HISTORIANDO
MOÇAMBIQUE COLONIAL
Ascensão e queda do Reino de Gaza
Parte II (conclusão)
Caldas
Xavier – (Lisboa,
25/09/1852 – Lourenço Marques, 08/01/1896 – Alfredo Augusto Caldas Xavier) –
Oficial do Exército Português (Major). Nascido em Lisboa, Alcança a patente de
Alferes em 1875, após ter ingressado na Escola de Exército e, no ano seguinte,
é colocado em Moçambique, onde efectua diversos estudos para a implantação do
caminho-de-ferro de Lourenço Marques. Em 08 de Agosto de 1884, sendo
Administrador do prazo* Maganja, no Chire, sofre a invasão de inúmeras forças
vindas da revolta do Massingir, calculadas em milhares de homens, resistindo
vitoriosamente, apenas com mais dois companheiros (um irmão cego duma vista e
um funcionário inglês) e um pequeno pelotão composto por cerca quinze
atiradores nativos da Companhia da Zambézia*, até ter sido socorrido por uma
coluna vinda de Quelimane*. Administra a Companhia do Ópio, até 1886, tendo-se
exonerado nesse ano. No ano seguinte segue para a Índia, chefiar os Caminhos-de-Ferro
de Mormugão e, em 1890, integrado na comissão de delimitação das fronteiras de
Moçambique, regressa a este território, já com a patente de Capitão. Comanda as
forças portuguesas do Batalhão de Voluntários de Lourenço Marques, que travam o
combate de Macequece**, donde sai derrotado, em Maio de 1891. Já com a patente
de Major e após uma breve estada na metrópole, regressa de novo a Moçambique, e
em 1894 assume o comando de defesa de Lourenço Marques. De seguida combateu nas
campanhas militares contra os vátuas de Gungunhana*, tendo travado o combate de
Marracuene. De seguida integra a coluna do Coronel Eduardo Galhardo no avanço
que este executa, pelo norte, contra o Reino de Gaza*, tendo ficado num sector
mais recuado, como responsável pelo sector dos transportes e alimentação,
atendendo ao seu estado de saúde. Quando a coluna se encontrava na zona de
Inhambane*, Caldas Xavier piorou, pelo que teve que regressar a Lourenço
Marques, onde veio a falecer pouco depois. Era possuidor, entre outras
condecorações, da Torre e Espada.
Chopes – No decorrer do século XVII
predominavam os chona-carangas na planície do Bilene, bem como na zona entre o
rio Limpopo e Inhambane*. Neste mesmo século, com a chegada de angunes* do clã “n´cuna”, tornou-se natural o seu
cruzamento o qual teria dado origem aos “Bila–N´culo”,
donde o nome da localidade de Vilanculos, povo proto-chope, tendo estes dominado
a planície do Bilene até ao início do século XVIII. A partir desta data chegam
outros povos dominantes, derivados dos Venda e Lobedo e, posteriormente, os Valois
e os Langa, um tronco dos cossa*. A tecelagem e apicultura, faziam parte das
actividades económicas dos chopes, cuja palavra deriva de “ku-txopa” (língua tswa), surgida no
século XIX, e que significa “atirar setas”.
Mas foi nas artes musicais que este povo atingiu a sua máxima expressão
artística, através da utilização concertada das timbilas** e dos tambores,
acompanhadas de danças coreografadas. Os chopes viviam em tribos autónomas umas
das outras e só no século XIX é que no regulado de Cambamda-Mondlane se tentou
a sua unificação, mas mesmo assim numa zona restrita. As invasões angunes
fraccionam os chopes e os que não se refugiaram nas áreas de influência
portuguesa acabaram chacinados pelos angunes, principalmente do reinado de Gungunhana*
que, em 1895, mandou os seus homens conquistar os cocolenes chopes, que
Binguane, Régulo* de Cambamda-Mondlane, tinha mandado instalar e reforçar, para
resistir aos angunes. Os chopes pagaram um elevado preço por esta resistência,
tendo sido massacrados aos milhares, em violentas lutas travadas nos cocolenes,
pela sua integridade territorial, tendo os sobreviventes sido vendidos como
escravos, por ordens de Gungunhana.
Cocolene – Paliçada
de troncos de árvores que protegiam os aldeamentos chopes. O mesmo que cocolo.
Combate de Cunenvecujana – Combate travado entre os dias 17 e 20
de Agosto de 1862 que opôs as forças de Muzila às de Maueva, em Cunenvecujana,
na zona da Moamba. Apoiado com material de guerra pelos portugueses e gentes de
João Albasini*, Muzila derrota o seu irmão e, após a vitória, ascende ao trono
do Reino de Gaza*.
Combate
de Coolela – No dia 07 de
Novembro de 1895, travou-se uma batalha entre as forças portuguesas, comandadas
pelo Coronel Eduardo Galhardo* e as colunas fiéis a Gungunhana*, junto duma povoação com o mesmo nome e que dista
cerca de doze quilómetros da vila de Manjacaze, a fim de tentarem travar o
avanço da coluna portuguesa. Foi a primeira e única vez em que os regimentos de
Gungunhana*, entraram em confronto directo com forças militares portuguesas,
que culminaram com a vitória destes. Foi uma derrota pesada para os angunes*,
atendendo à desproporção de forças entradas em combate: uma média de dez mil
guerreiros angunes e de outros povos submetidos, contando com duas a três mil
espingardas e a combaterem no seu terreno contra a força portuguesa que englobava
cerca de mil homens, divididos em metade de infantaria europeia e outra metade
de forças nativas irregulares, para além dum reduzido número de homens de cavalaria
e quatro a seis peças de artilharia. Poder-se-á atribuir a derrota não à falta
de coragem das impis* mas sim ao elevado número de combatentes de outros povos
submetidos que não terão mostrado grande resolução em se sacrificarem pelos
opressores angunes, para além duma falta de liderança forte no comando das
forças, atendendo a que o seu chefe supremo, Maguiguana*, encontrava-se
ausente. O combate durou cerca de uma hora, tendo os portugueses sofrido cinco
baixas e noventa e seis feridos e as forças rebeldes terão sofrido cerca de quatrocentos
mortos e seiscentos feridos.
Combate
de Magul – Batalha travada em 08 de Setembro de 1895, em Magul,
entre as forças portuguesas, comandadas pelo Major Freire de Andrade e as forças
rongas aliadas de Gungunhana, estando estas comandadas por Matibejana e
Nonduane, em número calculado em cerca de seis mil homens, tendo o desfecho
sido desfavorável às forças destes. Neste combate achavam-se presentes impis*
angunes* de Gungunhana*, mas limitaram-se a assistir ao confronto, não tendo
intervido. A não intervenção das forças de Gungunhana no combate, apesar de
terem assistido à derrota dos seus aliados, ter-se-á prendido com o cumprimento
expresso de ordens do Rei angune, que ainda aspirava a uma solução negocial e
pacífica com os portugueses. As forças rebeldes calcula-se que sofreram cerca
de três mil mortos, tendo morrido cinco portugueses. Em 08 de Setembro de 1909,
quando se inaugurou o monumento de Magul, comemorativo desta vitória, trasladaram-se
as ossadas destes cinco portugueses, que ficaram definitivamente enterradas na
base do monumento.
Combate
de Marracuene – Batalha
travada entre forças portuguesas, comandadas por Caldas Xavier e forças rongas,
calculadas em cerca de três mil homens, comandadas por Mazule e Matibejana, em
02 de Fevereiro de 1895, que culminou com a vitória dos primeiros, sendo esta a
primeira derrota de forças aliadas a Gungunhana* e na qual os seus regimentos
não tiveram qualquer tipo de participação. Na madrugada do dia 02 de Fevereiro
de 1895 guerreiros rongas eliminaram sentinelas do acampamento português e,
vestindo as suas fardas, lançaram um ataque ao romper do dia. No entanto,
aplicando a táctica do quadrado, as forças portuguesas conseguiram debelar esse
e outros ataques subsequentes, acabando por regressar, vitoriosas, a Lourenço
Marques, dois dias depois. Mazule e Matibejana, bem como as suas forças, foram
perseguidos por forças dos régulos* da Matola e Maputo, tendo-se asilado em terras
de Gungunhana. A vitória dos portugueses trouxe, independentemente do factor de
recobro moral para a sua causa, uma expectativa de esperança para os povos que
se encontravam directamente oprimidos pelo Reino de Gaza*. Posteriormente, para
comemorar essa vitória foi erigido, no preciso local do combate, um monumento
evocativo, com o formato de uma pirâmide quadrangular, com dois metros de
altura e treze metros de lado, precisamente a medida da largura do quadrado
montado pelas forças portuguesas. A localidade de Marracuene viu, também, o seu
nome mudado para Vila Luísa, em homenagem à filha do Comissário Régio António
Enes*.
Freire
de Andrade – (Figueira da Foz, 19/12/1859 – Lisboa, 1929 -
Alfredo Augusto Freire de Andrade) - Oficial do Exército Português
(General) e Engenheiro. Ingressou voluntariamente no Exército em 1877 e, nos
onze anos seguintes, concluiu os cursos de Engenharia Militar na Escola
Politécnica, de Oficial da Escola do Exército e de Engenharia Civil de Minas, em Paris. Em 1889, com a
patente de Capitão, vem para Moçambique como Comissário Geral de Minas de
Metais e Pedras Preciosas e, no ano seguinte, integra a Comissão de Delimitação
da Fronteira de Moçambique com a República do Transval. Em 11 de Março de 1892
é nomeado Governador do Distrito de Lourenço Marques cargo em que se manteve
até ao ano seguinte altura em que regressa à metrópole onde exerce a actividade
de docência. Em 1895 retorna a Moçambique, integrado na comitiva de António
Enes*, desempenhado algumas missões de passagem tais como Governador interino
de Lourenço Marques e, depois, o de Chefe do Estado-Maior da coluna militar que
trava o combate de Magul, bem como membro da Comissão de Delimitação de
Fronteiras em Manica. Em
1906, com a patente de Major, é nomeado Governador-Geral de Moçambique, cargo
que desempenha nos quatro anos seguintes, retornando a Lisboa, onde vem a
desempenhar outros cargos políticos, tais como Director Geral das Colónias e
Ministro dos Negócios Estrangeiros (1914). Na sua condição de diplomata
defendeu a colonização de Portugal nos territórios africanos junto da Comissão
de Mandatos da Sociedade das Nações.
João Massabalane –
(?-?) – Militar de segunda linha. Serviu como
intérprete de Mouzinho de Albuquerque* em Gaza. Em 28 de Dezembro de 1895 integrou as
forças que entraram em Chaimite* e procederam à captura de Gungunhana*. Dois
anos mais tarde, a 10 de Agosto de 1897, na perseguição a Maguiguana* e quando
este, encurralado, tenta alvejar o Alferes Vieira da Rocha não o consegue
porque João Massabalane alveja-o primeiro, baleando-o nas pernas. Em 1902 ainda
promove a prisão dum tio de Gungunhana, o Régulo* Cuio, acusando-o de traição
aos portugueses, no que virá mais tarde a provar-se ser falso e tendo o dito
Régulo sido solto por ordem de Aires de Ornelas**.
Kraal – Cidade
fortificada, aringa*. Termo bóer, que traduzido em português dá “curral”, como
sendo o lugar onde se guardam os animais e se acomodam as pessoas.
Manicusse
– (? - 1858) - Também conhecido
por Sochangane. Fundador do Reino de Gaza*, terá sido um chefe militar que
Shaka Zulu derrotou. Foge deste, face às suas atrocidades, juntamente com
outros chefes tais como Nuqaba** e Zuanguendaba** com quem, por volta de 1820,
rumam para o norte, entrando em Moçambique nesse mesmo ano e instalando-se
junto à baía de Lourenço Marques. Teria, nesta altura, cerca de 30 ou 40 anos
de idade e descendia de Munga Gaza, seu avô e a quem daria o nome do seu Reino,
em sua homenagem. Instala-se na zona da Catembe e é aqui que, em 08 de Outubro
de 1822, é entrevistado pelo Oficial da Marinha de Guerra Britânica W.F.Owen
que percorria aquelas paragens a avassalar régulos* para a Coroa Britânica.
Tendo entrado em conflito com os outros chefes angunes* afasta-se dos mesmos e,
entre 1825 e 1827, instala-se na zona da Moamba e, de seguida, para fugir às
forças de Shaka Zulu**, que o batalham em 1828, vai para as margens do Limpopo,
fundando o Reino de Gaza. Em 1833 as suas impis* atacam o Presídio de Lourenço
Marques* e chacinam a população, incluindo o governador Dionísio António
Ribeiro, mas outros relatos atribuem esta chacina às forças do Rei Dingane,
sucessor de Shaka Zulu. Nesse mesmo ano atravessa o rio Save e fixa-se na
região de Espungabera, onde reside dois anos, tendo sido talvez nesta altura
que muda o seu nome para Manicusse.
Encontra-se, de novo, com as forças de Nuqaba, em 1837, que batalha e derrota-o
a leste de Chipinga, no actual Zimbabwé, após o que retorna para Sul, e funda a
sua capital em Chaimite*, por volta de 1840. O estabelecimento em Chaimite,
acrescido de diversas operações militares que desencadeou em toda a região
provocou um movimento migratório forçado (difacane*) de cerca de cem mil pessoas
que fugiram para o Transvaal. Deixa o seu filho Muzila no norte, a fim de submeter
a região compreendida entre os rios Save e Zambeze, o que este vem a conseguir.
Em 1849 as suas impis derrotam forças portuguesas do Governador de Inhambane
Pereira Chaves, que lhe fizeram frente. Na recta final da sua vida manteve
relações pacíficas com diversos povos, incluindo os portugueses, recebendo
embaixadas de Sena, Sofala*, Lourenço Marques* e de Inhambane*. À data da sua
morte, de doença, ocorrida em 11 de Outubro de 1858, no seu kraal de Chaimite o
seu Reino, com uma estrutura militar tipicamente importada da sociedade zulu, estendia-se
entre os rios Limpopo e Zambeze. Foi sepultado num bosque a cerca de dois
quilómetros de Chaimite, local tumular esse que se tornou sagrado para o seu
povo.
Manjacaze
– Localidade escolhida por
Gungunhana* para instalar a capital do seu Reino e onde residia. Após o combate
de Coolela, em que forças suas foram derrotadas pela coluna comandada por
Eduardo Galhardo*, Gungunhana foge daqui num carro que lhe fora ofertado em
nome da Rainha Victória, da Grã-Bretanha, guiado pelo seu motorista Acamela,
refugiando-se em Chaimite*, onde acabará preso. O kraal de Manjacaze veio a ser
totalmente destruído e incendiado pelas forças portuguesas, em 11 de Novembro
de 1895.
Matibejana
- (? - Angra do Heroísmo, 13/11/1927) – Régulo* ronga da localidade de
Zixaxa, que ficava perto de Lourenço Marques* e aliado de Gungunhana*. Em 14 de
Outubro de 1894 atacou Lourenço Marques, tendo ordenado a morte da sua mãe e um
seu tio, que se opuseram a esta incursão. Posteriormente as suas forças são derrotadas
nos combates de Marracuene e Magul. Tendo procurado refúgio na corte de
Gungunhana, que lho concedeu acaba, mais tarde, traído pelo Rei angune* que, em
acto de desespero para se tentar salvar, o entregou a Mouzinho de Albuquerque*,
quando o mesmo se encontrava sob a sua protecção. Acompanhou, forçado, Gungunhana
no exílio, para a ilha Terceira, no arquipélago atlântico dos Açores -
Portugal, onde veio a falecer, depois de baptizado com o nome cristão de
Roberto. Também referido por Zixaxa,
deixou descendência, que ainda hoje perdura naquela ilha.
Maueva
- (? - 1872) – Filho mais
novo de Manicusse, herda o trono vátua, após ter batalhado e vencido Muzila e
ordenado a morte doutros irmãos seus. No entanto, em 1862 é derrotado por
Muzila, na batalha de Cunenvecujana, que acabou por voltar a guerreá-lo,
auxiliado pelos portugueses. Depois desta derrota Maueva, auxiliado por forças
do seu sogro, o Rei Mussuate, da Swazilândia e pelo Régulo da Moamba, ainda
atacou por três vezes o território perdido, mas acabou definitivamente exilado
nas terras do seu sogro que, tendo perdido bastantes guerreiros, retirou-lhe
apoio militar. Veio a falecer, exilado, em Piggs Peak , na
Swazilândia, deixando numerosa descendência.
Mazule
– ( ? - ?) –
Régulo*. Em 1892 sucede ao seu pai Mapunga, no regulado da Magaia, que ficava
na margem direita do rio Incomáti e abrangia Marracuene, Macaneta e Bobole. Em
1894, aliado a Matibejana adere à luta contra os portugueses e ataca Lourenço
Marques*. Combate em Marracuene* acolhendo-se, de seguida a esta derrota, à
protecção de Gungunhana*, afrontando sempre os portugueses. Será um dos
régulos, para além de Matibejana a quem os portugueses exigirão a Gungunhana a
sua entrega. Após a queda do Rei angune, Mazule foge até vir a ser detido, em
1896, acabando deportado na ilha de Timor, onde virá a falecer.
Muzila – (? – Moiamule, 08/1884) - Filho de
Manicusse, disputa ao seu irmão Maueva o trono angune mas vê derrotadas as suas
pretensões, em 1860. Por essa altura andando Diocleciano Fernando das Neves* na
caça, na zona de Chicualaquala, encontra Muzila que conhecera em tempo de vida
de Manicusse e protege-o, levando-o ao Transvaal onde o coloca sob protecção de
João Albasini*. Em 01 de Dezembro de 1861 Muzila apresenta-se ao Governador do
presídio de Lourenço Marques*, Onofre Lourenço Duarte, a solicitar auxílio aos
portugueses para expulsar o seu irmão, em troca de submissão a estes. Por
trazer pareceres favoráveis de João Albasini e de Diocleciano Fernandes das
Neves, o Governador Onofre auxilia-o, acabando Muzila por derrotar o seu irmão,
a 16 desse mesmo mês de Dezembro. No entanto Maueva, apoiado por forças swazis
do Rei Mussuate, seu sogro, volta a derrotar Muzila mas este, não desistindo,
acaba por travar o combate de Cunenvecujana, na zona da Moamba, em 29 de
Novembro de 1862, contra Maueva, provocando-lhe nova derrota, sempre auxiliado
pelos portugueses, nomeadamente por forças de João Albasini. Após a sua ascensão
ao trono do Reino de Gaza*, Muzila reestruturou o seu Reino e manteve relações
pacíficas com o Reino vizinho dos Ndebele, de Lobengula**, com quem casou uma
sua filha. Manteve um relacionamento distante com o Reino swazi, fruto do apoio
que este deu a Maueva e enviou emissários seus ao à colónia britânica do Natal.
Guerreou os povos no Transvaal norte e do actual Zimbabwé e com os portugueses
manteve um relacionamento dúbio, esquecendo-se bastas vezes que fora graças a
eles que ascendera ao trono. Atacou os caçadores de elefantes de João Albasini,
que actuavam no Transvaal Norte, bem como expulsou os caçadores de Manuel
António de Sousa* que actuavam entre os rios Búzi e Save, tendo sido travado
por este na serra da Gorongosa Esta lógica de combate e aparente ingratidão
prendia-se com a necessidade de manter o monopólio do marfim* nas suas mãos,
até porque o mesmo começou a escassear no sul a partir da 1870. Guerreou forças
de Inhambane*, entre 1869 e 1877, não tendo conseguido levá-las de vencida.
Morreu em Agosto de 1884, em Moiamule, sua última capital, tendo-lhe sucedido o
seu filho Gungunhana*.
Quadrado, Táctica do - Forma de
combate das forças coloniais, inspiradas no sistema inglês que, encontrando-se
sempre em inferioridade numérica face aos exércitos nativos, agrupavam-se em
quadrado, tendo em cada um dos lados do mesmo, por norma, três linhas de fogo
(uma deitada, outra de joelhos e outra de pé) o que, efectuando disparos
controlados, provocava uma cadência de tiro, tipo metralhadora, rasiando as
forças inimigas que, por norma, atacavam frontal e desordenadamente.
Rongas – Também referidos, no tempo colonial,
por landins e, modernamente, por tsongas. De origens chona-carangas, este povo
era referido pelos portugueses como “burrongueiros”,
no início do século XVIII. Instalados no sul de Moçambique, mantinham uma
actividade económica baseada em intermediários entre os povos do interior e os
do litoral, favorecendo as permutas entre panos*, missangas* e quinquilharia
diversa trazidas por comerciantes islâmicos ou portugueses por marfim*, âmbar*
e abadas*, trazidos pelas gentes do interior sul de Moçambique. Centralizados
no Reino do Inhaca, este Reino era extenso, abrangendo toda a zona a leste e a
sul do rio Maputo, no decurso do século XVI. No século seguinte esta unidade
política do Inhaca já se tinha esbatido, subdividindo-se em Inhaca Grande e
Pequeno, governando estes diversos núcleos populacionais. Com o incremento da
actividade comercial portuguesa, após a queda das suas possessões a norte de
Cabo Delgado, e a instalação de feitoria de diversas nacionalidades na baía de
Lourenço Marques, instalou-se uma lucrativa actividade económica para os rongas
que, para tal, criaram e dominaram corredores de exploração mercantil que atingiam
o Transvaal, na busca do marfim para comerciarem com os comerciantes estrangeiros
que aportavam no litoral com os seus navios. A concorrência entre comerciantes
de várias nacionalidades a disputarem o marfim, levou a que os rongas não
aceitassem de ânimo leve a decisão dos portugueses de monopolizarem os seus
portos, em meados do século XVIII, fechando-os à actividade de outros rivais.
Por volta de 1750, convulsões políticas afectaram os regulados rongas.
Nuamgobe, Régulo* de Tembe (actual Catembe), alargou os seus domínios até à cordilheira
dos Libombos e o Régulo da Matola conquistou as terras dos regulados de Mpfumo
e do Magaia. Em 1784 os portugueses fazem nova tentativa de reocuparem a baía
de Lourenço Marques, estalando conflitos com o Tembe e o Matola, que pugnavam
pela sua independência. Na década seguinte surgem conflitos dinásticos no
Tembe, por morte de Mhaide, intervindo os portugueses a favor dum dos pretendentes.
Em 1795 o Matola foi assolado por uma guerra civil, tendo também os portugueses
auxiliado Manhece, um dos pretendentes a dirigir o regulado. Em finais do
século XVIII os portugueses, faca à recusa do Matola, instalaram-se nas terras
do Tembe, que os acolheu. As invasões angunes*, ocorridas cerca de 1820, vieram
alterar toda a correlação de forças estabelecidas entre os diversos regulados
rongas de Tembe, Maputo, Matola e Moamba. Os de Tembe resistiram e foram
vencidos, e os da Moamba e Matola acoitaram a submissão. Até à fixação
definitiva e soberana dos portugueses, a região sul é atravessada por sucessivas
guerras tribais, em que estes, na política do dividir para reinar ora ajudavam
uns contra outros, alterando depois a correlação de forças, para melhor enfraquecerem
os adversários.
Vieira da Rocha –
(Évora, 1872 – Lisboa, 1952 – Ernesto
Maria Vieira da Rocha) – Oficial do Exército Português (General).
Forma-se pela Escola do Exército, ganhando a patente de Alferes em 1893. Em
1895 segure para Angola e, no ano seguinte é colocado em Moçambique, como
Ajudante de Campo de Mouzinho de Albuquerque*. Participa em alguns combates da
campanha dos Namarrais** e na perseguição a Maguiguana*, tendo sido ferido no
combate de Macontene. No cerco a Maguiguana este tenta alvejar Vieira da Rocha,
mas João Massabalane impede tal acto, salvando-lhe a vida. Em 1900 é nomeado
Governador do Distrito de Moçambique e, no fim desse mesmo ano regressa à metrópole,
findando a sua carreira ultramarina, mas tendo ainda desempenhado funções ministeriais.
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* - Já aberta ficha
** - A abrir ficha posteriormente
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