VIAJANTES, AVENTUREIROS E
EXPLORADORES
Brigitte
Friang – Decorre, no corrente mês de Março, o segundo ano do
falecimento de Brigite Friang, insigne escritora e jornalista francesa. Nascida
em Paris a 23/01/1924, cursou medicina, estudos estes que virá a interromper
para dar o seu contributo na luta contra a ocupação da sua Pátria pelos nazis,
aquando da Segunda Guerra Mundial. Adere a uma rede da resistência gaulesa, mas
acaba ferida numa fuga e capturada pela Gestapo (Março de 1944) que, após a
prender e torturar em Fresnes, a deporta para a Alemanha, para o campo de
concentração de Ravensbruk (1).
Após o findar da guerra regressa a
França onde acaba condecorada com a Legião de Honra, tornando-se na pessoa mais
jovem a receber tal distinção. Ingressa no jornalismo e a paixão pela aventura
e emoções fortes fá-la optar pela carreira a de repórter de guerra.
Percorrerá o Mundo a cobrir vários dos
eventos que alteraram o rumo da História nessas conturbadas décadas de 50, 60 e
70. É, assim, que a vamos encontrar a reportar o conflito indochinês (Vietnam,
então colónia francesa) entre 1951 e 1954, onde teve o seu baptismo de
paraquedista, tendo testemunhado o ruir do sonho francês na famosa batalha de
Dien-Bien-Phu (2); a cobrir a guerra nacionalista argelina que levaria a então
colónia francesa à independência (3); bem como a tomada do canal de Suez por
forças combinadas da Grã-Bretanha e da França (4).
Em 1965 entra para a televisão francesa,
donde virá a ser demitida três anos mais tarde por ter aderido ao célebre Maio
de 68. Volta a fazer a rota dos conflitos em diversos pontos do planeta e
cobre, entre outros, no Médio Oriente, a Guerra dos Seis Dias (5), e no Oriente
a Guerra do Vietnam, agora com o envolvimento das forças norte-americanas.
Nesta última acaba capturada por duas vezes, por forças vietcongs, aquando da
ofensiva do Tet (6).
Ao longo da sua vida aventurosa, o
perigo e a morte foram companheiros fiéis da sua jornada jornalística, mas
nunca recuou nem nunca recusou um trabalho por mais crítico que fosse. Detentora
de diversas condecorações e autora de diversos livros foi uma mulher
excepcional que honrou, não só a sua profissão como também a condição feminina.
A 06 de Março de 2011 as asas da Morte
levaram-na, encerrando o capítulo terreno. Certamente, algures no Cosmos,
estará a efectuar uma reportagem numa qualquer galáxia. Para deleite dos seus
novos leitores.
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1 – Localizado no norte da Alemanha a
cerca de 100 quilómetros de Berlim, a sua construção foi ordenada por Henrich
Himmler. Inaugurado em 1939 destinava-se, essencialmente, a acolher mulheres.
Até ao seu encerramento (1945), fruto da derrota germânica, terá enclausurado
mais de 100.000 mulheres, das quais terão sobrevivido apenas umas 25.000
(números redondos).
2 – Última batalha travada entre Março e
Maio de 1954, que opôs forças vietnamitas, lideradas pelo lendário General
Nguyan Giap às forças coloniais francesas lideradas pelo General Castries.
Culminou com a derrota francesa e o consequente findar do domínio colonial desta
nação europeia no Extremo Oriente. É após a saída da administração francesa que
o Vietnam se cinde em dois: Norte e Sul. A reunificação do País verificar-se-ia
na década de 70.
3 – Enquanto potência colonial a França
dominava o actual território argelino. Entre 1954 e 1962 travou-se a luta pela
independência do território, sendo as forças argelinas lideradas pela FLN –
Front de Libération National, que conseguiu atingir os seus objectivos.
4 – Ousada reacção militar anglo-francesa
contra a nacionalização do canal de Suez, decretada, em 1952, pelo Presidente
egípcio Gamal Abdel Nasser e que feriam os interesses dos accionistas europeus.
A aproximação dos soviéticos aos egípcios (estava-se no pleno da Guerra Fria)
levou ainda mais longe os receios europeus que, tacticamente, se puseram de
acordo com os israelitas. A 29 de Outubro desse mesmo ano Israel invade a
península do Sinai e forças militares franco-britânicas tomam Port-Said, cidade
esta que é a porta de entrada do canal de Suez. No entanto o fraco e titubeante
apoio norte-americano a esta iniciativa e as ameaças da União Soviética em
retaliar numa clara manifestação de apoio às pretensões egípcias levaram ao
recuo dos europeus.
5 – Conflito armado que opôs Israel a
diversos países árabes, e que teve o seu início a 05 de Junho de 1967. Terminou
com uma surpreendente vitória militar israelita, em seis dias. O segredo
assentou no factor surpresa e rapidez de deslocação de tropas blindadas que
ocuparam a Faixa de Gaza, as Colinas de Golã e o Norte do Sinai, para além da
eficaz actuação da Força Aérea que, logo às primeiras horas no primeiro dia do
conflito, rebentou com nove aeroportos militares egípcios destruindo a sua
aviação militar.
6 – Ofensiva lançada em larga escala por
forças norte-vietnamitas, em finais de Janeiro de 1968 e cujo objectivo era
lançar o caos militar em todas as cidades do Vietname do Sul, com especial
incidência na capital sulista, Saigão, tendo conseguido, numa primeira fase, os
seus objectivos. No entanto não lograram um levante popular de apoio às suas
pretensões e as forças norte-americanas e sul-vietnamitas acabaram por causar
cerca de 80.000 baixas ao inimigo.
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LEITURAS EM PROSA
Título: A dívida dos vivos
Subtítulo: Da resistência ao VietnameAutora: Brigitte Friang
Editora: Livraria Bertrand Ano: 1970 (?) Págs.: 531 Género: Autobiografia
Autora de diversos livros, este é o
acerto de contas com a História que a Autora, após quase três décadas duma vida
cheia, resolve fazer. É o registo autobiográfico de quem foi testemunha de
acontecimentos que ajudaram a mudar a face do Mundo, escrito por quem tinha
autoridade para dizer: “Vi o absurdo
triunfar. Mas também o seu único paliativo, o seu inimigo irrisório mas
indestrutível, o duende do amor, dançando inatingível. Graças ao qual me foi
dado poder comungar das grandes dores, passadas ou presentes. A humilhação dos
negros nos Estados Unidos, o infortúnio das crianças vietnamitas ou a fome das
crianças indianas não são palavras ou imagens. Conheço-as.”
Fiel às suas amizades dedica o livro a
André Malraux, outro aventureiro, escritor, combatente da liberdade e político,
com quem conviveu mais de perto quando o secretariou após a II Guerra Mundial.
Na realidade eram dignos um do outro.
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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL
Aforamento –
Nome dado às concessões feitas em Portugal, a partir do século XII e que
tinham carácter enfitêutico no qual, através dum pagamento, que era anualmente
estipulado, o enfiteuta assumia todos os direitos sobre o terreno. Tinha a
finalidade de promover e desenvolver a agricultura no País, pois obrigava o
enfiteuta a cultivar o solo. É na linha deste pensamento medieval que irá
nascer, em solo moçambicano, a política dos prazos (1).
África - Termo
derivado de “avringa” ou “afri”, nome de uma tribo berbere que
habitava no Norte deste continente, na Antiguidade. Este termo, inicialmente,
começou a ser divulgado pelos romanos, para designar as províncias do seu
império que se situavam a Noroeste do Mediterrâneo, as quais correspondiam, no
tempo actual, à Tunísia e Argélia, e as regiões Norte e Nordeste eram denominadas
por Líbia e Egipto. Com a expansão europeia, iniciada pelas navegações
portuguesas, no século XVI e posterior avanço dos europeus para o sul, este
nome acabou por se generalizar, acabando por se referir a todo o continente.
Aguada
– Nome que se dava a qualquer ponto costeiro onde um navio pudesse varar
para buscar alimentos frescos, água doce ou proceder a reparações de danos que
tivesse sofrido durante a navegação, por acção de tempestades, por exemplo.
Como a água era o elemento essencial e o mais precioso à sobrevivência de
qualquer tripulação, sempre que se apurava um local de fornecimento deste
líquido vital, apelidava-se de aguada. Com o estabelecimento de pontos de apoio
à navegação, à medida que se ia cartografando melhor a costa africana, transformavam-se
as aguadas em feitorias.
Aguagem
– Correntes marítimas que eram ocasionais.
Aguar-se
– Desviar-se da rota traçada por efeito da aguagem.
Águas
de cheia – Águas das enchentes.
Águas
de quebra – Nome que se reportava às corrente marítimas em franca
diminuição de intensidade.
Aguiar,
Roque de - (1863 – Lourenço Marques, 11/01/1933 – Álvaro Roque
de Aguiar) - Oficial do Exército Português (Coronel). Comandava, como Capitão,
as forças policiais do povoado de Lourenço Marques que defenderam esta localidade
em Outubro de 1894, contra as forças de Matibejana (1), tendo tido aí o seu
baptismo de fogo. No ano seguinte envolve-se na campanha contra o Reino de Gaza
(1), tendo-se destacado no combate de Marracuene (1). Após a consolidação da
soberania portuguesa, no sul de Moçambique, desempenhou diversos cargos na área
político-administrativa, tais como Presidente da Câmara Municipal de Lourenço
Marques entre 1892/93 e Governador do Distrito de Moçambique, entre 1922/1923.
Era titular da condecoração da Torre e Espada.
Agulha de marear – Bússola (1).
Agulha genoisca –
Bússola (1). O termo “genoisca” referia-se aos genoveses que, tendo uma
larga experiência marítima, atendendo a que a cidade de Génova, na península
itálica, era um dos pontos terminais e intermediários do comércio das especiarias
entre o ocidente e o oriente, na Idade Média, os seus navios utilizavam sempre
este instrumento, essencial à navegação.
Alabarda
– Arma composta por um misto de lança e machado, tendo uma haste longa
pontuda e nesta, uma lâmina perpendicular.
Alalado
– Nome que se reporta à carne de um animal
degolado, acto este efectuado por um muçulmano, enquanto pratica as respectivas
orações decorrentes de tal acto.
Albuquerque, José Bernardo de – (Lisboa, 1844 – Quelimane, 1893) –
Prazeiro (1). Desempenhou vários cargos públicos em Moçambique contando-se,
entre eles, o de presidente da Câmara Municipal de Quelimane, em 1878, do qual
viria a ser acusado de desviar fundos. Em 1892 foi preso, fruto de revoltas na
Maganja da Costa.
Enfiteuse – Aprazamento ou aforamento, era um
contrato, no qual uma pessoa ou entidade que é proprietária de algo, transfere
para outrem essa propriedade, recebendo um rendimento anual, que é o seu foro,
aluguer. A enfiteuse começou a ter perfil jurídico em finais de 1200 e chega às
“Ordenações Afonsinas” como figura jurídica autónoma e regulamentação própria.
Atravessou as “Ordenações Manuelinas” e as “Filipinas” incólume, sofrendo
apenas alguns retoques. No reinado de Dom José I, sob impulso pombalino,
diversa legislação altera de sobremodo a tradição secular da enfiteuse. Virá a
decair de importância no decurso do século XIX, em paralelo com a política dos
prazos (1) da coroa em Moçambique, de quem foi a génese rádica.
Enfiteuta – Indivíduo que afora um domínio útil,
prédio ou terreno, pagando um aluguer, anual.
Foro – Renda que o enfiteuta pagava, todos os
anos, ao senhorio.
Forar – Alforriar.
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(1) – Já aberta ficha.
(2) – A abrir ficha posteriormente.
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DECLARAÇÃO DE INTERESSES
O texto acima reproduzido foi escrito em
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