internacional pela luta que travou pela preservação de espécies animais em perigo
de extinção, nomeadamente dos últimos rinocerontes brancos, no Sudão, quando
aquele País foi dilacerado por longas e genocidas guerras intestinas. Também desta aventura escreveu a obra: “The last rhinos: my
battle to save one of the World´s Greatest Creatures”.
À semelhança de David Sheldrick, um
ataque cardíaco ceifou-o prematuramente, aos 61 anos, quando ainda muito havia
a esperar da actividade deste imparável lutador das causas ambientais. Para
além da sua actividade, que a História registou como um dos gigantes da causa
ambiental africana ficaram, para a nossa memória colectiva os registos em
diversos canais televisivos internacionais, os seus escritos em múltiplas
revistas e livros que escreveu.
Rezam as crónicas que, após a sua morte,
duas famílias de elefantes que ele salvara, caminharam longamente, durante 12
horas, desde a Reserva de Thula Thula até à zona onde o seu corpo se
encontrava, como que numa última homenagem ao seu “líder”, ali tendo ficado
durante dois dias, até se terem dispersado. Este evento foi documentado
fotograficamente.
Uma fortíssima bofetada de pata cinza,
nas trombas de todos aqueles que representavam o oposto do que ele defendia:
que cabemos todos neste planeta.
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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL
Aguada
de São Braz – Foi a primeira aguada* a ser estabelecida pelos
portugueses no sul da costa oriental africana. Em 1488, o navegador Bartolomeu
Dias, depois de ter dobrado o cabo da Boa Esperança atingiu este local, ponto
terminal da sua viagem na ida, tendo retornado ao Reino, depois de se ter
convencido que já atingira o limite de África e face ao descontentamento da sua
tripulação em prosseguir viagem por marres desconhecidos até à Índia. A sua
falta de firmeza e pusilanimidade ditou a justiça de não ter sido o descobridor
do caminho marítimo para a Índia e a injustiça a Dom João II não ver consagrada
a sua tenaz política dos descobrimentos de atingir o “eldorado” das
especiarias. O nome de São Braz dado à aguada deveu-se ao facto da mesma ter
sido atingida a 03 de Fevereiro, no dia católico deste santo. Nesta aguada,
onde desde os primórdios sempre teve um ribeiro de água doce propício a
abastecimento deste precioso e vital líquido aos navios que aí demandavam, terá
sido erigido o primeiro templo católico deste lado da costa, dedicado a São Brás
por João da Nóvoa, em 1501 quando ali passou com a sua armada em direcção à
Índia, bem como terá aqui sido colocada a primeira “caixa postal” do sul de
África quando, em 1500, tendo aí arribado Pedro Ataíde, pregou uma bota numa
árvore colocando cartas no seu interior que, no ano seguinte foram resgatadas
por João da Nóvoa. Esta ancestral árvore, situada agora no centro da cidade,
foi considerada monumento nacional, segundo o “The South African Year Book” de
1967. Tendo adquirido o britânico nome de Mossel Bay, o governo sul-africano,
numa homenagem a Bartolomeu Dias mudou o nome da baía para “Dias Bay”, bem como
existe um museu na cidade dedicado a este navegador, que assinala o histórico
lugar do primeiro desembarque aí ocorrido, bem como a réplica duma caravela,
entre outras reproduções.
Júdice Bicker – (Portimão, 1867 - 1926 – Joaquim Pedro
Vieira Júdice Bicker) – Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa (Capitão
de Mar e Guerra). É colocado em Moçambique, com a patente de Primeiro-Tenente,
em 1894, desempenhando as funções de Ministro Residente junto da corte de
Gungunhana*, tendo privado com o mesmo, no exercício das suas funções. Após a
queda do Reino de Gaza*, no ano seguinte Júdice Bicker foi nomeado Governador
da Guiné e, de seguida, foi transferido para São Tomé e Príncipe. Em 1918
regressa a Moçambique, comandando o Batalhão Expedicionário da Marinha de
Guerra, no decurso da Primeira Guerra Mundial**. Regressa à metrópole* onde vem
a exercer o cargo de Ministro da Marinha.
Nagana
- Também conhecida por doença do sono, é uma doença desenvolvida pelo
protozoário “trypanossoma” e transmitida pela picada da mosca tsé-tsé. Uma maneira básica, prática e
económica de evitar a sua propagação para territórios livres desta praga, era
levada a cabo pela Missão de Combate à Tripanossoníase (MCT) que, numa variante
da ratoeira Harris e através da construção, nas zonas fronteiriças das
áreas infectadas, das típicas casas sobrepostas às estradas onde,
obrigatoriamente, os carros tinham que entrar e aguardar uns minutos no escuro,
enquanto se abria uma portinhola que dava acesso a um pequeno cubículo, na
referida casa, deixando passar um pouco de luz. Se o carro, estacionado no
interior com os vidros, portas e capota abertos, transportasse alguma mosca, a
luminosidade, que passava através da portinhola, atraía a mesma, provocando a
sua captura. Através da picada da mosca tsé-tsé, a tripanossoníase entrava na
corrente sanguínea dos vertebrados, causando-lhes febres, fraqueza e estados
letárgicos, perca de peso e anemia, podendo, em casos extremos, evoluir
fatalmente. Inicialmente, nos finais do século XIX, o combate a esta praga, que
raziava por completo manadas inteiras de gado, era feito por extermínio da caça
nas zonas afectadas, pois existia a crença que eram eles quem disseminavam a
doença. Posteriormente abandonou-se esta prática, por se ter apurado que a
mosca também se alimentava da seiva dalgumas plantas, seiva esta que dava uma
maior protecção aos germes da tripanosomiase. Face às crescentes dificuldades
em controlar a disseminação dos focos infecciosos, tentou-se o cruzamento de
bois domésticos com elandes, por estes últimos serem os mais resistentes à
nagana, criando-se a convicção que as crias deste cruzamento seriam imunes a
tal praga mas tais tentativas também não resultaram. Outra forma de combate a
esta praga era a de colocação de extensos panos besuntados com visco, mas que também
se veio a revelar impraticável. O método inicial de tratamento da doença era o
de rastrear os doentes, esterilizá-los por um período mais ou menos longo ou
segregá-los em determinados casos mais graves. Posteriormente evoluiu-se e, já
na década de trinta do século passado, começou-se por adoptar o método
preventivo, antecipando o aparecimento da doença, promovendo-se a atoxilização
profilática da população sã, por métodos químicos.
Tsé-tsé
– Nome popular da mosca que,
cientificamente, é referida como Glossina Palpalis e cuja picada provoca uma
doença.
Questão da baía de Tungue- Após a queda de Mombaça, em 1698, os
portugueses retiraram-se para sul de Cabo Delgado, perdendo as possessões a
norte de Moçambique até à Índia, para os árabes. Os povos suaílis*, incapazes
de se organizarem num estado forte, viviam sob influência árabe ou portuguesa,
consoante as áreas onde se estabelecessem. No século XVIII os árabes,
devidamente instalados em Zanzibar, navegavam com impunidade nos mares
nortenhos de Moçambique, tendo os portugueses uma pequena feitoria* no Ibo e,
como tal, incapaz de fazer frente ao crescente poderio naval e comercial das
forças zanzibaritas. Por outro lado e em função da religião, era natural que os
povos suaílis tendessem mais para a aceitação da influência das gentes de Said
Bin Sultan, Sultão de Zanzibar do que da influência portuguesa, muito mais
pobre, fraca e sem conseguir uma aproximação cultural, se bem que no fundo o
que os suaílis quisessem era viverem independentes. No princípio do século XIX
Portugal vai disputar Tungue às pretensões zanzibaritas, que era uma área
geográfica com domínio indefinido, apenas lá vivendo suaílis, mas as suas
acções centram-se mais no campo diplomático do que bélico, pois com fracos
recursos materiais, a crónica falta de dinheiro, a desertificação humana das
gentes portuguesas, a incapacidade de se miscigenarem culturalmente com os
povos locais e a extensão territorial entregue aos negreiros, levou a que até
quase finais do século XIX toda a costa litoral nortenha estivesse ou na posse
dos gentios locais ou sob administração velada dos zanzibaritas. A 17 de
Outubro de 1861 o Governador-Geral Tavares de Almeida desloca-se a Zanzibar, a
fim de resolver o diferendo diplomático sobre a posse de Tungue, mas a missão
regressou sem nada ter conseguido. Só a partir de 1885 é que Portugal, face ao
crescendo interesse das potências coloniais por territórios africanos, começou
a empregar-se mais a fundo para resolver a questão da posse de Tungue, tendo
até aquela altura limitado a assinar uns acordos comerciais com Zanzibar e, vez
por outra, enviar um veleiro em missão de observação para aquelas paragens. Em
1885 Portugal nomeia Serpa Pinto como seu Cônsul, em Zanzibar, e este fogoso
explorador vai provocar um incidente diplomático com as autoridades locais ao
cortar relações diplomáticas com o sultanato, precisamente por causa da disputa
da posse de Tungue, que Zanzibar considerava seu território. Nesse mesmo ano as
autoridades portuguesas criam o Posto de Maninganio, na baía, a fim de tentarem
afirmar a soberania na área, mas de eficácia nula. Em 1886 Serpa Pinto, por
doença, abandona Zanzibar, tendo entretanto sido criada uma comissão
internacional composta pela Alemanha, Inglaterra e França para arbitrarem a posse
de Tungue. Após a saída de Serpa Pinto Portugal reata relação com Zanzibar,
mas, em 1887, volta a rompê-las, novamente e sempre devido à questão da posse
de Tungue. Mas, nesta altura, os portugueses, apoiados indirectamente pelos
ingleses e alemães, já não estão com hesitações e, declarando guerra ao Sultão,
em 12 de Fevereiro de 1887, neste mesmo mês bombardeiam as guarnições
zanzibaritas em Miningani - Tungue, apoderando-se das mesmas, em 22 e 23 de
Fevereiro, e obrigando as forças de Ali-Bin-Said, comandante inimigo, a
refugiar-se no interior. Aproveitando esta vaga de fundo, os portugueses
prosseguem as suas conquistas territoriais para norte, acabando por fundar o
povoado de Palma, em homenagem a José Raimundo de Palma Velho, comandante da
expedição e do Ibo. Face a esta derrota militar, Bargash, Sultão de Zanzibar,
perde créditos junto das potências europeias e pede a paz a 02 de Março
seguinte. Portugal acaba por beneficiar da cumplicidade anglo-alemã o que lhe
permite, em Julho de 1887, desembarcar em Zanzibar os seus representantes para
ratificarem com o Sultão a titularidade dos novos territórios. O desinteresse
da comissão internacional mais aumentou a fragilidade zanzibarita e Portugal,
em definitivo, viu reconhecido internacionalmente o seu direito à posse da baía
de Tungue e de toda a costa até ao rio Rovuma.
Serpa
Pinto – (Tendais, 20/04/1846 – Cinfães, 28/12/1900 –
Alexandre Alberto da Rocha Serpa Pinto) – Oficial do Exército Português (Major)
e explorador. Oriundo duma família aristocrata do norte de Portugal, passou
parte da sua infância no Brasil. Ingressa, aos dez anos de idade, no Colégio
Militar. Cursa Direito na Universidade de Coimbra, que não terminará, acabando
por abraçar a carreira militar. Em 1876, já com a patente de Capitão, da Arma
de Cavalaria, é nomeado para integrar uma expedição científica a Angola, na
companhia de Hermenegildo Capelo** e Roberto Ivens**. Após desinteligências
surgidas com estes dois exploradores, Serpa Pinto separa-se dos mesmos e enceta
uma viagem que, atravessando o interior africano, pretende ligar o Atlântico ao
Índico. Em 12 de Novembro de 1877 sai de Benguela e atravessa, no sentido
oeste/este, o centro de África, chegando a Durban, na África do Sul, em Abril
de 1879 e, dessa travessia, escreverá o livro “Como eu atravessei África”. Entre 1885 e 1886 fica em Zanzibar, como Cônsul de Portugal,
entrando em litígio com o Sultão Barganash sobre a posse da baía de Tungue,
provocando um conflito diplomático entre Portugal e aquele sultanato. Entre
1889 e 1890 expediciona ao Niassa* e, internando-se em território macololo,
persegue estes, originando outro conflito diplomático, agora com a
Grã-Bretanha, que resultou no Ultimato apresentado por aquela potência contra
Portugal. Governou Cabo Verde, em 1894. Escritor, geógrafo, político e militar,
foi, no seu tempo, um notável explorador colonial, bastante voluntarioso mas,
no entanto, com notória falta de tacto diplomático. A ele se referia e, 1890,
em Lisboa, o correspondente do jornal francês “Letain” como: “Serpa Pinto é
como um toque de clarim a acordar uma nação adormecida.”. Em 1900 é eleito Deputado pelo círculo de Cinfães mas vem a falecer
em Lisboa, nesse mesmo ano. Em sua memória foi atribuído, no sudoeste de
Angola, o seu nome a uma vila (antiga Menongue).
Ultimato (britânico) - Coacção
diplomática apresentada pela Grã-Bretanha a Portugal, em Janeiro de 1890, como
forma de protesto para os combates que as forças portuguesas, comandadas por
Serpa Pinto, travaram com os macololos, no vale do Chire. Com o Mapa
Cor-de-rosa**, os portugueses pretendiam o reconhecimento internacional para a
sua posse dos territórios que ligavam Angola a Moçambique. Esta pretensão
contrariava de sobremaneira os interesses britânicos que, através de Cecil
Rhodes*, e da sua BSAC* outorgam-lhe a exploração mineira da zona Matabele e
Machona, áreas do Rei Lobengula**, e actual Zimbabwé. Através da BSAC, a
influência britânica estende-se até ao Niassa e o governo português cria, em 09
de Novembro de 1889, o distrito do Zumbo**, como forma de travar o avanço
predador de Cecil Rhodes** englobando neste novo distrito áreas a montante do
Zambeze, incluindo territórios da Machona. Em 11 de Novembro Serpa Pinto trava
combates com os macololos e avassala régulos* da zona. O Governo britânico
reage à criação do novo Distrito, não reconhecendo a Portugal soberania a não
ser em Tete e Alto Zambeze. Para tal, Londres envia a Lisboa, através do seu
representante nesta cidade, em Novembro desse mesmo ano, uma nota onde declara: “O Governo
de Sua Majestade recebeu notícias baseadas na autoridade do bispo anglicano
Smithies, bem como de uma viajante francês, de que os macololos foram atacados
pelo major Serpa Pinto, depois do Cônsul Buchnan lhe ter declarado que eles
estavam sob a protecção da Inglaterra; de que o major com uma força de 4000
homens, 7 metralhadoras e 3 vapores se achava em Ruo e tinha declarado
oficialmente que era intenção sua tomar posse de toda esta região até ao lago
Niassa. Avisou, além disso, as estações inglesas de Blantyre de que terão de
colocar-se sob a protecção de Portugal ou de sofrer as consequências que
poderiam resultar se assim não o fizerem. Foram vistas pelo bispo Smithies
declarações escritas nesse sentido. O Governo de Sua Majestade (britânico) preveniu o de Sua Majestade
Fidelíssima (português) de que não
poderia permitir qualquer ataque às estações inglesas situadas quer no Xire
quer na parte meridional do Niassa, e estou encarregado de lembrar a Vossa
Excelência que o ataque dirigido contra os Macololos, depois do representante
inglês ter anunciado que estavam sob a protecção de Sua Majestade a Rainha
(britânica) é uma grave infracção dos direitos duma potência amiga. O Governo
de Sua Majestade não pode consentir nestes factos nem no procedimento adoptado
por Portugal. Encarrega-me, portanto, o marquês de Salisbury, de pedir ao
Governo Português que declare que não permitirá às forças portuguesas qualquer
ataque às estações britânicas do Niassa ou do Xire, nem ao país dos Macololos
e, além disso, que não consentirá que ataquem o território sujeito ao Lubengula
ou qualquer outro território que se tenha declarado sob protecção da
Grã-Bretanha. Tenho a honra de solicitar a Vossa Excelência uma resposta, com a
possível brevidade, ao pedido que a Vossa Excelência acabo de fazer, em
conformidade com as instruções do Governo de Sua Majestade (britânica) e
aproveito a ocasião para reiterar a Vossa Excelência os protestos da mais alta
consideração – George M. Petre”. O Governo português reage em Dezembro
seguinte, remetendo para Londres uma longa nota explicativa dos factos,
elaborada pelo Ministro Barros Gomes, sobre a sua óptica e na qual referia que
Serpa Pinto é que fora atacado e que a sua expedição nada tinha de militar mas
sim apenas técnica e que o conhecimento da mesma fora transmitido às
autoridades britânicas locais. Terminava a mesma referindo: “Apresso-me a informar Vossa Excelência
que já foram enviadas telegraficamente para Moçambique as ordens mais
terminantes para que sejam respeitados os estabelecimentos e interesses
britânicos e que o Governo de Sua Majestade (português) apreciará, animado pela sua parte de um espírito da
maior conciliação, o completo conjunto dos factos, quando estes sejam
definitivamente conhecidos dos dois governos”.
A 11 de Janeiro de 1890, fruto dos
combates travados por Serpa Pinto contra os macololos**, que os britânicos
consideravam como seus avassalados, em território que não reconheciam soberania
portuguesa e, face à insistência portuguesa em manter aquelas possessões
através de novas incursões
militares, o Governo britânico apresentou um ultimato, através do seu
Embaixador, George Peter, acreditado em Lisboa, do seguinte teor: “O Governo de Sua Majestade não pode
aceitar como satisfatórias ou suficientes, as seguranças dadas pelo Governo
português tais como ele a interpreta. O Cônsul interino de Sua Majestade em
Moçambique telegrafou, citando o próprio Major Serpa Pinto, que a expedição
estava ainda a ocupar o Chire e que Katunga e outros lugares mais no território
dos macololos iam ser fortificados e
receberiam guarnições. O que o Governo de Sua Majestade deseja e em que insiste
é o seguinte: que se enviem ao Governador de Moçambique instruções telegráficas imediatas para que todas e quaisquer
forças militares portuguesas actualmente no Chire e nos países macololos e
machonas se retirem. O Governo de Sua Majestade entende que, sem isto, as
seguranças dadas pelo governo português são ilusórias. Mr. Petre ver-se-à
obrigado, à vista das suas instruções, a deixar imediatamente Lisboa com todos
os membros da sua legação, se uma
resposta satisfatória não for por ele recebida esta tarde; e o navio de Sua
Majestade Enchanteress está em Vigo esperando as suas ordens.” Lisboa
capitula e ordena a Serpa Pinto que se retire. Em nota elaborada pelo Conselho
de Estado estipula que: “...na
presença de uma ruptura iminente de relações com a Grã-Bretanha e de todas as
consequências que possam dela talvez derivar, o Governo de Sua Majestade
(português) resolveu ceder às exigências formuladas nos dois memorandos a que
alude e, ressalvando por todas as formas os direitos da Coroa de Portugal às
regiões africanas de que se trata e, bem assim, pelo direito que lhe confere o
artº 12 do Acto Geral de Berlim de ver resolvido definitivamente o assunto em
litígio por uma mediação ou por uma arbitragem, o Governo de Sua Majestade
(português) vai expedir para o Governador-Geral de Moçambique as ordens
exigidas pela Grã-Bretanha. ...”. Só em
11 de Junho de 1891, é que Portugal e a Inglaterra encerraram este contencioso
definindo ambas as partes, através dum tratado, os seus territórios africanos.
O ultimato veio abalar profundamente os alicerces da monarquia portuguesa e foi
transversal a toda a sociedade lusitana. Génese do nascimento de partidos
republicanos, do renascer dum espírito ultra-nacionalista e anti-britânico e da
composição musical de “A Portuguesa”
- hino oficial após a implantação da República e do qual se dizia que foi
composta por um alemão (Alfredo Keil) para ser cantada por portugueses contra
os ingleses - pode-se considerar que foi o princípio do fim da quase milenária
monarquia portuguesa, que viria a baquear daí a duas décadas.
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* - Já aberta ficha
** - A abrir ficha posteriormente
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VELHAS HISTÓRIA E LENDAS ANTIGAS
No decurso do século XIX floresceu, em
África, no seio dos caçadores europeus a lenda da existência de “cemitérios de
elefantes” que seriam locais recônditos onde os paquidermes se dirigiam quando
sentissem a morte a aproximar-se para aí dormirem o sono eterno. Deste modo, a
descoberta dalgum destes cemitérios traria a fortuna incalculável ao seu
descobridor, pois a existência de centenas ou dezenas de cadáveres destes
animais numa determinada área restrita implicaria a recolha duma fortuna
fabulosa em marfim.
Ainda no século XX essa lenda
prevalecia, se bem que já muito mais mitigada. No entanto já de há bastante
tempo sabe-se que tais cemitérios nunca existiram. O que poderá ter dado origem
a esta lenda talvez se deva ao facto de se terem descoberto alguns locais onde
se localizaram vários elefantes mortos, mas isso teve a ver com o facto de, com
a velhice, os animais já não terem nem forças nem dentição suficientemente
forte para alimentarem-se de vegetação mais resistente e então procuraram-se
cursos de água onde alimentação mais macia lhes pudesse colmatar a fome ou a
dessedentação lhes pudesse diminuir a desnutrição.
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LEITURAS EM PROSA
Título: Relato em Marrocos
Autora: Edith Wharton
Editora: Publicações Europa-América Ano:
2007 Págs.: 163 Género:
Literatura de viagens
Trata-se duma obra escrita por Edith
Wharton (1862/1937) quando, no decurso da Primeira Guerra Mundial, viajou por
Marrocos e, pela leitura do mesmo, dá-nos uma visão subjectiva de como se vivia
naquele País em 1917, quando o visitou. De Rabat a Marraquexe, a Autora
percorre Marrocos, descrevendo com mais minudência algumas cidades como Rabat,
Fez e Marraquexe (entre outras) bem como, no que se pode considerar a segunda
parte do livro, dá-nos uma visão da História daquele território e dedica também
um capítulo à sua rica arquitectura.
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Título: Grandes naufrágios portugueses 1194-1991
Subtítulo: Acidentes marítimos que marcaram a História de
Portugal Autor: José António Rodrigues Pereira
Editora: Esfera dos Livros Ano: 2013 Págs.: 429 págs. Género: História marítima
Trata-se duma recolha exaustiva de 60
naufrágios que ocorreram devido a inúmeras causas, tais como acidentes, combates
ou falha humana. É, assim, um livro da infausta História marítima portuguesa, muito
bem escrito por quem percebe do ofício (não de naufrágios mas sim da arte de
marear), bem documentado bibliograficamente, completado por um vasto conjunto
de mapas e ilustrações bem como, no final, dum glossário de termos náuticos
para melhor facilitar a compreensão do leitor face ao desconhecimento que muitos
de nós temos de vocábulos ligados à arte marinheira.
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FILME
Título: Oka: um
americano em África
Produtor: Realizador: Lavinia Currier
Actores:
Chris Marshall, Will Yun Lee,
Haviland Morris, Peter Riegert
Ano: 2011
Género: Documento social / Biografia
Duração: 105 minutos
Trata-se dum filme baseado na vida do
etno-musicólogo norte-americano Louis Sarno, que vive há mais de 25 anos no
seio do povo Bayake, pigmeus da África Central. Achei o filme sensaborão, com
pouco conteúdo, sem nada de interesse que me prendesse a atenção, salvo alguns
aspectos biográficos de Louis Sarno e, mesmos estes, nada que uma pesquisa na
“net” não resolvesse.
Mesmo a trama que o filme envolve, onde
ressalta a figura dum político local corrupto aliado a um asiático capitalista
que pretende a todo o custo matar um elefante, numa reserva e que os bayake
acabam por impedir é bastante artificial e amadorística.
Um filme que, por casualidade, se vê e…
esquece-se. Calhou tropeçar neste filme ao “zapingar”, na televisão, por canais
temáticos de cinema e a meio do filme acabei por dormitar um pouco. Por mim,
não vale a pena ir à procura do mesmo.
Pode-se ler uma entrevista que o
realizador Lavinia Currier concedeu sobre este filme em: “http://cinemawithoutborders.com/conversations/2817-oka.html”
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Louis
Sarno – Depois de ter ouvido numa estação de rádio música
de pigmeus, ficou fascinado e, com 35 anos de idade saiu de New Jersey (EUA), comprou
um bilhete só de ida para Bangui, tendo-se deslocado para a República
Centro-Africana. De Bangui localizou a vila de Bomandjombo e, seguindo sozinho,
internou-se na floresta e acabou por ser localizado pelos bayake, com quem foi
foi viver no seio da tribo destes pigmeus.
Ao longo da sua vida naquele
território efectuou recolha dos seus cânticos publicando, posteriormente, dois
discos sobre este tema. Adoptando o seu modo de viver tribal, acabou por se casar
com uma pigmeia Bayake, e ainda nos dias de hoje ali vive. Ganhou o nome de
“Oka”, termo pigmático que significa “o que ouve”.
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GASTRONOMIA
Abundam, no mercado livreiro, revistas e
livros especializados em receitas de culinária. Penso mesmo que será dos temas
mais prolíferos e, então, se formos à internet são aos milhares as receitas de
como fazer sopas, carnes, peixes, doces, entradas, salgados e tudo o mais que a
imaginação possa emitir, de todos os países do Mundo.
Hoje trago à liça um livro que achei
delicioso pois o mesmo sobressai da amálgama dos receituários culinários e
aborda o tema sobre uma visão histórica. Trata-se do livro “Os mistérios do Abade de Priscos e outras histórias
curiosas e deliciosas da gastronomia”, da
autoria de Fortunato da Câmara (Esfera dos Livros, 2013, 327 págs.)
São 79 histórias de outras tantas
iguarias que nos fazem crescer água na boca. Não é um livro de receitas mas sim
um livro que relata os eventos que originaram, quer as ditas receitas quer os
nomes das mesmas. Escrito com ironia, fazendo jus ao rigor histórico que
catapultaram as ditas para o estrelato do conhecimento, é um livro leve,
delicioso e que nos faz crescer água na boca. Dá-nos, independentemente de
conhecermos como se confecciona este ou aquele prato, quais os factos que
levaram à sua criação. Um livro que recomendo.
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PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA
Leio, no Diário de Notícias de
29/07/2013 que Sam Simon, de 58 anos, um dos criadores da multi-premiada série
“Os Simpson”, está com um cancro terminal no cólon e os médicos só lhe dão 3 a 6
meses de vida. De há muito um defensor acérrimo dos direitos dos animais,
decidiu legar a sua fortuna em prol da causa animal, para se fecharem jardins
zoológicos, combater espectáculos que abusem de animais e financiar resgaste
dos mesmos.
A propósito desta sua decisão disse: “Eu sinto prazer nisso. Adoro. Não sinto que seja uma
obrigação”. Vertical na sua postura, quer
ao longo da sua vida quer a preparar-se para a Grande Grande Viagem. Por isso, rendo-lhe
a minha homenagem.
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