"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

domingo, 24 de junho de 2012

Hugh Clapperton


VIAJANTES, AVENTUREIROS E EXPLORADORES


 
Hugh Clapperton - (Annan (Escócia), 18/05/1788 - Sokoto (actual Nigéria), 13/04/1827) - Oficial da Marinha Britânica e explorador da África Ocidental. Filho dum cirurgião escocês que lhe deu vinte e um irmãos, ingressou na Marinha Britânica, tendo prestado serviço quer no Oceano Índico quer no Canadá. No Índico combateu as forças napoleónicas tendo-se distinguido na tomada de Port Louis (Novembro de 1910), capital mauriciana. No Canadá (1814/1817) conviveu e viveu com os índios huron.  

 
Hugh Clapperton



Em 1820 encontra-se em Edimburgo, quando trava conhecimento com um colega de seu pai, o cirurgião naval e explorador Walter Oudney que, dois anos mais tarde vai liderar uma expedição ao Reino de Bornu, com a finalidade de abrir uma rota comercial entre aquele Reino e outros da África Ocidental e o Mediterrâneo. Hugh Clapperton integra esta expedição cujo trio é completado, mais tarde, com o Major Dixon Denham, do Exército Britânico, que os vai encontrar na cidade oásis de Murzuk, no Sul da actual Líbia, em Novembro de 1822. Em boa hora Dixon Denham ali chegou pois os dois exploradores estavam num estado completamente miserabilista, por doenças.

 
O Reino de Bornu situava-se na África sub-sariana, cujas rotas apenas eram dominadas pelos caravaneiros árabes e escapava ao conhecimento geográfico europeu. O Reino, que fora fundado no século XIV, localizava-se no Norte da actual Nigéria, na intersecção dos actuais estados do Níger, Nigéria e Chade; abanava neste século XIX nas suas estruturas e acabaria por ruir, de vez, no findar deste mesmo século.  

 
O Reino de Bornu em meados do século XVIII

A expedição parte de Tripoli, no início de 1822 mas, em Murzuk, surgem as desavenças entre Hugh Clapperton e Dixon Denham, com este a acusar aquele de práticas sodomitas com os seus criados. Apesar de tudo a expedição vai seguindo o seu percurso e, volvido um ano da data da partida de Tripoli, a 04 de Fevereiro de 1823, o trio descobre o lago Chade, tendo sido os primeiros europeus a conseguirem tal feito, bem como o terem cruzado o deserto do Sahara no sentido Norte-Sul. Tinham demorado um ano.


Nesta área lacustre o grupo separa-se. Dixon Denham vai explorar o lado Este e Sul do lago Chade, enquanto  Hugh Clapperton e Walter Oudney dirigem-se para Oeste em direcção ao Reino de Bornu, que atingem e sendo bem recebidos pelos governantes locais. Ficam neste Reino e, em Dezembro de 1823, a dupla de exploradores resolve partir para o Reino dos Haussas, para atingirem a famosa cidade de Kano e explorarem o rio Níger.


Nessa etapa Walter Oudney morre, doente, e Hugh Clapperton continua a viagem sozinho, atingindo Kano, em 20 de Janeiro de 1824, que o desilude. Da sua chegada a Kano escreverá: "Às onze horas entrámos em Kano, o grande empório do reino de Haussa, mas ainda mal tinha passado as portas quando me senti amargamente desapontado; pois devido à descrição florescente que me tinha sido feita pelos árabes esperava ver uma cidade de uma grandiosidade surpreendente. Encontrei, pelo contrário, as casas a quase quatrocentos metros das muralhas e em muitas zonas espalhadas em grupos distantes, entre grandes poças de água estagnada. Podia ter poupado todo o trabalho que tinha tido com a minha toilete, pois não houve um único indivíduo que virasse a cabeça para olhar para mim, e todos absortos nas suas vidas, deixaram-me passar sem repararem e sem fazerem quaisquer cometários..."




Kano



De Kano segue a sua viagem exploratória para o Império Fulani, onde tenta atingir Sokoto, a capital deste Reino, mas vê-se impedido de concretizar os seus fins por ordens do Sultão desta cidade. Exausto, resolve retornar e acaba por encontrar Dixon Denham em Kukuva (no norte da actual Nigéria). mas a inimizade entre os dois prevalece e Denham retorna sozinho a Tripoli em Agosto de 1824 e Hugh Clapperton segue depois, atingindo Tripoli em Janeiro de 1825.


De regresso à Grã-Bretanha, nesse mesmo ano de 1825, é organizada outra expedição para atingir o Reino Fulani e entrar em Sokoto (no actual Norte da Nigéria), atendendo a que o Sultão pretendia estabelecer laços comerciais com o sector oeste do seu Reino (oceano Atlântico) e também para se tentar descobrir a nascente do rio Níger. A intenção do Sultão de Sokoto era a de exportar escravos que os europeus comprariam a bom preço para levarem para as Américas. Daí que ele tivesse travado, anteriormente, a jornada de Hugh Clapperton que vinha pelo interior do continente.


Hugh Clappertton segue de barco até ao Golfo da Guiné e desembarca em Badagry (localidade costeira da actual Nigéria) a 07 de Dezembro de 1825. Está acompanhado pelo Doutor Morrinson (médico) pelo Capitão Pearce e pelo seu criado Richard Lemon Lander. Morrinson e  Pearce acabam por falecer face às inclemências climáticas. Hugh Clapperton e Richard Lander prosseguem a sua odisseia e atravessam o Reino Ioruba (Janeiro de 1826) e cruzam o rio Niger, na zona onde o médico explorador Mungo Park falecera ferido e afogado duas décadas antes.



Região de Sokoto

Atinge, em Julho desse mesmo ano, de novo Kano, que tanto o desiludira na viagem anterior e prossegue a viagem para Sokoto, com a intenção de reentrar depois no Reino de Bornu, onde fora bem acolhido na viagem anterior. Mas em Sokoto é retido, de novo, pelo Sultão. As febres, as marchas forçadas, a deficiente alimentação e as águas pútridas que tinha que beber por falta doutra, atiram-no doente para a cama, vindo a falecer, de desinteria, perto de Sokoto.  



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Walter Oudney - (Escócia, 1790 - Katagum (actual Nigéria), 1824) - Explorador do deserto do Sahara. Formado em medicina pela Universidade de Edimburgo, desempenhava o cargo de cirurgião naval, quando foi encarregue de liderar uma expedição que, partindo de Tripoli (actual Líbia) deveria de explorar as rotas para o Reino de Bornu. Integra na sua expedição os exploradores Hugh Clapperton e Dixon Denham e cumpre-a com êxito. Foram os primeiros europeus a cruzarem o deserto sariano de Norte para Sul, a atingirem o lago Chade e a chegarem ao Reino de  Bornu. Não volta á Pátria, pois morre em Janeiro de 1824, vitimado por doenças, numa aldeia perto de Katagum, cidade que fica a norte da actual Nigéria, quando pretendia atingir a cidade de Kano.



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Dixon Denham - (Londres, (01/01/1876 - Serra Leoa, 08/05/1828) - Militar e explorador. Foi um oficial valoroso, que combateu contra as forças napoleónicas, quer na Península Ibérica, quer em França e Bélgica e também na famosa batalha de Waterloo.



Dixon Denham

Em 1822 quando tentava efectuar uma ligação entre Tripoli e Tombuctu recebeu instruções para acompanhar a expedição de Walter Oudney que se dirigia ao Reino de Bornu e estava bloqueada em Murzuk. Atinge este oásis, no Sul da Líbia, e estabelece contactos com os exploradores Walter Oudney e Hugh Clapperton mas em breve ele e Clapperton ficarão de candeias às avessas, quando Dixon o acusa sistematicamente de homossexualismo com criados seus. Escolta-os até ao lago do Chade e aqui separam-se.


Dixon Deham vai explorar a parte Oeste, Leste e Sul do lago enquanto os outros dois exploradores seguem para o Reino de Bornu. Depois de completada a sua missão exploratória do lago e de ter concluído que o mesmo não era fonte abastecedora do rio Níger retorna à Grã Bretanha. Em 1826 é colocado na Serra Leoa, onde acaba por atingir o cargo de Governador daquela colónia. Virá a morrer aí, de febres, dois anos mais tarde.

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Richard Lemon Lander - (Londres, 08/02/1804 - Badagry - 06/02/1834) - Explorador. A primeira vez que se desloca a África é na qualidade de criado e secretário de Hugh Clapperton, quando este realiza a sua segunda e fatídica viagem ao interior da actual Nigéria. Assiste à sua morte, por doença, e enterra-o perto de Sokoto. Desta cerimónia escreverá: "Eu abri um livro de orações e, por entre uma torrente de lágrimas, li o impressionante serviço fúnebre da Igreja de Inglaterra sobre os restos mortais do meu prezado patrão com a bandeira inglesa a baloiçar tristemente sobre ele nesse preciso momento. Nem uma única alma escutou esta cerimónia peculiarmente pertubadora pois os escravos estiveram a discutir uns com os outros durante todo o tempo que durou." Da expedição inicial Richard Lander é o único sobrevivente europeu. Continua na missão de recolha de informações e conhecimentos geográficos do terreno até que resolve retornar à Grã Bretanha no ano seguinte (1828).




Richard Lemon Lander


Dois anos mais tarde, acompanhado dum seu irmão, retorna a Badagry e explora o rio Níger, subindo o mesmo umas duas centenas de quilómetros como também estuda o seu delta e o seu principal afluente, o rio Benué. Regressa à Grã-Bretanha (1831) mas no ano seguinte está de regresso, pela terceira vez ao rio Níger, a soldo de vários empresários britânicos que pretendiam montar uma feitoria na confluência dos rios Níger e Benué.


Mas desta vez a viagem não lhe sorri. Depois de perder pessoal por doenças, entra em confronto armado com tribos hostis. Desses confrontos acaba ferido num deles por bala e, regressado à costa, acaba por morrer gangrenado.



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A mítica imagem que sempre romantizaram do aventureiro que ia para África (ou outros continentes) em busca de emoções, aventuras, caçadas e tesouros perdidos, quase nunca correspondeu à realidade. Todos os aventureiros, dum modo ou doutro pagaram caro as suas ousadias. Quase sempre. Como o exemplo dos quatro que hoje se sumarizou. As suas vidas entrosaram-se uns nos outros. Todos morreram em África. Destes quatro, ninguém regressou à Europa a gozar os proventos. Antes deles Mung Park e Daniel Houghton, já aqui lembrados, também pagaram com a vida a ousadia de terem ousado. Outros houve que sim, que regressaram à Europa. Mas poucos, em relação à legião de aventureiros que para lá partiram. África cobrou sempre caro o esventrarem-na. Pela vegetação, fauna, doenças, climas ou tribos aguerridas, África nunca se rendeu. Pode ter sido vencida mas nunca convencida.


 
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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL

 


 

Companhia Colonial - O mesmo que companhia majestática.
Companhia da Zambézia – Companhia majestática cuja área de jurisdição abrangia múltiplos prazos, tais como o de Andone e Anguase, perto de Quelimane, o de Timbué, na foz do Zambeze e o de Massingir, na margem esquerda do rio Chire, bem como também possuía larga jurisdição no Distrito de Tete. Dedicava-se, principalmente, ao cultivo e exploração de palmares, de sisal, algodão e tabaco e à criação de gado bovino de alimento e de trabalho. Explorava, ainda, um serviço fluvial de barcos a vapor e a gasolina, estabelecendo ligações entre o Chinde e Tete, com diversas escalas pelos portos fluviais do rio Zambeze. Com capital maioritariamente de particulares portugueses tinha, no Governo, o seu accionista principal, tendo sido constituída em 1891 com sede em Quelimane.
Companhia de Mazane de Diu – Companhia comercial indiana que se estabeleceu na ilha de Moçambique a partir de 1686, quando o Vice-Rei da Índia concedeu, a partir daquele ano, à Companhia de Mazane de Diu o monopólio do negócio entre os dois territórios. O Mazane era uma entidade comercial que podia ter uma estrutura de carácter individual, familiar ou colectiva e de fortes recursos económicos e financeiros. Intervinha na aquisição e troca de mercadorias, regulava o mercado dos preços, alugava ou comprava os meios de transporte que viesse a ter necessidade, estabelecia contactos e acordos com as outras entidades, nomeadamente portuguesas, contratava pessoal e planificava a expansão do negócio. Instalado, inicialmente em Diu, rapidamente alargou as suas áreas de actuação por diversas partes da Índia e, posteriormente, alargou a sua rede comercial a Moçambique. Tinha, a seu cargo, uma rede de funcionários com funções específicas, onde se podiam encontrar comissionistas, que eram gestores do negócio e que escolhiam a mercadoria e controlavam toda a contabilidade inerente à mesma, os caixeiros-viajantes que vendiam a retalho, os fieis de armazém que guardavam a mercadoria e observavam a sua conservação, os alfaiates que costuravam e reparavam os tecidos e todo um rol infindável de vendedores ambulantes, que palmilhavam os territórios do interior, mercadejando os produtos. Muitas vezes a orgânica comercial dos baneanes, moldada numa estrutura familiar, era geracional, fruto da forte identidade de sangue que identificam e caracterizam as famílias hindus. Em Moçambique, conluiando-se com as autoridades das áreas política, administrativa, fiscal e militar, como cunha de entrada nos mercados, obtenção de monopólios territoriais e isenções fiscais, acabaram por correr com os comerciantes portugueses em muitas áreas, quando se apercebiam da sua fraqueza económica e fraco poderio militar. No acordo de 1686 que foi estabelecido entre o Vice-Rei da Índia (Conde de Alvor) e a Companhia de Mazane de Diu, que entregava a estes o monopólio do comércio entre os dois territórios, estabelecia-se, entre outras cláusulas, que: a) os funcionários portugueses davam prioridade e apoio aos seus negócios; b) os membros da companhia estavam isentos de direitos aduaneiros sobre as importações e exportações; c) os compradores eram obrigados a pagar de pronto os bens comprados à companhia, para evitar que esta ficasse com capital empatado; d) os barcos da companhia tinham prioridade sobre todos os outros no tocante a facilidades alfandegárias e portuárias, reparação dos mesmos e recrutamento coercivo, caso fosse necessário, de tripulantes. A Companhia foi extinta em 1777.
Companhia de Moçambique – Companhia majestática que administrava um quarto do território moçambicano, cerca de 13.500.000 hectares. A Companhia administrava uma área referida por Território de Manica e Sofala, completamente independente da administração directa do Estado Português. O Território tinha, por limites, o rio Zambeze, a Norte, e pelo paralelo 22 a Sul, a Rodésia, a Oeste e o oceano Índico, a Este, com cerca de 434 quilómetros de costa marítima. À Companhia de Moçambique foram concedidos privilégios por Carta Régia de 1891, por um período de cinquenta anos, renováveis mas, em 1929, o Estado Português assumiu a soberania plena do território, cessando a actividade da Companhia, cerca de uma década mais tarde e que tinha a sua sede principal em Lisboa e a Beira como capital do Território. Dedicava-se, principalmente, à exploração dos minérios (ouro, prata, estanho, cobre e algum carvão); da agricultura (sisal, algodão, milho, amendoim e arroz); pecuária; indústria do açúcar e exploração de madeiras. O Governo de Lisboa era representado, na Companhia de Moçambique, por um Comissário, cujas competências para fiscalizar a Companhia foram estabelecidas pelo Ministério das Colónias, no âmbito do Decreto nº 28.006 de 02 de Setembro, cujo teor rezava o seguinte: “Nos termos do art.º 28 do Acto Colonial e usando da faculdade conferida pelo parágrafo 1 do art.º 10 com referência ao parágrafo 2, do mesmo artigo e ao art.º 91, parágrafo 49, da Carta Orgânica do Império Colonial Português, o governo decreta e eu promulgo o seguinte: Artigo 1º: - É autorizado o Ministro das Colónias a ordenar ao Comissário do Governo junto da Companhia de Moçambique a realização em África de inspecções e inquéritos à actividade exercida pela mesma Companhia nos territórios confinados à sua administração. Artigo 2º: - O Ministro das Colónias fixará o tempo da sua duração e bem assim das normas a que devem obedecer e os objectivos em vista. Artigo 3º: - Dentro dos territórios administrados pela Companhia de Moçambique terá o Comissário do Governo precedência sobre todas as entidades, com excepção do Chefe de Estado, Presidente do Conselho, Ministros, Sub-Secretários de Estado e Governador-Geral da Colónia de Moçambique. Artigo 4º: - A Companhia de Moçambique abonará ao Comissário do Governo durante todo o seu tempo de impedimento nos serviços que trata o artigo primeiro, os vencimentos que legalmente está percebendo, os quais serão pagos na metrópole a pessoa que o mesmo Comissário designar. Artigo 5º: - O Comissário do Governo, quando em serviço em África, terá um secretário, nomeado pelo Ministro das Colónias sob proposta daquele. Artigo 6º: - Tanto o Comissário do Governo como o seu secretário vencerão diariamente ajudas de custo, a fixar em portaria pelo Ministro das Colónias. Parágrafo Único: Pode o Ministro autorizar, por meio de despacho, que um e outro recebam antes do embarque a ajuda de custo correspondente a quarenta dias. A restante ajuda de custo será paga na Beira, semanalmente, observadas as formalidades estabelecidas na lei para o seu processamento. Artigo 7º: - Constituem encargo da Colónia de Moçambique as ajudas de custo a que se refere o artigo precedente e os transportes do Comissário do Governo e do seu secretário os quais poderão fazer-se pelas vias que o Ministro determinar. Parágrafo Único: Para efeitos do preceituado neste artigo é autorizado o Governo da Colónia de Moçambique a abrir desde já um crédito especial da importância de 250.000$00. Publique-se e cumpra-se como nele se contém.”.
 
 
Companhia de Seguros Nauticus – Inovadora no ramo dos seguros em Moçambique, esta companhia foi fundada em 01 de Julho de 1943, com capital social de dez mil contos, como forma de reacção a evitar que as empresas moçambicanas segurassem os seus produtos em empresas estrangeiras, nomeadamente sul-africanas. Pode-se considerar a Nauticus como a primeira seguradora moçambicana, tendo tido no seu grupo fundador nomes como Paulino Santos Gil, Manuel Moreira da Fonseca, Álvaro de Sousa, Carlos Teodoro Martins, Manuel Simões Vaz e António Figueiredo. Sedeada em Lourenço Marques, impunham os seus regulamentos que 80% das suas acções deviam obrigatoriamente pertencerem a portugueses.

Companhia do Boror – Companhia majestática de pequena dimensão, situada na área de Quelimane e que era arrendatária de um conglomerado de prazos que abrangiam os do Boror, que se estendia desde o rio Namacurra até à parte mais ocidental do Distrito de Quelimane, aos do Licungo e Macuse, que ficavam nas margens dos rios com o mesmo nome ainda os prazos de Namecurro e Tirre. Dedicava-se, principalmente, à agricultura e era detentora do maior palmar do mundo, que ultrapassava um milhão de palmeiras, dedicando-se ainda ao cultivo da borracha, do sisal e da cana sacarina, com a consequente indústria do açúcar e álcool.

Companhia Holandesa das Índias Orientais – Em 1602 forma-se, nos Países Baixos, a Dutch East Índia Company (Companhia Holandesa das Índias Orientais). Esta grande Companhia, formada com um capital inicial de 550 libras, resultou da junção de diversas pequenas companhias comerciais, que permilhavam o Oriente e era dirigida por um Conselho de 17 Directores. Fundou e governou a Colónia do Cabo, génese da actual República da África do Sul, durante 140 anos. Por volta dos finais do século XVIII a conquista da Holanda pelos franceses e a supremacia naval britânica, trouxeram a ruína à Companhia, que pagou os últimos dividendos em 1782. Em 1794 entrou em bancarrota e, no ano seguinte, deixou de existir, mas o seu legado histórico como formadora inconsciente e única duma futura nova nação ainda hoje perdura.

Companhia do Niassa – Companhia majestática fundada em 1891, que administrava os territórios nortenhos de Moçambique, e que abrangiam toda área de Cabo Delgado e Niassa referidos, genericamente, como Territórios de Cabo Delgado, em finais do século XIX e princípios do século XX. Os Territórios, eram limitados, a sul, pelo Distrito de Moçambique, no prolongamento do rio Lúrio, a norte pelo rio Rovuma, a oeste pelo Lago Niassa e a este pelo Oceano Índico, possuindo cerca de 170 milhas de costa marítima. Estabelecida desde 1894 na zona, a Companhia do Niassa detinha poderes absolutos nos Territórios, excepto nas áreas militares e judiciais. A sede do Governo dos Territórios de Cabo Delgado era em Porto Amélia, onde residia o Governador da Companhia, como máxima autoridade e mantinha em funcionamento vários serviços públicos tais como Secretaria-Geral, Fazenda, Correios e Telégrafos, Trabalho Indígena e Polícia e subdividia a região em catorze concelhos bem como publicava um Boletim Oficial. A entidade que se encontrava por detrás da Companhia do Niassa era a britânica Niassa Consolidated Company, a qual detinha 219.000 acções das 436.539 emitidas, no valor fiduciário de uma libra cada. As receitas da Companhia do Niassa provinham, principalmente, do imposto de palhota e das alfândegas, sendo certo que a sua intervenção ao longo dos anos, no território, foi parasitária e em nada beneficiou o desenvolvimento da mesma, quer agrícola, quer pecuária, quer piscatória ou mesmo industrial, que ficaram, praticamente, na estaca zero. Os interesses da Companhia não passavam pelo desenvolvimento mas sim, apenas, pelo arrecadar dinheiro pelas vias mais fáceis. Em 28 de Outubro de 1929 os referidos Territórios de Cabo Delgado deixaram de ser administrados pela Companhia e passaram para a soberania directa do Estado Português.

Companhia dos Mujaos e Macuas – Tendo sido proibido à Companhia de Mazane de Diu comerciar no interior do território havia que disciplinar o negócio entre a ilha de Moçambique e os povos do litoral (macuas) e do interior continental (mujaos). Nasceu, assim, em Março de 1766, a Companhia dos Mujaos e Macuas, fundada por diversos habitantes da ilha de Moçambique, com a finalidade de estabelecerem comércio com os macuas e os mujojos. Autorizada a estabelecer cinco feitorias tinha, ainda, que manter na ilha uma loja e um armazém e a sua actividade comercial limitava-se ao território fronteiro à capital, tendo-se criado quatro feitorias no Mossuril e uma na Cabaceira. As permutas entre a companhia e o interior eram, na sua essência, a troca de tecidos de algodão e missangas, vindos da Índia, por marfim, abada, escravos e bens alimentares, estes últimos tão necessários à ilha e sendo os três primeiros monopólio da companhia. A mesma teve curta duração já que, face aos inúmeros protestos dos comerciantes da Índia e apoiados pelo governo de Goa, o Rei de Portugal ordenou a extinção da mesma em 1769, invocando que os seus monopólios feriam a liberdade de comércio no território.

Companhia Majestática - Em finais do século XIX, o Estado Português alienou grande parte do território moçambicano ao capital privado, autorizando a criação de companhias majestática, a quem concedia não só a exploração económica de vastas  regiões, como também lhes autorizava a prática dos vários actos  de soberania como, por exemplo, o lançamento e cobrança de impostos, vassalagem de povos e  policiamento, entre outros. Foi a evolução do sistema feudal dos prazos para o sistema capitalista das grandes companhias. Com esta medida o governo português decapitava os prazos, cuja africanização dos prazeiros e as suas permanentes rebeliões, com a consequente estagnação económica juntamente com a desertificação humana causada pelas guerras e tráficos de escravos, só traziam dores da cabeça para os governantes e, ao mesmo tempo, realizava dinheiro, pois leiloavam-se extensas áreas a indivíduos ou grupos financeiros com capital garantido. Em 1892 o governo português leiloa, em hasta pública, todo o território do vale do Zambeze. Esta medida atraiu os capitalistas estrangeiros, já que os nacionais não tinham recursos financeiros, o que também serviu os interesses do governo português, pois foi uma maneira de saciar os apetites estrangeiros pelas terras de Moçambique, evitando possíveis conflitos armados. Nasceram, assim, três grandes companhias: a Companhia da Zambézia, a Companhia de Moçambique e a Companhia do Niassa. Apareceram, em segundo plano, outras companhias majestática secundárias, mais pequenas, tais como a de Inhambane, da Gorongosa, do Luabo, do Boror, a Sena Sugar Estates, Ltd., a Societé du Madal e Empresa Agrícola do Lugela, Lda., entre outras, as quais centravam a sua actividade na exploração de prazos que arrendavam. Em 1929 o Estado Português iniciou o processo de cessação das actividades das companhias majestáticas e assumiu a soberania directa dos territórios, integrado numa nova visão política de nacionalismo vincado. No entanto, as companhias secundárias sobreviveram a esta nacionalização e transformaram-se em empresas de cariz capitalista, mantendo as suas actividades adaptadas às novas determinações políticas da administração portuguesa.

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IN MEMORIAN


 

Lyn Lusi - Faleceu Lyn Lusi, uma mulher lendária que amou África até à exaustão. Cidadã britânica de nascimento, tendo efectuado estudos na sua Pátria embarcou para o Congo, em 1971, ao serviço da Sociedade Missionária Batista. 

 

Lyn Lusi

No Congo conheceu a sua "alma gémea", o cirurgião ortopédico Kasereca "Jo" Lusi, com quem viria a celebrar os votos do matrimónio para o resto da vida. Ambos irão viver, até mais não, a celebração da solidariedade humana, no leste congolês montando um hospital sob a égide da sua fundação "Heal Africa", localizado numa das zonas mais violentas do mundo, devido à forte densidade de bestialidade humana que ali se concentra por quilómetro quadrado.


 
O apoio incondicional que sempre deu aos humilhados e ofendidos, nomeadamente às crianças, adolescentes e mulheres que sistematicamente foram (e continuam a ser) espoliadas, mutiladas e  violadas pelos "heróicos" guerreiros das diversas etnias daquela região africana, foi sobre-humano. Porque estamos a falar de crianças, adolescentes e mulheres violadas, bastas vezes colectivamente, com introdução anal e vaginal de paus, pedras e armas de fogo que depois chegavam a disparar. Após terem sofrido espancamentos e mutilações.


 
O casal Lusi


Porque importa denunciar o sadismo primitivo destes ditos "senhores da guerra", comanditários de todos os Mobutus, Kabilas e outros quejandos chefes congoleses que foram, são e hão-de vir a ser, sustentados pela máfia política do Hemisfério Norte, que muitas vezes se senta à mesa com eles a negociar a partilha das riquezas do solo.


 
Para todas estas pessoas que viviam na escuridão das doenças infecciosas que lhes inoculavam, no desespero da fome, com as aldeias incendiadas, os membros quebrados e os familiares assassinados à sua frente, a única luz que de esperança que ainda as fazia agarrarem-se à vida era, entre um punhado deles, o casal Lusi.


 
Lyn Lusi não foi agraciada com nenhum Prémio Nobel da Paz. Lyn Lusi não foi agraciada com viagens à volta da Mundo a dar conferências. Lyn Lusi não criou nenhuma fundação em que 95% de verbas colhidas se destinam a pagar vencimentos, comissões, contratações e outras confusões e a engordar as contas dos seus mentores. Lyn Lusi era uma ilustre desconhecida para quase todo o Mundo, salvo os que verdadeiramente se debruçam sobre os problemas africanos. Apenas neste último ano da sua  vida foi-lhe agraciado o Prémio Opus. O milhão de dólares que lhe coube do prémio investiu-o na íntegra no hospital e na Fundação. 

Morreu Lyn Lusi. Morreu uma Mulher-Coragem. Morreu uma Mãe-África. Morreu pobre materialmente. Mas era detentora duma riqueza humana fabulosa. Há mais uma estrela no luzeiro celestial. Aqui fica a minha singela homenagem. Sinto-me órfão.

 
Haja alguém que lhe faça um poema. Para que, na celebração da palavra, se celebre a sua memória.

 
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LEITURAS


 
Raramente tenho apontado a leitura de livros de História, mas hoje, a propósito de ter falado de Lyn Lusi e da sua Pátria adoptada que foi o Congo refiro dois livros excepcionais que li sobre a História deste País.

Um é "O fantasma do Rei Leopoldo: uma história de voracidade, terror e heroísmo na África colonial", da autoria de Adam Hochschild (Caminho, Lisboa, 2002, 484 págs.), e que se reporta aos lendários tempos do século XIX quando o rei Leopoldo da Bélgica quis ter uma coutada privada africana só para si e contratou, ao seu serviço, Henry Morton Stanley. Do Estado Livre do Congo, como coutada privada da realeza belga até ao Congo depois colonizado pelos empresários belgas e administrado pelo Governo deste País, este livro é um memorial histórico fabuloso reportando-se, como base de arranque, no romance que Joseph Conrad escreveu e onde relata a saga fictícia dum capitão de navio fluvial que, navegando no Congo, transporta marfim e vai em busca do lendário Kurtz, romance esse que ficou com o título de  "Heart of darkness" (traduzido em português para "Coração das trevas").

 

Capa do livro

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O outro tem por título "O assassinato de Lumumba" da autoria de Ludo de Witte (Caminho, Lisboa, 2001, 463 págs.) e historiografa o caminho para a independência do Congo e todas as clivagens que o mesmo sofreu após a mesma bem como reconstitui, com precisão, a ascensão e queda do Primeiro-Ministro federal Patrice Lumumba, caído em desgraça, preso, colocado sob protecção da ONU, donde opta por fugir e, após perseguição, acaba localizado e assassinado por congoleses ligados à facção Moisés Tchombé.


 
Capa do livro

Ambos os livros acima referidos são sólidos, bem documentados, muito bem escritos, e apaixonantes. Num misto de investigação histórica e jornalística, não enganam o leitor e para quem queira documentar-se sobre o Congo, quer colonial quer após a independência, estes dois livros acima referidos são, para mim, topo de gama.


 
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Sobre o "Heart of darkness" um dos livros do romancista Joseph Conrad é uma obra mundialmente famosa, traduzida para português com o título "Coração das Trevas" existindo, na nossa língua, várias edições desta obra. Joseph Conrad, em determinada altura da sua vida (1890) e por motivos profissionais, efectuou uma viagem ao Congo. Passado tempos demitiu-se e dedicou-se à escrita, tendo publicado diversos livros de aventuras. "Coração das Trevas" foi inicialmente publicado em 1899, em fascículos no "Blackword´s Magazine" e teve como fonte de inspiração  a viagem que ele efectuara uma década antes ao Congo.

Uma das capas das muitas edições em
língua portuguesa que este livro já teve.

É um romance onde relata a saga de Marlow um inglês que capitania um barco duma companhia belga no rio Congo e que tem que trazer uma carga de marfim rio abaixo e também ir buscar um tal Kurtz que ele não conhece mas que todos os membros da tripulação, ao falarem dele o engrandecem, como que o endeusando. Mas Kurtz, anos a fio isolado naquele interior africano, onde se comportava como um Deus despótico, afinal não é a personagem mitificada que contavam a Marlow.  Mas o cerne da narrativa romanesca é o relato do que toda a gente sabia, vivia e aceitava: um violento regime esclavagista.

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Lembro-me de há uma meia dúzia de anos atrás ter visto o filme "Coração das Trevas" que foi realizado com base no livro de Joseph Conrad. O filme foi transmitido na RTP 2, e não fixei nenhum nome, quer da produção, quer da realização ou de actores. Tendo pesquisado o filme na "rede" e nos vídeos do "youtube", não o localizei mas seleccionei um resumo da história em causa, que se segue. 


Resumo da história de "Coração das trevas"

 
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A título de curiosidade refira-se que este livro serviu de inspiração ao guião do filme "Apocalipse Now" realizado pelo magistral Francis Ford Copolla. É um dos filmes da minha vida.


 
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RECORDANDO HISTÓRIAS E LENDAS DE ÁFRICA




Rainha Amina dos haussas - Tendo andado a escrever sobre os exploradores europeus que penetraram nas regiões da área que compreende o actual Norte da Nigéria, em finais do século XVII e princípios do século XVII (Mungo Park, Daniel Houghtin e os quatro de hoje), tropecei nalgumas leituras da vida da Rainha Amina, cuja biografia é uma mistura de lenda e verdade. 


Rainha Amina (uma representação romantizada)


Entre séculos VIII e XVIII nasceram e morreram diversos impérios e estados naquela região africana, tais como o Gana, Mali, Songay, Bornu e Sokoto, entre muitos outros. O Impéria Haussa (Haussa Bakwai) começou a formar-se por volta do ano 1.000 e consolidou-se com a união de sete estados: Daura, Garun, Gobir, Kano, Katsina, Rano e Zaria (ou Zazau). Rezam as lendas locais e em parte subscritas em antigos estudos arabistas que, antes da formação da Casa Haussa (Haussa Bakwai), toda aquela região que viria a compô-lo e que se situava entre o rio Níger e o lago Chade, fora governado por dezassete rainhas.



E última delas, a mítica Shawata (também referida por Magajia Daurama), oferecia o seu corpo em casamento e o seu reino  em governação a quem matasse a monstruosa cobra Sarki (outras variantes dizem que era um dragão), que habitava num poço da cidade de Daura. Esta cidade (que também é referida por Katina ou Katsina, que é presentemente um dos estados nortenhos da federação nigeriana) tornou-se na capital espiritual do Império Haussa. De qualquer modo e continuando a seguirmos o relato desta lenda chega àquela cidade, vindo de Bagdade, um príncipe (ou plebeu, os relatos são variáveis) que dava pelo nome de Baiajida o qual matou o monstro que atemorizava o povo. Casando-se com a Shawata foram os filhos gerados deste casamento e dum outro anterior que ele efectuara antes de chegar a Daura que fundaram Casa Haussa, que liderou o Império que vieram a formar.



De qualquer modo também não é pacífica a veracidade da existência - física ou não - de Baiajida, o matador de dragões e progenitor dos fundadores da Casa Haussa. Estudiosos árabes e europeus não acreditam na sua existência mas que sintetizava a representação de grupos de migrantes do Oriente e que se deslocaram para o lago Chade e daí para o Norte do actual Níger onde se fixaram. A História de África muitas vezes mistura-se com histórias africanas.

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Regressando à nossa biografada, a mesma seria oriunda do estado de Zazau e o seu nome Amina (ou Aminatu) passou para a posteridade como uma rainha guerreira que liderou, em vários combates, milhares de guerreiros. Muito do que se relata dela é lenda, pois deeificam-na e a falta de documentos escritos contemporâneos que fossem idóneos (à sua época) mais dificultam o rigor da História. As fontes históricas haussas assentam, principalmente, em relatos efectuados por cronistas árabes que não enalteciam, por (de)formação religiosa, o papel da mulher. Inclusive a sua época de vivência não é pacífica. Para uns ela viveu nos princípios do século XV para outros em meados desse mesmo século. Para uns ela foi Rainha, para outros não passou duma cortesã ou princesa. Crónicas há que nem a referem minimamente


Sabe-se que ela existiu, governou, liderou guerras durante cerca duma trintena e meia de anos. Mas tudo o resto mescla-se com lendas. É assim a velha África.



Voltando ao Estado de Zaria (ou Zazau), um dos integraram o Império Haussa, o vigésimo Rei do mesmo, Nohir, não gerou filhos varões até à data da sua morte, pelo que foi o seu irmão quem ascendeu ao trono. Com a morte deste a coroa do Reino é entregue a uma filha de Nohir, que se chamava Bakwar Torunku. Esta mulher, que foi uma Rainha combatente e que liderou guerreiros, gerou a nossa biografada Amina (era a sua filha mais velha), a qual herdou o espírito bélico da sua mãe.  O Estado de Zaria começou por dominar o comércio trans-sariano após o colapso do Império Songai e, por ser o mais estruturadamente belicoso, tinha por função defender em primeira linha os outros estados haussas.

Amina teria uns dezasseis anos quando a sua mãe assumiu a governação de Zazau. Ao suceder-lhe, novamente,as contradições históricas surgem. Uns centram o seu reinado entre 1536 e 1573, outros que foi o seu irmão, Karama, quem governou realmente e só após a morte deste (que teria ocorrido em 1576) é que ela assumiu o Reino. De qualquer modo, torna-se pacífico que ela desencadeou guerras aos reinos vizinhos. Segundo relatos: "Ela levou a guerra a esses países, derrotando-os completamente, de modos que o povo de Katina passou a pagar-lhe um tributo bem como os homens de Kano. Combateu ainda as cidades de Bauchi até que o seu Reino atingiu o mar, a sul e a ocidente." À data da sua morte o Império Haussa tinha uma dimensão geográfica nunca antes alcançada.



Outra representação romantizada da Rainha Amina

Terá combatido durante uma trintena e meia de anos. Nunca se tendo casado rezam as lendas e as crónicas que recebia um homem por cada cidade que conquistava. Como depois abandonava essa cidade para partir para outra o desgraçado era decapitado. A época em que, comunemente, se enquadra o seu reinado correspondeu ao florescimento da expansão haussa. Os seus artífices tornaram-se bastante procurados fora das fronteiras territoriais. As cidades haussa tornaram-se centros de mercados e de negócios trans-fronteiriços, fazendo com que a língua local se tornasse franca. O comércio do sal, couro, tecidos, obi (cola), cavalos e camelos e metais expandiram-se e terá sido no decurso do seu reinado que Zaria tornou-se no "umbigo do mundo" sudanês ocidental. Tal facto também se deveu porque se relata que a Amina não lhe interessava tanto a subjugação das terras conquistadas mas sim que estas deixassem o livre trânsito às mercadorias haussas (em termos modernos seria como isenção de impostos fronteiriços).



Amina, a lendária  Rainha que, segundo as crónicas, era conhecida por "Amina, yar bakuwa ra san rana" ("Amina, a mulher que era capaz de tudo como se fosse um homem"), morrreu em Atagara, com a sua reputação de invencibilidade e de boa governante intocáveis.



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POESIA



 Ana Paulo Lavado - Amante que sou de ler e ouvir declamar poesia, há uns tempos atrás fui assistir ao lançamento dum livro duma poetisa que não conhecia, (e continuo a não conhecer pessoalmente)de seu nome Ana Paula Lavado. No decurso do lançamento comprei um exemplar da obra em causa "Mentes perversas..." e, posteriormente, li-o, leitura essa que se tornou numa agradável surpresa. Há já algum tempo que não tropeçava num conjunto de poemas bem encorpados e enquadrados, tal como depois comentei neste blogue.

Ana Paula Lavado


 
Movido pela curiosidade acabei por adquirir, passados uns dias, os dois livros que a referida poetisa já tinha publicado antes: "Vozes do vento" e "Um beijo... sem nome". Não sou um crítico literário e pertenço àquele enorme grupo de pessoas que gosta ou não do que lê, do que ouve ou do que vê sem ter que se justificar porque sim ou porque não da apreciação de determinada obra. Preocupa-me mais a sua divulgação do que analisá-la. E, mesmo que aconteça conhecer pessoalmente o/a Autor(a) (o que ainda não acontece neste momento com esta poetisa), isso não me inibe de gostar ou não da dita obra, independentemente do grau de (ini)amizade ou (des)conhecimento que possa ter com ele/a.

 
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A poesia de Ana Paula Lavado leva-nos a um longo caminho lajeado por pedras apanhadas, aparadas e polidas nas dores dos amores perdidos porque partidos, quando ela diz


 
Se eu te chamasse e tu viesses,
como outrora fizemos um dia,
contar-te-ia minhas mágoas, minhas preces
e, numa quietude que só tu conheces,
tornarias leve minha melancolia.
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nas emoções das paixões cheias de (des)ilusões e na constante luta que trava e porfia na labuta do dia-a-dia, sempre na esperança dum amanhã que tarda e nem sabe se chegará,


 
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E a maré sobe,
e a lua nova adormece....

É a vida que se repete,
no ar fatigado e banal
da vida onde nada acontece.


 
e no sorriso que embala a pessoa com quem fala. E, assim, vai adiando os desejos incontidos do partir de novo, do se sonhar a dizer


 
Vou para longe.
Embarcar num barco à vela,
para lá onde o mar engrandece
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porque fatigada e cansada das falsas amizades que a levará a clamar

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Ó gente impura
que mal fadaste as pedras do chão,
nem ácidos sulfúreos
seriam tão corrosivos,
nem lava ardente
faria tal combustão.
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que a fazem sentir-se impotente perante o avançar inexorável do tempo, que pára antecipadamente a sua vida como se fosse um  anúncio de pré-morte:



Pedi um tempo
ao tempo,
que não ousou esperar.
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Resta-me a morte,
resta-me esperar.



O pensamento ou o tema da morte acompanha, por algumas vezes, o correr da sua caneta, mas não a torna a sua poesia moribunda. Encara-a como acto natural e filosofa se terá merecido a pena ter vivido.


Vou morrer um dia!

Claro que vou.
É a sorte que me sobra.
Resta saber se a existência
que emprestei a  este corpo
terá valido a pena.
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Tropicalmente oriunda duma geograficamente longínqua Angola, mas que está colada ao seu coração e aonde não sabe se voltará, magnificamente nostálgica poema:



Lembrei o aroma selvagem
que me viu nascer!

As imagens fogem,
ficam difusas...

Como se o tempo estivesse a desfocar!

Mas os cheiros não se apagam no tempo...
e trazem-nos lembranças
vindas nas vozes do vento!


 
Refugia-se na poesia, como forma de combate ao torpor do dia-a-dia e, ilusoriamente triunfante dirá:

Este é o meu reino
onde as palavras tomam a cor dos madrigais
e se esquecem da realidade 
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Pela sua poesia passa um lirismo com ritmo, musicalidade, cor. E, entre vários, há o cântico sublime ao Amor, como acto de redenção da vida e purificação da alma, quando proclama


Se amor fosse decidido ser doença
Qualquer químico seria o bastante
P´ra tornar o seu estado demência
Num estado de equilíbrio constante.  
Mas amor não é doença.................
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Ou, como magistralmente inspirada diz:


 
Apetecia-me escrever um poema
daqueles que falam de orgasmos
de loucuras e erecção,
de gemidos e fantasias
de corpos suados e de tesão!
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Encerro esta minha singela apreciação à sua poesia com a chave de ouro de um dos mais belos poemas sentidos que já li na minha vida (e tantos tantos que  já li).


 
Um Cálice de Porto

Hoje já não pergunto porque não voltas.
Apresso-me apenas para chegar a destino nenhum
e apagar as luzes que te vestiram.
Depois permaneço deste lado do palco. Este lado
que se mantém inalterável e escuro, onde a vida
não é mais que um reflexo isento de espelhos.
Quisera ter-te... mas não passei de um adereço
dispensável na representação.
Resta-me apenas o cenário onde ainda te revejo
e vou confundindo a realidade para que o sonho não se suicide.
De alma nua, amo apenas o mar que nos uniu
e odeio o mar que nos afastou.

 
Havíamos ficado, noites inteiras, depois de um brinde
onde juramos eternidade. Perdidos no riso
ou exaustos na paixão, deixamos vazios, todos os cálices
daquele Porto que escolhias por amor.
As horas morriam no silêncio dos nossos corpos
emudecidos de prazer, numa cama
que ficou gravada pelas nossas mãos.

 
Se a morte chegasse, pediria apenas um cálice
de Porto dourado. E morreria bebendo cada beijo teu!


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Sem sombra de dúvidas que volto a repetir o que dela disse (na mensagem de 01 de Maio último) aquando primeiramente li o seu terceiro filho literário: "Há algum tempo que não lia poemas com corpo e alma. Com forma e conteúdo."

Ana Paula Lavado. Uma estrela a reter na constelação poética que envolve o nosso mundo imaginário.

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PINTURA


 
Roberto Chichorro - Pintor luso-moçambicano, nascido em 1941, em Lourenço Marques. Depois de completados os estudos secundários na capital laurentina começa logo a trabalhar em diversos empregos, atendendo a que o curso universitário que pretendia tirar só era possível (na altura) em Portugal e o factor económico pesou pela negativa.


Roberto Chichorro



Quando cumpria serviço militar, no início da década de 60, trava conhecimento com o jornalista Carneiro Gonçalves que o desafia a integrar uma exposição pictórica colectiva em 1966. No ano seguinte já expõe individualmente, sempre em Lourenço Marques.



Quadro de Roberto Chichorro



Em 1971 vem, pela primeira vez, a Lisboa e na década seguinte profissionaliza-se, de vez. Ganha uma bolsa do Governo espanhol para arte de cerâmica e de zincogravura. Até meados desta década circula entre Moçambique, Espanha e Portugal, até que acaba por se fixar neste último país.




Quadro de Roberto Chichorro


Cruzei-me, pela primeira vez, com a sua arte na ilha de S. Miguel (Açores). Tem um traço característico que o individualiza na panóplia dos pintores moçambicanos, sendo o azul a sua tonalidade preferida.  Não sendo um apaixonado pela sua pintura não deixo, no entanto, de a apreciar.



Quadro de Roberto Chichorro



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ESCULTURA


A minha tardia homenagem a um amigo que partiu.



António Magina - Escultor angolano que conheci e tive o prazer de ter cruzado com o mesmo por alguma vezes. Não sendo íntimos e de convívio constante, no entanto cruzámo-nos esparsamente e o seu trato afável com uma voz calma tornavam as nossas conversas um momento de prazer.




António Magina

Tomei conhecimento agora, muito tardiamente (estupidamente tardio mesmo) da sua morte ocorrida em Novembro último, em Lisboa, por motivos de doença. Lamento. Tanto como a sua morte, o meu lamento vai para o não ter convivido mais com ele, o não ter aprendido mais com ele, ou se calhar o não ter sabido ouvi-lo melhor. Opções profissionais da minha vida levaram-me, por vezes, a deslocar-me para outros lados e o afastamento dos amigos mais chegados ou não era inevitável.



Escultura de Magina



Mas isto também não serve de desculpas à minha falha. É estúpido estar para aqui com lamentações e auto-críticas. Errei ao não ter convivido mais com  um Homem da cultura. Cuja presença e amizade só me honravam. Se um dia me cruzar com ele, no Além, não voltarei a cometer este erro terreno. Agora e aqui já é tarde.


Até lá apenas estas linhas para, publicamente, redimir-me do meu erro e dizer que, sinceramente, a partida de Magina, deixou-me a mim (e a todos nós) mais pobres. Morreu um Homem. RIP.



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PORQUE  SÓ HÁ UM PLANETA


 
Há que denunciar os maus tratos que energúmenos praticam nos animais. Não se acorbadem. Ao calarem-se tornam-se cúmplices desses facínoras.


 

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Felizmente há animais que crescem e vivem em ambientes compatíveis. Mas, infelizmente, a cada ano que se passa são uma minoria. 

 


 

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ACONTECEU


Crónica de uma morte anunciada - Leio no Expresso que , na zona do Bombarral, uma senhora grávida de oito meses acabou assassinada pelo seu ex-companheiro e que este, por sua vez, suicidou-se. Infelizmente acontecimentos destes ocorrem aqui e em qualquer parte do Mundo, não sendo essa a causa do meu escrito. 


É que no seguimento da notícia leio que a referida senhora era alvo, sistematicamente, de maus tratos do referido companheiro e que por quarenta sete vezes ela e seus familiares directos apresentaram queixa nas autoridades. Repito, sublinho e carrego a negro, quarenta e sete vezes ela e seus familiares directos apresentaram queixa nas autoridades. Ah, já me esquecia: no espaço de 14 meses.

Depois de múltiplas vezes ter sido ou esfaqueada,  ou pontapeada, ou ficado com costelas partidas, ou ter tido uma pistola encostada à cabeça e todas as demais violências, as autoridades policiais... pacatamente continuaram sentadas no maldito posto de trabalho. Trabalho? Se isso é trabalho eu quero concorrer a esse tacho.



Estava grávida de oito meses quando foi assassinada à catanada e o bébé que transportava no ventre também morreu. Revolta-me a passividade disto tudo. Enojam-me estas autoridades. Rápidas a passarem multas de trânsito... lentas a defenderem uma pessoa indefesa. 

Das 47 queixas a maioria foi apresentada na GNR do Bombarral e cinco no Tribunal daquela comarca. Leio que "Com a tomada de posse da nova procuradora-adjunta no início de Março o processo ainda acelerou...." e a trinta desse mês "quase um ano após a primeira agressão atribuíram a  "M....." o estatuto de vítima de violência doméstica".


Vocês desculpem-me mas só me apetecia espetar uns bufardos nos focinhos das autoridades (policiais e judiciais) de tal aberração. Um ano para considerarem uma pessoa vítima de violência doméstica? Mas estamos em que País?  Vivemos em que século? Somos regidos porque leis?


Mas o desprezo para com a integridade física duma pessoa (ainda por cima grávida) não acaba aqui. Finalmente, os polícias mexeram-se (coitaditos, lá tiveram que justificar o "al contado do fim do mês" e, de certeza por ordem do Procurador-Adjunto (coitadito, lá teve que dar um despacho para justificar o "al garantido ao fim do mês") apresentaram o agressor a um Juiz de Intrução Criminal que, em vez de o mandar para o local correcto (a cadeia) pô-lo na rua com Termo de Identidade e Residência e proibição de contactar com a vítima. Coitado do Senhor Doutor Juiz, se tivesse que o prender tinha que dar um despacho fundamentado a justificar a prisão (é a Lei, meus senhores, é a Lei) e, assim, mandando embora é tudo mais rápido e vamos todos para casa ver a Selecção.


Um mês depois o caso ficou resolvido. De vez. Com três mortos e um ferido (o pai da senhora também foi agredido com a catana) o processo vai para o arquivo, com  passagem pelo tratamento estatístico. Caso resolvido.



Os polícias lá voltaram para o fresquinho do posto a verem os jogos da Selecção e comendo tremoços, o Ministério Público com menos um processo para despachar e a atrapalhar as estatísticas (pois arquivaram-se 47 queixas duma assentada) e o Juíz, qual Vitor Constâncio do Bombarral, de nada tem culpa, de nada se apercebeu, nada mais podia fazer.



Enojam-me todos eles. Sem excepção. Lamentavelmente são analfabetos demais para lerem e compreenderem Gabriel Garcia Marquez. Talvez algum dia um drama destes lhes toque à porta. Mas aí... eu não lamentarei.



A família está disposta a presentar queixa contra o Estado Português devido ao laxismo e incompetência com que tratou o caso. Acho muito bem e faço voto que o Estado seja condenado a pagar uma indemenização cível aos queixosos.



Só lamentarei essa indemenização (a ser determinada) não sair do bolso dos polícias, procuradores e juízes que não tenham tratado o caso com a rapidez e humanidade que o mesmo requeria. Será o Estado a sacar o dinheiro dos meus impostos para pagar a incompetência destes cafagestes que não merecem o tacho que têm e só envergonham as classes profissionais que representam.

 

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Seja amigo do ambiente. Utilize os textos do Novo Acordo Ortográfico como papel higiénico.


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As referências aos produtos acima referidos (livros, filmes, músicas, etc.) bem como a Autores são incompatíveis com intuitos publicitários de carácter comercial.  Refletem, apenas, a minha opinião.

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Todas as fotos do presente texto foram colhidas do Google Imagens e os vídeos do Youtube.
Deste modo, os Autores quer das imagens quer dos vídeos em causa, não estão
cingidos às opiniões por mim manisfestadas. 


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E agora... até um destes dias. Vou dormir.

 



 

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